De
cassetete quadrado e lubrificado
Parte
IV
A
cornucópia, o corno da abundância, os cornos de Amalteia, a cabra que amamentou
Zeus na infância, foi cambiada pelos chavelhos que enfeitam as testas dos
simples bois e homens. Nas mãos de Pluto palitos de bois e homens não derramam
leite, o leite contemporâneo, euros do Banco Central Europeu, para
soteriológica salvação da Banca italiana, rica em títulos, mas pobre em ouro: “os
novos ativos tóxicos são os títulos de dívida soberana, aos olhos do mercado”, Giovanni
Sabatini, diretor da Associazione Bancaria Italiana [1].
Pluto
(do grego Πλοῦτος = riqueza) – não o cão de Mickey, nem Plutão,
nome romano de Hades – é o deus da riqueza, filho de Deméter e do semideus
lasion, e irmão de Persófone [2], raptada por Hades, deus do mundo dos mortos.
Pluto repousava nos braços de Tique (Τύχη = sorte), divindade responsável pela
fortuna e prosperidade de uma cidade, ou de Irene (Εἰρήνη = paz) abençoando de Prosperidade os crentes da
antiguidade clássica. Na modernidade moderna, “Johnny,
la gente está muy loca! / What the fuck?!” [3],
esta loucura das gentes prostram-nas diante de Krampus:
“o companheiro negro do Pai Natal, o tradicional presenteador europeu, que
recompensa os bons meninos todos os anos no dia 6 de dezembro. O bondoso velho
Pai deixa a tarefa de punir
os maus meninos, à sua
contraparte, o Diabo
Cornudo, saído do inferno, também conhecido como Krampus, e por muitos outros
nomes no continente” [4]. Os maus alunos da
União Europeia são castigados com visões do mercado de capitais por um canudo e
os bons gratificados com palmadinhas nas costas depois de venderem os dedos dos
países. E o povo, sem dedos nem anéis?: “Sexy and I’m Homeless” [5].
A
“crematística” (grego χρηματιστική), a acumulação ilimitada de riqueza, era
condenada por Aristóteles, “o comércio troca dinheiro por mercadorias e a usura
cria dinheiro do dinheiro. O comerciante não produz nada: ambos são
repreensíveis de um ponto de vista da ética filosófica. Segundo Aristóteles, a
‘necessária’ economia crematística é lícita se a venda de mercadorias é feita
diretamente entre o produtor e o comprador a preço justo” [6]. Esta doutrina económica vigora durante a Idade
Média, ratificada pelo centro pensante desse período, a Igreja Católica. “São
Tomás de Aquino aceitou essa acumulação de capital, se servisse para fins
virtuosos, como a caridade”. O ouro e a prata eram a medida da riqueza, a sua
acumulação, se uma parte fosse distribuída por Deus ou pelos pobres, não
colidia com as normas da Igreja Católica. Por exemplo, boatos de rios de ouro
para além do cabo Bojador engodaram o infante D. Henrique em ordenar aos seus
navegadores a descida da costa africana [7].
Na
Europa outras ideias formigavam com as reformas protestantes de Lutero e
Calvino. Segundo Max Webber, o capitalismo, como uma organização racional e
livre do trabalho, é uma consequência da ética protestante (o alicerce ideológico
do capitalismo americano). Lutero liberta a noção de salvação da submissão à
autoridade clerical, a doutrina da predestinação conduz a que cada um se
empenhe no trabalho, e o sucesso é visto como um sinal de eleição, pelos
favores de Deus. Nasce o capitalista. É uma obrigação religiosa o enriquecimento
e a denúncia da ociosidade. E Calvino martela-lhe o último prego: legitima o empréstimo
de dinheiro, não para acorrer a uma fatalidade, mas para permitir que, tanto
aquele que pede como quem empresta, tirarem proveito dele [8]. E assim, Calvino legitima, não só a usura, como o
empréstimo aos ricos. O capitalista dialoga diretamente com Deus, como não há a
confissão, o padre, a autoridade eclesiástica base do catolicismo, que absolve
as faltas, é substituído, no protestantismo, pela responsabilidade moral
individual e um rígido sentido do certo e do errado [9].
As
diferenças entre o norte da Europa, protestante, e o sul, católico, são uma das
causas, psicológicas, para os rótulos de lixo, vadios, zeros [10], colados nos gastadores do sul. Para os nórdicos,
os gajos do sul desprezam o valor do dinheiro e causarão um caos pior que o fim da Internet (“The IT
Crowd”). Os gajos do sul penaram as três fases da vida (económica): o Banco,
onde pediam emprestado quando ainda eram fiáveis; o prestamista quando,
enrascados porque os Bancos já não emprestam, penhoram as pratas da família; o agiota,
quando a corda aperta o gorgomilo, não se olham a taxas de juro [11]. Depois das três fases, magritos de austeridade, pesarão
50 g , o peso da Internet [12] e a dívida, apesar dos otimismos, de Vladimir
Putin: “penso que a Europa precisa de 1.5 triliões de euros para resolver a
crise. Não se pode deixar que a Itália caia na bancarrota seria uma catástrofe”,
ou do nosso rapaz na Europa, o Durão
Barroso: “Portugal vai ficar sob vigilância apertada da Comissão Europeia
até meados da próxima década, altura em que se espera, em Bruxelas, que o país
tenha pagado até 75% do seu empréstimo”, a calculadora
do Economist desmente veleidades políticas com realidades económicas. A
dívida portuguesa em 2020 estará nos 123,7 % do PIB.
Nesta
telenovela europeia, os líderes mais fracos, de cognome, os bons alunos, são “shippers”,
(pessoas que se envolvem emocionalmente nas relações entre personagens das
séries de TV ou outras obras de ficção), dos casais mais fortes, ditos líderes
de 1ª. Investem para que os amores dos seus eleitos se fortifiquem e
frutifiquem em “cimeiras decisivas”, em que eles, os bons alunos, servem os cafés
e as águas, e cumulam felicidade por uma palavra amiga, uma piscadela de olho, um
sorriso terno deles, dos líderes de 1ª. Os bons alunos pátrios não perdem um
episódio desta telenovela porque o país tem um plúmbeo serviço público de
televisão [13].
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[1] Os “dirigentes” lol europeus
engoliram a pílula: “o mercado é supremo”, deixem-no cavalgar sem freio, que o
resto será concedido. E repetem como mantra e manta da Europa: “o mercado é
supremo”, “o mercado é supremo”, “ó meu Deus como o mercado é supremo”… Há uma outra
lição vinda do frio: “deixem
falir os Bancos”. Paul
Krugman avisara sobre os benefícios da austeridade: “(uma) crise provocada
pela desregulamentação, torna-se num motivo para uma viragem ainda mais à
Direita; um tempo de desemprego em massa, em vez de estimular os esforços
públicos para criar empregos, torna-se numa era de austeridade, na qual os
gastos do Governo e os programas sociais são cortados … (Mas) salvar os Bancos
enquanto se pune os trabalhadores não é, de facto, uma recita para a
prosperidade”. E a Islândia confirmou: “após os seus três maiores Bancos – 85%
do sistema financeiro do país – falirem na mesma semana, a Islândia fez duas
coisas extraordinárias. Primeiro, permitiu que os Bancos fossem ao fundo: os
financiadores estrangeiros, que tinham emprestado às instituições de
Reiquiavique, por sua conta e risco, não receberam uma króna de volta. Segundo, as autoridades impuseram controlos de
capital, tornando difícil aos mercadores do dinheiro fácil retirarem o seu bago
para fora do país”.
O país recebeu 2.1 mil milhões do programa assistido do FMI: “o Governo rapidamente
colocou a sua própria marca no programa. As autoridades comprometeram-se na execução
das medidas, mas queriam fazê-lo à sua maneira. Um dos principais objetivos do
Governo era proteger o estado social islandês, e esse propósito foi realizado”.
“A Islândia desafiou a sabedoria económica ortodoxa do nosso tempo: salvar
Bancos e corte dos serviços públicos, e agora está no caminho da recuperação
que o resto da Europa inveja”, o herói dessa recuperação foi o presidente Olafur
Grimmson.
A Islândia prevê um crescimento económico de 3% este ano, a rica Alemanha, esse
motor, prevê crescer 0,6% em 2012.
[2] Com Sovereign Syre, “uma mulher de
virtude negociável”, “eu escrevo, produzo, faço de modelo e represento em
variadas formas de erótica. (…) Disseram que, se a América tivesse um rei, eu seria
a sua madame Pompadour…”. 1,73
m , 63
kg , 97-69-102, “a minha tarifa começa a 1000,00 dólares”.
[3] A canção “Loca
People”, a primeira a subir ao número um do top inglês, depois do “Asereje” das Ketchup, em
2002: “o vídeo passa-se em Barcelona, especialmente nas Ramblas, Plaza Catalunya
e no interior da discoteca Millennium. Nele, sob um ritmo cativante, parodia-se
os turistas festeiros que visitam a capital catalã e preferem beber ou ir a
discotecas, em vez de desfrutar da oferta cultural da cidade”
(a casa Batlló, a Sagrada Família, o dildo
gigante / a torre Agbar). Do DJ, produtor e empresário da noite catalão Sak
Noel: “as imagens têm esse ar de BD, com legendas e diálogos, o que se deduz
que se trata de uma paródia e não de uma apologia do turismo da borracheira”.
Cantada pela holandesa Esthera
Sarita. E a airosa turista no vídeo é Desirée
Brihuega.
[4] “Em França,
o Pai Natal tem um amigo chamado Père Fouettard, que maldosamente corta a
garganta de três crianças, antes de fazer o guisado da quadra com elas. (Aliás,
tem-se especulado que o Père Fouettard é o homem na capa de Led Zeppelin IV)”. Krampus
é uma personagem do folclore alpino, comum na Áustria, Bavaria meridional, sul do
Tirol e Hungria, provém
da antiga palavra alemã “krampen” = “garra”. {A canção}. {Há a banda
italiana de folk metal Krampus}. O Travel
Channel não transmitiu a animação “A Krampus Carol”, do chef americano, Anthony Bourdain: “o
mundo não estava ainda preparado para uma releitura, em stop motion, do ‘parceiro
de chicote em punho’ do Pai Natal, que ‘chicoteia e lambe as crianças
desobedientes’ com a sua língua de 30 cm e, em seguida, ‘carrega-as no seu saco’”.
{Postais}.
{Enfeites}.
[5] Nem casa terá para vender
cachorros quentes de porta a porta: “Electro Puppet Porn”.
[6] O preço justo era fixado
pelo vendedor. Impagáveis são “as
24 mais sexy da desova das estrelas rock de 2011”.
[7] Foi a cobiça, não
qualquer demanda de conhecimento científico, que mareou o beatão infante na
grande aventura dos portugueses. Na “Intercontinental Super Grind”.
[8] O capitalismo perfeito,
só o Capital, sem o Trabalho, está para breve. A Foxconn
Technology Group de Taiwan, que monta iPhones e iPads, vai despedir
empregados e substituí-los por um milhão de robots.
“A Foxconn tem
atualmente 10 mil robots; no próximo
ano, este número deve saltar para 300 mil e até um milhão nos próximos três
anos”. A empresa foi assolada por uma praga de suicídios nas
suas fábricas na China, que incomodou a HP, Apple, Sony e outros dos seus
clientes e, além da inoportuna morte, há a questão do inoportuníssimo
estipêndio: “os salários dos trabalhadores estão a aumentar tão rapidamente que
algumas empresas não aguentam mais”, Dan Bin, gestor de fundos.
[9] Christine Lagarde, ainda
ministra das Finanças francesa, explicava a peculiaridade moral dos alemães,
quando se descobriu as tramóias que ocultaram a dívida grega: “penso que os
alemães acharam que havia um contrato, que havia uma regra de co-propriedade e
que cada um devia respeitá-la. Entre as regras de co-propriedade havia a
impossibilidade de bailout, isto é,
não podíamos criar um plano de resgate, e simultaneamente, não podia haver uma
saída. Segundo, havia um Pacto de Estabilidade e Crescimento que devia ser
respeitado. Em terceiro, havia trocas de informações estatísticas no Eurostat,
na lógica alemã, devia ser difícil crer que as estatísticas eram falsas, que o pacto
não seria respeitado e que seria necessário rever as regras da co-propriedade
na cláusula de salvaguarda”. A própria Angela Merkel descobriu que não pode confiar
na responsabilidade moral: “que possibilidade há hoje, na zona euro, de forçar
um país a implementar o que consta e se espera do Pacto de Estabilidade e
Crescimento? Vemos que mesmo num pacto melhorado, não há uma instância europeia
capaz de tomar medidas fortes se um país não respeitar o Pacto. Por isso, digo
que urge trabalhar em alterações ao Tratado que nos permitam, pelo menos,
processar um país junto do tribunal europeu, para que os países abdiquem de
parte das suas capacidades e soberania a fim de uma instituição europeia, poder
declarar que quem não respeita os tratados, deve ser obrigado a fazê-lo”.
[10] “We’re All No One”: “You do your
best / You take the fall / You reminisce / About almost nearly having it all. /
You see the stars / You try and catch one / Ooooh / You tried so hard /
Chasing, nothing / Because, / We're all no one 'til someone thinks that we're
someone / 'Til then we are no one”, NERVO, as irmãs gémeas australianas Miriam e Olivia Nervo.
[11] O Banco, o prestamista,
o agiota são um uno, são as mesmas instituições financeiras, o espírito de
emprestar é que é diferente. Como um concerto
no Afeganistão é um concerto mas: “envolto em segredo e segurança para evitar
ataques, o festival Sound Central apresentou bandas locais afegãs, ao lado de
colegas músicos do Irão, Uzbequistão, Kazaquistão e até mesmo da Austrália,
oferecendo uma bem-vinda distração a jovens famintos de música num país
devastado pela violência”.
[12] Menos que o peso de Lindsey
Lohan na Playboy.
Ela queria um milhão Hefner, pagou quase,
por mais uma repetição do “Marilyn Monroe on Red Velvet”, 1949, de Tom Kelley. Que ainda rende dólares: “a
edição dupla janeiro fevereiro de Lindsey Lohan está a bater recordes de
vendas” tuitou Hugh Hefner.
[13] Pinto Balsemão, um inteligente
cita outro inteligente: “parece-me oportuno citar também António Barreto.
António Barreto, numa conferência que eu assisti, proferida em Lisboa há pouco
tempo em em, penso que em setembro deste ano, afirmou o seguinte: ‘eu sou
pessoalmente favorável à existência de um serviço público de televisão. Não
considero que a RTP, hoje em dia, com a totalidade dos seus serviços cumpre os
meus critérios de serviço público. É que a RTP, como serviço público, não tem
nada que fazer no futebol, por exemplo. Não tem nada que fazer nos concursos.
Não tem nada que fazer no entertainment
disparatado. Tem muito pouco que fazer na informação. Já se faz informação em
Portugal suficiente e o serviço público não acrescenta nada, mas o serviço
público acrescenta muito no debate, na discussão livre e no documentário, no
estudo, na alta cultura. Porque é que os portugueses têm medo de dizer alta
cultura. Há medo em Portugal porque é elitista, porque é burguês ou porque é
fascista. Então a ópera, a música clássica, o Mozart e até o Cole Porter, o
drama, o bailado, tudo isso é pra jogar fora em nome de quê? da cançãozinha que
dura 15 dias? Fim de citação”. Um sábio português consume certas hortaliças
culturais, a sua sabença surde da sua convicção de que elas também são boas
para os outros.
cinema:
O
quadro preto nos filmes porno: um material
pedagógico primário na escola de sucesso do ministro Nuno Crato que na prefação
da sua ministrice “boanovou” o país: “nós precisamos de melhorar o ensino e
vamos melhorá-lo. Nós vamos ter mais horas para o português e para a
matemática. Vamos ter maior concentração nas tarefas fundamentais no 2º e 3º
ciclo. Eu julgo que tudo isto são boas novas para Portugal. Acho que os
professores e as famílias, nós também, devemos estar contentes e vamos agora
trabalhar”. Na Europa ventada pela “crise”, trabalho significa ser pago em amendoins,
e o ministro ministrou na assembleia na República a reforma estrutural do
prémio de mérito: “nós não acabámos com o prémio de mérito, nem acabámos, nem
acabámos com a entrega de 500 euros por cada aluno premiado. O que fizemos foi
o seguinte (…) o que nós dissemos foi simplesmente o seguinte: na altura da
entrega do prémio, em vez de entregar dinheiro diretamente aos alunos, porque
pensamos que o mérito deve ser recompensado, mas não deve ser recompensado
distribuindo dinheiro, porque pensamos isso, nós instituímos um processo de
utilização desse dinheiro que está perfeitamente claro, e que se, por indicação
dos alunos premiados será afeto à aquisição de materiais ou projetos sociais
existentes na escola. O que significa, o mérito não é equivalente a distribuir
dinheiro, o prémio não é equivalente a distribuir dinheiro, o mérito é
sobretudo recompensado através daquilo que fica e aquilo que fica é o
registo do reconhecimento do mérito desse aluno”. O despacho do ministério transmuta
o vil metal na boa moral: “contudo, tal atribuição constituirá uma nova prática
especialmente vocacionada para o desenvolvimento dos necessários valores de
partilha e de solidariedade”, pontapeando uma das “365 ideias para Passos
Coelho governar”, no livro “Voltar a crescer”, coordenado por Pedro Reis: “melhorar
a remuneração dos governantes – com vista ao recrutamento e retenção dos
melhores quadros oriundos do setor privado e não apenas pessoas em final de
carreira”. O ministro prioriza o fardo da “formação real” para prendar o país
de bons dirigentes no amanhã: “conjuntamente com o ministério de Economia
estamos a avaliar a rede de centros de Novas Oportunidades e recentrá-la pra
formação real”. – “Filmes para crianças incrivelmente assustadores”:
“The Never Ending Story
/ Die unendliche Geschichte” (1984), Tami Stronach, a
“Imperatriz Criança”, tinha 11 anos e “perdeu ambos os dois dentes da frente,
pouco antes das filmagens, fizeram-lhe dentes falsos que lhe causaram
sigmatismo, até que aprendeu a compensá-los”; nasceu em
Teerão a 31 de julho, 1972, filha de dois arqueólogos, o pai escocês, David
Stronach, e mãe judia, Ruth Vaadia. “Noah Hathaway, ‘Atreyu’, é agora
proprietário de um estúdio de tatuagens em Los Angeles , que opera
com a mulher”. A banda sonora de Giorgio Moroder é um panfleto sobre a razão do
fascínio pela música dos anos 80, nesta década, os grupos, na seguinte, os
artistas a solo. Nos anos 80, os ótimos Kajagoogoo
nos 90… Limahl (c/
Beth Anderson). – “Beware!
Children at Play” (1989), “um dos títulos mais controversos
da Troma devido ao seu macabro
final, uma sequência de cinco minutos onde os habitantes da cidade
brutalmente assassinam cada uma das crianças canibais, usando armas de fogo,
forquilhas e outras armas sortidas. Segundo Lloyd Kaufman, quando o trailer do filme passou no festival de
Cannes, antes da exibição de ‘Tromeo
& Juliet’, quase metade da assistência abandonou a sala em protesto”.
Intervalo para
publicidade: jbs underware: “os homens não querem ver
outros homens nus”, as cuecas confecionadas por operárias qualificadas. {Fotos}. ● Dodge, o carro da Chrysler Group LLC.
música:
Saxofone – “foi
patenteado em 1846 por Antoine-Joseph ‘Adolphe’ Sax, um fabricante de
instrumentos belga, flautista e clarinetista a trabalhar em Paris. Enquanto
ainda trabalhava na loja de instrumentos do seu pai, em Bruxelas, Sax começou a
desenvolver um instrumento que tivesse a projeção de um instrumento de metal
com a agilidade de um de sopro de madeira”. “Aos 25 anos foi
morar em Paris, onde começou a trabalhar no projeto de novos instrumentos. Ao
adaptar uma boquilha semelhante à do clarinete a um oficleide, Sax teve a ideia
de criar o saxofone. A data exata da criação do instrumento foi em 28 de junho
de 1840. (…). O saxofone é um instrumento fabricado em metal, geralmente latão,
com chaves, numa mecânica semelhante à do clarinete e à da flauta. É composto
basicamente por um tubo cónico, com cerca de 26 orifícios que têm as aberturas
controladas por cerca de 23 chaves vedadas com sapatilhas feitas de couro e uma
boquilha que pode ser de metal ou de resina, na qual se acopla uma palheta de bambu
ou de material sintético”.
Solos de sax
da década de 80: por alguma razão os produtores musicais desta década adoravam
o som do saxofone e enfiaram uns solos na maioria das canções: Haircut 100 – “Favorite
Shirts (Boy Meets Girl)”, Phil Neville Smith, no sax, veio ajudar na gravação de umas fitas para as editoras, o
resultado final agradou e ele foi convidado para tocar nos concertos ◙ Sheila
E. – “The
Glamorous Life”, filha do percussionista de Santana, Pete Escovedo ◙ Debbie Gibson – “Only in my Dreams”, para trapacear os adolescentes na compra de
discos, o marketing discográfico,
vendia-a como a eterna rival de Tiffany;
em 2011 participaram juntas no filme “Mega Python vs. Gatoroid”;
desde que completara 18 anos, a Playboy insistiu
cinco vezes para que posasse nua, desnudou-se em 2005, para promover o seu single “Naked”, a frescura da carne
fritara-se com os 35 anos de idade e o êxito do passado não bisou ◙ Glenn Medeiros – “Nothing Gonna Change My Love
For You”, havaiano de ascendência portuguesa, em 1992 gravou “Standing Alone”, com Thomas
Anders, a metade bonita da melhor banda alemã (duo), que achinelou Wagner,
Beethoven, Mozart, Bach, Orff, Brahms, Strauss, Stockhausen… os Modern Talking;
casou-se em 1996 com Tammy e tem dois filhos chamados Chord e Lyric.
10
grandes canções quase destruídas pelo saxofone: instrumento principal, do
som “plastic soul”, tocado pelo músico de jazz
americano David Sanborn, na canção que foi a chave do mercado americano para David
Bowie – “Young Americans”
◙ coletivo canadiano indie, de seis a
dezanove membros, Broken Social Scene – “Almost Crimes” ◙ a secção
de metais é a alegria no ska, Madness
– “It
Must Be Love”.
O
instrumento noutras bocas:
Tokyo
Ska Paradise Orchestra & Puffy AmiYumi – “Hazumu
Rhythm” ◙ os catalãs The
Pepper Pots – “Time To Live”
◙ Sisters of Mercy – “Dominion”,
a baixista, “a pin-up gótica perfeita,
com as suas altas sobrancelhas arqueadas, eyeliner
preto, vermelho sangue nos lábios, provocante cabelo avolumado, longas unhas
negras e guarda-roupa mistura de fetiche com renascimento”, Patricia Morrison, em 1994 editou
o álbum “Reflect On This” – “Alone”
∆ “Reflection”:
na adolescência viveu a cena punk de
Los Angeles, fundou os Bags em 1976 e os Legal Weapon em 1981. É convidada para os Gun Club em 1982. Kid
Combo Powers relata:
“decidimos, ‘ok, os Gun Club estão a
separar-se’. Então, estávamos todos em Londres, e eu e a Patricia decidimos ter
uma banda” os Fur Bible.
Amiga de Andrew Eldritch, substitui o desavindo Craig Adams nos Sisters of
Mercy, em 1985, saiu no início de 90, reclamando de Eldritch dinheiro não pago.
Em 1996 foi convidada a juntar-se aos Damned depois de o baixista, Paul Gray,
ter sido ferido por uma garrafa, atirada por um fã, num concerto no The Forum,
Kentish Town, Londres. Em 1998, casou com o vocalista dos Damned, Dave Vanian, em Las Vegas. Depois
de dar à luz Emily Vanian, em 2004, retirou-se dos Damned” – “Love Song” ∆ “Eloise”.
O
sax punk:
Lora Logic, nascida Susan
Whitby: “por volta do outono de 76, vi um anúncio no Melody Maker procurando
músicos punk. Eu nem sabia o que era
o punk, simplesmente apareci. O manager para os X-Ray Spex gostou da
ideia de ter outra mulher na banda com a Poly, por isso entrei. Nós demo-nos
tão bem, realmente descolou e ensaiávamos muito. Era como um sonho”. Ela ainda
tocou no marco punk “Oh Bondage! Up Yours!”. “Poly viu que eu estava a ficar um pouco demais na
ribalta e fui substituída sem qualquer aviso um ano depois. Eles até usaram
todas as partes de sax que eu
trabalhei para o álbum (Germ
Free Adolescence) com um novo músico”, o saxofonista Rudi Thomson. “Tornei-me
cínica acerca do negócio da música e fui para a escola de arte estudar
fotografia por um tempo”. “Um tipo que encontrei na escola (Jeff Mann) sabia
dos Spex, tinha um estúdio e chateava-me sobre isso. Finalmente decidi fazer
algo e comecei a trabalhar numa banda por um ano antes de tocarmos ao vivo”,
agrupa em 1978 os Essential Logic – “Aerosol Burns” ∆ “Wake
Up”. “Ficámos juntos três anos, mas eu estava demasiado envolvida no
processo e fui-me divertindo com as drogas um pouco demais, a viver o estilo de
vida rock, e teve o seu preço”. Por
volta de 1980 alistou-se nos Hare Krishnas e foi viver para o norte de Londres,
na Letchmore Heath, (rebatizada Bhaktivedanta Manor), a mansão doada por George
Harrison aos Krishnas. “Bem, a Poly juntou-se aos Krishnas e encontrámo-nos pela
primeira vez em anos. Ela
própria tinha passado por muito e eu compreendi”. Jah Wobble, amigo de Johnny
Rotten e baixista dos Pil, descrevia Poly Styrene como “uma rapariga esquisita
muitas vezes a falar de alucinações. Ela apavorava John”. “Em 1978, após um
concerto em Doncaster, ela teve uma visão de uma luz cor-de-rosa no céu e
sentia os objetos estalarem quando lhes tocava. Julgando que ela alucinava, a
mãe levou-a ao hospital onde Poly foi erradamente diagnosticada com
esquizofrenia, internada compulsivamente, e disseram-lhe que nunca mais trabalharia”. Diagnosticaram-lhe
distúrbio bipolar em 1991. Poly Styrene, nascida Marianne Joan Elliott-Said (3
de julho, 1957 – 25 de abril, 2011), “enquanto adolescente, Marianne era
uma ‘hippie descalça’. Aos 15 anos,
fugiu de casa com 3 libras
no bolso, andava à boleia de um festival de música para outro, acoitando em poisos
para dormir hippies. Ela via isto
como um desafio para sobreviver. A aventura terminou quando pisou um prego
enferrujado enquanto tomava banho num regato e teve que ser tratada por
septicemia”. A sua filha, Celeste Bell-Dos Santos, é vocalista do grupo,
sedeado em Madrid, Debutant
Disco – “Young Blood”
∆ “With no Brain”.
Hazel O’ Connor: “fugi
da minha casa, em Coventry, quando tinha 16 anos… fiz e vendi roupas em
Amesterdão, apanhei uvas em França, juntei-me a um grupo de dança que foi para
Tóquio e depois para Beirute (escapando ao início da guerra civil por um mês),
viajei pela África ocidental, atravessei o Sahara, cantei com um trio terrível
para as tropas americanas na Alemanha e regressei a casa para ‘assentar’.
Através de toda esta experiência de vida e do mundo, compreendi que cantar
sempre me animou. Decidi ser cantora. Nas estranhas curvas do destino acabei
num filme chamado “Breaking Glass” (1980) e também acabei escrevendo todas as músicas
para o filme” – c/ os Stranglers ∆ versão
de Hazel, de “Love and a Molotov Cocktail”, do grupo do seu irmão Neil, os punks The Flys.
Oil
Tasters: Richard LaValliere, baixista e vocalista, Caleb Alexander,
saxofonista, e Guy Hoffman, baterista, trio de Milwaukee, Wiscosin do início
dos anos 80, enfiado dentro do pacote punk
por dificuldades de classificação de uma música que pairava pelo jazz, rock, James Brown e a literatura surrealista – “Emma” ∆ “That’s When The Brick Goes
Through The Window”. A coroa do massacre punk do sax herdou-o a cantora
e saxofonista Jessie Evans – “Blood & Silver” ∆ “Is It Fire?” ∆ “Scientist of Love” ∆ “Niños del Espacio” ∆ entrevista
na banheira; a sua
música “situa-se nalgum lugar entre uma banda sonora de filme B mexicano dos
anos 60, o disco e um calipso gótico”.
Comenta ela as suas farpelas: “Sempre vesti hot
pants, roupa de majorette, jalecas de soldado, com o velho vestuário de vaudeville, fatos de banho e coisas de
marinheiro. Eu cresci no oceano, numa escuna, e estava numa charanga quando era
criança. Acho que apenas me identifico com estas imagens. Também gosto de
vestir uniformes, por que não gosto de me preocupar muito em pensar no que vou
vestir. No dia a dia, uso as mesmas roupas todos os dias durante semanas ou
mesmo meses. No palco só quero cintilar e abanar as minhas pernas e braços à
volta como uma demente”. “Jessie
torrou quase uma década na cena punk
e death rock californiana a amolar a sua onda cantando e carpindo o estilo James Chance no seu fiel
saxofone, em bandas como The
Vanishing e as agora lendárias Subtonix. As Vanishing
mudaram-se de S. Francisco para Berlim em 2004, mas separaram-se pouco depois,
libertando Jessie para novas aventuras. Autonervous, inicialmente
um projeto a solo, floresceu numa colaboração entre Evans e Bettina Köster (da
banda alemã dos anos 80 Malaria!)”.
Os Fear – “New York's Alright If You
Like Saxophones”: “New York's alright if you wanna be pushed in front of
the subway! / New York's alright if you like tuberculosis! / New York's alright
if you like art and jazz! / New York's alright if you're a homosexual!”. Os
verdadeiros padrinhos do punk, o
mais padrinho de todos: Sun
Ra. Alguns saxofonistas de jazz no
MySpace: Albert Ayler ◙ Sidney Bechet ◙ Earl Bostic ◙ Don Byas ◙ Benny Carter ◙ Ornette Coleman ◙ Joe Henderson ◙ Rahsaan Roland Kirk ◙ Hank
Mobley ◙ David Murray ◙ Charlie Parker ◙ Sonny Rollins ◙ Lester Young.
Notas
soltas no instrumento:
O
saxofonista etíope Gétatchèw
Mekurya c/ a banda avant-garde / punk holandesa EX. “Instruído
em instrumentos tradicionais, clarinete e saxofone, Merkurya iniciou-se em 1949, a tocar na
Municipality Band, em Adis
Abeba ”. Em meados dos anos 60, juntou-se à influente Police Orchestra” ◙ Junior Walker & the All Stars – “Shotgun” ∆ “What It Takes” ◙ Candy Dulfer, holandesa do
jazz suave, “começou por tocar
bateria aos cinco anos. Aos seis começou a tocar saxofone soprano. Aos sete
muda para o saxofone alto”, aos catorze forma a sua banda Funky Stuff – com Dave Stewart ∆ com Sheila E. ∆ com Maceo Parker ∆ “Can't Make You Love Me” ◙ 808 State – “Pacific State” ◙ The
Motels – “Only
The Lonely” ◙ John Zorn – “Concert
at the Kitchen” ◙ Marillion c/ vocais de Steve Hogarth – “Berlin” ◙ Dream Theater c/
Jay Beckenstein sax soprano – “Another Day” ◙
“Yakety Sax”, escrita por James Q.
"Spider" Rich e popularizada por Boots Randolph ◙ Blurt – “The Fish Needs a Bike” ◙ Morphine
– “You Speak My Language”
/ “Honey White” ◙ Tihuya Cats – “Cheveza,
Chicas y Rockabilly” ◙ Borbetomagus – “Friendly
Fire” ◙ banda sonora de John Barry para “Goldfinger” (1964) – “Pussy Galore's Flying Circus”
∆ “Into Miami” ◙ cena
de “Footloose” pelos Flight
of the Conchords ◙ Alexandra Stan – “Mr Saxobeat”.
Em
Portugal, nas décadas de 60/70, quando a Direcção dos Serviços de Censura
travava as revistas estrangeiras escandalosas na fronteira e mulheres nuas eram
um luxo só para homens legitimamente casados, as capas dos discos do saxofonista italiano Fausto Papetti insinuavam
nos escaparates das discotecas o que mais tarde se aprofundava no casamento ou…
nas meninas. Anciana nobre tradição nacional: o 1º conde de Linhares, D.
António de Noronha, (1464-1551), o “narizes”, porque o seu apêndice nasal
perdera, arrancado por uma fera numa caçada em Ceuta, escrivão da Puridade de
D. Manuel I, era dono do alcouce de Lisboa. Certo dia, ao ser ignorado na rua
pelo cidadão Marcos Mendes, eriça-se de sua fidalguia e grita-lhe: não sabeis
que eu sou? E resume-lhe o currículo o Mendes: “sei perfeitamente. Sois D.
António, escrivão da Puridade d’el rei, trineto do santo Condestável e dono da
casa das meninas”. O escudeiro do 2º conde, D. Francisco de Noronha, o marido
de Violante de Andrade que 13 filhos lhe pariu, Luís Vaz de Camões, também, segundo
Eugénio de Andrade,
molharia o pincel: “não sabemos também quem o poeta tenha amado, para lá das
anónimas ‘ninfas de água doce’ do Malcozinhado e outros bordéis de Lisboa”. Essas
“ninfas de água doce”, não eram umas perdidas
(“The Fallen” - Crematory), serão as almofadas das esposas aparando as
arrostadas mais violentas dos maridos, Apolodoro de Atenas: “temos raparigas
para o prazer. Amantes para o refrigério dos nossos corpos. Mas esposas para
nos darem filhos legítimos e olharem pela casa”; e fabricadoras de património
cultural bandarra: a Severa
(1820-1846) “era uma puta alta e graciosa, que cantava o fado (especialmente na
taberna da Rosária dos ‘Óculos’, que ficava ao cimo da Rua do Capelão). Teve
vários amantes conhecidos, entre eles o Conde de Vimioso (D. Francisco de Paula
Portugal e Castro) que, segundo a lenda, era enfeitiçado pela forma como
cantava e tocava guitarra, levando-a frequentemente à tourada”, o cume da vida
cultural portuguesa, mais tarde, na era do audiovisual, completado com o
Festival da Canção e o Natal dos Hospitais. O decreto-lei 44579 de 19 de
Setembro de 1962 proíbe a prostituição, no papel, para serenar o cardeal
Cerejeira, as autoridades civis não suaram para fechar os lupanares de Lisboa e
por mais algum tempo os ouvidos dos fregueses bendirão as palmas da madame e a
melodiosa frase: “meninas à sala”. No Bairro Alto, zona de petróleo, os
serralhos apinhavam-se antes de as “ninfas de água doce” serem despejadas no trottoir: na Rua do Diário de Notícias nº
142, na Rua da Barroca nº 5, na Travessa da Água da Flor nº 8, na Rua do Mundo
nº 100, dois andares, para dois poderes de compra, 25 paus no primeiro, 100
escudos no segundo. A Madame Calado, no primeiro andar de um prédio situado
numa rampa junto da estação do Rossio, para ministros e funcionários públicos
de 1ª categoria. A Madame Blanche, na rua da Glória nº 63, 1º andar, com os
três pratos no menu. Na rua Luciano Cordeiro para funcionários públicos de 2ª
categoria. E no Intendente para a maralha.
E, o sol da escala, o maior saxofonista de todos os tempos, soprava e gostava de ser assoprado: Bill Clinton.
E, o sol da escala, o maior saxofonista de todos os tempos, soprava e gostava de ser assoprado: Bill Clinton.