Pratinho de Couratos

A espantosa vida quotidiana no Portugal moderno!

domingo, novembro 26, 2006

Heróis que até farta

Em tempo algum da história nacional o peito luso esteve tão saliente como neste início de século. As vitórias no futebol lançaram-no na estratosfera da grandiosidade. O coração bate com vontade de conquistar e já se prevê uma mudança nas propostas dos nossos costureiros. A saia masculina será substituída pela loriga para nos atiramos “martimomizmente” contra as portas do castelo não deixando fechar o pleonástico futuro com futuro, repetindo o simbólico acto do irmão da bela D. Maria Paes Ribeiro, na conquista de Lisboa aos mouros. No novo espírito guerreiro enterrámos 800 anos de lazeira e zurrices históricas, que só o pufismo bem orquestrado pela ideologia do poder político (aquela bem oleada máquina de propaganda de Salazar) tornava grande nas nossas cândidas mentes de alunos de escola primária. Hoje encontrámos uma vereda, que se tornará caminho ao andar, justificativa de qualquer falperra da Direcção-Geral de Impostos (actualmente, inglesados nos conceitos, conhecemos “falperra” como “stand up and deliver”, o velho grito dos salteadores das estradas de sua majestade). Agora o dinheiro público não é gasto em caganifâncias. Todo o tostãozinho é consumido em urgente obra de reconhecida utilidade.

Os andrajosos primevos, os estrangeiros a caminho da Terra Santa, os marinheiros ratívoros, a chacota dos europeus, “o encosta para aparecer”, tudo ficou para trás, como um mau filme de Manoel de Oliveira (tenho a sensação de que são todos aqueles feitos depois de “Douro, faina fluvial” apesar do laudatório geral). Mas uma época assim precisa de novos protagonistas. Podemos respirar de alívio. Os heróis surgem de todos os lados como cogumelos que quase os temos de correr à paulada. No topo da escala está um Presidente que não põe sal na moleirinha do Governo como desejaria o chefe da oposição. É bonito vê-lo de roteiro em roteiro, de inclusão em inclusão, até estarmos todos incluídos no bufete dos ricos.

Houve erros naturais de percurso, como, por exemplo, mandar aos Jogos Olímpicos uma selecção na modalidade de futebol quando a correcta inscrição seria boxe ou, na falta, luta greco-romana. Ou acreditar na ideia hilariante de que com uma máquina fiscal funcional todos vão pagar menos impostos. Ou, milagres evidentes de Fátima, quando um nigeriano se transmuta em português, ou um ciclista ganha uma medalha mas na sua especialidade fica-se por um modesto 25º lugar.

Quando os jovens estavam na eira, agarrados ao cavaquinho ou acordeão, saltitantes ao som de vozes esganiçadas, brilhantina nos cabelos. Quando as hortas chegavam até junto dos carris dos comboios. Quando o pão com azeitonas era um almoço. Naqueles tempos em dizia o impagável Salazar “com a charrua numa mão e a espada na outra vamos defender a nossa sobrevivência”, a vida corria pacata e os únicos sobressaltos eram as chuvas fora de estação. Mas quando, por desvario paterno, os jovens começaram a ir para as Universidades a coisa mudou de figura. De moços casadoiros passámos a ter uma profusão de intelectuais rabigos. E dois deles flutuam no caldo morno da nulidade nacional. Têm lugar dianteiro na saloiada geral e são motivo de merecido orgulho. Poderiam até provocar umas boas risadas à Diógenes, não fosse exemplificarem a triste realidade dos meios académicos lusos, composto por uma caterva de pacóvios que só procura o poder ou estar sentado celestialmente à sua direita.

Nuno Rogeiro, célebre coleccionador de brinquedos de guerra, aos Domingos vasculha as prateleiras do Toys’R’Us à procura das últimas novidades, infelizmente, durante a semana vende as suas aulas a Universidade. Xilófago conhecido nas épocas balneares e azucrinador do ”bom senso” o resto do ano, tem dado ao pensamento lusitano as melhores pérolas extraídas da ostra da análise. Quem não se lembra dele segurando o seu aviãozinho de brincar e a garantir que a razão da guerra no Iraque não era o petróleo, pois o país só representava 8% da produção mundial. Este sábio foi incapaz de fazer umas simples contas de cabeça. Se um país tem as segundas maiores reservas do mundo seria possível aumentar a produção para pelo menos 20%. Este vade-mécum da inteligência nacional deu outra garantia ainda mais impressionante. Ronald Reagan foi o responsável pela queda do comunismo, (esse mal contra a Cruz de Cristo e a propriedade dos privados), esquecendo que um doente de Alzheimer é capaz de fazer cair qualquer coisa. Razões têm os alunos para contestar o valor das propinas pois estão a comer gato por lebre… e não só nas cantinas. Os meios académicos são caracterizados por um imobilismo crónico que impede avançar para ideias novas. A razão é simples. Os professores ainda acreditam que a terra está parada.

Outro caso acometido de uma grave logorreia é o xilomante da política Marcelo Rebelo de Sousa que aos fins-de-semana nos estraga o Dia do Senhor com espiritismo e cristais purificados. As suas diatribes sobre qualquer assunto só serão comparáveis às sessões do Congresso americano ou a uma noite bem regada com vinho numa tasca de bairro. Enternecedor era o seu olhar quando falava do amigo brasileiro Scolarão que veio ajudar a levantar a nossa auto-estima. O afã com que agarrava a bandeira não nos deixou indiferentes, um homem de letras e de bola, é de aplaudir. Já quando a sua loquela se vira contra Santana Lopes, perde o tino, faz recordar o tema de investigação de Freud (o compromisso entre o superego e os impulsos sexuais reprimidos), mas, parafraseando a sabedoria popular, no oaristo partidário não se deve meter a colher. Quanto a nós podemos atingir a ataraxia, sem passar pelo jardim de Epicuro, basta uma simples olhadela pela RTP aos Domingos. Marcelo teve a revelação suprema de que o caso Obikwelu é um exemplo de como os portugueses são um povo hospitaleiro, sabem receber e integrar os emigrantes, esquecendo-se este lusificador que em 1991 a Polícia não tinha os meios nem a motivação para caçar os ilegais entrados no país (ainda não se tinha realizado o Euro 2004. Evento que deu às forças policiais e ao SEF, os meios mais modernos e eficazes de controlo da sociedade e combate à entrada ilegal em solo pátrio). Noutro comentário mostrava surpresa para com a atitude dos advogados da Casa Pia que andavam com “ar satisfeito, de sorriso, de galhofa até”, e que ele costumava seguir casos nos outros países, e que por lá os “advogados andam de cara séria” – não percebe que uma boa conta bancária em Portugal é motivo para felicidade. A desadequação doentia a toda a realidade circundante é outra característica dos nossos meios universitários.

Só nos resta lamentar as gerações que estão a ser formadas por ervas tão rasteiras que em bicos de pés pregam aos idiotas e tolos que somos. Mas a cara séria com que dizem alarvidades faz-nos situar, pesadamente e com estrondo, na nossa realidade judaico-cristã e tudo perdoar.

1 Comments:

  • At 1:54 da tarde, Blogger A Chata said…

    Bem aventurados os pobres de espirito, deles será o reino dos Ceús!
    Não me parece.
    Chamem-me o que quiserem, não consigo perdoar.
    Nem a eles.
    Nem a mim por ter trazido para este Mundo filhos e netos.

     

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