Pratinho de Couratos

A espantosa vida quotidiana no Portugal moderno!

quarta-feira, outubro 20, 2010

Ólh’as n’tícias fresquinhas, freguês!
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Parte 5
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No desfecho do século XIX, o equipolente do polímero: “quem é que precisa de um cota rico quando a fibra custa tão pouco” era o pastoso jornal, idem baratucho [1]. Nem que isso significasse vazar as lamas da Hungria sobre os leitores, de antanho e coetâneos sempre estiveram “Half Asleep[2]. A antífona da indústria do jornalismo moderno foi alçada por dois chantres americanos: Joseph Pulitzer e William Randolph Hearst. Pulitzer comprou em 1883 o quase falido New York World, relança-o com “histórias de interesse humano, escândalos e sensacionalismo”. Em 1895 publica a primeira tira de quadradinhos colorida: The Yellow Kid desenhada por Richard F. Outcault – origem da expressão “yellow journalism” traduzida por “imprensa tablóide”. Sob a sua pala a circulação do jornal subirá de 15 000 para 600 000. – Em 1896, Hearst, com os cobres da mãe, compra o falido New York Morning Journal e estala uma corrida com Pulitzer: quem alcançará primeiro a venda diária de 1 milhão de exemplares? E vale tudo. Hearst rouba Outcault, e parte da equipa da edição de Domingo ao adversário, reduz o preço do jornal para 1 cêntimo e vulgariza a boldreguice: “parangonas sugestivas, histórias sensacionais sobre assuntos como o crime e pseudociência”.
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[1] Lições de poucachinho ministram-na os estadistas portugueses. Em 1957, a rainha de Inglaterra, Isabel II, pojou no Cais das Colunas, para uma visita oficial, e o Dr. Oliveira Salazar esboroou-se em zumbaias. Para não entalar o real rabo num Peardrop ou num Toyota Proto, o hórrido ditador esbanjou erário público num Rolls Royce… em segunda mão. O carro pertencera a um marajá das Índias, maníaco por caçadas que o artilhara com espingardas, uma mão de habilíssimo bate-chapas restituiu-lhe a velha dignidade, e o nobre traseiro não estranhou os doces estofos do lar. (No Porto, o duque consorte, mas pouco juízo, recusou-o, e embarcou num carro dos bombeiros aberto). – O Governo, em 2010, para transportar de cu tremido os dignitários visitantes, poupou… numa pechincha novinha em folha: um Mercedes, caixa automática c/ 7 velocidades, consumo de 9 litros aos 100, preço 140 mil euros. O híbrido semelhante da mesma marca custa menos 30 mil euros e consome menos mas… Gabava-se o primeiro-ministro no Leaders Forum da Universidade de Columbia: “Portugal é actualmente um dos países líderes em termos de criação de condições para termos carros eléctricos na nossa sociedade”, mas… na política real ele prevê: os carros eléctricos só farão desencabrestar os preços da electricidade para males nunca antes cobrados.
[2] Dos School of Seven Bells – nome retirado de uma mitológica escola sul-americana de carteiristas dos anos 80 – banda nova-iorquina, formada por Benjamin Curtis, dos Secret Machines, e as gémeas monozigóticas Alejandra e Claudia Deheza, dos On!Air!Library! → “My Cabal” do CD “Alpinisms” (2008) ♪ “Windstorm” do CD “Disconnect From Desire” (2010).
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Nesse final de século, a potência naval no hemisfério ocidental era o Brasil: comprara o navio de guerra Riachuelo em 1883, aos estaleiros ingleses Samuda Brothers, e planeava encomendar mais dois. Os americanos, que não são chulos, lacrimavam [1]. Hilary A. Herbert, o presidente do Comité de Assuntos Navais da Câmara de Representantes lagrimal: “se esta nossa velha marinha entrasse em combate no meio do oceano, e confrontada com o Riachuelo, é duvidoso se algum navio de bandeira americana voltaria ao porto”. E, em 1884, o secretário da Marinha, William Collins Whitney, pedincha ao Congresso carcanhol para a construção do couraçado USS Maine e do navio de guerra USS Texas. Catorze anos depois, uma escaramuça em Cuba, dos cubanos contra os espanhóis, mal refeitos do empate na Guerra dos 10 Anos (1868-1878), é pretexto para o USS Maine ancorar no porto de Havana, requerido pelo cônsul, general Fitzhugh Lee – sobrinho do general confederado Robert E. Lee – “para proteger os interesses americanos”. Durante três semanas o capitão Charles Sigsbee, comandante do Maine, não viu sombra dos rebeldes, convivia com os oficiais castelhanos: não apreciou as touradas para as quais o convidaram, fora isso, considerava-os uns perfeitos cavalheiros. Quando escrevia uma carta à mulher, no dia 15 de Fevereiro de 1898, o Maine explodiu, matando 3/4 da tripulação. Os inquéritos não concluíram as causas. A imprensa não duvidou: foram os espanhóis! – Sem cinema ainda o filme perpassou géneros [2].
Hearst e Pulitzer atiraram-se ao osso. Hearst até publicou desenhos dos sabotadores, a amarrarem uma mina subaquática e explodindo-a da costa. Durante meses os jornais narraram os tormentos dos cubanos sob a coroa espanhola: confinados em campos de concentração, a que chamavam “campos da morte”: em aparatosas parangonas: “canibalismo espanhol”, “torturas inumanas”, “guerreiras amazonas lutam pelos rebeldes”. Atulharam a ilha de jornalistas, repórteres, fotógrafos. O respeitável escritor Stephen Crane e o artista Frederic Remington aborreciam-se sem nada que relatar. Remington escreve ao patrão: “não há guerra. Peço para voltar”, e Hearst responde: “por favor fique. Forneça as ilustrações que eu forneço a guerra”. O Journal bombardeava os leitores com oito páginas diárias do escaldão cubano, os outros jornais encostaram-se, dezenas de editoriais intimavam vingança da honra americana. Nas paredes do Congresso alguém pintou: Remember the Maine! To hell with Spain!.
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[1]Pimps Don’t Cry” com Cee-Lo Green e Eva Mendes.
[2] Caubóiada: “Nude Nuns with Big Guns” (2010), de Joseph Guzman, com Asun Ortega: a igreja contrata um desapiedado gang motociclista, Los Muertos, para matar “a irmã Sarah abusada, vítima de lavagem cerebral, drogada, até a submissão, pelo clero corrupto. Às portas da morte, por uma dose fatal, a irmã recebe uma mensagem de Deus incumbindo-lhe vingança”. Terror: “Mirror 2” (2010) de Vítor García, com a ablução de Christy Carlson Romano: a voz do cartoon da Disney Kim Possible: e cantora. Zombies: na série de TV “The Walking Dead” (2010). E, o espectador debaixo da sombra do mangalhão de John Holmes, graças ao 3D em “The Lillipop Girls in Hard Candy” (1976) de Stephen Gibson: “três centuriões da antiga Grécia dão à costa numa praia da Califórnia, à procura dos muros de Tróia. Durante as buscas, um deles arromba uma fábrica de doces, onde acidentalmente derrama sopa de iaque nalguns pirolitos, transformando-os em potentes afrodisíacos”. E, na Califórnia, onde pouco se fornicava, é a bacanália.
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O slogan aguardentou os bofes. O Partido Democrata espicaça o presidente republicano William McKinley – assassinado pelo anarquista Leon Czolgosz a 6 de Setembro de 1901 – para a guerra. A opinião pública, catracegada pela “imprensa amarela”, estava conquistada: Madrid recusa o ultimato e a guerra espano-americana eclode. O bigodaças Teddy Roosevelt, secretário assistente da Marinha, traulitada’s lover, demitiu-se do cargo para comandar os Rough Riders na terra do rum [1]. Pulitzer e Hearst fritavam histórias do heroísmo ianque: do funcionário exemplar [2], futuro presidente Roosevelt, herói da batalha da Colina de San Juan, olvidando que os combates mais duros, travaram-nos os pretos do 10º Regimento de Cavalaria, preto ainda não aumentava tiragens de jornais no século XIX.
O ilustrador Frederic Remington assistiu ao assalto à Colina de San Juan, passagem para Santiago de Cuba, onde os americanos projectavam derrotar o exército de Arsénio Linares y Pombo e a frota de Pascual Cervera. Correspondente do jornal de Hearst, a crueza da guerra e as privações abalaram-lhe ideias românticas dos conflitos, e pintou-o, não da perspectiva dos destemidos generais, mas dos soldados.
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[1] Marisa Miller é a companheira do rum Captain Morgan: “é uma grande oportunidade trabalhar com uma marca que é sinónimo de diversão. O Captain Morgan é sobre a comemoração de todos os tempos lendários e estou entusiasmada por estar a bordo como primeira companheira do capitão”.
[2] Funcionário de bigodelha e vestuário intelectual dilatado, na política internacional esbagaçava: fala tranquilamente e carrega um cacete grande– negociar com calma e simultaneamente ameaçar com os canhões. O arcebispo de Libreville, Basile Engone, teoriza sobre mamalógica roupagem dos funcionários públicos, acusando as autoridades de “fazerem vista grossa aos comportamentos desviantes, tais como vestuário reduzido na administração pública”.
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[Luís Cardenas – nativo de Los Angeles, um “spic”: “termo ofensivo para falantes de espanhol do México, América Central e do Sul, Espanha e Portugal”, que iludiu o destino de ser jardineiro ou vendedor de “Califórnia burritos”. Aos 2 anos o padrinho ofereceu-lhe uma tarola Ludwig Black Beauty; aos 4 recebe a primeira bateria, do Toy ‘R Us; aos 6 já tocava na sua primeira banda. Em 1983, forma com Tony De La Rosa, Danny Flores e Kenny Marquez algo incomum: um grupo de “chicano rock”: os Renegade ► “Let It Out” ♪ “Dance With Me” ♪ em 2001, com o maior cantor americano da década de 80 e todas as décadas David Hasselhoff, en español. Cardenas percorreu carreira a solo, em 1988, entra no Guinness, como dono da maior bateria do mundo, entre 78 e 100 peças ► no Guinness Hall of Fame Awards, com a London Philharmonic Orchestra, na “Troika” de Prokofiev; a fama perfilhou-o no primeiro álbum “Animal Instinct” (1986), e no primeiro single, uma versão de uma canção de Del Shannon, “Runaway” ← o vídeo, c/ aparição do próprio Shannon numa janela, perto do final.
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Del Shannon regravou esta canção para uma das melhores (e subestimadas) séries de TV dos anos 80 “Crime Story” (1986-88), criada por Chuck Adamson: ex-sargento da Major Crime Unit da Polícia de Chicago e Gustave Reininger: ex-banqueiro de investimento internacional de Wall Street. Localizada numa atmosfera rock pré-Beatles: da responsabilidade de Todd Rundgren e Al Kooper, o tenente Mike Torello*, da Major Crime Unit de Chicago, caça o mafioso Ray Luca, casado com Cori Luca. Alguns famosos contribuíram com aparições: Miles Davis no episódio 5 “The War” e, no episódio 20, “Top of the World”, Deborah Harry, como Bambi, a namorada do bandido. A primeira temporada termina no cogumelo atómico: com Luca e o fiel Pauli Taglia, num esconderijo, na zona de testes nucleares, no deserto do Nevada. Na segunda (e última) temporada, a série desloca-se para Las Vegas, e o milagre do argumento ressurge Luca e Pauli.
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* Interpretado por Dennis Farina, ex-polícia de Chicago].
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[Deep Note – nas salas de cinema, quando o consumidor de filmes, emborca uma estopada da Lucasfilm, ouve, nos primeiros raios de luz projectados, um som crescendo sintetizado: a THX Deep Note, um logótipo áudio, da THX Ltd. A “THX – Tomlinson Holman’s eXperiment – é uma marca registada de áudio de alta-fidelidade / padrão visual para a reprodução em cinemas, salas de visualização, home theaters, colunas do computador, consolas de jogos e sistemas de áudio do carro”, desenvolvida por Tomlinson Holman funcionário da Lucasfilm. “É um som que testa a frequência e a faixa dinâmica da acústica dos cinemas e o sistema de som surround”. O som crescendo foi combinado pelo Dr. James A. Moorer: “eu gostaria de dizer que o som THX é a peça mais amplamente reconhecida de música gerada por computador no mundo”. E descreve o processo criativo: “criei alguns programas de síntese para o ASP, que fez com que se comportasse como um enorme sintetizador de música digital. Usei a onda de um tom de violoncelo digitalizado, como a onda de base para os osciladores. Lembro-me que tinha 12 harmónicos. Eu poderia obter cerca de 30 osciladores a executar, em tempo real, no dispositivo. Então eu escrevi a ‘partitura’ para a peça”. Os Simpsons obtiveram licença de reprodução, o Dr. Dre, não, marimbou-se, e fez o sampler para “2001”, e foi processado. Os Tiny Toons parodiaram-no. – Outros com serventia do som: Alice Cooper em “Hell is Living Without You” (1989) ♪ Asia em “Countdown to Zero” (1985) ♪ Mylène Farmer em “California” (Megalo Mania Remix) (1996) ♪ Tex Moo Can ♪ no mellotron ♪ no osciloscópio Tektronix 465B ♪ remix ♪ nova versão.
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PS: “Deep Note” é também o título de uma repenicada colecção de bandas sonoras de filmes porno da década de 70].
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[Exército de Libertação do Povo – liderado na estreia pelo camarada Mao Tse-tung, atiçou-o contra o Chiang Kai-shek ou contra o Kuomintang. Na paz beneficia serviços de espionagem. Na Era da potência unidose, o Pentágono choraminga que o seu orçamento falta-lhe transparência: “o Departamento de Defesa estimava que o orçamento de defesa chinês para 2006 fosse 2 ou 3 vezes superior aos 35 mil milhões de dólares anunciados por Pequim. Em comparação, o orçamento de defesa dos E.U.A. para 2006 requeria 419,3 mil milhões”. No Exército Vermelho* marcam passo 2.3 milhões de magalas, entre activo e reservas, que almecegam a chinese way of life**.
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* História: “juntar-se ao ELP foi uma aspiração de muitos jovens que se sentiam oprimidos, em especial aqueles do estrato operário e camponês, e as mulheres”.
** Durante os Jogos Olímpicos de 2008 proibiram à nadadora americana Amanda Beard o seu anúncio anti-peles. O Soho regional, o correspondente da nossa Rua das Portas de Santo Antão, facilita teatro: “Das Kapital”, o musical, em Xangai: “a história da peça gira em torno de um grupo de empregados de escritório que descobre que o seu patrão está a explorá-los”. Através do China Daily aprende-se o dialecto de Xangai para a Expo 2010. E é a maior compradora de dívida americana].
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[Neko Case – nascida a 8 Setembro de 1970 em Alexandria, na Virgínia, filha de pais de ascendência ucraniana. Vagabundeia de Alexandria para Tacoma, Vancouver, Chicago, Tucson e espera estacionar numa quinta que comprou em Vermont. Quando saiu da cave de uns amigos dos pais em Tacoma, saltou do carril da autodestruição para a música: “eu era uma miúda doida. Estava cansada de ser pobre. Estava cansada de ser rapariga. Sentia-me completamente sem importância, não me importava com o mundo, e ia conseguir o amor de qualquer maneira que pudesse”. Multiplicou-se: na bateria nos grupos de punk pop de Vancouver CUB e Maow; na banda canadiana indie The New Pornographers; palmilhou tournées com os Neko Case & Her Boyfriends; antes de carreira a solo → entrevistas na National Public Radio].

domingo, outubro 03, 2010

Ólh’as n’tícias fresquinhas, freguês!
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Parte 4
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Há uma centena de anos… flostriavam as pessoas pelas praias: “dedos dos pés meigamente tratados, mantenha-os bonitos e cor-de-rosa”. O progresso científico vanguejava das cacholas: Harry Tap inventava o “domador de esposas[1] em 1862; Thomas Edison filmava em 1903 a postumeira de Topsy: uma elefanta condenada à morte por enforcamento [2]. Em São Francisco, em 1863, os jornais invectivavam contra as aldrabices na contabilidade das companhias mineiras e exortavam o investimento, dos mealheiros e pés-de-meia, nos serviços públicos da cidade. Nas redacções não alumiavam as luminárias – como hoje, que futuram os descarregamentos de dinheiro dos mercados – a explicação é mais sublunar: as empresas de serviços pagavam subornos pela publicação de histórias de investidores felizes. – No dia 28 de Outubro de 1863, o Territorial Enterprise, de Virginia City, Nevada, publicou uma notícia excruciante, como um vídeo pop de Park Ji-yoon ou “Kunoichi ninpô chô” [3]: Philip Hopkins, numa segunda-feira, cavalgou para Carson City com a garganta esfaqueada, o escalpe ensanguentado da mulher na mão, e morreu em frente do Saloon Magnolia sem dizer pio. Ele vivia com a mulher e nove filhos – 5 raparigas e 4 rapazes – numa cabana na orla da floresta de pinheiros entre Empire City e Dutch Nick’s. O xerife Gasherie deparou-se com duas filhas, Júlia, 14 anos e Emma, 17, feridas, na cozinha, e os outros mortos, à machada e paulada, espalhados pela cabana. Hopkins investira, falira e enlouquecera. – Crónica escrita por Mark Twain [4] é falsa. O seu propósito era varejar o clima de optimismo dos jornais de São Francisco, forçando a publicação de um artigo prejudicial às empresas de serviços públicos. Perante o dilema: dinheiro ou sensacionalismo? a indústria jornalística decide-se pelo sensacionalismo, que… gorgolha mais dinheiro ainda.
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[1] Um artefacto vitoriano que embalava a mulher rezingona até adormecê-la. Com a correcção valorativa feminina a rabugice equivale no século XXI à rexerta do vídeo de Eminem ft. Rihanna: “Love The Way You Lie” (2010), com Megan Fox cuspidora e assanhadiça. – Rihanna nascida nos Barbados (20/2/1988): tirou as impreteríveis fotos de telemóvel nua. Na viagem para os Grammy Awards de 2009, o boyfriend Chris Brown, numa querela no Lamborghini prateado alugado: “vou cozer-te de porrada quando chegarmos a casa! Espera para veres!”, e ali mesmo, numa rua do bairro Hancock Park, Los Angeles, redesenhou-lhe a cara com cirurgia murraça. A foto circulou: “senti-me totalmente explorada. Senti que as pessoas estavam fazendo disso um tópico na Internet, e é a minha vida”. O namoro findou, o corpo regenerou e retemperou. Ela justifica a colaboração com Eminem suspeito de cascar nas gajas: “ambos experimentamos as duas extremidades da mesa. Era credível para nós, fazer uma gravação como esta, mas também foi algo que precisava de ser feito, e a forma como ele o fez, foi tão inteligente”. – Megan Fox não se boateja que lhe tenham amolgado algum órgão, algum órgão visível… Participou no vídeo para doar o cachet.
[2] Num gesto de humanidade, isto é, de vantagem para si próprio, Edison recomendou a electrocussão por AC. O inventor da lâmpada eléctrica controlava o mercado com o DC (corrente contínua), quando Nikola Tesla vendeu a George Westinghouse a patente da sua versão de AC (corrente alternada): rebentou a “guerra das correntes”, e, por dá cá aquele choque, Edison infamava o produto da concorrência. Para a cadeira eléctrica, aperfeiçoada pelos seus funcionários Harold P. Brown e Arthur Kennelly, impôs a corrente AC, dizia ele, por ser mais letal. Descarga publicitária apenas: os consumidores não quereriam nas suas casas algo tão perigoso que matava impuros criminosos; debalde, na catfight AC versus DC, venceu AC: mais segura de transmitir a longas distâncias e fornece mais poder.
[3]Female Ninja Magic Chronicles”, a melhor série de filmes de mulheres ninja, manejadoras de insólitas armas. Em vez da katana, a shuriken, o tekagi-shuko, a neko-te ou o kusarigama, são mestres em regressão fetal ou bolinhas vaginais do inferno, que expelem pela sua “cavidade carnal”: Volume 1 (1989), Volume 2 (1991), Volume 3 (1993), Volume 5 (1995).
[4] A receita do escritor: “Como Contar Uma História”, e, como todos os homens de sucesso, publica postumamente inéditos: “Acerca da ‘Entrevista’”.
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O século XXI, na “crise financeira”, imita a arte de Twain. Em 2009 Ervin Antonio Lupoe, 40 anos, matou a mulher, cincos filhos – 3 raparigas e 2 rapazes – e suicidou-se. Numa carta culpou o Kaiser Permanente's West Los Angeles Medical Center, onde trabalhava com a mulher, pela chuva de balas. No fax de despedida esclarece: “depois de um sofrimento horrível, a minha mulher achou que era melhor acabar com as nossas vidas; e porquê deixar os nossos filhos nas mãos de estranhos?...não temos emprego e cinco crianças com menos de 8 anos, sem nenhum lugar para ir. Então aqui estamos nós”. A vizinha, Jasmine Gomez, contou como estavam: “pela reacção nas suas caras não era um espectáculo bonito. Não havia polícia que não saísse da casa a vomitar”.
Relata Platão no livro “A República” o mito de Er, de Panfília: um guerreiro arménio que morre numa batalha, dez dias depois o corpo ainda não se decompusera, sobre a pira funerária ele acorda e descreve a sua viagem depois da morte pelas esferas celestes do plano astral.
Apapoiladas maravilhas viu: a vida projectava-se em 3D [1]; as questões filosóficas cingiam-se à essência: AnnaLynne McCord, vagina ou cuecas? Katy Perry, mamilo ou não? O iPad, como os jornais, matavam moscas; as pessoas vestiam nada sobre o pêlo ou spray; as mulheres-a-dias asseavam-se na casa do patrão (do grupo hip-hop King Fantastic); comiam-se tonificantes cenourinhas; na música, nada de novo, tudo é remix: “1961, William Burroughs, não somente inventa o termo heavy metal, (…), mas também lança o primeiro remix”, a novela “The Soft Machine”: (um plano em 4 partes de Kirby Ferguson); os Iron Maiden gastavam como se não houvesse ontem; aprendia-se japonês: “exercitar” (“undousuru”), e os japoneses aprendiam a frase fundamental no estrangeiro: “tenho um ataque de diarreia”; textava-se os factos mais importantes da vida; as notícias celestiais escusavam locutores de TV de calças; o dono da Segway, Jimi Heselden, recém-admitido, logo se decidiu pelas deslocações no Unicycle da Honda; o topless de Abbey Johnstone salvou as Ablisa, Abbey e Lisa, no “X Factor”; querubínicas danças gandulavam aos 5 anos; os professores colhiam o merecido murro; e desvendou o mistério do sexo dos anjos: é de plástico: um viúvo de 50 anos apresentou-se na sexshop Tentazioni em Treviso, Itália, com fotos da falecida e encomendou “uma cópia exacta em plástico, com cabelo loiro verdadeiro, e correspondência precisa do rosto e formas do corpo”.
Sócrates coscuvilhou o mito de Er a Glaucon, irmão mais velho de Platão: seleccionado pelos juízes como observador das almas na sua caminhada pelo Além, uma gigantesca lavandaria limpava-as da sujidade terrena, para reencarnarem noutros corpos, outras nem a seco embrancavam, condenando-se ao Hades, Er, no fim da travessia, pouparam-lhe o golo de água do Letes [2] para que se recordasse e elucidasse a Humanidade: que a vigairada das almas, a sua estroinice e ruindade neste mundo, pagam-no no outro a uma taxa de juro acima dos 6%.
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[1]Resident Evil: Afterlife” (2010) de Paul W. S. Anderson, com Milla Jovovich, e Ali Larter. Milla amanha-se na guitarra, no filme “Dazed and Confused” (1993) ou “There Ain’t No God For Dogs”; na banda sonora do filme “Dummy” (2002); editou o CD “The Divine Comedy” (1994): “The Alien Song (For Those Who Listen)” ╤ “It’s Your Life” ╤ “Charlie” ╤ “Ruby Lane” ╤ “Clock” ╤ “You Did it All Before”. E canta “The Mission” no álbum “Sound into Blood into Wine” (2010) dos Puscifer, projecto de Maynard James Keenan dos Tool. – Twitter. – “Piranha 3D” (2010) de Alexandre Aja, com uma braçada de 3D girls e Steven R. McQueen, neto de Steve McQueen.
[2] Ou Limaia, nas crónicas de Estrabão e Tito Lívio, que abreviaria para rio Lima, era o rio do esquecimento: um golo provocava um efeito pior do que o drink spiking (no Brasil: “boa noite, Cinderela”).
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[Sonificação – é a conversão de informação ou o percebimento de dados codificados sob a forma de sons. Escreveu Luciano Lobato: “devido às características da percepção auditiva, é uma alternativa interessante para as técnicas de visualização, e que pode ser utilizada em diversos contextos; como meio para a cognição aumentada”, ou para monitorizar as funções vitais do corpo durante operações cirúrgicas. A sonificação esteia duas aplicações. a) científica: um dos seus primeiros hits foi o contador Geiger. – Outros êxitos: a comunicação entre neurónios; no Grande Colisor de Hadrões, na Suiça, Lily Asquith coordenou a equipa que simulou o hipotético bosão de Higgs*, hipoteticamente, gerado na experiência do Big Bang, em som. Esta miuçalha subatómica, epitetada “a partícula de Deus”**, até cientistas cola ao tecto, acagaçados. Holger Bech Nielsen e Masao Ninomiya conjecturaram sabotagens “Back to the Future*** para justificar as falhas no Grande Colisor: a produção do bosão de Higgs “pode ser tão repugnante para a natureza que, a sua criação, retrocederia no tempo**** e pararia o Colisor, antes que ele pudesse produzir um, como um viajante no tempo, que volta ao passado para matar o avô”. A experiência do Big Bang também estarreceu, com o apavorante “buraco negro”, milhares na Índia: “precipitaram-se para os templos para rezar, enquanto outros deleitavam-se com seus pratos favoritos, à espera do fim do mundo” e Chayya, 16 anos, suicidou-se ingerindo um pesticida.
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*Não engolir”; catalogaram-se 16 partículas fundamentais, entre quarks, bosões, fermiões, leptões: 12 partículas de matéria e 4 detentoras de força. Individualmente, elas não possuem massa, que explicaria a materialidade do mundo, para tal os físicos depositam a sua fé no (ainda espectral) bosão de Higgs.
** Para chafurdar no divino, o único povo mandatado por Deus, os americanos, finalizaram, em 1983, a construção do Tevatron, debaixo do Fermilab, no Illinois, torrando 120 milhões de dólares. Muitos milhões depois encerrará os canhões em 2011.
*** Filme de Robert Zemeckis (1985), sobre perturbações no presente, causadas por adulterações do passado; – com problemas de produção actuais: a actriz que desempenhou o papel de namorada de Marty McFly no primeiro filme, Claudia Wells, desiste da personagem nas sequelas, por doença cancerígena da mãe. A cantora e actriz Melora Hardin, é descartada por ser mais alta que Michael J. Fox, e contrataram Elisabeth Shue. – As armas do filme.
**** Fenómeno de relojoaria física, cientificamente elucidado pelo Doctor, o maior viajante no tempo de todos os tempos.
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b) artística: o compositor brasileiro Wilson Sukorski → “procura ampliar o efeito estético agregando outra dimensão perceptiva”; o compositor espanhol de Tenerife Gustavo Díaz-Jerez → “V838 Monocerotis” ╤ “Mandelbrot Set” ╤ “Flame Fractal I” ╤ “Flame Fractal II”; o artista do Minnesota Tom Dukich → sonificação de os primeiros 1000 algarismos do número π ao piano: “A Nice Slice of Pi”; a investigadora da Universidade George Mason, no estado da Virgínia, Paras Kaul, sob o nome artístico de Brainwave Chick → as ondas cerebrais durante o sono; o compositor e músico Roberto Morales-Manzanares → o sopro da brisa de electrões do sol.
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No fenómeno inverso, a transmutação do áudio no visual, especializou-se a indústria discográfica, acelerando o palmanço da matéria verde dos consumidores. Um exemplo forte dessa transformação do audível no visível é Heidi Montag, moça cristã de predicados e sujeitos. Protagonizou “The Hills” (2006-2010), uma série da MTV, pretensamente sem argumento; casou com Spencer Pratt, colega da série: ambos no retrato de família com armas, e escreveram “How To Be Famous”; despiu-se para a Playboy; chorou como uma Madalena endrominada no reality show “I’m a Celebrity….Get Me Out Of Here!” quando os colegas lhe rapinaram o champô, factura com o incidente lançando o Heidi Montag Dry Shampoo; estreou-se nas cantorias no palco da eleição da Miss Universo 2009, no Atlantis Paradise Island Resort, nas Bahamas, arrebatada escreveu no Twitter: “a noite passada foi uma das melhores noites da minha vida!!!! diverti-me tanto! a minha primeira actuação! obrigado Deus!”; ensaia coreografias; editou o CD “Superficial” (2010) apontando para o céu: “eu gastei tanto tempo, talvez mesmo mais do que o ‘Thriller’. Cada detalhe foi muito importante para mim, porque eu levo isso muito a sério. A maioria dos artistas, não gasta o seu próprio dinheiro, mas eu na verdade fiquei lisa, colocando cada dólar que ganhei e meu coração e alma nesta música. (…). Gastei mais de um milhão, quase dois milhões de dólares neste álbum”: vendeu 658 cópias* “das canções que farão impacto na história pop” nos primeiros dias; com 23 anos aprimorou-se para os consumidores com 10 operações plásticas no mesmo dia: “e eu estava cheia de dores, e assim, literalmente chorando, e dizendo, eu … eu senti que queria morrer, quase, yeah”; na mortal busca da beleza: “quase morri depois da minha operação, tomei demasiado Demerol, como o Michael Jackson”; em Junho saiu do lar familiar em Pacific Palisades, Califórnia: “há tantas mentiras por aí sobre mim, e eu só precisava de espaço, mesmo do meu marido”; coabita com a amiga Jen Bunney: filmariam o seu rico quotidiano para um realty show, se a amizade subsistisse mais do que uma semana, e está em vias de escrever o argumento para um filme; no fim de Setembro desconvoca o divórcio. – Som: “Black Out” ╤ “Higher” ╤ “Superficial” ╤ “One More Drink”.
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* Nem foi grande desastre. David Brent, “principalmente a amigos e família”, só vendeu 150 cópias: – personagem de Ricky Gervais na série de TV “The Office” (2001)].
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[Factory – “editora responsável pelo nascimento da cena 'Madchester' nos anos 80”, documentada pela BBC em “Factory - Manchester from Joy Division to Happy Mondays”: – “numa cidade sombria do Norte, no final dos anos 70, cinco sonhadores construíram uma editora discográfica: Factory: bandas clássicas: Joy Division, New Order e Happy Mondays, e o primeiro super-clube britânico: Haçienda. Liderados pelo locutor de TV Tony Wilson criaram uma colisão entre arte conceptual e música da rua”. “As verdadeiras paixões de Wilson eram sexo, drogas e sobretudo rock ‘n’ roll”, na Granada Television, difunde-o, na tijolada cidade de Manchester, entrevistando personalidades do espectáculo como Iggy Pop: “a única razão por que faço isto é para colocar a minha cara em mais ecrãs, ter o meu nome em mais jornais, e expandir a minha fama”.
No dia 4 de Junho de 1977 os Sex Pistols tocaram no Free Trade Hall, em Manchester: os poucos, da futura cena musical da cidade ouviram a lição e o seu universo expandiu-se. Pela segunda vinda dos Pistols, com os Buzzcocks na primeira parte, supernovas explodiram. Peter Hook (baixista dos Joy Division): “ouvíamos os Sex Pistols e pensávamos que podíamos fazê-lo, ouvia-se Led Zeppelin, Deep Purple ou Hawkwind, pensava-se que não o conseguiríamos fazer”. A Factory alista os Joy Division desinteressados das grandes editoras: “o contrato com os Joy Division foi garatujado num guardanapo e assinado com o próprio sangue de Wilson”. E um gato de Schrödinger, o vocalista Ian Curtis, encaixotado. Bernard Sumner (guitarrista e teclados dos Joy Division): Ian “costumava beber Carlsberg Special, ou melhor Carlsberg Special norma”. Curtis “debilitado pela epilepsia, a medicação e as discussões com a mulher Debby (Deborah Curtis) por causa de um encornanço com a fã belga Annick Honoré”, enforca-se dia 18 de Maio de 1980, o álbum “The Idiot” (1977) de Iggy Pop “estava no prato do gira-discos”.
Os sobreviventes intitulam-se New Order, embasbacados pelos nightclubs de Nova Iorque, produzem música de discoteca. Os fins-de-semana abanaram-se com “Blue Monday” (1983). Diz Vini Reilly (Durutti Column): “o maior êxito de vendas 12’ de todos os tempos perdeu dinheiro em cada single, porque a capa era tão cara de fabricar que perdeu dinheiro”. O sucesso atraiu o programa de TV Top of the Pops, “concordaram aparecer, mas só se pudessem tocar ao vivo no estúdio, algo que nunca tinha sido feito antes”. Peter Hook: “o nosso disco descia nas tabelas, cada vez que aparecíamos no TOTP, enquanto os discos dos outros subiam, porque soávamos tão mal”. Os lucros da banda subsidiaram “The Haçienda, uma referência situacionista a Utopia”, uma discoteca com um marco, em 1989 a “primeira morte pelo ecstasy na pista de dança”. Durante o período “Gunchester”, Wilson fechou a Haçienda: “gangs lutavam pelo mercado da droga e o local de venda era a Haçienda”. A Factory, de cofres vazios, despacha em 1992 os Happy Mondays para os Barbabos para escreverem e gravarem o quarto álbum. “Não havia heroína na ilha para sustentar o vício de Shaun Ryder”. Wilson corrige: “não havia cavalo nos Barbados? Barbados, boa ideia! Fazendo pesquisa e descobrindo que era um centro de crack, foi um erro, admito isso, completamente”. E o estúdio de Eddie Grant revira casa de crack e nada de disco.
Joy Division, primeira gravação: “An Ideal for Living” (1978): “Warsaw” ╤ “No Love Lost”; “Unknown Pleasures” (1979): “She’s Lost Control”; “Closer” (1980): “Isolation”; “Still” (1981): “Walked the Line”. – Outros grupos da editora Factory: A Certain Ratio e Durutti Column: que, no álbum “Amigos em Portugal” (1983), inclui a faixa “Sara e Tristana”, as torêuticas filhas do avó Miguel Esteves Cardoso].