Pratinho de Couratos

A espantosa vida quotidiana no Portugal moderno!

domingo, fevereiro 17, 2008

Oh! bananas

A gazeta Washington Post tem ventanejado delico-doce opinião, para os sem opinião, no Distrito de Columbia e subúrbios, (também conhecidos como o mundo). Fundada em 1877 por Stilson Hutchins, foi vendida, em 1889, a Beriah Wilkins e Frank Hatton. Por encomenda dos novos donos John Philip Sousa compôs-lhe uma marcha para aumentar as vendas. Desde o século XIX, não mais se perderam alminhas no purgatório do excesso de informação. Todas recebem as chaves do céu do esclarecimento. E, no século XXI, os pobres de opinião confiam nos opinion makers do Microsoft Word (ex-croniqueiros da máquina de escrever) do correio de Washington para um conceito, uma visão, uma perspectiva sobre os assuntos que lhes amofinam os miolos. Inclusive, se Cui Jian, o pai do rock chinês, tocará “Fake Monk” nos próximos Jogos Olímpicos. (Nos anos 50, o glorioso Partido Comunista da China classificou a música pop como pornográfica e arrumou o assunto. Não admira pois que o seu aparecimento no Império do Meio seja tardio. Considera-se, um concerto televisivo de Cui Jian, em 1987, o acontecimento relevante que originou o rock na China. Ele em :-o e :-o. Depois de Tiananmen passou a usar um lenço vermelho na cabeça).

Certo dia o ressabido jornal quis verificar se o vislumbre do Génio parava as pessoas no caminho do trabalho. Para isso propuseram a Joshua Bell, um dos maiores violinistas contemporâneos, que tocasse na estação L’Enfant Plaza, no centro de Washington, durante a lufa-lufa matinal. Na manhã fria de sexta-feira 12 de Janeiro, pelas 7:51 horas, Bell instalou-se na estação de Metro, com o seu Stradivarius de 1713, avaliado em 3.5 milhões de dólares, e tocou 43 minutos de veneradas obras clássicas. Começou com o solo Chaconne de Bach. Seguiu-se “Ave Maria” de Schubert [por Yehudi Menuhin, violino, Adolph Baller, piano]. Depois “Estrellita” de Manuel Ponce [por Joshua Bell]. Uma peça de Jules Massenet. E terminou com o Gavotte de Bach [por Christian Ferras]. Um programa pelo qual senhores de fraque, cheirando a naftalina, e senhoras com verdete nas jóias e nos joanetes, pagariam nota preta num Centro Cultural. O balanço de audiência não foi animador. Apenas 7 pessoas pararam para ver o espectáculo e 27 deram dinheiro, sem interromper a corrida, para apanhar o comboio. Bell fez 31 dólares e 17 cêntimos, arrumou o violino e foi para casa. Se lá tocassem os Brain Failure (banda punk chinesa), os Ritual Day (grupo de black metal), os Cold Blooded Animal (banda grunge) ou os Twisted Machine (banda de metalcore) os comerciantes dos quiosques da estação teriam chamado a polícia.

Os passageiros do Metro, tal como Descartes, querem tranquilidade e descanso. E, se possível, não ter encontros esquisitos. Curioso nesta experiência foi a reacção de Joshua Bell. Confessou ele ser difícil tocar sem aplausos. Disse: “quando se toca para um público pagante, estamos à partida validados. Não tenho a sensação que preciso ser aceite. Aqui tenho este pensamento: e se eles não gostam de mim? E se ressentem a minha presença? …”. Consoante decorria a actuação, e as pessoas circulavam apressadas, o stress apossava-se dele, faltava-lhe o retorno do público. Não deixa de ser contraditório, numa época onde todos falam para o umbigo, os geniais terem necessidade de um ouvido (lacaniano ou civil). Há profissões com mais carência de auditório que outras. Quanto mais altas estão na cadeia alimentar, mais reacções precisam. Em 1973, numa discussão sobre relações comerciais, Mao Zedong, não tinha grande coisa para trocar pelos refulgentes produtos americanos, e lamentou-se para Henry Kissinger: “somos um país pobre. Não temos grande coisa. Aquilo que temos a mais é mulheres. Se as quiser, podemos dar-lhe alguns milhões”. O secretário de Estado de Nixon fez-se de desentendido. Pouco depois Mao volta à carga: “quer as nossas mulheres? Podemos dar-lhe 10 milhões”. Kissinger sem saber onde meter tanto mulherio respondeu: “é uma proposta nova. Temos de estudá-la”. Se esta troca de mulheres, por produtos do capitalismo, fosse aceite, os chineses poderiam ver os Tang Dynasty, a sua primeira banda heavy metal, em “Choise”, “The Sun” e no hino proletário “L’Internationale”. Mas não a primeira banda feminina de rock, Cobra, em :-z e :-z. Yang Ying, a vocalista, é também uma reputada tocadora de erhu.

Portugal não atira ao mar quem se fixa no seu território. Recebe-os para que cresçam e se multipliquem como manda o Criador. Nestas costas, Deus responde às perguntas, e, na Sua Bondade, fez um povo evolutivo, (reformista, como se diz agora). O enigmático Jorge Sampaio, sentado na cadeira do poder, advogava um país baratinho: “temos de combater o oportunismo e o chico-espertismo que degradam a nossa oferta e minam a nossa credibilidade. Combater os protagonistas do chamado lucro fácil e imediato”. País materialmente barato mas intelectualmente esperto. António Nunes, o modesto presidente da ASAE, pertence a esta nova linhagem. Entalado pela musculatura da sua polícia, e apanhado a fumar num espaço público fechado, inverteu a fórmula de João Pinto: “não foi nada de especial. Chutei com o pé que estava mais à mão”. Nunes chutou com a mão que estava mais ao pé. Deixou cair o chico e abrigou-se no espertismo declarando na Assembleia da República: “sou português cometo erros”. O zelador pela qualidade do consumo luso aporteguesou a frase latina “errare humanum est” num gesto moderno de lusificar o mundo. Como a música pop se achinesou... na China. (Em 1985 os Wham! deram um concerto no Ginásio dos Trabalhadores, os chineses entusiasmados por aqueles ritmos, impulsionaram a C-pop, abreviatura de “chinese popular music”. Esta divergiu em dois ramos: Mandopop e Cantopop. O primeiro, abreviação de “mandarin popular music”, é cantado em mandarim, com as S.H.E, acrónimo das iniciais de Selina Ren, Hebe Tian e Ella Chen. A cantora Elva Hsiao. Rainie Yang ex-membro das 4 in Love. E a boy band Energy. O segundo, “cantonese popular music”, baseado em Hong Kong, com Faye Wong em ;-x e ;-x e em “Bohemian Rhapsody” dos Queen).

Duas profissões se destacam pela necessidade de validação por uma audiência: professor universitário e jornalista. Mas também, a Universidade e os jornais, são terrenos férteis de espertismo, juntando os dois obtém-se uma explosiva pilha de lítio. António Valdemar, jornalista e académico, caracterizou, no espírito “somos tão bons que até chateia”, o padre António Vieira desta eloquente forma: “um estratega com as preocupações de Clausewitz, astuto como um agente 007, com a percepção de Sigmund Freud acerca da importância dos sonhos, precursor da Teoria da Comunicação de McLuhan, com a prática da meditação de um discípulo de Zen e ainda lutador da causa dos direitos humanos com a tenacidade de Luther King”. Se acrescentarmos os lábios de Jessica Alba, as nádegas de Angelina Jolie e uns pneus Bridgestone, o padreca que sermonava todos os seres, animados e inanimados, ficaria especial de corrida. Um protótipo que se aplicaria ao “quem é quem” do país positivo, aqueles que desenham o mapa do Portugal moderno e, volta e meia, dão uma chapada nos que fazem birra em não compreender as medidas governamentais. Apesar do barulho levantado acerca das medidas do Ministério da Saúde, há dias, o INEM encontrou, sem dificuldade, uma Urgência aberta e salvou Ramos-Horta. E mais. Se o presidente timorense estivesse na eminência de parir encontrariam, com idêntica desenvoltura, um bloco de partos a funcionar. Nós por cá, só boas notícias, ninguém escaqueiraria redacções de jornais como Dou Wei. (Ele destruiu o escritório do Beijing News em 2006 por lhe terem publicado falsidades sobre a segunda mulher, Gao Yuan).

A medida de todas as coisas é o português, emendaria Protágoras, se fosse vivo. O país, onde há mais almirantes que navios, demuda-se num imenso bananeiral e empandeira de orgulho pelo INEM e a GNR. Os militares desta força policial democrática são condecorados com corações e estrelas de papel pelos filhos de Xanana Gusmão. Os jornalistas frisam, há as forças internacionais, e há a GNR. Eles cheiram a outra coisa. Cheiram a Imperial Majesty. (Do estilista inglês Clive Christian, consta no Guinness como o perfume mais caro do mundo, custa 215 000 dólares o frasco). Jorge de Sena perguntava: “que levas ao colo, / embrulhado em sarrafais transcritos mau olhado / abomináveis trutas e outros preconceitos? / Um sacerdote? Um gato? A timidez?”. Não meu senhor, são baldes de fama, porque somos grandes dentro e fora do país. Mayday. (Banda onde tocava o guitarrista punk He Yong).

15 Comments:

  • At 4:13 da tarde, Blogger Táxi Pluvioso said…

    Agora que a China proibiu o cinema erótico e de terror prevê-se que os jovens ficarão saudáveis para conquistar o Ocidente.

    O Deus só responde a perguntas em inglês. E dá respostas ajuizadas. Sobre o fim do mundo, ele diz que isso não interessa, importante é aquilo que fazemos com o tempo. Não vale a pena perguntar o número do Euromilhões ele não sabe.

     
  • At 12:44 da manhã, Blogger Armando Rocheteau said…

    Hoje li o teu bem divertido texto. Amanhã, pela tua mão, vou iniciar-me no rock chinês.

     
  • At 4:36 da manhã, Blogger Táxi Pluvioso said…

    O Cui Jian é muito bom. Não percebo nada do que ele diz, mas pelo que li, são críticas ao Partido e à situação. O Dou Wei também é bom.

    O pop tem piada porque é melhor que o americano. Bem... no fundo, qualquer povo faz música melhor que os americanos, cujo produto se impõe no mercado pelo corpo que o canta. Se a Alicia Keys, Jennifer Lopez, Madonna etc. não tivessem aquele corpo não vendiam nada.

    Era para atacar a bíblia do FAR, o Washington Post, com mais veemência mas depois contive-me para não desfazer ilusões.

    No próximo post quero ver se me desenrasco no pop iraniano que conheço pouco. E o Ahmadinejad nunca mais postou no seu blog para ajudar...

     
  • At 2:00 da tarde, Blogger SAM said…

    tu deves ser um génio que anda aí escondido!

    Acho que tens razão...a civilização é um desastre!

     
  • At 3:11 da tarde, Blogger Táxi Pluvioso said…

    Deves ver o godsbot que está no link Deus responde às perguntas. Perguntei-lhe "do you like to fuck" e o gajo respondeu-me "não tenho a certeza se gosto particularmente disso mas prefiro coleccionar mexericos". É um deus zen.

    A civilização só produziu lixo. Desde Platão a Mozart, mas ultimamente tem apresentado o caminho - a reciclagem. Temos de reciclá-la.

     
  • At 10:39 da manhã, Anonymous Anónimo said…

    "Nunes chutou com a mão que estava mais ao pé. Deixou cair o chico e abrigou-se no espertismo declarando na Assembleia da República: “sou português cometo erros”."

    ahahahaahahah!!!!

     
  • At 9:06 da manhã, Blogger Táxi Pluvioso said…

    Estou sem net há mais de uma semana e pelo andar do ADSL é para durar. Não é uma avaria simples, solucionada pelo ligar/desligar, que os nossos engenheiros tão bem aprendem nas universidades. Espero que não seja uma grande avaria, do tipo cegonha pousada na linha, pois então a reparação durará uma eternidade. Se for uma avaria de dificuldade média já fico feliz e, talvez, dentro de um mês esteja reparada.

    Dizeram-me que o técnico tem de seguir a linha para encontrar o problema. Mas deve ser daquelas coisas, preparadas pelos relações públicas, para enganar clientes tolos. Não estou a vê-lo subir montes, descer vales, palmilhar alcatrão, percorrer penedos, fragas e esgotos seguindo a linha.

    Desde que eu pague a conta, e eles recebam, estamos todos felizes.

     
  • At 10:25 da manhã, Blogger Jana said…

    Já tina saudades....rock chinês... isto é cada inovação!
    Boa sorte com a avaria e reclama pode ser que pagues menos ao final do mês... eu pelos meus lados pago sempre tudo e a única novidade que chega a casa são os aumentos... um amigo meu recusou-se a pagar uma factura de 300 euros e no mês seguinte recebeu um carta a dizer que lhe tinham baixado a conta! Não acredito que seja uma regularidade... mas agora reclamo sempre!
    Um abraço!
    Juliana Tomé

     
  • At 9:49 da tarde, Blogger Patrícia C. Carvalho said…

    Este comentário foi removido pelo autor.

     
  • At 9:55 da tarde, Blogger Patrícia C. Carvalho said…

    Amigo Táxi,
    Como está? E Portugal como andas?
    Por aqui, do outro lado dos mares vamos indo...
    O retorno às aulas não foi responsável pela minha ausência não... Digamos que estou a sofrer de um processo introspectivo, que está a durar além do esperado...
    Mas acredito que logo voltarei a produzir textos mais políticos e direcionados a divulgar o contexto político da America Latina, em especial o Brasil...
    Por hora deixo uma poesia, fruto da minha introspecção!!
    E assim que sua net permitir (desculpe pela brincadeira!), por favor, faça-me uma visita!!
    Inté!

    P.s: mais uma vez um erro de português me obrigou a eliminar um comentario... desculpe-me...

     
  • At 8:53 da manhã, Blogger Táxi Pluvioso said…

    Não tenho grandes esperanças na resolução do problema de acesso à Internet. Depois de dois meses com falhas intermitentes, há nove dias consecutivos que perdi por completo o sinal ADSL. Invadi a empresa com reclamações mas, por ser Portugal, um país que vive na publicidade, as coisas não avançam. Talvez lá para o Natal encontrem o problema. Isto é uma grande chatice.

     
  • At 12:57 da manhã, Blogger Ana Cristina Leonardo said…

    então, isso vai ou não vai? A NET, quero dizer?

     
  • At 7:47 da manhã, Blogger Táxi Pluvioso said…

    Não vai não. Eu já não acredito que a PT Comunicações tenha capacidade para resolver o problema. Com a OPA do Belmiro, o Granadeiro prometeu sacos de dinheiro aos accionistas para não venderem, e, como se sabe, a inteligente forma que os gestores têm de making money é despedir trabalhadores. Por isso, devem ter despedido os tipos que consertavam as linhas.

    Não é inédito. Também o Governo, há tempos, na sua veia reformista dos serviços consulares, despediu um cônsul da embaixada na China. Depois perceberam que eram o único que sabia mandarim. Tiveram de readmitir o homem.

    A inteligência portuguesa nunca me deixou de espantar. Vejo isto como mais um belo exemplo.

    Gostei muito de ter visto o Sócrates, sobre os abusos do fisco, dizer que os cidadãos têm o recurso aos tribunais para fazerem valer os seus direitos. Mas esqueceu-se de dizer a frase completa: os cidadãos com dinheiro têm acesso aos tribunais. Nada de novo na costa oeste.

     
  • At 12:32 da manhã, Blogger Patrícia C. Carvalho said…

    Olá Taxi!
    Como estás?
    Espero que até a publicacao do meu próximo texto, que deve sair até o próximo final de semana, sua internet já esteja de volta...
    Sua visita em meu blog muito me agrada!
    Até Mais!
    Patrícia

     
  • At 7:34 da tarde, Blogger Jana said…

    saudade....
    Um beijinho e melhoras rápidas para a sua ligação á internet!
    Jana

     

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