Ólh’as n’tícias fresquinhas, freguês!
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Parte 5
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No desfecho do século XIX, o equipolente do polímero: “quem é que precisa de um cota rico quando a fibra custa tão pouco” era o pastoso jornal, idem baratucho [1]. Nem que isso significasse vazar as lamas da Hungria sobre os leitores, de antanho e coetâneos sempre estiveram “Half Asleep” [2]. A antífona da indústria do jornalismo moderno foi alçada por dois chantres americanos: Joseph Pulitzer e William Randolph Hearst. Pulitzer comprou em 1883 o quase falido New York World, relança-o com “histórias de interesse humano, escândalos e sensacionalismo”. Em 1895 publica a primeira tira de quadradinhos colorida: The Yellow Kid desenhada por Richard F. Outcault – origem da expressão “yellow journalism” traduzida por “imprensa tablóide”. Sob a sua pala a circulação do jornal subirá de 15 000 para 600 000. – Em 1896, Hearst, com os cobres da mãe, compra o falido New York Morning Journal e estala uma corrida com Pulitzer: quem alcançará primeiro a venda diária de 1 milhão de exemplares? E vale tudo. Hearst rouba Outcault, e parte da equipa da edição de Domingo ao adversário, reduz o preço do jornal para 1 cêntimo e vulgariza a boldreguice: “parangonas sugestivas, histórias sensacionais sobre assuntos como o crime e pseudociência”.
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[1] Lições de poucachinho ministram-na os estadistas portugueses. Em 1957, a rainha de Inglaterra, Isabel II, pojou no Cais das Colunas, para uma visita oficial, e o Dr. Oliveira Salazar esboroou-se em zumbaias. Para não entalar o real rabo num Peardrop ou num Toyota Proto, o hórrido ditador esbanjou erário público num Rolls Royce… em segunda mão. O carro pertencera a um marajá das Índias, maníaco por caçadas que o artilhara com espingardas, uma mão de habilíssimo bate-chapas restituiu-lhe a velha dignidade, e o nobre traseiro não estranhou os doces estofos do lar. (No Porto, o duque consorte, mas pouco juízo, recusou-o, e embarcou num carro dos bombeiros aberto). – O Governo, em 2010, para transportar de cu tremido os dignitários visitantes, poupou… numa pechincha novinha em folha: um Mercedes, caixa automática c/ 7 velocidades, consumo de 9 litros aos 100, preço 140 mil euros. O híbrido semelhante da mesma marca custa menos 30 mil euros e consome menos mas… Gabava-se o primeiro-ministro no Leaders Forum da Universidade de Columbia: “Portugal é actualmente um dos países líderes em termos de criação de condições para termos carros eléctricos na nossa sociedade”, mas… na política real ele prevê: os carros eléctricos só farão desencabrestar os preços da electricidade para males nunca antes cobrados.
[2] Dos School of Seven Bells – nome retirado de uma mitológica escola sul-americana de carteiristas dos anos 80 – banda nova-iorquina, formada por Benjamin Curtis, dos Secret Machines, e as gémeas monozigóticas Alejandra e Claudia Deheza, dos On!Air!Library! → “My Cabal” do CD “Alpinisms” (2008) ♪ “Windstorm” do CD “Disconnect From Desire” (2010).
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Nesse final de século, a potência naval no hemisfério ocidental era o Brasil: comprara o navio de guerra Riachuelo em 1883, aos estaleiros ingleses Samuda Brothers, e planeava encomendar mais dois. Os americanos, que não são chulos, lacrimavam [1]. Hilary A. Herbert, o presidente do Comité de Assuntos Navais da Câmara de Representantes lagrimal: “se esta nossa velha marinha entrasse em combate no meio do oceano, e confrontada com o Riachuelo, é duvidoso se algum navio de bandeira americana voltaria ao porto”. E, em 1884, o secretário da Marinha, William Collins Whitney, pedincha ao Congresso carcanhol para a construção do couraçado USS Maine e do navio de guerra USS Texas. Catorze anos depois, uma escaramuça em Cuba, dos cubanos contra os espanhóis, mal refeitos do empate na Guerra dos 10 Anos (1868-1878), é pretexto para o USS Maine ancorar no porto de Havana, requerido pelo cônsul, general Fitzhugh Lee – sobrinho do general confederado Robert E. Lee – “para proteger os interesses americanos”. Durante três semanas o capitão Charles Sigsbee, comandante do Maine, não viu sombra dos rebeldes, convivia com os oficiais castelhanos: não apreciou as touradas para as quais o convidaram, fora isso, considerava-os uns perfeitos cavalheiros. Quando escrevia uma carta à mulher, no dia 15 de Fevereiro de 1898, o Maine explodiu, matando 3/4 da tripulação. Os inquéritos não concluíram as causas. A imprensa não duvidou: foram os espanhóis! – Sem cinema ainda o filme perpassou géneros [2].
Hearst e Pulitzer atiraram-se ao osso. Hearst até publicou desenhos dos sabotadores, a amarrarem uma mina subaquática e explodindo-a da costa. Durante meses os jornais narraram os tormentos dos cubanos sob a coroa espanhola: confinados em campos de concentração, a que chamavam “campos da morte”: em aparatosas parangonas: “canibalismo espanhol”, “torturas inumanas”, “guerreiras amazonas lutam pelos rebeldes”. Atulharam a ilha de jornalistas, repórteres, fotógrafos. O respeitável escritor Stephen Crane e o artista Frederic Remington aborreciam-se sem nada que relatar. Remington escreve ao patrão: “não há guerra. Peço para voltar”, e Hearst responde: “por favor fique. Forneça as ilustrações que eu forneço a guerra”. O Journal bombardeava os leitores com oito páginas diárias do escaldão cubano, os outros jornais encostaram-se, dezenas de editoriais intimavam vingança da honra americana. Nas paredes do Congresso alguém pintou: “Remember the Maine! To hell with Spain!”.
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[1] “Pimps Don’t Cry” com Cee-Lo Green e Eva Mendes.
[2] Caubóiada: “Nude Nuns with Big Guns” (2010), de Joseph Guzman, com Asun Ortega: a igreja contrata um desapiedado gang motociclista, Los Muertos, para matar “a irmã Sarah abusada, vítima de lavagem cerebral, drogada, até a submissão, pelo clero corrupto. Às portas da morte, por uma dose fatal, a irmã recebe uma mensagem de Deus incumbindo-lhe vingança”. Terror: “Mirror 2” (2010) de Vítor García, com a ablução de Christy Carlson Romano: a voz do cartoon da Disney Kim Possible: e cantora. Zombies: na série de TV “The Walking Dead” (2010). E, o espectador debaixo da sombra do mangalhão de John Holmes, graças ao 3D em “The Lillipop Girls in Hard Candy” (1976) de Stephen Gibson: “três centuriões da antiga Grécia dão à costa numa praia da Califórnia, à procura dos muros de Tróia. Durante as buscas, um deles arromba uma fábrica de doces, onde acidentalmente derrama sopa de iaque nalguns pirolitos, transformando-os em potentes afrodisíacos”. E, na Califórnia, onde pouco se fornicava, é a bacanália.
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O slogan aguardentou os bofes. O Partido Democrata espicaça o presidente republicano William McKinley – assassinado pelo anarquista Leon Czolgosz a 6 de Setembro de 1901 – para a guerra. A opinião pública, catracegada pela “imprensa amarela”, estava conquistada: Madrid recusa o ultimato e a guerra espano-americana eclode. O bigodaças Teddy Roosevelt, secretário assistente da Marinha, traulitada’s lover, demitiu-se do cargo para comandar os Rough Riders na terra do rum [1]. Pulitzer e Hearst fritavam histórias do heroísmo ianque: do funcionário exemplar [2], futuro presidente Roosevelt, herói da batalha da Colina de San Juan, olvidando que os combates mais duros, travaram-nos os pretos do 10º Regimento de Cavalaria, preto ainda não aumentava tiragens de jornais no século XIX.
O ilustrador Frederic Remington assistiu ao assalto à Colina de San Juan, passagem para Santiago de Cuba, onde os americanos projectavam derrotar o exército de Arsénio Linares y Pombo e a frota de Pascual Cervera. Correspondente do jornal de Hearst, a crueza da guerra e as privações abalaram-lhe ideias românticas dos conflitos, e pintou-o, não da perspectiva dos destemidos generais, mas dos soldados.
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[1] Marisa Miller é a companheira do rum Captain Morgan: “é uma grande oportunidade trabalhar com uma marca que é sinónimo de diversão. O Captain Morgan é sobre a comemoração de todos os tempos lendários e estou entusiasmada por estar a bordo como primeira companheira do capitão”.
[2] Funcionário de bigodelha e vestuário intelectual dilatado, na política internacional esbagaçava: “fala tranquilamente e carrega um cacete grande” – negociar com calma e simultaneamente ameaçar com os canhões. O arcebispo de Libreville, Basile Engone, teoriza sobre mamalógica roupagem dos funcionários públicos, acusando as autoridades de “fazerem vista grossa aos comportamentos desviantes, tais como vestuário reduzido na administração pública”.
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[Luís Cardenas – nativo de Los Angeles, um “spic”: “termo ofensivo para falantes de espanhol do México, América Central e do Sul, Espanha e Portugal”, que iludiu o destino de ser jardineiro ou vendedor de “Califórnia burritos”. Aos 2 anos o padrinho ofereceu-lhe uma tarola Ludwig Black Beauty; aos 4 recebe a primeira bateria, do Toy ‘R Us; aos 6 já tocava na sua primeira banda. Em 1983, forma com Tony De La Rosa , Danny Flores e Kenny Marquez algo incomum: um grupo de “chicano rock”: os Renegade ► “Let It Out” ♪ “Dance With Me” ♪ em 2001, com o maior cantor americano da década de 80 e todas as décadas David Hasselhoff, en español. Cardenas percorreu carreira a solo, em 1988, entra no Guinness, como dono da maior bateria do mundo, entre 78 e 100 peças ► no Guinness Hall of Fame Awards, com a London Philharmonic Orchestra, na “Troika” de Prokofiev; a fama perfilhou-o no primeiro álbum “Animal Instinct” (1986), e no primeiro single, uma versão de uma canção de Del Shannon, “Runaway” ← o vídeo, c/ aparição do próprio Shannon numa janela, perto do final.
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Del Shannon regravou esta canção para uma das melhores (e subestimadas) séries de TV dos anos 80 “Crime Story” (1986-88), criada por Chuck Adamson: ex-sargento da Major Crime Unit da Polícia de Chicago e Gustave Reininger: ex-banqueiro de investimento internacional de Wall Street. Localizada numa atmosfera rock pré-Beatles: da responsabilidade de Todd Rundgren e Al Kooper, o tenente Mike Torello*, da Major Crime Unit de Chicago, caça o mafioso Ray Luca, casado com Cori Luca. Alguns famosos contribuíram com aparições: Miles Davis no episódio 5 “The War” e, no episódio 20, “Top of the World”, Deborah Harry, como Bambi, a namorada do bandido. A primeira temporada termina no cogumelo atómico: com Luca e o fiel Pauli Taglia, num esconderijo, na zona de testes nucleares, no deserto do Nevada. Na segunda (e última) temporada, a série desloca-se para Las Vegas, e o milagre do argumento ressurge Luca e Pauli.
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* Interpretado por Dennis Farina, ex-polícia de Chicago].
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[Deep Note – nas salas de cinema, quando o consumidor de filmes, emborca uma estopada da Lucasfilm, ouve, nos primeiros raios de luz projectados, um som crescendo sintetizado: a THX Deep Note, um logótipo áudio, da THX Ltd. A “THX – Tomlinson Holman’s eXperiment – é uma marca registada de áudio de alta-fidelidade / padrão visual para a reprodução em cinemas, salas de visualização, home theaters, colunas do computador, consolas de jogos e sistemas de áudio do carro”, desenvolvida por Tomlinson Holman funcionário da Lucasfilm. “É um som que testa a frequência e a faixa dinâmica da acústica dos cinemas e o sistema de som surround”. O som crescendo foi combinado pelo Dr. James A. Moorer: “eu gostaria de dizer que o som THX é a peça mais amplamente reconhecida de música gerada por computador no mundo”. E descreve o processo criativo: “criei alguns programas de síntese para o ASP, que fez com que se comportasse como um enorme sintetizador de música digital. Usei a onda de um tom de violoncelo digitalizado, como a onda de base para os osciladores. Lembro-me que tinha 12 harmónicos. Eu poderia obter cerca de 30 osciladores a executar, em tempo real, no dispositivo. Então eu escrevi a ‘partitura’ para a peça”. Os Simpsons obtiveram licença de reprodução, o Dr. Dre, não, marimbou-se, e fez o sampler para “2001”, e foi processado. Os Tiny Toons parodiaram-no. – Outros com serventia do som: Alice Cooper em “Hell is Living Without You” (1989) ♪ Asia em “Countdown to Zero” (1985) ♪ Mylène Farmer em “California” (Megalo Mania Remix) (1996) ♪ Tex Moo Can ♪ no mellotron ♪ no osciloscópio Tektronix 465B ♪ remix ♪ nova versão.
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PS: “Deep Note” é também o título de uma repenicada colecção de bandas sonoras de filmes porno da década de 70].
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[Exército de Libertação do Povo – liderado na estreia pelo camarada Mao Tse-tung, atiçou-o contra o Chiang Kai-shek ou contra o Kuomintang. Na paz beneficia serviços de espionagem. Na Era da potência unidose, o Pentágono choraminga que o seu orçamento falta-lhe transparência: “o Departamento de Defesa estimava que o orçamento de defesa chinês para 2006 fosse 2 ou 3 vezes superior aos 35 mil milhões de dólares anunciados por Pequim. Em comparação, o orçamento de defesa dos E.U.A. para 2006 requeria 419,3 mil milhões”. No Exército Vermelho* marcam passo 2.3 milhões de magalas, entre activo e reservas, que almecegam a chinese way of life**.
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* História: “juntar-se ao ELP foi uma aspiração de muitos jovens que se sentiam oprimidos, em especial aqueles do estrato operário e camponês, e as mulheres”.
** Durante os Jogos Olímpicos de 2008 proibiram à nadadora americana Amanda Beard o seu anúncio anti-peles. O Soho regional, o correspondente da nossa Rua das Portas de Santo Antão, facilita teatro: “Das Kapital”, o musical, em Xangai: “a história da peça gira em torno de um grupo de empregados de escritório que descobre que o seu patrão está a explorá-los”. Através do China Daily aprende-se o dialecto de Xangai para a Expo 2010. E é a maior compradora de dívida americana].
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[Neko Case – nascida a 8 Setembro de 1970 em Alexandria, na Virgínia, filha de pais de ascendência ucraniana. Vagabundeia de Alexandria para Tacoma, Vancouver, Chicago, Tucson e espera estacionar numa quinta que comprou em Vermont. Quando saiu da cave de uns amigos dos pais em Tacoma, saltou do carril da autodestruição para a música: “eu era uma miúda doida. Estava cansada de ser pobre. Estava cansada de ser rapariga. Sentia-me completamente sem importância, não me importava com o mundo, e ia conseguir o amor de qualquer maneira que pudesse”. Multiplicou-se: na bateria nos grupos de punk pop de Vancouver CUB e Maow; na banda canadiana indie The New Pornographers; palmilhou tournées com os Neko Case & Her Boyfriends; antes de carreira a solo → entrevistas na National Public Radio].