Pratinho de Couratos

A espantosa vida quotidiana no Portugal moderno!

domingo, maio 04, 2008

Bilhar de bolso

O sexo está a engodilhar o harmonioso convívio entre géneros. Interfere e confunde situações. Estonteia seres racionais. Porque lhe desviaram o propósito original de fazer meninos. No histórico dia 3 de Abril de 1982, no local mais produtivo do mundo, o Parlamento português, João Morgado, visionário, brilhante deputado do CDS, poetado por Natália Correia, durante o primeiro debate nacional sobre o aborto, meteu “o viril instrumento” no seu lugar. Defendeu ele, convicto, que o acto sexual só existe para procriar. Na cama cumpre-se um desígnio de Deus, para rambóia e folgança há os parques de diversões ou os chás dançantes nas associações de bairro, para respeitosamente dançar, vivaços ma troppo, “Celebration”.

[dos Premiatta Forneria Marconi, grupo de rock progressivo italiano. Enquanto jovens na TV. Em “La Luna Nuova” e “Impressioni di Settembre". Numa versão já envelhecidos. E em “La Carrozza de Hans”; “Dove… Quando”; “Rain Birth/River of Life”; e “Dolcissima Maria”].

O perspicaz Morgado, familiarizado com o “Atlas Mundial da Sexualidade”, (deve ser gralha mas diz sobre as moças portuguesas: “girls begin to have namoradas soon after menarche”), ou com a “Enciclopédia Internacional da Sexualidade”, intuiu que o “acto sexual” transformado em “queca”, abria as portas da perdição. A mulher, olhada como objecto de depravação, e não como santuário de procriação, vê-se como uma peça de fruta que todos querem comer. Sucedeu em Lecco, na Lombardia, o juiz Paolo Salvatore condenou um homem, de 33 anos, a 10 dias de prisão e uma multa de 40 €, por olhar de forma muito demorada e imprópria, para uma mulher de 55 anos, num transporte público. O juiz não teve outro remédio. Prefigurou-se um crime continuado. No primeiro dia, o finório sentou-se no mesmo banco da senhora, tão próximo, que ela achou muito perto. No seguinte, abancou à frente dela e não lhe tirou os olhos de cima. Queixou-se a vítima: “os olhares do homem foram tão insistentes e impertinentes que me deixaram incomodada”. Defendeu-se o réu: “na posição em que estava sentado, não havia como não olhá-la”. Perante os factos, o douto juiz teve de ponderar a questão objectiva do tempo, que demora o olhar masculino a circunvalar uma italiana. Não é fácil. O hábito local de empanzinar pasta estofou os corpos femininos de carnes sem fim, como a Elisabetta Gregoraci ou a Francesca Dellera (provida da capacidade de acabar com a fome no mundo). Só decorrido um tempo razoável uma italiana pode gritar: “Live me Alone”.

[dos Banco del Mutuo Soccorso. Em “Il Ragno”; “Il Volo”; "750,000 Anni Fa L’Amore"; e em 2000 no festival ArtRock no Rio de Janeiro].

O “acto sexual” é executado pelo homem e a mulher, na presença de Deus, no recato do lar, e confirma a ordem universal, a “queca” pratica-se em todo o lado, sem contenção, por dois corpos inanes transpirados, gerando alarme social. A família nuclear explodiu no século XX, os estilhaços daí resultantes flutuam entre obrigações, urgência de parceiro sexual, sobrevivência e inaptidão para educar e proteger os filhos, que apenas vagueiam perdidos no consumo. Nesta magma social, os ingleses ficaram mais desnorteados que os outros povos, pois precisam dos americanos para serem british. No mês de Fevereiro, os armazéns Woolworths enfrentaram um pesadelo de marketing. Tinham um combinado cama/secretária para vender, destinado a raparigas novitas, que o fabricante chamou Lolita Midsleep Combi. Logo soaram os toques polifónicos nos “parenting groups” (grupos de pais, incompetentes para ensinar os filhos, mas que se associam para convívio, engate e enganar a solidão). Lembraram-se da novela “Lolita” de Vladimir Nabokov publicada em 1955. Nela, o professor Humbert Humbert, recém-chegado a Ramsdale, na Nova Inglaterra, procura alugar um quarto. Visita a casa de Charlotte Haze, uma viúva enxuta, que enumera as vantagens do espaço que tem para arrendar. Ele não mostra grande interesse, até ver a filha de Charlotte, Dolores, de 12 anos, no jardim. (Encontro filmado por Stanley Kubrick e Adrian Lyne de forma diferente). Esta visão despoleta recordações de um amor perdido na infância e Humbert envolve-se com a rapariga. Como o antigo critério científico dos 30 kg desapareceu essa relação, hoje, inclui-se na temível pedofilia. O horror do estado da civilização actual! Os grupos de pais alertaram a gerência do Woolworths para este pormenor e os móveis foram retirados. E, para os ingleses, o sonho ainda não acabou. “Sogno di Estunno

[dos Locanda Delle Fate. No ano de 1977].

Vontade não faltaria para queimar, na praça pública, tanto o livro como os filmes, mas, ainda subsiste um certo pejo residual, em ser associado a outros graciosos momentos históricos. Se fosse uma relação, entre um rapazote e uma mulher mais velha, outro galo cantaria. Até o caçador Miguel Sousa Tavares acha que, neste caso, não há crime. Os moços têm de aprender com a experiência, e não com as catraias da sua idade, que nada sabem da poda. Quem não gostaria de se iniciar na vida sexual com a Mónica Bellucci? Um homem ainda é um homem. No caso das mulheres vamos com calma. “Contrappunti – Frutto Acerbo”.

[dos Le Orme. Em “Amico di Ieri”; em 1982 tocavam assim “Rosso di Sera”; em 1997 reganharam juízo com “Madre Mia – Prima Aqua”; e no ano de 2007].

Debra Lafave, 27 anos, professora americana, foi condenada em Novembro de 2005, a 3 anos de prisão domiciliária e 7 de liberdade condicional, por ter tido relações sexuais com uma aluna de 14 anos. Pena não muito pesada, pois o safismo é uma fantasia generalizada, e um quadro estético de bom gosto. Como condição da sentença, Lafave foi obrigada ao registo na lista dos delinquentes sexuais, que estipula um número infindável de restrições. Praticamente arrasa a vida social. Em Dezembro de 2007 voltou a ser presa por violar as condições da liberdade condicional. Os funcionários do Estado entrevistaram uma colega, de 17 anos, no restaurante onde Lafave trabalhava, desde Janeiro de 2006. A jovem declarou que discutiram: “assuntos não relacionados com o trabalho, como problemas familiares, os amigos, o liceu, a vida pessoal, os namorados e temas sexuais, em conversas privadas e não privadas”. Num convívio normal, isto seria considerado, em americano “girl talk”, mas quando o sexo se mete ao barulho, a história é outra. “Una Storia”.

[dos New Trolls. Em 1968 seguiam o padrão musical inglês com “Visioni”; no ano de 1980 eram considerados os Bee Gees italianos; “Il Sole Nascerà” em 2007; na TV com “Una Miniera”].

A América não perdoa o sexo. Não são como os franceses que se estão nas tintas para a Primeira-dama au naturel. Eliot Spitzer era uma figura em ascensão do Partido Democrata. Ganhou fama, e a alcunha de “Eliot Ness”, como Procurador-geral no combate à corrupção em Wall Street. (Os homens de negócios detestavam a sua atitude “sou mais santo do que tu” e acusavam-no de usar o seu poder para lhes sacar multas. Achavam-no demasiado virtuoso para ser verdade). Eleito, com uma votação maciça, governador de Nova Iorque, em 2007, dispara entusiasmado: “temos de transformar o nosso Governo, para que seja tão ético e sábio, como toda Nova Iorque”. Apontado como possível vice-presidente na lista Hillary Clinton, talvez futuro candidato à Casa Branca, posteridade não lhe faltava, até ser apanhado com as calças em baixo. Numas escutas telefónicas descobriram que ele era o “cliente 9” do Emperor’s Club VIP, uma casa de prostituição de luxo, com preços tabelados entre os 1 000 e 5 500 dólares/hora. No quarto 871 do Hotel Mayflower, em Washington, desembolsou 4 300 dólares por “Kristen”, uma brunette boa como o milho, de nome verdadeiro Ashley Alexandra Dupré, que ambiciona ser cantora e, enquanto não canta, encanta na cama, em troca de justa quantia. Depois do escândalo, Spitzer fez o acto de contrição público, com a esposa, Silda Wall Spitzer, ao lado. E, ficou limitado ao “acto sexual” com a mulher. Se os apetites por “quecas” regressarem, resta-lhe os banhos de água fria. “Neve Calda”.

[dos Balletto di Bronzo. “Introduzione” em 2004; “Technoage”; “Napoli Sotterranea”; e “Tastiere Isteriche”].

O novo governador de Nova Iorque, David Paterson, 53 anos, entrou a matar por causa das quedas do poleiro provocadas pelo sexo. Avisou que experimentou cocaína um par de vezes quando tinha 22 ou 23 anos. Fumou cannabis no final da década de 70 e pôs os cornos à mulher, Michelle, retribuindo-lhe com a mesma moeda, quando descobriu que ela andava a utilizar hardware alheio. O sexo entontece mentes brilhantes ou foscas. A Galeria de Arte Barbican dedicou-lhe uma exposição intitulada “Arte & Sexo Desde a Antiguidade Até Agora”. E, agora, prenuncia-se ser mais uma actividade humana controlada e inspeccionada por uma Alta Autoridade. (Por enquanto, para não transgredir nenhum código de comportamento, é melhor ficar pelo bilhar de bolso). Mas nos derradeiros dias do capitalismo há sinais de esperança. Lula da Silva explicou: “o que está acontecendo agora ao mundo? Tem mais pobres comendo, e a produção de alimentos não cresceu de forma proporcional à demanda. Isso não pode ser visto como uma coisa perigosa, isso é uma coisa passageira”. E, justificando este espírito de recuperação económica, a Royal Dutch Shell apresentou 23 biliões de dólares de lucros, referentes aos quatro meses iniciais do ano, espantando os analistas. Os verdadeiros lucros seguem-se dentro de momentos... A mãe de todas revoluções é feita pelo “Das Kapital”. “L’Internazionale”.

[dos Area, grupo politizado e experimentalista. Em “Gerontocrazia”; “Scum/Giro, Giro, Tondo”; “Evaporazione”; Demetrios Stratos, o vocalista, em “Cometa Rossa”].

12 Comments:

  • At 9:43 da manhã, Blogger Táxi Pluvioso said…

    Estes são alguns dos herdeiros dos Gentle Giant, Yes, Soft Machine na terra do caimão.

     
  • At 4:11 da tarde, Anonymous Anónimo said…

    ai ai ai a Dellera, prometo explorar esse prog exótico todo nos próximos dias!

     
  • At 6:13 da tarde, Blogger Táxi Pluvioso said…

    A Dellera no filme "La carne" do Marco Ferreri, é só carne. Nas fotos parece que fez alguma dieta.

    Cheguei a estar num concerto dos Area, organizado pela Juventude Comunista, no Pavilhão dos Desportos (creio que se chamava assim) no parque Eduardo VII.

    Na altura não me disse grande coisa, mas vendo melhor, eles eram muito bons.

     
  • At 6:25 da tarde, Blogger Jana said…

    A religião tem o seu quê de culpa, no que toca á condenação hiócrita do sexo, que descreves no teu post, pois todo o pecado veio ao mundo com a Eva e o Adão perdeu-se por sua causa!
    Quanto ao governador de NY, fez bem em precaver-se... ele lá sabe o poder do media!
    Um abraço!
    Jana

     
  • At 1:32 da tarde, Blogger Táxi Pluvioso said…

    Em termos intelectuais, o cristianismo foi a pior coisa que sucedeu à Europa. Bloqueou o espírito científico grego antigo, que foi continuado pelos árabes.

    Economicamente, teve as suas vantagens, com as pilhagens do mundo em nome de Deus. Enriqueceu o continente, enquanto não entraram em excessos. Quando os conquistadores espanhóis embarcaram o ouro dos incas e aztecas criaram uma crise económica em Espanha e na Europa. O ouro é valioso porque é raro. Quando há muito, e até os pobres das ruas o possuem, vale tanto como as pedras da calçada.

    Hoje os padres não mudaram nada. Tornaram-se sonsos para melhor se insinuarem às pessoas.

     
  • At 4:48 da tarde, Blogger Armando Rocheteau said…

    Mais um post para visitar durante a semana.

     
  • At 11:50 da manhã, Blogger Táxi Pluvioso said…

    Bons músicos, alguns deles ainda tocam nos dias de hoje.

    No próximo post vou arriscar a música norte-coreana. Eles levam o colectivismo a sério, é difícil ter solistas, e quando há não se sabe o nome. Canta-se as maravilhas materiais do socialismo e basta. Encontrei algumas coisas com piada.

     
  • At 7:18 da tarde, Blogger Luís Maia said…

    Este blogue pode compara-se ao Expresso, como diz ai em cima um cliente, é para ir lendo durante a semana.

    É bom com certeza quem se atreve a contestar um blogue tão extenso ?(lol)

    A multa do italiano de 40€ por olhar com insistência para o peito da italiana, não é nada comparado com os 12900 do Quaresma por dar um murro num gajo.

    Por esse preço o cigano fartava-se de gozar em Italia.

    Vou fazer a pergunta fundamental neste blogue e que ninguém se atreve a fazer mas todos querem, é preciso um corajoso

    É pá o que é o rock progressivo ?

    Não tem nada a ver com o Bill Haley e os cometas pois não ?

    Luís Maia

     
  • At 7:55 da tarde, Blogger Táxi Pluvioso said…

    Bem-vindo Luís!
    Chamaram-lhe rock progressivo. Surge da exploração dos sons do sintetizador Moog, misturada com as drogas psicadélicas e a literatura tipo Tolkien ou Poe.

    Eu também já me perdi nas classificações da música mas, por uma questão de ordem, é preciso chamar-lhe alguma coisa.

     
  • At 2:23 da manhã, Blogger Luís Maia said…

    Bem me parecia que não tinha nada a ver com
    o Rock around clock

    Um abraço

    Luís Maia

     
  • At 1:59 da tarde, Blogger Loy said…

    olá!
    Muito obrigada por perguntar.
    na intenção de responder-te, terminei por reencontrar alguma inspiração, que andava faltando, não sei bem porquê.

    mas sempre haverá palavras =)

     
  • At 9:12 da manhã, Blogger Trịnh Thúy said…

    Chamaram-lhe rock progressivo! apple worm level 29 DriverBackup

     

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