Pratinho de Couratos

A espantosa vida quotidiana no Portugal moderno!

sábado, janeiro 22, 2011

Os caça-portuguesinhos
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Neste grande eremónimo, persignado Portugal, repetitório seja seu nome, para avezar as orelhas de seu povo, galeote do ascenso, de que fracas gentes fazem fortes reis… na barriga. “Um país que vale por mil”! Porciúncula da Europa, prosopopeia de faraónica panóplia de sucessos muitíssimos. Donde, as/os fluffers [1] do patriotismo, os psilos da ziguezagueante autoestima, sejam ofício de arte e vejam e promovam português a pontapé [2]. O festival da Eurovisão é o tablado dessa patrioteira dileção. Na edição de 2010 [3], Sérgio Mateus, vertedor da RTP de palavras sobre as imagens, alvoroçava-se aquando das panorâmicas das câmaras sobre a jubilosa assistência: “como podemos ver ali bandeirinhas de Portugal”, “olha ali bandeiras de Portugal”, “e ali estão mais umas bandeirinhas de Portugal”; na 1ª fase da semifinal o representante grego passa à final, chibata Mateus o céu-da-boca: “pelo menos já temos metade de um português na final. Este senhor Giorgos que é filho de uma portuguesa. A mãe é portuguesa, nasceu na Madeira”. E, quando Filipa Azevedo é escolhida, ele sobreaquece-se: “Portugal! É o quinto ‘tá ali Portugal! Obrigado! Obrigado! A todos aqueles que votaram na nossa canção. Estamos na final! Estamos na final!”. Perigual, os membros do Governo andam de déu em déu de mão estendida à verde-rubefação [4].
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[1] Importante profissão na produção de filmes porno que zela, nas pausas das filmagens, pela prontidão para a performance, do principal instrumento de interpretação dos actores.
[2] Lugares de filmagem de “Ghostbusters” (1984). Os caça-portugueses estacionam-se à borda mar, José Sócrates situa: “eu conheço os portos portugueses. Sempre adorei portos. Gosto da atmosfera dos portos. Gosto de visitar portos, porque os portos são para mim sempre e sempre foram uma inspiração para a aventura”.
[3] O ano de Safura com a canção “Drip Drop”, cantora, licenciada em música, leitora da série “Twilight”, vencedora do Ídolos, toca violino mas prefere o saxofone, representante do Azerbeijão. País que gratificou o nosso Durão Barroso com honoris causa pela universidade de Baku. E de Sofia Nizharadze com “Shine”, cantora, compositora e atiz da Geórgia. Também licenciada em música, nos palcos desde os 3 anos, participou em musicais em Paris, e cantou duetos com José Carreras, Chris De Bourg ou Andrea Bocelli.
[4] Por que José Mourinho: “sou grande mas não quero ser especial”, ao receber o prémio de treinador special do marketing da indústria do futebol, disse: “boa noite, peço desculpa por falar em português, mas sou um orgulhoso português”, o fluffer Laurentino Dias, secretário de Estado do Desporto, esticou: “e ele que teve, para nós, a honra de se dizer orgulhosamente português nesta cerimónia. Fiquei também muito feliz por isso, por ele querer realçar essa qualidade de português e dar com isso a todos nós, portugueses, uma enorme alegria. Acho que devo também uma palavra ao Cristiano Ronaldo que esteve uma vez mais entre os melhores do mundo. E já agora, se me permite, uma palavra ao Pedro Pinto, o vosso colega da comunicação social, que está a apresentar esta gala e que significa para nós, que a diversos níveis, Portugal estava representado no podium. Estava representado no palco na gala da FIFA, o que contribui de certa forma, para nos fazer perceber que nós temos condições, capacidades, argumentos, para estar ao nível dos melhores em qualquer circunstância”.
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O orgulho [1], como o privado arbusto das senhoras [2], deve ser podado com imaginação, e, o nacional é bom [3]. Detrás de cada porta verde-rubra está um português, não há invento ou batizado, sem a mão que embala o berço afonsino, como reportado pelo Tom Selleck [4]: portagens Linha Verde ou despachar faxes da praia. Portugal é uma marca vendável, sem ossos, por qualquer celebridade [5], até nos mercados do Butão nos comem [6]. A execução fiscal portuguesa corusca a Roménia – país da legalização das bruxas pelos impostos – jurava Paula Teixeira da Cruz, vice-presidente do PSD: “não contem com o PSD para aumentar impostos em 2011”, o prometido é? duvido. Citações de loiras – Madonna: “sou forte, sou ambiciosa, e sei exactamente o que quero, se isso faz de mim uma cabra, ok”, têm arrostado a nação para o penisqueiro empadão rico, afinal, ninguém vendeu a mulher para comprar um Dacia [7]. Sarambeques, sarambas, caxambu, nos adros, ou nos shows de rádio, bailam os orgulhosos portugueses: “5 mil em lista de espera para comida e roupa”, segundo um estudo da universidade Católica e do Banco Alimentar, “restaurantes vão poder dar comida que sobra em vez de a deitarem ao lixo”, “portugueses estão a comer cada vez pior”, “preço do pão sobe 12%”, só “os tolos e os lunáticos” (didascália Manuel Pinho) veriam nestas proposições catástrofe, logo desmentidos por boas novas: “100 € de multa para quem não pagar as taxas moderadoras”. Povo que paga taxas, coimas, multas, gorjetas altas não terá trabalho infantil.
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[1] Cavaco Silva: “eu orgulho-me imenso de tudo o que fiz como primeiro-ministro. Vá lá ler os relatórios internacionais (…) eu orgulho-me imenso de tudo o que fiz como primeiro-ministro. Sou uma pessoa muito orgulhosa daquilo que fiz”.
[2] “Map of Tasmania” ۞ versão ao vivo ۞ site. Amanda Fucking Palmer: “acho que a intriga deliberada não é o meu forte. Vou deixar isso para a PJ Harvey”, pianista, vocalista, compositora do duo Dresden Dolls e uma metade do duo Evelyn Evelyn. Casada com o escritor Neil Gaiman. Amanda regressou à sua ex-escola, a Lexington High School, para a peça “With the Needle That Sings in Her Heart”, inspirada por “In the Aeroplane Over the Sea” dos Neutral Milk Hotel, e organizada com os alunos do departamento de teatro deste liceu.  “Leeds United۞Oasis”: “história fictícia de uma fã dos Oasis e vítima de violação que faz um aborto” que todas as televisões inglesas recusaram transmitir.
[3] João Mira Gomes, embaixador de Portugal na NATO, abasbaca: “aliás, é curioso que o presidente Obama, na sua conferência de imprensa, referiu-se à forma como tinha corrido a Cimeira de Lisboa, dizendo que na próxima cimeira, que será nos Estados Unidos em 2012, agora será mais difícil para os Estados Unidos, por que a fasquia, nós colocamos a fasquia demasiadamente alta, e portanto ele tinha tomado notas, como se organizava uma cimeira, e que também devia perguntar como é que nós poderíamos dar conselhos para que a cimeira nos Estados Unidos seja tão boa como a nossa”.
[4] Nos anos 90, o ator bigodaças narrou publicidade, prenunciadora de futuro, para a AT&T.
[5] Ilustres endossantes: Mikhail Gorbachev participou numa campanha publicitária para as malas Louis Vuitton e James Dean, num anúncio de serviço público, subvenciona a segurança rodoviária com mensagens contra os jovens aceleras.
[6] Viagens penianas: “a maioria dos pénis pintados nas casas ou suspensos dos telhados no Butão são maiores que as pessoas”. No Japão, “é Primavera e isso significa uma coisa. Na verdade, duas coisas. Festivais de pénis e festivais de vaginas”: o Kanamara Matsuri (“festival do falo de aço”) e vaginas no santuário de Oogata Jinja.
[7] De tão ricos serem, os políticos portugueses deslocar-se-iam para o árduo trabalho em carros blindados, com estofos de pénis de baleia: o Prombron Monaco Red Diamond Edition, da Dartz, “o mais caro SUV do mundo”, “janelas banhadas a ouro puro, escapes de tungsténio, e conta-quilómetros incrustados de diamantes” e… estofos “eles são feitos de um dos materiais mais suaves existentes – couro de pénis de baleia”. A empresa reconsiderou: “estamos apenas à procura dos materiais mais caros para este carro – e, por isso, escolhemos o couro de pénis de baleia, quando verificamos ser o mais caro de todos”, vitória dos ambientalistas.
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Povo confiante nas suas pinups: na Áustria, no Festival de Salzburgo, dialoga uma locutora da RTP com um anónimo turista de filha a tiracolo. Turista: – “estou à espera das pessoas. Vim só ver as pessoas”; locutora: – “as celebridades?”; turista: – “talvez, um pouco”; locutora: – “e o presidente de Portugal? Está cá”; turista: – “está cá? Ouvi falar, mas não conheço a cara dele… ok lamento”; Final: Molto allegro, remata ela com apontamento cultural: “importa dizer que Mozart era pouco maior que esta menina quando compôs a sua primeira obra aqui em Salzburgo”.
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“Os teóricos (renascentistas) tentavam esquecer o campo visual esférico dos antigos (gregos / romanos), a sua perspectiva angular, que ligava a grandeza aparente, não à distância, mas ao ângulo segundo o qual nós víamos o objeto, o qual eles chamavam desdenhosamente a perspectiva naturalis ou communis, a favor de uma perspectiva artificialis capaz em princípio de fundar uma construção exacta, e eles iam, por acreditar nesse mito, até a expurgar Euclides, omitindo das suas traduções o teorema 8 [1] que os incomodava”, Merleau-Ponty em “L’Oeil et L’Esprit”, na sala de cinema o ângulo do espetador sujeita-se à hora, tardia ou não, da compra do bilhete. – “My Best Friend’s Birthday” (1987), primeiro filme de Quentin Tarantino. – Onze segredos escondidos no “Fight Club” (1999). – Armas nos filmes: a metralhadora protética M203 na perna de Cherry Darling (Rose McGowan) em “Planet Terror” (2007); o phaser na série de TV “Star Trek: The Next Generation” (1987-94). – Porno vintage: logótipos e posters; impressionantes exemplos de representação e “Batman XXX” (2010), a comparação. – Viajar no tempo: “teorias na série Star Trek”, no episódio “The City on the Edge of Forever” (1967) o Dr. McCoy, enlouquecido pela Cordrazine, “acidentalmente muda a História, para os nazis vencerem a Segunda Guerra Mundial, como consequência, no presente, a Enterprise já não existe”; o melhor filme viageiro: “La Jetée” (1962), fonte do vídeo “Dancerama” dos Sigue Sigue Sputnik; “regras para viajantes no tempo”: regra nº 1 “viajar para o futuro é fácil”; “A Guide To SF Chronophysics”: “o tempo é a dimensão que é assimétrica em relação à entropia”; navegações na literatura. – Cenas nuas: a canadiana romântica Rachel McAdams, “uma vez fiz uma – era suposto demorar 30 minutos – salada de feijão que me levou 6 horas”, em “The Notebook” (2004). – “The Intruder” (1962), do livro de Charles Beaumont, realizado por Roger Corman, com o canadiano William Shatner no papel de “Adam Cramer, um manhoso, demagogo, racista que viaja para o sul na sequência da decisão do Supremo Tribunal Brown vs Board of Education, fomentando protestos e motins e organizando grupos de cidadãos brancos, com ele na liderança”; “a equipa de filmagem foi corrida de East Prairie, Missouri, pelo chefe da polícia (alegadamente por serem comunistas)”; entrevista com Corman e Shatner.
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[1] “Quando uma linha reta cruza duas retas paralelas produz ângulos alternados iguais, e faz com que o ângulo externo seja igual ao ângulo interior oposto do mesmo lado”.
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[Sinos de igreja – propala-se pela tradição que foi S. Paulino de Nola (354-431 d. C), na Campânia, Itália, quem primeiro armou sinos na torre de uma igreja para congregar o rebanho cristão nas suas multíplices rezas. Mas, provavelmente, o reflexo ao som metálico, condicionando orações nos cristãos propagou-se – primeiro em chapas de metal, o semantron, depois na forma campanular – desde que o imperador Constantino I (272-337 d. C.), convertido ao Cristianismo, interditou pelo édito de Milão (313) as folgazonas perseguições dioclecianas no Império Romano. Este tocamento na posse de pregadores arrebenta-bilhas*: como o reverendo Larsh, aliás o perigoso extraterrestre Kritak, no filme “The Invasion of the Space Preachers” (1990), com o gás de Johnny Angel, o rockabilly boy, dos banhos nu ao sol com as groupies Dreama (Stacy Weddington) e Rhonda (Piper Thayer) – é um abre-latas do espírito, um saca-rolhas do corpo, nesta maré de anorexia nervosa do onzenário dinheiro é o bombo da bateria, o escape para a sanidade, escreve o Central Council of Church Bell Ringers: “tocar o sino é uma atividade de equipa que estimula o cérebro e ajuda a manter a forma”. Tlim-tlão! bimbalhemos como se os céus se abrissem: “Tubular Bells”! “Bang Go the Bells”! (dos Babylon A. D.).
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* Os padres integram-se na mesma caracterização de Belmiro de Azevedo para os políticos: “não têm nunca a intenção de esclarecer, sem procurar, catequizar as pessoas, para aceitar uma certa opinião. Deixemos de lado esses discursos folclóricos eleitorais, vamos fazer, trabalhar a sério”.
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Dar aos tintins é arte antiga: “Tintinnalogia, or, the Art of Ringing” (1713) e saldada com canecos de cevada maltada: Marjorie: “os tocadores eram pagos em cerveja e, embora, infelizmente, esse costume cessou, continua prática habitual dos tocadores escaparem-se para um bar nas redondezas, após uma tarde de toques”. Contemporaneamente, dá-se ao badalo, sob diversas formas de campanologia: carrilhões, mudança de toques, sinos ortodoxos russos…  O tão-baladão no “Bells on Sunday”, da BBC Radio4, na catedral de Durham ۞ Southwark Cathedral Society of Bell Ringers.
Outro formato de repenique é o tlintlim de sinetas tocadas à mão Not Your Average Bell Choir۞Westminster Concert Bell Choir۞Handbell Choir of First Baptist Church Eastman, GA” ۞ tocadas em luz negra ۞ Pirates of the Caribbean ۞ e os OK Go.
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Em Portugal, no século XVIII, o rei D. João V, opulentado com os quintos do Brasil, delapida 50 000 moedas de ouro no primeiro carrilhão, nos campanários nacionais, construído por Guilherme Withlockx na Antuérpia e Nicolau Levache em Liège, para as torres do Real Edifício do convento de Mafra. O carrilhão português mais famoso, pelo padreca hábito, depois da banalização do relógio de pulso, de ainda insistir em chagar a pinha dos próximos com toques de sinos* é o da Igreja dos Pastorinhos, em Alverca, fundido na Holanda pela Eijsbouts, por 500 000 euros, em 2005: Passacaglia da Suite n.7 de G. F. Handel. Ana Elias e Sara Elias foram as primeiras carrilhanistas residentes deste carrilhão; Ana “aos seis anos recusava-se a cantar as músicas próprias da idade, como a “Joana come a papa”, e adorava ouvir Chopin e Mozart. O que levou os pais a consultarem um médico que apenas ‘receitou’ aulas de música”, de mãos no carrilhão promete “tocar todos os tipos de música, uma vez que o público é muito vasto” e, para os jovens, juventalhices tipo Metallica.
Badalão badalão do duo das manas Elias, LVSITANVS  “Metallica Ballads۞ fantasia "D. João V" por Ana Elias, dedicada a Sara Elias ۞ Sonata in C Major” de Carlos Seixas ۞ My Way**.
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* O padre José Maria Cortes nega tanto como um Pedro: “o pároco garante, no entanto, que não estão a infringir a lei, até porque foram feitos estudos de impacte ambiental e de volume de decibéis que consideraram que o som do carrilhão não ofendia”.
** Ânglico “Comme D'Habitude”, composta em 1967 por Claude François e Jacques Revaux, letra de François e Gilles Thibaut. Paul Anka comprou os direitos para a sua versão inglesa pelo melhor preço: de borla. Canção depois vulgarizada pelo Shane MacGowan, pela Nina Hagen… ah! e pelo Frank Sinatra também].

quarta-feira, janeiro 12, 2011

Ólh’as n’tícias fresquinhas, freguês!
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Parte 10
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Escaganifobético. É o adjectivo que açambarca o pack de jornalistas portugueses: desengonçado, falta de jeito, desencaixado da mouche, que temporeja com o povo que transnadou… oceanos, e presentemente navega mares de fundo fomento, aferido, não pelos chumecos da Economia, cornetas da desgraça, mas pelas fãs de Tony Carreira [1]. É um jornalismo bíjugo, potência máxima, escrito por homens de valor [2], é a força de Coriolis [3] que nos capitaneia nas polémicas. São estes plumitivos do Word que novelam o folhetim do (que não é um) “Horror Movie”. Hernâni Carvalho, jornalista, vedeta de TV, na série “Sociedade Anónima” (2001), interpreta-se a si próprio: “aqui no estabelecimento prisional da Foz do Anjo, do que se passa lá dentro, sabe-se muito pouco, enfim, sabe-se que houve confrontos que ainda não estão confirmados” e entrevista: “há aqui famílias que tentam protestar, é isso que vamos tentar fazer, minha senhora, muito boa tarde…”, por falso raccord as personagens principais da série acordam, escovam os dentes, pequeno-almoço, e ala para o bules.
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[1] Senhora #1, fã de Tony: - “olhe, sabe o que é que eu digo? É preciso a gente ir ganhando para termos dinheirinho pra irmos atrás do nosso Tony, mai’ nada! Chegando pra ele, ‘tá tudo bem”; senhora #2, fã de Tony: - “eu um dia destes sonhei que tinha comprado castanhas e que lhe ‘tava a dar castanhas assadas. Já pode ver”. (Também Roz Doyle, produtora radiofónica na série “Frasier” (1993-2004), se prazia com cantor análogo, Bobby Sherman: “Easy Come, Easy Go”). A mulher portuguesa enleva-se “mariadafontemente” pelo Homem, Berta Cabral, presidente do PSD/Açores: “foi sem dúvida, e temos que reconhecer isso, o melhor primeiro-ministro do Portugal democrático. E como já ouvi e já li, talvez o melhor primeiro-ministro do último século”, aludindo a… Cavaco Silva.
[2] Thomas Hobbes: “o valor de um homem, ou aquilo em se avalia, é, como em todas as outras coisas, o seu preço, ou seja, exactamente o que se daria pela utilização da sua força”. Neste caso, galopins, nas épocas eleitorais, e louvaminhas nos intervalos destas.
[3] Aquelas duas voltas da água, no ralo, antes de se escoar no esgoto.
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Hernâni Carvalho é um arquétipo do bom jornalismo, desconhecedor do silêncio [1], nem todo morreu no quarto 3416, do Hotel Inter-Continental, em Nova Iorque. No ano de 2005, no susto do arrastão na praia de Carcavelos, denunciava ele, na SIC, provas de arrastões nesta cidade despida: foram épicas as suas imagens CCTV de um bando de pretos entrando num comboio que, para a paralaxe branca, define um… arrastão. Os jornalistas portugueses, numa nação a fervilhar [2] de postas [3], numa Europa pescada [4], entronqueceram as funções da linguagem de Jakobson com mais um par: para além da função escaganifobética, adiram-lhe uma função tradutora. Francisco Louçã, num debate parlamentar, pilheriava para José Sócrates: “Sr. Primeiro-ministro, eu vejo que de intervenção em intervenção, vai ficando um pouco mais manso”. Sócrates, de micro desligado, aporfia: “manso é a sua tia, pá!”. E os jornais traduziram: “manso é a tua tia, pá!”, substituindo o pronome, para os sequazes, irrompe um homem viril de aguçada língua, para os adversários, um gajo mal-educado.
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[1] Num rompante de loucura a indústria discográfica, insatisfeita por culpar à partilha de ficheiros os seus males, espanta por querer vender o silêncio: “2 Minute Silence”, por razões económicas e não artísticas, como John Cage em 1952.
[2] Passos Coelho, presidente do PSD, "nun'alvarespereiramente" enleva-se:: “esse resultado é indispensável para o caminho que temos de trilhar, no futuro, no nosso país (…) imaginem o que era a possibilidade de estarmos à frente do Governo do país, a querer produzir um projecto de mudança, de mudança profunda, na sociedade portuguesa, que volte a colocar Portugal num caminho de crescimento, imaginem o que era ter Manuel Alegre como presidente da República”, angariando para… Cavaco Silva.
[3] O desabrochar de um grande líder: Passos Coelho: “se no momento que estamos a atravessar, não vamos ao fundo dos problemas e não apresentamos reformas que tenham carácter estruturante, se nos ficamos pela rama para mostrar que estamos a fazer qualquer coisa, mas não estamos a ir à raiz, à causa dos problemas, nós podemos ter um problema muito maior a médio prazo, que é de andar a fazer de conta que resolvemos o que não resolvemos. E, portanto eu espero que estas intenções que o Governo manifestou, que venham a corresponder a medidas mais estudadas, mais aprofundadas e que vão de encontro à raiz dos problemas”.
[4] Durão Barroso, presidente da Comissão Europeia, sobre as medidas: “penso que são medidas que podem contribuir para a confiança dos mercados. Agora a verdade é esta: há uma grande incerteza nos mercados, a nível global. Vamos ver se essas medidas são as suficientes para restaurar a confiança dos mercados na capacidade portuguesa de pagar a dívida, na capacidade portuguesa de fazer as reformas necessárias e também de pôr as finanças públicas em ordem”.
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A transmissão do festival da Eurovisão, em Portugal, é o figurino supremo de ababalhar as imagens com palavras, e Eládio Clímaco, locutor da RTP, sobranceava essa sintaxe. Na edição de 2006, ruminava por cima daquilo que a sua bagagem jornalística esbugalhava, um grupo alienígena da sua colecção de discos, “uns monstrinhos”, os Lordi, venciam o festival, enquanto os espectadores, incompreensivelmente para ele, não votaram na Carola Häggkvist. Mas a tarefa prima do jornalista português é… Cristiano Ronaldo, o orgulhoso falo da Pátria. “Ronaldo conquista duas numa semana”. “Ronaldo prefere mulheres com dentes todos” [1]. Ele diz: “já já já disse algumas vezes, quando me assobiem é pior. Porque consigo marcar, consigo jogar bem”, o jornalista pincela: “quando sou assobiado jogo melhor e marco”. E relatarem, com isenção jornalística, o superavit de sémen do jogador, Irina Shayk: “Ronaldo quer filhos meus” [2].
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[1] Talvez para os ver à janela.
[2] Irina, apesar de modelo russa, é nossa. Tão portuguesa como uma urbana de A-Dos-Cunhados ou uma camponesa de Venda da Gaita, perto de Picha, em Pedrógão Grande: na GQ ♣ na GQ sul-africana ♣ nua na GQ espanhola ♣ na colecção Luli Fama Swimwear 2011 ♣ abraçada a Jessica White.
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Na Era da Informação o miopresbita, míope de um olho e presbita do outro, é rei: de uma vista, sombras, da outra, alcance. A literacia tecnológica derrubou de um zapetrape a antiga ignorância e, hodiernamente, todos comungam…: – a Coreia do Norte disponibiliza um Canal YouTube baptizado uriminzokkiri (significa “a nossa nação” ou “o nosso povo”), administrado pelo Comité Norte Coreano para a Reunificação Pacífica da Pátria, de que os nubívagos de ideologia [1] fartar-se-ão nas seis faces do YouCube. – Uns píxeis ao lado, a China, produzia edificante cinema: “The Song of Youth” (1959), com a jovem Xie Fang, a felicidade espelhada no rosto, cumpridas as lutas [2]; mais uns píxeis ao lado, Hong Kong, alógenas criaturas parecem ser: em “Young Rock” (1959), Patricia Lam Fung [3], a garota jade de Hong Kong, não cerra o punho, leal, distribui panfletos ou marcha com os camaradas contra os canhões de água, ela dança ritmos sujos do capitalismo e revoluteia o hula-hoop. – Uns píxeis acima, no Japão, sem rival a letícia das meteorologistas japonesas, fachis se esfanicam para petiscar o cinema clássico: “Monster Zero” (1965), “na escuridão, atrás de Júpiter, esconde-se o Planeta X, povoado por seres de inteligência superior, forçados a viverem refugiados debaixo de terra, por causa da destruição de Ghidra, o monstro de três cabeças”. Os terráqueos emprestam Godzilla para combater a ameaça.
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[1] “Tiramos do método que Marx, na sua obra imortal ‘O Capital’, empregou para a análise do capitalismo, o grande ensinamento de que para penetrar profundamente na realidade objectiva, não basta recolher e expor factos, mas é preciso também proceder a generalizações, conclusões e abstracções científicas”, o camarada Enver Hoxha no discurso “Estudemos a Teoria Marxista-Leninista em Estreita Ligação com a Prática Revolucionária”.
[2] “… No fim do século XVIII e no princípio do XIX, a criminalidade foi entendida, pelo próprio proletariado, como um forma de luta social. Quando se atinge a associação como forma de luta, a criminalidade deixa de ter exactamente esse papel; ou melhor, a transgressão das leis, a inversão provisória individual da ordem e do poder que a criminalidade constitui não pode mais ter a mesma significação nem a mesma função nas lutas”, Michel Foucault numa discussão com militantes maoístas.
[3] Canções.
A tecnologia também coutou a ancianidade: o tuning virtual retanchou as carnes femininas 2D, esladroando os abrolhos da idade. Na fotografia ninguém destoa, congelou uma Victoria Beckham, bezerra, que, obséquio do “aspecto Photoshop”, nunca chegará a vaca e… abracadabra, outras: a, como é como a vemos Madonna, ou a cinquentenária Sharon Stone na capa da Paris Match; agora, o software MovieReshape remodela o bíblico barro, de que o corpo 3D foi amassado, escabulhando-lhe os defeitos. É a gaiatice eviterna! a possibilidade de travar a injusta decomposição do canastro, de uma perene Gaby Ryke: pinup, no sofá, no arquivo das tetas dos anos 60, actriz, no “My Tale Is Hot” (1964): “Lúcifer está infeliz: poucas almas no Inferno, e aposta com a mulher, Saturna, que possuirá a alma do homem mais fiel”. – Nem todos seccionarão os quilitos a mais: “Blubberella” (2010), “a primeira superheroína gorda”, de Uwe Boll: em 2008, ele assegurava que não realizaria mais filmes, se uma petição on-line, alcançasse um milhão de assinaturas. – E, noutros é supérfluo: “Friends with Benefits” (2010), a amizade numa das suas vantagens: sexo barato, seguro, sem minhoquices, com Justin Timberlake e Mila Kunis, (outra vez no mercado, recém separada de Macaulay Culkin).
Cuspo cinematográfico: o salival intercâmbio entre Sarah Michelle Gellar e Selma Blair em “Cruel Intentions” (1999) – Chuveiros: a higiene pessoal de Neve Campbell no filme “Will I Be Loved” (2004). – Filmes juvenis: “EuroTrip” (2004): “não foram danificados europeus reais na realização deste filme”, com Michelle Trachtenberg e a actriz canadiana “basicamente ouço tudo, excepto heavy metalKristin Kreuk. – Espias sexy: Emma Peel (Diana Rigg), trajada por Pierre Cardin, na série de TV “The Avengers” (1961-69). – “Traffic Warden” (2004), “GO sushi”, incita o cartaz no autocarro, os peixinhos dourados; curta-metragem de amor com David Tennant e Sophie Hunter. – As rainhas do Peplum (do grego “túnica”), os filmes italianos de “espada e sandálias[1], em cenários de cartão, antepassados dos western spaghetti: Virna Lisi, Cristina Gaioni, Luciana Gilli, Sylvia Syms, María Félix, Christine Kaufmann, Anouk Aimée, Jocelyn Lane, Isabelle Corey, Yoko Tani, Belinda Lee, Marilù Tolo, Pier Angeli, Giorgia Moll, María Luisa Merlo, Wandisa Guida, Linda Cristal, Edy Vessel, Scilla Gabel, Daniela Rocca, Susy Andersen. – Na filosofia profissional de Monsieur Alphonse, cangalheiro, rápido e com estilo, 24 horas de serviço por dia, da aldeia de Nouvion, na série de TV “’Allo ’Allo!” (1982-92), o fabricante de caixões polaco Lindner, publicou um calendário de modelos em poses cinematográficas.
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[1] Na moda outra vez com o estilado presidente Báráque; as suas regras de uso.
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[Superchunk – banda indie formada em 1989 na cidade de Chapel Hill, Carolina do Norte, por Mac McCaughan (guitarrista e vocalista) e Laura Ballance no baixo, com Chuck Garrison na bateria e Jack McCook na guitarra*. “Seguindo à letra a ética do faça você mesmo, o grupo opera somente pelas suas próprias regras, ignorando todas as tendências passadas, fixando-se no seu som de marca”. Para publicar a sua música Mac e Laura fundam a Merge Records: “pensámos, por que não pôr cá fora esses singles, para haver documentação desta cena que realmente gostamos?”. No Verão de 2009, na Carolina do Norte, o concerto Merge XX, festejou os 20 anos da editora ▬ “Hyper Enough” ▓ “Watery Hands” ▓ “Throwing Things”.
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* Ryan Adams, no prefácio do livro “Our Noise”: “TODA A GENTE tinha as suas paixonetas por Laura. Quero dizer, os rapazes tinham. E TODAS AQUELAS RAPARIGAS, elas amavam Mac. E sabem, eles eram aqueles malucos sofisticados a viver em Chapel Hill, aquela ‘bonita’ cidade universitária”.
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Foram ou são do seu index discus:
Esperanza Spalding – multi-instrumentista multicultural: “a minha mãe é galesa, hispânica e índia, o meu pai é preto”, canta em inglês, espanhol e português: “nas canções em português a construção da melodia está intrinsecamente ligada com a linguagem, e é lindo”. “Atribui a sua inspiração, para prosseguir uma carreira musical, ter visto o violoncelista clássico Yo Yo Ma, num episódio de Mister Rogers’ Neighborhood, quando tinha 4 anos” ▬ “She Got To You” ▓ o CD “Chamber Music Society” (2010) inclui “Little Fly”, poema de William Blake The Fly: “na loja li o poema umas 10 vezes. É apenas um incrivelmente poderoso pequeno poema simples. Comprei o livro e coloquei esse poema por cima da minha secretária. Tem estado em frente da minha cara há oito ou nove anos”.
Future Bible Heroes – composto por Stephin Merritt e Claudia Gonson dos Magnetic Fields, e Chris Ewen ex-Figures on a Beach: “combina batidas sintetizadas pré-fabricadas de discoteca de Chris Ewen, e os gracejos secos e domínio da escrita de Stephin Merritt. É uma combinação devastadoramente eficaz, um caso claro de atracção de opostos. Música de dança com a qual se pode pensar, estilo velha escola” ▬ “Memories of Love”.
Neutral Milk Hotel – grupo do estranho e evasivo Jeff Mangum: “em primeiro lugar, eu não estou escondido, como alguns dizem. Onde é suposto eu estar escondido? Atrás do sofá? Na caixa do gato? Debaixo da cama?”, e “quem quer que esteja presente na altura”, como Julian Koster, Jeremy Barnes e Scott Spillane ▬ “Two Headed Boy” ▓ “King of Carrot Flowers” ▓ “Song Agaist Sex” ▓ “Holland, 1945” ▓ canal YouTube.
The Rock*A*Teens – “eles misturaram uma amálgama única de escuras, pantanosas, influências rock, num grosso ensopado primordial, que desafia qualquer categorização… Pop? Blues? Jazz? Rock-a-billy? Garagem? A sua música é sobre paixão e desejo, amor e magoa, esperança e desespero, triunfo e fracasso, calor e humidade” ▬ “Sew a Doll about It”.
American Music Club – “a sua história não é incomum. Os músicos encontraram-se em bares, através de amigos e interesses comuns e, segundo Mark Eitzel, principal compositor e agora artista a solo, formaram o núcleo dos AMC em 1983” ▬ “Johnny Mathis' Feet”.
Teenage Fanclub – “enquanto a maioria das bandas são sortudas por terem um grande compositor, os Teenage Funclub, são abençoados com três, Raymond McGinley, Norman Blake e Gerard Love. ‘Eu acho que quando fazemos um disco, a maneira como trabalhamos, não podemos realmente sair pela tangente, porque são três pessoas a escrever canções, não é a visão de uma pessoa’, diz Norman” ▬ “Ain't That Enough”.
The Ladybug Transistor – “é fácil descartar os Ladybug Transistor como apenas outro protótipo de grupo indie pop, cara bonita, inclinado para o barroco – ou, se for mais caridoso, um conjunto de indie pop com invulgares arranjos delicados e impressionante longevidade” ▬ “Catherine Elizabeth”.
The Third Eye Foundation – “pseudónimo escolhido pelo dissidente, fazedor de barulho de Bristol, Matt Elliott, instala-se suavemente nestas lacunas (entre estilos pop) e torna-as num lar para a sua cacofonia de marca, de ruido, felicidade e energia” ▬ “Lost”.
Conor Oberst and the Mystic Valley Band – “quando Connor Oberst fugiu do Inverno centro-oeste, de Tepoztlan, México, no início de 2008, o seu plano era gravar uma colecção de canções num ambiente belo com alguns amigos. A banda que ele reuniu para as sessões de gravação (toda feita numa cada de adobe a meia encosta de uma montanha), foi lançada no ano passado (2008) como Connor Oberst, a sua primeira edição fora de os Bright Eyes desde 2001. A banda fez-se à estrada como Connor Oberst and the Mystic Valley Band, nome de Valle Mistico, onde as gravações foram realizadas” ▬ “Spoiled”.
Matt Suggs – “era metade da grande banda pop do Kansas, via Visalia, Califórnia, Butterglory”; Suggs e “a sua parceira, Debby Vander Wall, construíam canções que fundiam os mundos do distinto rock universitário e da pop de guitarras aprazíveis, fazendo-o miraculosamente, sem ser demasiado obtuso ou xaroposo” ▬ “Alexander Bends”.
Imperial Teen – formados em 1994, em S. Francisco, pelo ex-teclista dos Faith No More, Roddy Bottum e a baterista Lynn Perko, veterana dos grupos da baía de S. Francisco: Dicks ou Sister Double Happiness, com a ex-baixista dos Wrecks, Jone Stebbings, e o vocalista Will Schwartz. Após a tournée de promoção do CD “On” (2002), cada um vai à sua vidinha: Schwartz no projecto de dança com Tomo Yasuda Hey Willpower; Stebbings na profissão de cabeleireira; Bottum escreveu música para TV como “Help Me Help You” (2006); e Perko pariu um bebé. O álbum de reunião resume-lhes essa vidinha: The Hair the TV the Baby & the Band (2007) ▬ “Yoo-Hoo”.
Let's Wrestle – londrinos: “conheceram-se há uns anos e ligaram-se pela carne e discos e, pouco depois, a banda formou-se. Os Let’s Wrestle têm influências tão vastas como os Black Flag, os Faust e Edith Piaf, mas estão, em última análise, tentando ser o mais crus possível. Ambicionam escrever canções que façam a sua alma ruir, assim como fazê-lo sorrir, cantarolar e bater palmas” ▬ “We Are the Men You'll Grow to Love Soon”.
Tracey Thorn – do trio minimalista post-punk Marine Girls: “suponho que éramos, como raparigas saindo da casca, bastante independentes e afoitas. Nunca prestamos realmente muita atenção às chamadas ‘regras’ de como é suposto uma banda ser. Não conhecíamos quem tocasse bateria, por exemplo, assim, formamos uma banda sem baterista. Ficávamos felizes seguindo apenas os nossos instintos”; e, em 1982, a outra metade dos Everything but the Girl ▬ “Oh, The Divorces!”.
Dinosaur Jr. – na Europa recolheram o CD “Farm” (2009) por excesso de barulho: “durante a duplicação da master original… o software ‘duplicou’ as camadas de som. Disto resultou um aumento de 3db no volume”, evadindo-se assim do campo de batalha da “guerra do ruído* ▬ “Feel the Pain”.
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Spoon – despedidos da Elektra Records, na etiqueta Merge desde 2001; nome desviado da canção “Spoon” dos Can, grupo de Krautrock dos anos 70 ▬ “The Underdog”.
Arcade Fire – “há um par de anos, eram um grupo com sete elementos, de rock alternativo, aclamado pela crítica, embora fossem notados pela intensidade dos seus espectáculos ao vivo, o seu frenesim, o angelical culto de seguidores, a sua propensão para se vestirem como agricultores americanos do século XIX, e pelo facto de os seus principais membros, Win Butler e Regine Chassagne, serem casados” ▬ “Black Mirror” (flash) Wake Up” ▓ “We Used to Wait”.
Shout Out Louds – suecos, isca para os consumidores de telemóveis Optimus. “Podem ter abandonado as orelhas de coelho, mas como todos nós, eles são definitivamente culpados de um ou dois outros delitos nessa lista (overdubs, misteriosos comunicados de imprensa, máscaras de animais e gráficos fabulosos). Bem, já não. Eles agora mantêm-no simples, confiando no poder da pele nua sobre a panache. Ao fim do dia é Work (2010)” ▬ “Tonight I Have To Leave It”.
Camera Obscura – escoceses de Glasgow: a teclista Carey Lander diz: “Há um senso de comunidade nas bandas. Até porque várias pessoas tocam em diversas bandas, os músicos ajudam-se bastante. Acho que isso é o que liga os grupos escoceses” ▬ “French Navy” ▓ “The Sweetest Thing”.
The Magnetic Fields – “são a música do compositor, produtor, instrumentista Stephin Merrit, com a achega de vários músicos convidados no violoncelo, na tuba e exóticas precursões”. O nome procede de “Les Champs Magnétiques” (1920), o livro “perigoso”, de André Breton e Philippe Soupault, cognominado, pelo Papa do surrealismo*, de “a primeira obra surrealista (não dadaísta)” ▬ “All the Umbrellas in London”.
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* “André Breton que já tinha a sua imponência de Papa, mesmo quando o seu conclave se reunia num café da place Blanche, tendo o aperitivo como hóstia”, Salvador Dalí em “Como Me Tornei Dalí”.
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Buzzcocks – “nome escolhido por Howard Devoto e Pete Shelley, após lerem a parangona ‘it’s the buzz, cocks!’, numa crítica à série de TV Rock Follies, na revista Time Out. ‘Buzz’ é a excitação de tocar em palco, ‘cock’, calão de Manchester para ‘amigo’, ‘comparsa’. Devoto zarpou para os Magazine. Shelley, nome destinado pelos pais, se ele tivesse nascido menina, timonou esta “cozinha diferente” ▬ o documentário “‘B’dum B’dum’, verso de uma canção, um hino punk chamado ‘Boredom’”: “Boredom, Boredom / B’dum – B’dum” ▓ “I Don’t Mind” ▓ “Sixteen Again”.
She & Him – “fazem música para uma Primavera eterna, quando a temperatura está quente o suficiente para conduzir com a capota em baixo (ou pelo menos as janelas abertas) e o rádio ligado”. Com M. Ward (guitarra) e Zooey Deschanel (voz, piano, ukulele): o seu bálsamo para a felicidade: “escarrapachem-se um pouco na relva. A minha sugestão é vestir uma roupa toda verde e rolar pela colina abaixo”; actriz, intérprete de “DG” na série de TV “Tin Man” (2007), update do “Feiticeiro de Oz”: – Dorothy Gale, “DG”, serve à mesa num restaurante: “mas esta não é a minha vida, esta cidade, aquele trabalho, recebendo ordens de outras pessoas. É só passar o tempo. Tem que haver mais na vida do que isto”. Num repto com a bruxa má de Oz, Azkadellia (Kathleen Robertson), de facto, a sua irmã possuída: “chega! Sabes quanto tempo esperei para ver essa tua cara? Nada de sorrisos falsos, nem fachadas corajosas, apenas choque puro, talvez seja o melhor presente que já me deste, mãe” ▬ “In The Sun” ▓ “Why Do You Let Me Stay Here” ▓ “You Really Got a Hold on Me].