Pratinho de Couratos

A espantosa vida quotidiana no Portugal moderno!

terça-feira, março 31, 2009

E Deus disse… faça-se História
Beethoven, boquiaberto, saltou do piano, abraçou
George Bridgetower, sentou-se e retomou a execução da sua “Sonata para Violino e Piano No. 9 em Lá Maior Op. 47”. A assistência ovacionava encantada.
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Bridgetower cruzou-se com Beethoven durante a sua passagem por Viena em 1803. Impressionou-o com o seu virtuosismo no violino. E convenceu-o a compor uma sonata para tocarem juntos. A apresentação pública, marcada para as oito da manhã, no
Pavilhão Augarten e Beethoven concluindo a composição às 04:30, não permitiu que o copista transcrevesse a parte do violino no 2º movimento. Bridgetower improvisou-o, olhando por cima do ombro, a pauta de Beethoven. A interpretação emocionou o pianista alemão ao ponto de interromper o espectáculo para um comovido aperto de ossos, enquanto os fãs se esgadanhavam bis! bis! bis!, antes de iniciar o 3º movimento. Inebriado pelo êxito, no final, Beethoven anunciou que dedicava a nova sonata ao violinista e escreveu na pauta: “Sonata per uno mulaticco lunatticco”. Bridgetower, mulato inglês, galã com sucesso entre as senhoras, no calor do after show, solta um comentário inadequado sobre uma lady, groupie de Beethoven, que instantaneamente retirou a dedicatória e nunca mais lhe dirigiu a palavra. A sonata seria dedicada ao violinista vedeta Rodolphe Kreutzer, que nunca a tocou em público, classificando-a de “ultrajantemente ininteligível”. E Bridgetower que actuara nas grandes capitais europeias, para nobreza e reis, morreu esquecido no “alzheimer” da História.
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Tool – ferramenta da oficina do metal que progrediu para um laboratório psicadélico. Nos anos 80 os seus membros migram para Los Angeles. Maynard James Keenan, com o curso de Artes Visuais no papo, remodelava lojas de animais, Paul D’Amour e Adam Jones almejavam carreira no cinema, Danny Carey tocara bateria nos Green Jellÿ, Carole King, Pigmy Love Circus, e continuará nos VOLTO!, ZAUM, Pigface, Adrian Belew, The Melvins… O primeiro vídeo, “Hush”, expressa o seu desacordo com o Parents Music Resource Center da “Algórica” esposa e outras velhotas de Washington, encavalitadas na santa cruzada de proibir alusões ao sexo ou outros perigos para a sociedade livre nas letras das canções.
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Keenan explicou a origem do nome: “Tool é exactamente o que parece: uma grande
gaita. É uma chave… nós somos… o vosso instrumento; usem-nos como um catalizador no vosso processo de encontrar seja o que for que precisem de encontrar, ou o que quer que seja que tentem atingir”. O álbum “Undertow” sofreu censura de algumas lojecas de grande distribuição, apoquentadas, que as fotos da capa, desencadeassem abandonos dos carrinhos, e menos money nas caixas, das famílias nas compras domingueiras. O disco saiu com uma capa alternativa. O single “Sober”, sobre a criatividade em estados alterados, venceu o “Melhor Vídeo por um Novo Artista”, da Billboard, em 94. O seguinte, “Prison Sex”, lida com o tema do abuso de crianças e despertou as baboseiras do costume. O guitarrista Adam Jones, autor do vídeo, apresenta-o como a sua “interpretação surrealista” do assunto. No CD AEnima, “Stinkfist”, é entendido como referência ao “fist-fucking”, o “estás a aleijar-me como o anel” / “mas isto é o relógio” muito apreciado na comunidade gay. Os locutores da MTV americana rejeitam pronunciar o título, anunciam-no como faixa 1 – “Schism” ^ “Lateralus” ^ “AEnima^ “Hooker with a Penis^ “Vicarious” ^ “The Pot].
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A História corre como o rio Jordão dos políticos em apuros. Wbush trazia-a na ponta da língua como o
WC Pato que limpará o seu nome. Manuela Ferreira Leite aguarda os seus votos: “a História vai-me dar razão e vai dizer quanto foi errada toda esta política do PS”. Moshe Katsav, ex-presidente judeu, destituído sob acusação de violação e agressão sexual, senta-se no seu banco: “a História julgará em meu favor”. Todavia a História não é feita por quem a vive no momento, mas por aqueles que a escreverão no futuro. Muito se exultou com a tomada do trono pelo presidente “bronzeado” nos Estados Unidos. Peregrinações rumaram a Washington para “ver História ser feita”. No entanto, ninguém pode garantir que esse seja um acontecimento relevante dentro de mil ou dois mil anos, porque a História não é uma descrição dos factos que elucidam, interpretam ou explicam o passado, mas uma selecção de episódios que dão sentido ao presente. A História é uma almofada onde cada geração encosta a cabecinha sossegada.
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Pearl Hart (1871-1956) nasceu no Canadá, atraída por bad boys, emprenhou aos 16 anos, como o consorte lhe chegava a roupa ao pêlo, retornou para a casa da mãe. Em 1893 emigrou para os Estados Unidos, onde entrou na História como a última pessoa a roubar uma diligência. Ela e Joe Boot, o homem com quem vivia, assaltaram a diligência entre Globe e Florence, no Arizona, em 1899, roubando 421 dólares e um relógio. Um facto errado, pois o último assaltante de diligências foi Ben E. Kuhl em 1916. Pearl também está registada como a única mulher capturada a roubar uma diligência. Vinte anos antes, a polícia do Colorado montou uma armadilha para capturar os assaltantes da diligência, que transportava o ouro, entre Leadville e Buena Vista. Após o tiroteio, quando retiram as máscaras dos cadáveres, um dos bófias é surpreendido por um dos bandidos ser a sua própria mulher, Jane Kirkham. Pearl Hart, fumadora frequente de marijuana e, na prisão, consumidora de morfina, talvez, tenha um título: a primeira ou única pessoa a tentar o suicídio com pó talco.
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Jero é o primeiro cantor preto de Enka, a música tradicional japonesa. Se ficará na História como tal não é possível prever. A exiguidade da vida humana não o permite. (Por enquanto, ele a solo, em dueto, na publicidade, o site em japonês). No palmo de terra que habitamos, a História vagueia como as ondas das caravelas. Por exemplo, “Armando Vara ganhava 244 mil euros por ano na Caixa Geral de Depósitos, passou para quase meio milhão no BCP”, não se fez História. Quando se separou do futebolista Beto, o 3D do corpo de Filipa de Castro aperfeiçoou, atraindo as câmaras fotográficas e outros instrumentos de reprodução. Nas últimas fotos para a revista FHM Filipa filosofou: “senti-me como uma leoa” e dedicou-as ao Sporting. Fez-se História.
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Jefferson Airplane – grupo engendrado do deslumbramento de Marty Balin pela fusão rock/folk em 1965 na cidade de S. Francisco. No início da década, Balin cantava a solo, sem sucesso; em 1963-64 integra o grupo folk The Town Criers; em 65 decide abrir The Matrix e formar uma banda, quando conhece Paul Kantner no clube The Drinking Gourd, na Union Street. Recrutaram a cantora Signe Toly Anderson, que entretanto casa com Jerry Anderson, membro dos Merry Pranksters, e só participa no primeiro disco, “Jefferson Airplane Takes Off”, abandonando a banda desconfiada das intenções do manager Matthew Katz e para parir a primeira filha – “It's no Secret” ^ “Let's Get Together” ^ “Chauffeur Blues”.
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De acordo com a lenda, a designação “Jefferson Airplane” teve origem na
mola, feita com uma caixa de fósforos, usada para segurar a beata de um charro, mas segundo Jorma Kaukonen, o nome seria uma paródia, bolada por um amigo, às alcunhas estranhas dos músicos de blues como Blind Lemon Jefferson. Em 1966, sai Signe, entra Grace Slick e o aeroplano voa pró outro lado do espelho. Grace e Jerry Slick eram namorados de liceu, saíram pela primeira juntos, para assistir ao Festival de Jazz de Monterey, e de repente estavam casados. “Não era apaixonada. Era uma coisa calma”, explicou ela, “parecia a coisa certa. Os nossos pais conheciam-se. Era uma decisão típica dos anos 50”. Integrados no espírito da época, após o casório, Jerry foi para a Universidade, e Grace emprega-se numa loja de moda para sustentar esta trivial família americana pós-guerra. No final do Verão de 65, Darby Slick, irmão de Jerry, teve a ideia de formar uma banda, nasce The Great Society – “White Rabbit” ^ “Darkly Smiling”.
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Grace ambicionava ser cantora por razões de qualidade de vida. Porque elas ganhavam mais do que ela, não ficavam todo o dia de pé atrás de um balcão e consumiam melhores drogas. A juventude de S. Francisco praticava uma filosofia simples naqueles dias: “tomar drogas, tocar música e ganhar alguns dólares”.
Jack Casady, baixista dos Jefferson, convida Grace para o grupo. Em 1967 acreditava-se que a bebida, a droga e o amor livre iam mudar a música e a sociedade para sempre, e os Jefferson tocavam sob influência do álcool, comprimidos e derivados –  “Lather.
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Num programa do
Johnny Carson, o camarim tresandava a marijuana, Carson mostrava enfado pela situação. O palco, no estúdio, tinha um carrossel com um leão, um burro, um cavalo, Grace cantou olhando fixamente para o apresentador, terminada a canção mete o microfone no cu do cavalo. Carson espumava de raiva. Grace, distante do marido, não dispensava as “obrigações conjugais”... especialmente praticadas por outros. Era boa como o milho e costumava andar nua. Certa noite, às 3 da manhã, com a desculpa de precisar de um saca-rolhas, foi bater à porta de Jack. E os outros membros do grupo seguiram-se nas noites subsequentes. Ela acreditava que podia satisfazer toda a gente numa de peace and love. Todos tomavam LSD, mas Grace enfiava tudo o que aparecesse e sobretudo bebia. “Era bondosa. Pensava, mas não dizia, porque não era apropriado” – esclarece ela. Enfrascada, perdia o tento na língua.
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Abria a boca e era sarcástica, cínica, foi presa por praguejar em palco, mas também por posse de droga e conduzir embriagada. Ela trouxe dos Great Society, “
White Rabbit”, canção inspirada no Bolero de Ravel, para “explicar aos pais porque é que os filhos andam na droga” e o outro êxito “Somebody to Love”. Os Jefferson percorreram os festivais da década de 60. Grace comenta-os: em 1967 “Monterey foi espantoso. Jimi Hendrix eclipsou os outros. Foi incrível. Estava bom tempo”. No Verão de 69 “Woodstock foi o mais conhecido dos festivais originais mas aquilo era lamacento. Esperava-se dois dias para ir à casa de banho”. Em Dezembro de 69 “Altamont foi uma porcaria”. Os Hells Angels, pagos em grades de cerveja, encarregaram-se da segurança. Marty Balin levou nos cornos por mandar um deles “se foder” e foi retirado de helicóptero, inconsciente, para o hospital mais próximo. E, durante a actuação dos Rolling Stones, o americano-áfrico Meredith Hunter, intoxicado de metanfetamina e ciúmes da caucasiana namorada, Patty Bredahoff, que fantasiava abrir o pistilo ao vocalista dos Stones, foi esfaqueado pelo Hell Angel Alan Passaro, quando sacou de uma pistola para limpar o sebo ao Mick Jagger.
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Grace frequentou o Finch College, em Manhattan, dez anos depois, também escola de outra famosa aluna, Patricia Nixon Cox, filha do presidente americano. Em 69, as ex-alunas são convidadas para uma tea party na Casa Branca e, por descuido dos serviços secretos, Grace é incluída na lista. Ela, por sua vez, convida
Abbie Hoffman, activista político, fundador do Youth International Party. Na fila, em frente do nº 1600 da Pennsylvania Avenue, ele vestia uma t-shirt da bandeira americana, ela as suas botas brancas de cano alto, são reconhecidos pelos agentes secretos, que lhes barram a entrada. Planeavam meter ácido no chá de Richard Nixon “porque achavam divertido imaginá-lo pela Casa Branca a ver os quadros a derreterem-se e para lhe dar outra perspectiva da guerra do Vietname”.
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Entre 1969-75, Paul Kantner e Grace envolveram-se numa relação amorosa de que resultou uma filha. Quando estava no hospital, uma enfermeira hispânica queria o nome para registar o bebé, Grace vendo-a de crucifixo ao pescoço, respondeu-lhe: “a filha chamar-se-á ‘God’, mas com um ‘g’ pequeno, temos de ser modestos”. Viria a chamar-se
China Wing Kantner. Nesse período, Skip Johnson, responsável pelas luzes, obteve um meet and greet para a cama de Grace. “Ele desceu ao bar com o meu vestido, bigode, ténis, pernas peludas, meias baratas” descreveu ela, por ser delicado e bonito, Kantner julgava que ele era rabiolas e não via problema no convívio. Casaram-se no Havai, ela com 37 anos, ele, com 23, e o enlace durou 18 anos.
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Na década de 70, a rádio sepultou, com pompa e transístores, a música da década de 60. Finaram-se as canções de 15 minutos, os solos intermináveis, abrolharam as cantigas de 4 minutos, máximo, formatadas para a orelha do ouvinte. Manicura, pedicura, limpeza facial, champô, laca, rolos para avolumar o cabelo, introduziram os artistas no novo decénio. Paul Kantner funda os
Jefferson Starship, com alguns antigos colegas, recauchutados no aspecto físico e nas farpelas, para tocarem canções escritas por compositores contratados pela editora – “Jane” ^ “Ride the Tiger” ^ “Hyperdrive”.
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Na Alemanha, em 78, Grace esvaziou o minibar do hotel para inspiração. Entrou em palco vestida de oficial SS, com o braço esticado e o dedo debaixo do nariz fazendo de bigode. No fim do concerto gritou: “vão se lixar. Que se lixe a RCA. Eu desisto”. E trocou o “foguetão” pela garrafa. Foi presa tantas vezes por conduzir bêbeda, que um juiz farto de a ver, mandou-a para os Alcoólicos Anónimos. Curada, atestaram os especialistas, volta ao grupo. Em 84 Kantner abandona os Jefferson Starship, que continuam como Starship para fabricarem, segundo a revista Rolling Stone, “a pior canção de sempre”, “
We Built This City”, escrita por um inglês, Bernie Taupin, sobre os clubes que fechavam em Los Angeles – “Sara” ^ “Nothing’s Gonna Stop Us Now”. Quando caiu na real e enxergou a triste figura dos Starship, Grace regressou ao álcool.
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Paul Kantner forma em 1985 a KBC Band, editando o tema “America”, com relativo sucesso, recuperado para a ribalta em 2001, quando o orgulho nacionalista açulou os americanos, após a queda dos prédios no 11 de Setembro – “Mariel”. Entretanto, Jack Casady e Jorma Kaukonen, desde os anos 60, sustentaram os Hot Tuna, um projecto paralelo aos Jefferson, que fazia as primeiras partes dos concertos, para explorarem a música de que gostavam, o blues tradicional – “Hesitation Blues^ “Keep On Truckin’].

domingo, março 15, 2009

Molhos de História
Os setes anos de notas magras, que atravessamos, aduziram sortidas “reformas estruturais”:
épicas batalhas travam-se pelo parco carcanhol disponível, o número de ricos minguou, os que restam depauperam nas lojas de penhores, Bill Gates voltou ao topo da lista, aonde novos bagalhudos arribaram, como Joaquín Guzmán Loera, o rei da coca, e os pobres conquistaram novas moradias, algumas, benfeitorizadas com janelas panorâmicas pela bófia. O futuro tricota-se da cor certa, o Google matiza-se do tom da moda
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O presidente Barack baixou do céu da
Casa Branca para salvar o dinheiro. E, a primeira mudança, veio da boca pra fora. No final da década de 80, o “grupo mais perigoso do mundo”, os N.W.A. (Niggaz With Attitude), registavam a vida e o calão das ruas na tisnada Califórnia. A cançãoFuck Tha Police” valeu-lhes uma carta de Milt Ahlerich, um vice-director do FBI: “defender a violência e a agressão é errado e nós na comunidade da execução da lei recusamos tal actividade”. E a bófia recusou-se, também, a fazer segurança nos seus concertos impedindo a realização de tournées.
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Eles viviam em
Compton, uma cidade do condado de Los Angeles, onde a Polícia gostava de malhar no preto e a “AK – 47 era uma ferramenta de trabalho”. Na cançãoStraight Outta of Compton”, reflectiram a raiva contra a autoridade, coligindo um inventário da gíria quotidiana. Mas o cavalgar da História enterrou atitudes e más palavras. Consumando-se a visão do fantástico George Clinton de “Paint the White House Black”, o termo “nigger”, utilizado coloquialmente entre os americanos-áfricos, alcança uma coloração incorrecta e precisa de sucedâneo. Por enquanto, a proposta daqueles com sentido de humor, para substituir “nigger” por “president”, ainda não pegou mas a História salta-pocinhas. E, a música, o Deus CD de Ouro querendo, lavará no rio Letes as tábuas de retocadas versões, amoldadas aos novos ouvidos históricos, como “Help The Police” ou “Straight Out of Surrey”.
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Butthole Surfers – banda americana formada em 1981 por Gibby Haynes e Paul Leary em San Antonio, no Texas. Eles conheceram-se no final dos anos 70 na Trinity University. Gibby Haynes, capitão da equipa de basquetebol, desvelado nos estudos, premiado com o título de “contabilista do ano”, foi prontamente contratado pela conceituada empresa texana Peat Marwick, para um futuro brilhante nos balancetes transparentes e, “yes ele can”, impedir a crise mundial. Decorrido um ano, aborrecido by numbers, convoca Leary, que permanecera cool in school tirando o indispensável MBA, para tocarem juntos algo parecido com música.
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Nos anos 80, o LSD desaparecia do “prato do dia” no cardápio de consumo e entrava a cocaína, motivando que o iluminado
Ronald Reagan, apatetado com o snifanço da América, lançasse a War on Drugs. Todavia, os Butthole Surfers, que sofriam mudanças drásticas na formação, mantiveram algum equilíbrio com o baterista King Coffey e Teresa Nervosa na segunda bateria, desenvolveram, contracorrente, um apetite pelas drogas recreativas, sobretudo as psicadélicas. Como consequência a sua música explodiu em tons caleidoscópios de negro pós-punk e Gibby ministrava psycho entrevistas (parte2) ou tocava nu.
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No ano de 1982, em S. Francisco, numa actuação no Tool or Die,
Jello Biafra, o presidente da América para 2012, vocalista dos Dead Kennedys e dono da editora Alternative Tentacles, simpatizou com aquela nave de loucos em palco e propôs-se editar um disco, se eles desencantassem um financiador, que avançasse a massa para o aluguer do estúdio. O nome apareceu por acaso quando, no primeiro concerto pago, o apresentador esquecendo-se do seu aliás no momento, os anunciou pelo título da canção de 1984 “Butthole Surffer”. Eles conservaram o lapso, embora a designação de “surfistas da abertura terminal por onde o intestino expele os excrementos”, afugentasse jornais, clubes, estações de rádio e TV, que se recusavam invocar tão ímpio buraco – a primeira vez em Nova Iorque k parte2 k “Cowboy Bob k “Cherub” k “Hey” k “The Hurdy Gurdy Man k “Wooden Song k “Ulcer Breakout” k “Pepper” k “Underdog” k “Dracula from Houston” k “1401” k “Human Cannonballk em Nova Iorque 2008.
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Os Butthole diversificaram-se nas artes representativas no filme “
Bar-B-Que Movie”, uma paródia de “The Texas Chainsaw Massacre”, do realizador Alex Winter. Gibby Haines, filho do apresentador de programas infantis Mr. Peppermint, desempenhou o papel do realizador Fritz Wang no vídeo dos GWAR “Phallus in Wonderland”, juntou-se a Johnny Depp nos “P”, e ainda persiste nos Gibby Haines and his Problem, e sempre psicadélico].
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Kid Creole, cultivador de Coconuts, (Adriana Kaegi e Cheryl Poirier formaram as Boomerang, com a ex-namorada de Billy Idol, Perri Lister), também tinha um sonho nos anos 80: o bacanal universal feneceria as desigualdades raciais tingindo a Humanidade da mesma cor. As relações inter-raciais seriam a solução final para a igualdade. No entanto, em 1981, uma doença conteve a pândega geral que se antevia pela queda dos tabus sexuais. Primeiro, a SIDA, fechou a braguilha na comunidade homossexual masculina espavorida pelos corpos manchados e mirrados dos mortos. Depois, como um balde de água fria, refreou os instintos dos heterossexuais, que pensavam duas vezes antes de saltar para a cama com aquela loira engatada no bar. E por último, as raças fecharam-se em si mesmas conservando o material genético descontaminado da ameaça exterior.
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Philippa Schuyler, (1931-1967), filha de George Schuyler, jornalista preto, e Josephine Cogdell Schuyler, uma branca foragida em Nova Iorque da família texana rica e ex-proprietária de escravos, seria exibida como a prova de que os casamentos inter-raciais engendram génios. Os pais alimentavam Philippa com vegetais, fígado, carne e miolos crus encasquetados que a cozedura retirava os nutrientes da paparoca. E defendiam uma ideia ainda mais estrambólica: a mistura racial produzia seres superiores. Philippa andava antes de completar um ano de idade, lia os “Rubaiyat” de Omar Khayyam aos dois anos e meio, escrevia histórias e tocava piano aos três, aos cinco o teste QI marcou 185. Com oito anos participava em competições musicais e com treze compôs uma sinfonia e, em 1945, o crítico Virgil Thomson comparou-a a Mozart.
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Durante quinze anos viajou por oitenta países, aprendeu línguas, inclusive o nosso querido português, actuou para Hailé Selassié ou na África do Sul e escreveu crónicas. Mas a infância controlada pela mãe, antiga “
bathing beauty” de Mack Sennet, que lhe cascava como regular pedagogia, isolada das crianças da sua idade, contactando apenas com professores privados, não lhe vestiu os cabimentos para a felicidade. Pelos trinta anos abandona o piano para se dedicar ao jornalismo. Trabalhando no Vietname, como correspondente de guerra, morreu em Abril de 1967, na queda de um helicóptero, na baía de Da Nang. Porém, a História confirmou as ideias excêntricas do casal Schuyler, e actualmente líderes e rebanho globais bendizem a sua sorte de um génio engarrafado na Casa Branca.
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Vanilla Fudge – grupo de rock psicadélico americano do final da década de 60, constituído pelo organista Mark Stein, o guitarrista Vince Martell, o baixista Tim Bogert e o baterista Carmine Appice. Todos eles faziam uma perninha no microfone e foram descobertos e representados por Phillip Basile, membro da família mafiosa Lucchese, que geria vários clubes nocturnos em Long Island.
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Num desses clubes, o Action House, em Março de 1970, os Vanilla tocaram o concerto de despedida. Depois, Mark Stein integrou o grupo de Alice Cooper e dedicou-se aos inovadores mas esquecidos Boomerang. Bogert e Appice sairam para formar os Cactus – “One Way or Another” – e, em 1972, os Beck, Bogert & Appice – “Morning Dew” – “Superstition”. Carmine Appice aqueceu as peles da bateria por muitos – Rod Stewart k Blue Murder k Ted Nugent k Leslie West k Ozzy Osbourne k o irmão Vinnie k King Kobra k Pat Travers k Pearl].