Pratinho de Couratos

A espantosa vida quotidiana no Portugal moderno!

sexta-feira, novembro 23, 2007

Os quase vestidos e os quase vivos

Einstein é sinónimo de génio. Todas as mães querem ter um na família. Qualquer aspirante a inteligente tem um poster dele na parede do quarto. Os Estados atropelam-se para contar um entre os rebanhos que pastejam. As oficinas de automóveis contratam-nos na hora. Mas, bem vistas as coisas, é muito cagaçal para nada, porque, ao contrário do que se pensa, a essencial fórmula do físico alemão não teve impacto algum nos assuntos humanos. Não lhe vemos rasto nas Ciências. A Filosofia passou-lhe ao lado. Então no quotidiano prático, nicles, nada, népia. Não, não é a fórmula da equivalência entre massa e energia, a célebre E = mc2, que até os Big Audio Dynamite cantaram. Mas de uma outra muito mais vital: “se A é igual a um sucesso na vida, então A é igual a X, mais Y, mais Z; sendo X o trabalho, Y o divertimento e Z manter a boca fechada”. (Na era dos cabarets e das Big Bands, a bomba loira, Ina Ray Hutton, sabia divertir-se “Doin’ The Suzy Q”. Entre 1934-39 ela foi chefe de orquestra das Melodears).

A fórmula A = X+Y+Z é tão vista como o canal Parlamento. Trabalhar, ao mesmo tempo ter prazer nessa actividade, e sobretudo não dizer disparates, para alcançar sucesso na vida, não faz parte dos planos do país da Marguerite Yourcenar de jeans e bota cano alto – a Carolina Salgado, a escritora das “Mémoires d’Hadrien” do norte. (Uma desopilada reflexão sobre triunfos na bola, poesia faducha e paixão no actual império português). Desde o leme da nação, ao rapaz que fecha as portas, atropelar a fórmula de Einstein, é palavra nossa de cada dia. Cavaco Silva vocifera conterrâneos, portugueses, emprestem-me os vossos ouvidos: “ainda há muito a fazer para o aproveitamento das riquezas do mar”. Vamos ao carapau e à amêijoa minha gente, que nas lotas privadas, até os cestos se vendem. (Tcharan! As minas de salmão dão à costa!). No outro extremo da escala social, Silva Pereira, ministro da Presidência do Conselho de Ministros, explicava que o Ano Europeu da Igualdade de Oportunidades foi uma “intensa sementeira” de comportamentos e valores que permitirá colher – no futuro – o “fruto saboroso de uma Europa mais justa”. Mnham, mnham… e a água cresceu nas bocas europeias desiguais. (The Nicholas Brothers trabalharam que se fartaram mas nunca atingiram o sucesso dos whities que também dançavam nos filmes de Hollywood. Na infância. Mais crescidos em “Lucky Number”. Adultos em “I've Got a Gal in Kalamazoo”. Com a orquestra de Glenn Miller, em “Chattanooga Choo Choo”, e com a de Cab Calloway em “Jumpin’ Jive”).

O director nacional da PJ, Alípio Ribeiro, tem desconto, porque não fala pela sua boca, traduz literalmente de Wbush. Avisou o alto funcionário lusitano: “somos uma boa retaguarda para todas essas pessoas. Somos um sítio de fuga, de esconderijo. Essas pessoas precisam de descansar, arranjar dinheiro e documentos. E nesse aspecto somos retaguarda. Recolhemos informações nessas áreas todos os dias”. As “these people”, abominadas pela administração americana, como se fossem as bruxas de Salém, vêem-nos como uma boa retaguarda. Unngh! Que dor, quando somos apreciados pelo nosso europeu traseiro, depois de gastar balúrdios em publicidade amigável para promover o país. Folhetos desdobráveis do Portugal turístico circulam pelas zonas tribais do Paquistão, na fronteira com o Afeganistão, e inundam o Iraque. Hipnotizados pelas belezas naturais e hotéis baratos, os chefes da al Qaeda mandam os operacionais para o repouso do guerreiro nos nossos SPAs ou pensões com águas correntes quentes ou frias. Porém, Alípio Ribeiro tem razões para exultar e até disparatar. A sua PJ refulgiu caçando um “these people”. Mandados pelos serviços secretos italianos – os mesmos que descobriram ilusórias vendas de urânio no Níger em 2002 – apanharam um barbeiro argelino bem camuflado no Porto. Os “these people” têm pérfidas técnicas de integração nas inocentes comunidades. Ele parecia português. Diz o povo da Invicta que Samir Boussa trabalhava devagar e passava mais tempo no café do que a cortar gadelhas. Sob a protectora metralhadora Uzi de Alípio e os seus boys, fartos das superproduções La Féria, vamos ao teatro Apollo, no Harlem, para uma parada de estrelas.

O futebol é o único meio onde a fórmula de Einstein é respeitada. Após derrotarem a poderosa selecção da Arménia, os jogadores foram apupados pelos espectadores que viram um mau jogo. O pensador do grupo, Cristiano Ronaldo, perspectivou: “estamos em Portugal. Já sabemos que os portugueses são assim. Já jogo na Inglaterra há cinco anos e nunca fui assobiado por jogar mal”. “Woo Hoo” (dos The 5 6 7 8’s), educação não é apenas segurar o hambúrguer com o guardanapo, lembrou o crack. É também pagar o ingresso no estádio e sair ordeiramente. E pelo meio berrar por uns pobretanas sem dinheiro para apoio psicológico. Mais tarde, depois do empate sobre a poderosa selecção da Finlândia, Scolarão exasperou: “Portugal consegue a qualificação e o burro sou eu? O ruim sou eu? E Portugal qualificou onde? Na baía das almas? Ou vocês estão mal acostumados ou então não sei”. O mister elucida os jornalistas sobre a importância do “se”. (Se tivessem visto a Danica Patrick o Estádio do Dragão era um circuito automóvel). O treinador de Portugal explica: “porque não fizemos nenhum golo? Se não estivesse lá o guarda-redes, se calhar teríamos feito. Não percebo como vocês dizem que a Finlândia é ruim, a Sérvia é ruim, a Polónia é ruim ou a Bélgica é ruim. Mas pronto, acho que fomos maus. Se querem, fomos maus. Peço desculpa, mas não preciso de estar aqui". E navegou para fora da sala de imprensa. (Quando falta o amor de Scolarão é o momento ideal para o bolero “Anoche Me Quisiste” pela cantora, nascida em Nova Iorque mas naturalizada cubana, Rosita Fornés, no filme de 1954, “Hotel Tropical”).

Vestidos pelo futebol, os homens portugueses não ficaram mais fortes, antes pelo contrário. A paixão pela beleza estonteante do Cristiano Ronaldo amaricou-os no bom sentido. Isto é, integrou-os no mundo moderno. Numa entrevista, Doris Lessing anunciava o novo sexo fraco. Dizia ela que a cultura feminista actual estava “continuamente a rebaixar e a insultar os homens”. Exemplificava desta forma: “estava numa sala de aula, com crianças de 9-10 anos, e uma mulher jovem explicava que a razão das guerras era a violência congénita dos homens”. Como consequência deste arrazoado, as raparigas sentavam-se “inchadas de complacência”, enquanto que “os rapazes encolhiam-se nas cadeiras, pedindo desculpa pela sua existência, pensando que esse seria o padrão das suas vidas”. (“Ain’t Going Down”, cantava erradamente a vedeta do country americano, Garth Brooks).

Sai o macho de cena mas entra a Ciência. Vivemos numa época bafejada pelo conhecimento científico que substitui os velhos métodos. Por exemplo, no caso do detector de infidelidade, que torna obsoleto o método artesanal da avózinha, preconizado pela rapper Riskay. Mesmo os homens de membros avantajados, (antigamente, Milton Merle ou agora, Colin Farrell), estão ameaçados pela tecnologia de ponta. A aliança entre Ciência e indústria produzem objectos contra os quais o homem não pode competir – os vibradores. Um objecto que já faz parte da tralha das carteiras das mulheres modernas junto do bâton, rímel, memory pen e telemóvel. A Jimmyjane apresenta modelos de metal à prova de água, silenciosos, discretos, que podem ser usados nos lugares públicos. Kate Moss comprou-lhes um modelo Little Something Gold. A Booty Parlor tem um leque variadíssimo que satisfaz as mais exigentes. Angelina Jolie prefere o modelo Classic Rabbit. Paris Hilton possui o modelo Minx com brilhantes Swarovski incrustados no cabo. Nesta economia de mercado a concorrência ao macho é feroz. E todos sabem como estas leis são cruéis extinguindo os inaptos para competir. Assim, como precaução, para continuar vivinhos da silva, é melhor seguir a velha sabedoria de Mao Zedong e juntar-se a eles. Os modelos para homem são bastante apelativos no electrodoméstico unissexo por excelência. Para o resto é “Pump It Up” como trovava Elvis Costello, na sua melhor época, em 1978.

quinta-feira, novembro 15, 2007

Transcender

Bento XVI acordou do lado errado da cama, e, deve ter calçado, os sapatos doutro eminentíssimo dignitário, que os calos lhe apertaram. E, então, achou por bem, descarregar esse doloroso padecer, em cima da trupe de joviais bispos lusos de visita Ad Limina aos corredores do Vaticano. (“Limina” significa “sepulcros”. A Ad Limina Apostolorum era uma antiga tradição da padralhada de peregrinar aos túmulos dos apóstolos Pedro e Paulo, situados em Roma, regrada por Sisto V, em 1585. Assim, visitavam as tumbas e aproveitavam para fazer um balanço do estado da cristandade ao Papa. Em 1909 Pio X atribuiu-lhe uma obrigatoriedade quinquenal. Actualmente, o balancete mantém-se, mas a romaria faz-se pelos inúmeros departamentos do Vaticano, para tratar de “assuntos” e “coisas piedosas”). Enfim, vão ao “Talk Talk” (dos The Music Machine, banda de garage rock, sedeada em Los Angeles, entre 1965-1969, liderada por Sean Bonniwell. Vestiam todos de negro e como imagem de marca usavam uma única luva).

No encerramento da visita dos prelados portugueses, o Sumo Pontífice leu numa vozinha ministrone di verdure: “é preciso mudar o estilo de organização da comunidade eclesiástica portuguesa e a mentalidade dos seus membros, para se ter uma Igreja no ritmo do conceito Vaticano II, na qual esteja bem estabelecida a função do clero e do laicado”. Apesar da dureza, as palavras não cheiravam a enxofre, antes exalavam um fragor familiar e refrescante de “Incense and Peppermint” (dos Stawberry Alarm Clock, banda de rock psicadélico de Los Angeles).

Um Papa, de quando em vez, faz um refresh. As suas críticas visam inovar ou corrigir tresmalhos, no interesse do rebanho, nunca condenar na fogueira ovelhas enegrecidas por tortos caminhos. Bento XVI pode ter linha directa com o transcendente mas, neste caso, vive a leste da realidade portuguesa. Em relação a Portugal ele está totalmente “Wipe Out” (pelos The Ventures. Banda fundada por dois pedreiros de Seattle, Don Wilson e Bob Bogle, em 1958). Ordenar que os bispos separem o padre do não-padre num país padreca por excelência é matar-lhe a alma. Em Portugal, as paixões não inflamam quando nasce um imposto ou uma proibição, fecha uma fábrica ou um teatro, mas apenas quando um mui querido padre é transferido de paróquia. As contas do Santuário de Fátima provam a chama da população e a boa gerência da beatice efectuada pela nossa padraria. Esta têm um aliado de peso, que não está nas alturas, mas rente ao solo. A religiosidade tem crescido muito mais do que o PIB potenciada pelo futebol. Sobretudo, pela sagrada Selecção Nacional que mais fé e rezas alevanta. “Bend me, Shape me”, cantavam os The American Breed, e nós fazemos coro. Desde que me ames it’s alright carregar um padre ao lombo.

O impagável José Ferrater Mora definia no seu Dicionário de Filosofia: “em geral tem-se entendido que o transcendente é o que está ‘para lá de alguma coisa’; transcender é ‘sobressair’”. (Supõe-se que deve ser como um espectáculo da Barbara Lynn). A transcender também somos bons. Mário Lino, ministro das Obras Públicas, desvendou o enigma do desemprego: “entre o número de empregados que se desempregaram e o de desempregados que se empregaram o saldo é positivo, há mais 60 mil postos de trabalho, relativamente a Março de 2005, depois, em termos de taxa de desemprego, isto é contrariado porque também houve mais pessoas que chegaram pela primeira vez”. Uma explicação destas desencadearia uma “Psychotic Reaction” (dos Count Five. Banda da Califórnia fundada em 1964 por John “Mouse” Michalski e Kenn Ellner). Exasperaria os nervos dos países menos reformistas, sem visão ou estratégia de mudança. Mas Portugal, responsável pelo achamento do Tratado de Lisboa, recentemente subestimado por Sarkosy no seu discurso ao Parlamento Europeu, propõe agora um político Alta Definição Blu-Ray para não cair no “deserto” político. Um ministro que explica como as coisas, mesmo melhorando, também pioram. Está “para além de alguma coisa” e deixa-nos dependurados … do seu próximo dizer. (“You Keep me Hanging on”, pelos Vanilla Fudge, banda de rock psicadélico entre 1967-1970, numa canção popularizada pelas The Supremes).

Quem quer transcendência a sério vai… ao hipermercado. Neles há de tudo como nas antigas Pharmácias. As crianças cruzam-se com a Leopoldina ou a Popota. Os adultos com chavalas de patins. E, se forem beatnicks, como Allen Ginsberg, com poetas espanhóis: “Que pêssegos e que penumbra! Famílias inteiras fazendo compras à noite! Corredores cheios de maridos! Mulheres nos abacates, bebés nos tomates! – e tu Garcia Lorca, que estavas a fazer ao pé das melancias?” in “Um Supermercado Na Califórnia”. Estávamos no ano de 1952 e a América branca transcendia-se atribuindo prémios aos porvires afro-americanos. Dois anos depois …e tudo Godzilla mudou.

(“Godzilla, The King Of Monsters!” é um filme japonês sobre um monstro com 50 metros de altura que atacou e quase destruiu Tóquio. Na versão americana acrescentaram-lhe umas cenas com Raymond Burr no papel do repórter Steve Martin. Num prenúncio de uma prática comum do american way, o jornalista exagera no tamanho do monstro apresentando-o com 120 metros para assustar as plateias. Godzilla é dissolvido pelo Dr. Daisuke Serizawa com um moderno “destruidor de oxigénio”, tecnologia de ponta numa época de bombas atómicas e de hidrogénio. O filme termina com a possibilidade de existirem outros monstros). Vivia-se em constante medo da “Eve of Destruction” (por Barry McGuire).

A vida beatnick procurava a transcendência no quotidiano. “Quarto tranquilo, / cobertor tranquilo, / grande almofada, fria, / interessante arte…” – Aram Saroyan in “Citação”. Eles pretendiam alcançar a síntese entre os abatidos e o beatífico explicava Jack Kerouac. Na estrada choraram “96 Tears” – dos Question Mark & The Mysterians (com um estilo de dança muito beatnick, a banda formou-se em Flint, Michigan, no ano de 1962. Retiraram o nome do filme japonês “The Mysterians” de 1957. Nele o planeta Mysteroid é destruído e os seus habitantes, os mysterians, fogem para conquistar e habitar a Terra).

E na estrada os diálogos eram deveras estranhos. “Por isso disse: ‘Mas o oceano persegue / os peixes’. / Desta vez riu-se / e disse: ‘suponho que / os morangos foram / empurrados para uma montanha’” – Gregory Corso in “Poetas Pedindo Boleia na Auto-estrada”. E dentro de casa as coisas não estavam melhor: “por ti / matava a minha barata favorita / que vive no rodapé / junto do estirador” – Diane DiPrima in “Mais ou Menos Poemas de Amor”. Os beatnicks usavam cores sombrias, óculos escuros e barbicha. Conta-se que a palavra "beatnick" foi criada, em 1958, por Herb Caen, jornalista do San Francisco Chronicle, numa graceta entre a palavra “beat”, referida ao jazz Bepop e o satélite russo Sputnik, para classificar “alguém fora dos cânones normais da sociedade” e possivelmente pró-comunista. Foram de maneira exemplar retratados por Jerry Lewis no filme de 1960, “Visit to a Small Planet”. Onde Jerry, no papel de um extraterrestre, atrapalha-se com a vida na Terra e faz sucesso entre os beatnicks. Eles iniciaram a viagem em 1948, quando Allen Ginsberg, Jack Kerouac e William Burroughs se conheceram em Nova Iorque. E revolveram as águas da poesia americana – “Come on down to My Boat” (dos Every Mother’s Son. Banda de Nova Iorque formada em 1967 por Denis e Larry Larden).

Procuraram a transcendência mas o tempo, esse conselheiro, segui o seu rumo. Frank O’ Hara ainda gritou: “Girem, bobinas de celulóide, / como a grande terra também gira!” – in “A Indústria Cinematográfica em Crise”. A crise foi pouca e as bobinas giraram no final da década de 50 início de 60. Estrearam pérolas da cinematografia americana. “The Giant Claw”(1957) – que destrói o edifício das Nações Unidas. “The Beach Girls and the Monster” (1965) – com as Watusi Dancing Girls. “Monster A-Go Go” (1965) – com pretty girls. E a musa de todas as festas de amanhã, Annette Funicello, enche o ecrã. (em “Pajama Party”, 1964, “Beach Party”, 1963, com Frankie Avalon, e jovem, a preto e branco, em “Lonely Guitar”, na série TV da Disney, "Zorro", em 1958).

Uma nova América sai da sala do cinema. A música é outra e uma fauna esquisita toma as ruas de assalto. Vestem roupas coloridas e têm cabelos compridos. Alguns grupos proporcionam a banda sonora destes tempos e fazem a transição entre os Beatnicks e os Hippies. Não ganharam dinheiro, fizeram apenas História. Os The Fugs, formados em 1965, em Nova Iorque, pelos poetas Ed Sanders e Tuli Kupferberg. Este nomeou a banda a partir de “fug”, eufemismo para “fuck”, usado por Norman Mailer em “Os Nus e os Mortos”. Segundo Sanders a mudança do termo “beatnick” para “hippie” deu-se numa reunião no parque Golden Gate, S. Francisco, em 1967, enquanto Allen Ginsberg, Michael McClure e Gary Snyder entoavam o canto budista Om. (os The Fugs na TV sueca).

Os 13th Floor Elevators foram fundados em Austin, Texas, em 1965 por Roky Erickson. Compositor, guitarrista, tocador de harmónica e vocalista, em 1968, durante uma actuação desata a disparatar. É internado no hospital psiquiátrico de Houston e sujeito a um tratamento compulsivo de electrochoques. Em 1969 é apanhado com um charro, para evitar dez anos de prisão, nega a acusação invocando insanidade mental. Foi condenado e institucionalizado. Primeiro, no hospital estadual de Austin e depois, por ter fugido, no hospital estadual Rusk for the Criminally Insane, para mais um tratamento compulsivo de electrochoques e Thorazine até 1972. O nome 13th Floor Elevators terá sido composto num jogo com a décima terceira letra do alfabeto, M, de marijuana, e a superstição de certos edifícios não terem o décimo terceiro andar. Eles em “You Gonna Miss Me”.

Os Merry Pranksters grupo itinerante que vivia em comunidade na Califórnia. Dele faziam parte o pioneiro das experiências com LSD, e autor do livro “Voando sobre um ninho de cucos”, Ken Kesey. O escritor Ken Babbs. Neal Cassady, imortalizado no livro “On The Road”, como Dean Moriarty. Carolyn Adams, conhecida como Mountain Girl, e casada com Jerry Garcia. Paul Krassner, editor da revista The Realist, e juntamente com Jerry Rubin, fundador do Youth Internatonal Party, e muitos outros. Viajavam pela América num autocarro chamado Furthur distribuindo LSD a todos. Quem fornecia a música nestas sessões de ácido era o grupo de Jerry Garcia, os The Warlocks, que depois mudariam o nome para Grateful Dead. No Verão de 1964 aparecem na propriedade doutro guru do LSD, Timothy Leary, em Millbrook, Nova Iorque. Mas Leary tinha passado a noite a tripar e estava a dormir. As aventuras do grupo foram relatadas por Tom Wolfe em “The Electric Kool-Aid Acid Test”. O abuso de drogas e sobretudo a difusão da heroína extinguiu esta segunda vaga de atingir o sublime. O mundo deixou de ser um parque de diversões. “My Green Tambourine”, canção ainda psicadélica dos The Lemon Pipers (banda de Oxford, Ohio. Queriam tocar mais rock psicadélico, mas a editora ameaçou despedi-los se não tocassem vendável pop).


Desde lado do Atlântico, a Inglaterra também foi invadida por extraterrestres em “The Earth Dies Screaming” (1964). E, em 1972, o camaleão do outro mundo cantava “Jean Genie”...

sexta-feira, novembro 09, 2007

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Após as Tágides terem sido enxotadas do Tejo, pelas toxinas e microrganismos patogénicos, consequentes do evacuar da cidade da Portela + 1, pouca etérea vianda restou onde os poetas afincarem o dente… do espírito. Os espertos emigraram para o comissariado político inspirados pelo paredão do Estoril (“de passar repassar a multidão / de um domingo estoril no paredão” – Vasco Graça Moura in “Um domingo Estoril”). Nos futebóis estão as melhores alminhas da nossa geração. “Encontrei 23 homens a chorar no balneário” declamava José Mourinho para os gloriosos líricos dos telemóveis com gravador. Viciados nos videogames estão alguns mais novos, disparando gatinhos com um canhão, enquanto não sai o Halo 3 ½. Os outros, sob o peso da carga fiscal, ficaram azuis – nem foi preciso ir a Montreux ver o rei da guitarra, Buddy Guy, acompanhado por Junior Wells, na harmónica.

(No século XIX, a palavra “blues” conotava-se com a nossa “saudade”. Significava uma depressiva tristeza provocada por estar distante do lar. Ela aparece com esse sentido na correspondência dos soldados da Guerra Civil americana. Na música, conta a lenda que em 1903 W.C. Handy, chefe de orquestra e compositor, enquanto esperava pelo comboio para Memphis, na estação de Tutwiler, Mississippi, terá visto um trabalhador negro do campo, chamado John Sloan, a tocar guitarra roçando uma faca pelas cordas. Impressionado por aquele som adaptou-o nas suas composições e ganhou o título de “pai dos Blues”. Todavia, porque a cor da pele era de bom tom na América segregada, a canção mais antiga com blues no título é “Dallas Blues”, registada em 1912 por Hart A. Wand, um músico branco de Oklahoma. W.C. Handy terá ouvido algo semelhante ao estilo que Bukka White – o primo de B. B. King que lhe ofereceu a primeira guitarra – toca em “Poor Boy Long Way From Home”. Em certa medida, o tempo fez justiça, é dele a canção mais gravada nos EUA, “St. Louis Blues” – aqui cantada, entre copos, por Bessie Smith).

Azulados pelo estrangulamento do Estado, ou cerúleos por excesso de ar puro, os portugueses não meteram os pés na cova, apesar do conforto dos caixões actuais. Nem se dedicaram à fanfarronice sobre passadas vidas como os ingleses (aqui a equipa de Monty Python, John Gleese, Graham Chapman, Tim-Brooke Taylor mais Marty Feldman, em 1948). Montaram nas novas caravelas, as botas, e foram desencantar inspiração na casmurrice, na insistência da produção de boas ideias. “Ó boi da paciência sê meu amigo!”, evocava António Ramos Rosa, desatando o nó da estrangulada inspiração. “Let Me Ride”, entoaria Memphis Minnie NcCoy, as musas voltaram ao… arrabalde do Tejo! Pois essa bovina paciência torna-se imagem de marca do país do “futuro já começou”. Os resultados saltam como janelas de pop-up. Portugal já produz mais ideias do que aquelas que importa. Pachorrentamente talhou-se uma nova cara para o país. A incubadora criativa da Europa agora espelha ventura pelas “ruas da doçura” (ex-amargura). Afinada neste diapasão, a Juventude Socialista lançou uma imaginativa campanha de ovação aos seus senhores mais velhos. Nos cartazes, um jovem sorridente, sobre um fundo azul, realiza o sonho de qual homem – uma sanduíche entre uma loira e uma morena. Ao lado, em letras negras, anuncia-se as boas ideias do Governo. Neste (fértil) areal, Skip James não tocaria “Worried Blues”, porque não temos preocupações.

Infelizmente, ainda se dão passos atrás. É de lamentar que a proposta de colocar dísticos coloridos nos carros, para diferenciar os condutores, segundo o número de acidentes, não tenha avançado. Vermelho, para aqueles que provocaram mais de dois sinistros no último ano, ou que, nos últimos dez anos, tenham originado quatro ou mais acidentes. Laranja, para os causadores de dois acidentes no último ano, ou foram declarados culpados de três acidentes, nos últimos dez anos. Verde, para recompensar aqueles que não causaram acidentes nos últimos três anos, ou apenas um nos últimos dez anos. Olarila! Assim estávamos aparelhados para circular na “Highway 49” com Big Joe Williams.

No entanto, a ideia da empresa Peres n’ Partners ainda está em bruto. Precisa de ser trabalhada como todos os diamantes. Seria mais eficaz se os dísticos fossem cosidos na lapela dos casacos dos automobilistas. Assim sofreriam a reprovação social mesmo quando conduzissem o carrinho do supermercado. Mas, mais importante ainda é antever a proverbial tendência dos portugueses para a marosca. De certeza, mal saísse o decreto-lei, logo o engenho luso dava-lhe a volta. Para não haver trapaça a matrícula do carro deveria ser tatuada no pulso. Etiquetar pessoas com sinais visíveis nunca foi tentado na História. Por enquanto, uma ideia realmente boa, e sobretudo original, foi para a gaveta. Se continuamos a chutar para as calendas boas ideias incorremos no risco de acabar a apanhar fardos de algodão (ou em inglês técnico dos manuais de Economia “Pick a Bale of Cotton”) como Leadbelly.

(Leadbelly nasceu numa plantação perto de Mooringston, Luisiana. Recebeu esta alcunha na prisão de Sugar Land, Texas, num trocadilho com o seu nome, Hudy William Ledbetter, associado ao facto de ser rijo como pedra. Conta-se que depois de esfaqueado no pescoço, tirou a faca e quase matou o atacante. Leadbelly é considerado um cantor de música Folk. Conviveu com Pete Seeger e Woody Guthrie. Nos anos trinta, a American Record Corporation tentou vendê-lo como músico de Blues, com pouco sucesso. Durante a sua primeira digressão europeia foi-lhe diagnosticada a doença de Lou Gehring. Não termina a tournée e morre em Nova Iorque, em 1949. Os amigos The Weavers homenageiam-no no seu maior êxito, “Goodnight Irene”).

O reino mitológico das musas e ninfas desapareceu. Mas os bovídeos também são okey, se caso fosse necessário, lenha para aquecer os lusíadas. A profissional GNR, no zelo pela segurança da caça à multa, mandou parar uma ambulância que transportava um doente grave entre Arcos de Valdevez e o hospital de Ponte de Lima. Mostra documento, sopra balão, inspecção aos farolins e pneus, e o doente morre mal entra no hospital. Noutra época a morte era o fim. Mas não agora. Os actos humanos carecem do “inquérito” antes de serem dados como finados. Esta regra burocrática visa o direito sagrado de informação e não é quebrada, nem que apareça no enterro, o reverendo Gary Davis, com Pete Seeger, Donovan e Shawn Phillips, para carregarem o caixão.

Os GNRs actuais não participariam no Projecto Pombo por excesso de inteligência. Os antigos, também não participavam, mas por falta de inteligência. (O Projecto Pombo foi uma ideia bem bolada do psicólogo behaviorista americano B.F. Skinner. Tratava-se de um míssil guiado por pombos. Três no total que funcionavam por maioria democrática. Uma imagem do alvo seria projectada num ecrã interior e os pombos, condicionados por técnicas pavlovianas, desatariam á bicada orientando o míssil até ao destino). Nem os modernos GNRs são uns meros sabujos ou “Hound Dog” (canção escrita por Jerry Leiber e Mike Stoller. Big Mama Thornton foi a sua cantora original, aqui acompanhada por Buddy Guy). Os GNRs, que mal sabiam bater a pala ou acertar o passo, hoje, até fazem log in. Lemos no relatório do inquérito: “a GNR abriu um processo de averiguações aos elementos da BT envolvidos na paragem de uma ambulância, tendo concluído que estes não tiveram qualquer responsabilidade” na morte do homem. Pudera! Ninguém esperava conclusões diferentes. Quem dá e tira a vida é Deus. Só os que vendem a alma ao diabo escapam ao chamamento da morte, como Robert Johnson, em “Crossroad” (a lenda do bluesman que ia aos cruzamentos vender a alma ao diabo, em troca da habilidade de tocar os Blues, foi atribuída a Robert Johnson, embora o músico nunca tivesse reivindicado essa prática mística antiga. Era Tommy Johnson quem reclamava a autoria da lenda).

Quem quer boas maneiras e etiqueta compra o Barney Boas Maneiras. No mundo das ideias boas não se lava mãos ou diz obrigado. Muito menos no mundo “al gorizado”, onde os manuais de boas maneiras estão a ser substituídos por manuais de boas práticas ambientais. Onde os políticos solitários “Walk That Lonesome Valley Blues” (Mississippi John Hurt), em jactos privados, para nos conduzir até à luz. Portugal ficou famoso por desenvolver um programa de “políticos na hora” que tanto nos honra. Temos um famoso na solidão do cume. O cinéfilo Durão Barroso, rememorando Mad Max, profetiza: “as alterações climáticas constituem uma ameaça para a segurança global. Basta imaginar a luta com que nos iremos confrontar, no final do século, pelo acesso às fontes de energia e aos recursos naturais”. “So What Papa?” perguntava Mamie Smith.

Ter torrentes de ideias é a sina dos políticos. “Os políticos vivem dependentes das ideias como os pensadores profissionais” (Alberto Martins, líder parlamentar do PS). Quando uma desabrocha parece duas, que apetece escrever uma carta, como a grande Sippie Wallace com John Mayall & the Bluesbreakers. Nestes dias Portugal e Bruxelas digladiam-se pela realização da “histórica” Cimeira de Dezembro. Lisboa exibe pergaminhos sobre o Tratado Reformador. Bruxelas puxa dos galões de uma reunião de políticos de alta cilindrada. Que fazer? Decisões. Decisões. Nestes casos manda a etiqueta não zangar as comadres. Então, acordam dividir o evento pelas duas capitais, isto é, vamos assistir a um potencial crime de tráfico de seres humanos… em primeira classe. No aeroporto da Portela + 1 acenaremos “Bye Bye Bird” com Sonny Boy Williamson.

sábado, novembro 03, 2007

Polícias meiguinhos
O polícia revelou-se mais importante que os brócolos para um crescimento saudável da nossa sociedade. Quem não se lembra da insegurança nas ruas? Aonde nada era sagrado. Nem o chapéu do gentil-homem, nem a honra da donzela, nem a bolsa da velhinha, e tão-pouco a verticalidade do polícia. Ouvia-se, horrorizados, frases destas: “quando um polícia se torna assassino você tem o direito de permanecer calado… para sempre”. (A série Maniac Cop produziu três magníficos filmes sobre polícias. Curiosamente não se degradou nas sequelas. Maniac Cop 3 tem as melhores cenas do cinema de good versus bad). Estes acagaçados tempos são águas (recicladas) passadas. Hoje respiramos segurança. Até o omnisciente mercado envia essa mensagem. Os mais assustadiços têm solução, nas televendas, comprando engenhoso suporte, para levar a arma para a cama. Mas de uma maneira geral o polícia vela, como uma cândida pomba, os nossos passos, suscitando um “Hot Kiss” (Juliette Lewis and the Licks) da segura sociedade.

Formosos e seguros vamos à fonte e… aos outros lados também. No Portugal da geração, que trocou os universais lençóis Teletubies, pelos patrióticos da bandeira nacional, as nuvens escuras têm de ser enxotadas do céu. Se… por improvável hipótese, houvesse uma má notícia relativa ao nosso país, ela será transmitida, gentilmente, pelo jornal satírico The Onion, com o mesmo tacto que tiveram para com o uso do trabalho infantil pela GAP. Quem vive numa súbita riqueza, produto das nossas boas ideias executadas na prática (não andamos a pescar lagosta branca na Costa do Mosquito, na Nicarágua), merece uma atmosfera favorável. Nada deve conspurcar este opiáceo momento. Quando o primeiro-ministro viaja, a polícia tem a obrigação de atapetar o caminho com pétalas de rosa, como fez a GNR de Montemor-o-Velho. O diligente comandante do posto ordenou o afastamento dos manifestantes de Sócrates, para que palavras ofensivas, não fossem levadas pelo vento esgarrão, até ao dignitário. Co’a breca! Um primeiro-ministro não é mulher séria (da qual se dizia não ter ouvidos). Um primeiro-ministro tem a audição apurada de um tísico para auscultar as aflições do povo. E o doesto fere o “resgatável corpo num mundo em dissolução”. (Ah pois é! ver FAR in “O Mundo de Houellebecq” no 2+2=5 e na Pastelaria de Ana Cristina Leonardo). No iPod de um primeiro-ministro não encontramos “Amamdame côa paxaxa pus demtes” dos abrasivos portugueses Comme Restus.

Uns sindicalistas rabugentos da Federação Nacional de Professores, enfermeiros e da União de Sindicatos de Coimbra foram encanastrados por uma linda faixa “Restricted Area”, identificaram-nos e retiraram-lhes injuriosas faixas. Sócrates fora in loco descerrar uma placa comemorativa do lançamento de uma plataforma tecnológica de hidrogénio para a produção de energia. Uau! Impressiona. Sobretudo no país que tem a ventura de empilhar nas suas fileiras o maior corta-fitas do mundo (o histórico profissional Américo Thomaz). Um comandante de posto da GNR já não é um burgesso ou um animal azamboado pelas alterações climáticas. É um polícia que discutiria no bistro com Bernard-Henri Lévy, as vantagens do champô Garnier Ultra Suave, com óleo de abacate e manteiga de karité, na obtenção do penteado perfeito após a morte de Deus. Ou entenderia as mãos grandes de Rachmaninoff (tocado por Igudesman e Joo, alunos de Yehudi Menuhin). E cabriolaria com uma perna às costas todos ritmos do mundo: Afrobeat, Rumba congolesa, Kompa haitiana, Salsa, Afrijazz, Jazz Roots americano etc. Um GNR é tão intelectual que leu uns livros. Mas é tão intelectual, tão intelectual que reconhece a experiência zen do «4’ 33’’» de John Cage. Sentado na cadeira, ouve o arranhar do rato sob o soalho, o cricri do grilo na racha da parede, o barulho das luzes indirectas, o roncar do estômago da esposa ao lado sentada, o gargarejar do fantasma da ópera nas catacumbas etc. Quisesse Nossa Senhora do Carmo, que todos os GNRs se chamassem Dário, para podermos ugar em uníssono “My Friend Dario” (de Vitalic).

“A arte nunca está acabada, apenas abandonada”, dizia Leonardo da Vinci, da arte que lhe saía do atelier. José Sócrates explicou a sua: “o Partido Comunista confunde o direito de se manifestar com o direito de insultar. Não são a mesma coisa. O Partido Comunista não aprendeu nada, não evoluiu nada. Onde quer que eu vá fazem manifestações, utilizando os seus dirigentes sindicais”. E o caso fica arrumado, porque não se pode chamar “mentiroso” ao primeiro-ministro da nação positiva. De facto, o positivismo saiu da bandeira nacional brasileira para as praias lusas, castigando-nos com a maré do progresso. Os nossos “pulos” evolutivos não comportam mutações retrógradas. Depois de morder a vitória, cuspimos nas derrotas. (A Selecção Nacional de Rugby participou no Mundial de França. Alcunhada “Os Lobos”, não ganhou um único jogo. Para ser recebida no aeroporto de Lisboa em apoteose foram contratados jovens numa empresa de casting e a febre de Portugal à noite e dia sobe para Fahrenheit 451). De país derrabado, alimentado a mendrugo, entramos na via do sempre em frente. Qualquer desfasamento entre o discurso e a realidade não é uma “mentira”, nem uma fantasia por comer sopas de Amanita Muscaria com vinho. É uma construção do mundo como vontade e representação schopenhaueriana, mas segundo o modelo dos seus poodles, Atma e Butz. Os que têm arte de boa vista vêem alguns dos 150 000 empregos prometidos no vídeo “22 Grand Job”, dos The Rakes.

O polícia está para o cidadão, assim como o cão está para o homem… é o melhor amigo. Eles prendem criminosos com se fossem preservativos. Com as novas pistolas Glock serão mais valentes que as mulheres do Curdistão (como abriu a época de caça ao curdo, a maior parte destas já devem estar mortas, por obra da mãozinha amiga dos EUA aos turcos. Geoff Morrell, porta-voz do Pentágono, dizia do apoio à Turquia: “demos-lhes mais e mais informações devido às suas preocupações recentes”). Um polícia admira, como todos os portugueses, Cristiano Ronaldo, depilado e oleado, no colchão deitado, justificando-se: “se eu não corresse. Se eu não treinasse. Se eu não me mexer. Se eu não me aplicar a fundo. Se eu não saísse do colchão. Eu não rendia”. Um polícia é como o Cristiano Ronaldo, na esquadra deitado, não rende. Tem que se mexer como uma laboriosa abelhinha. Nas terras pequenas, por exemplo, passa pelos sindicatos antes das manifestações para desejar boa sorte. O próprio ministro da tutela explicou a ida à sede do Sindicato dos Professores da Região Centro, na Covilhã, com este bzzzzzz da polícia. Numa terra pequena, onde todos se conhecem, o polícia é um compadre, não faz cerimónia. A ronda é feita em meio familiar: vai um copito, Sr. guarda? E umas lascas de presunto? A Covilhã é minúscula. Então à noite não é maior que um hotel em Benidorm, invadido por alunos do secundário com as hormonas destrambelhadas, numa roda-viva de troca de quartos e bêbedos vomitando nos corredores. O senhor ministro garante que os polícias são meiguinhos, acostumados ao contacto muito informal, mas promete institucionalizar as relações para que a repressão não seja arbitrária, mas abençoada pela mão do Estado de Direito. Os ministros e os polícias de hoje não são os javardos de outrora. Entre caracóis e canecas de cerveja são capazes de ouvir “Poème Électronique” do “colosso estratosférico do som”, como lhe chamava Henry Miller, Edgar Varèse.

Num mundo louco, que proporciona violentas cenas de sexo entre robots, como no vídeo “The Sex Has Made Me Stupid”, (do duo electro punk feminino inglês Robots in Disguise), mas também bonitas imagens neo-bucólicas ao som dos Dead Can Dance, um polícia é um porto de sanidade, por ser um simples homem. Enquadra-se nesta definição de Daniel Boone: “todo o que precisas para ser feliz é uma boa arma, um bom cavalo e uma boa mulher”. E os nossos são uma embaixada no estrangeiro como o vinho do Porto ou o trolha. Em Timor brilham como se viessem da “Land Down Under” (dos australianos Men at Work). No dia 27 de Outubro, uma multidão reuniu-se em Dilí para receber Vicente Reis. Herói da resistência foi fundador da Associação Social Democrata Timorense (ASDT) e, depois, da Frente Revolucionária do Timor-Leste Independente (FRETILIN). Vicente Reis morreu em 1979, pormenor que não demoveu a população, afinal foram cristianizados pelos portugueses e a ressurreição veio incluída juntamente com a posição do missionário. A GNR e Timor são duas jóias da coroa portuguesa. “It’s Not Over Yet” (dos Klaxons) as felicidades que nos darão.