Pratinho de Couratos

A espantosa vida quotidiana no Portugal moderno!

terça-feira, outubro 30, 2012


Nas águas do bacalhau

A classe política portuguesa, calhou sempre posta do meio, nada de rabo, nem barbatana, nem cabeça, só postas altas. E costas largas, que entretecem os fios da nação, enredouçando num ó-ó aquedado o futuro [1]. Muito justamente, suas decisões pelo povo ovacionadas não são julgadas neste reino, rorejante de aguazis e tribunais, são atiradas para os “julgamentos da História” [2]. Cavaco Silva, ministro das Finanças e do Plano do VI Governo Constitucional, no dia 15 de janeiro de 1980, arenga o seu primeiro discurso na Assembleia da República com um colchete final: “a política económica do governo não se caraterizará pela ausência de política, nem pela falta de firmeza da sua condução. Exigem-no todos os portugueses para quem a austeridade é uma dura vivência quotidiana, impõem-no as gerações futuras” [3]. A sua firmeza e rigor orçamental [4] rebuçar-se-ão pela campanha eleitoral permanente do primeiro-ministro Sá Carneiro: 1980, dupla dose, eleições legislativas no dia 5 de outubro e eleições presidenciais a 7 de Dezembro.
Na democracia, a festa do voto festeja-se com bombons ao povo, Sá Carneiro desbragava: “como resultou do último debate parlamentar, pela primeira vez em Portugal, depois de 75, o salário real dos portugueses, ou seja o seu poder de compra, ou seja o seu bem-estar, vai aumentar, não tanto como nós quereríamos, mas em 5 meses também não era difícil, não era fácil, que aumentássemos mais, mas vai aumentar um pouco. Isto é aquilo que nós prometemos, não fazer em 5 meses ou em 8 meses aquilo que não se fez em 5 anos, mas começar a realizar concretamente, falando pouco e trabalhando muito, e para isso termino as minhas declarações” [5]. O povo respondeu: voto! Maioria absoluta para a Aliança Democrática (AD), um miscrado de partidos, Partido Social-Democrata (PSD) de Sá Carneiro, Centro Democrático Social (CDS) de Freitas do Amaral e Partido Popular Monárquico (PPM) de Gonçalo Ribeiro Teles, liados em 5 de julho de 1979 – coligação já vitoriada pelo povo nas eleições legislativas intercalares de 2 de dezembro desse ano, que espotricara para a política o professor e economista Cavaco Silva: “era aí que estava a minha vocação, nunca me passando pela cabeça que pudesse trocá-la pela vida política” [6].
Sá Carneiro porfiava um domínio da direita na política portuguesa, governo e presidente da República a mesma cor, a mesma roupa interior, o mesmo parenético. Nos dias 20 - 22 de novembro de 1980, em Bolonha, a petiz Maria Armanda cantava “Eu vi um sapo” e vencia o Sequim de Ouro. No mês de dezembro, em Lisboa, engoliam-se sapos, isto é, os petizes do berlinde despalhavam estratégias para as eleições presidenciais. PS e MRPP são dedais, incondicionais verbais, do presidente e candidato a 2º mandato, o general Ramalho Eanes. Álvaro Cunhal enfia uma agulha, um candidato próprio do PCP: “Carlos Brito, dirigente destacado do nosso Partido, militante de muitos anos, que passou o duro caminho da luta e da vida clandestina, das prisões, das torturas, das condenações, não é um candidato à procura de promoção pessoal”. Depois desenfia-a para achar no palheiro da candidatura de Eanes e “derrotar o candidato da direita”. Sá Carneiro, no seu último tempo de antena: “boa noite, aquilo que muitos pensavam impossível aconteceu o Partido Comunista apoia oficialmente a eleição do general Ramalho Eanes”, o seu candidato, o candidato da direita, era outro general, o general Soares Carneiro.
Na Rádio Comercial, pelas 7 da matina, no “Ora Ora, Manhã Manhã”, a voz de Luís Pereira de Sousa, animava: “como íamos dizendo, aqui estamos nós. Ora, ora, bom dia. Aqui no dia 4 de dezembro de 1980, uma quinta-feira, quinta-feira feliz, a 27 dias apenas do final do ano, em vésperas de eleições, uma quinta-feira agradável, venha connosco, amigo venha daí”. O Diário de Notícias noticiava: “Portugal vai receber da CEE ajuda de 19,5 milhões de contos”; “NATO adverte União Soviética contra intervenção na Polónia”. Um dia normal. Anoitece, pelas 21:29 horas, a RTP interrompe o 80º episódio da “Dona Xepa”, os minutos arrastam-se, as agruras da laboriosa feirante não retornarão nessa noite, quando a emissão retoma, Raul Durão, de gravata preta, anuncia: “Francisco Sá Carneiro, primeiro-ministro de Portugal, faleceu há pouco mais de uma hora num desastre de aviação. Na avioneta em que viajava Sá Carneiro seguiam também sua mulher Snu Abecassis… aguardamos a todo o momento, aqui nos estúdios do Lumiar, a presença do prof. Freitas do Amaral, vice-primeiro-ministro…”, depois pespegaram-lhe com a “Paixão segundo São Mateus” de Johann Sebastian Bach, até que Freitas do Amaral, de cara assopeada, bandeira nacional do lado direito, leu: “portugueses, num horrível acidente de aviação…” [7]. O Cessna 421A registo YV-314 P descolara do Aeroporto Internacional de Lisboa, com destino ao Porto, minutos depois despenhava-se sobre uma casa em Camarate. Morreram Carneiro [8], primeiro-ministro e notável cliente do restaurante Tavares rico, a sua amante Snu Abecassis, uma norueguesa, dona da Dom Quixote, o ministro da Defesa Adelino Amaro da Costa e a mulher Maria Manuela Vaz Pires, o chefe de gabinete António Patrício Gouveia, e os dois pilotos. Cavaco Silva retrataria Sá Carneiro em 2010: “dizia-se que ele, ele antecipava os acontecimentos muito antes de eles, eles acontecerem. Tinha razão antes do tempo, era a frase que se dizia”. Órfão político Cavaco Silva recusa integrar a governo de Pinto Balsemão. Uma das suas últimas medidas será um aumento de 5 escudos no preço dos combustíveis efetivo depois da meia-noite de 18 de dezembro. A 9 de janeiro de 1981 demite-se para “regressar à vida profissional”, enquanto, na verdade, ficará em muito ebulientes águas de bacalhau, maquinando o seu regresso.
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[1] Cavaco Silva, visionário après la lettre, em 1978, avisava para o esbanjamento pernicioso nas obras públicas aos molhos, pontes, estradas, cimento e alcatrão que um primeiro-ministro, chamado Cavaco Silva, obrará nos finais de 80: “há programas que são ‘cinicamente’ financiados pelos governos, com o objetivo de exibir o ‘interesse’ dos políticos na resolução de certos problemas, embora saibam perfeitamente que são inoperantes para o efeito. Por outro lado, quando os políticos realçam verdadeiros benefícios produzidos por um projeto a cuja realização estão associados, procuram deixar na penumbra os custos suportados, assim como as alternativas que foram rejeitadas, porventura com maior benefício social líquido”. – Cavaco Silva, primeiro-ministro; o ministro das Obras Públicas Ferreira do Amaral e o ministro das Finanças Eduardo Catroga negociaram o acordo para a construção da ponte Vasco da Gama com a Lusoponte. A empresa investiu 578 milhões de euros e, desde 1995, já recebeu 364 milhões do Estado em indemnizações, e 746 milhões em receitas de portagens dessa ponte mais aquelas cobradas na ex-ponte Salazar, o pospasto do negócio.
[2] Em Portugal, nenhum político age de má-fé, é incompetente ou simplesmente burro. Todos são magníficos génios. Suas decisões geniais magníficas, muitos votos lhes granjeiam, por elas nunca serão julgados, o povo crê que, virados muitos séculos, um historiador lhes punirá com o opróbrio de uma má reputação. A impunidade avalentoa-lhes a imaginação para coloridos rótulos para engulo popular como a “descolonização exemplar”. No livro “15 anos da História recente de Portugal (1970-1984)” coordenado por F.A. Gonçalves Ferreira: “no dia 28 de dezembro de 1979, foi apresentada na secretaria da Polícia Judiciária uma queixa por um grupo de 18 cidadãos portugueses por nascimento e na plenitude dos seus direitos legais, encabeçado pelo general na reserva, Silvino Silvério Marques, e constituído por militares, professores, jornalistas e outros profissionais, contra: Mário Soares, que foi ministro dos Negócios Estrangeiros; António de Almeida Santos, que foi ministro da Coordenação Interterritorial; Ernesto Augusto de Melo Antunes, que foi membro do Conselho de Estado e do Conselho da Revolução; Francisco da Costa Gomes, que foi presidente da República; António Alva Rosa Coutinho, que foi presidente da Junta Governativa de Angola; Vítor Manuel Trigueiros Crespo, que foi alto-comissário em Moçambique; Otelo Nuno Romão Saraiva de Carvalho, que foi comandante-adjunto do COPCON; Pires Veloso, que foi alto-comissário em S. Tomé e Príncipe; Vicente de Almeida d’Eça, que foi alto-comissário em Cabo Verde; António da Silva Cardoso, que foi alto-comissário em Angola; Leonel Cardoso, que foi alto-comissário em Angola; os membros da Junta de Salvação nacional, que deram pareceres favoráveis aos acordos da descolonização; os membros do Conselho de Estado, que deram pareceres favoráveis aos mesmos acordos; os membros dos governos provisórios que deram pareceres favoráveis aos mesmos acordos; os membros do Conselho de Estado, autores da Lei Constitucional nº 7/74; outros indivíduos que tivessem tido participação ativa nos factos criminosos que vão ser denunciados. O crime imputado aos participantes é o previsto no artigo 141º do Código Penal (intentar por qualquer meio violento ou fraudulento separar da mãe-pátria qualquer território português), a que corresponde a pena de prisão de vinte a vinte e quatro anos”. – O juiz Eduardo Maia da Costa, no 3º Juízo Criminal, arquivou o processo por “ser evidente inexistência de matéria-crime” e a “denúncia foi formulada nitidamente de má-fé”. No final dos vários recursos, o Supremo acorda em 20 janeiro 1982: “se porventura houve erros ou desvios no processo da descolonização, a História não deixará de fazer incidir sobre eles o seu julgamento”. A classe política no poder, com os calcanhares escaldando, quando o jornal Expresso de 21 de novembro de 1981 publicou rumores de que o Supremo poderia dar razão aos autores da queixa, cerrou fileiras; Freitas do Amaral, então vice-primeiro-ministro e ministro da Defesa no governo de Pinto Balsemão: “o governo não tem a intenção, nem tolerará que se pretenda julgar a descolonização”. – Também não serão julgados os negócios PPP, assinados a bem da nação, e a rendimento zero para os políticos. A produção de prova que será feita num tribunal no futuro: um diligente governante nesses negócios está pobre. Pede dinheiro aos pais para sobreviver. “A História dirá se as decisões tomadas foram as melhores”, o ex-secretario de Estado das Obras Públicas, Paulo Campos, como deputado socialista ganha 3 605 euros/mês mais ajudas de custo. Outros 600 euros/mês, por direito parlamentar, por viver em Cascais, numa pobre moradia no valor de 1.4 milhões de euros. Tem um filho atleta a estudar nos Estados Unidos e a massa não estica, os pais complementam a miséria do seu salário.
[3] No futuro, (2012), Cavaco Silva será o encosto fofinho, o chocolateiro útero, o cobertor do Linus de Portugal: “o presidente da República é o provedor, digamos assim, das incertezas, das angústias, mas também das ambições do nosso povo. O presidente da República é de facto o provedor do povo”. De um bom povo: “e acima de tudo, o sentido! de responsabilidade e o notável! espírito cívico que o povo português tem demonstrado. E como estamos aqui, num mosteiro (de S. Miguel de Refojos, Cabeceiras de Basto), eu diria: Deus queira que consigamos preservar estes ativos que eu acabei de apontar, porque se o conseguirmos! com certeza que o futuro de Portugal será melhor”.
[4] Queixava-se o financista: “o rigor orçamental que procurava impor aos ministérios e a oposição que manifestava às medidas que considerava economicamente incorretas entravam em choque com as posições dos outros ministros”.
[5] E no horizonte o éden da entrada na CEE: “os problemas são sobretudo internos do Mercado Comum, estou convencido que não vão retardar significativamente a adesão, de qualquer maneira não vão determinar a suspensão nem o retardamento das negociações. O Mercado Comum tem os seus problemas e é possível até que seja útil que Portugal e a Espanha, novos membros, sejam associados à resolução desses problemas que respeitam aos nove, à constituição financeira, a todas essas questões institucionais. De qualquer maneira mantém-se a nossa vontade de adesão ao Mercado Comum. Mantém-se a vontade do Mercado Comum de integrar Portugal e a Espanha. Isso é do nosso interesse e vamos continuar a trabalhar para obter as melhores condições, visto que se trata sobretudo de obter boas condições mais do que a adesão em si, que nunca esteve em causa”.
[6] Cavaco Silva fez alterações nas sociedades de investimento, as primeiras instituições que permitiram a entrada dos privados no setor bancário nacionalizado: “quanto às sociedades de investimento que são instituições para-bancárias vocacionadas para o financiamento do investimento, o governo alterou o quadro legal que rege essas mesmas sociedades e quero destacar as alterações das possibilidades de concessão de crédito a médio e a longo prazo, a maior possibilidade por parte das sociedades de investimento na concessão de garantias, o acesso que essas sociedades passam a ter ao mercado interbancário de títulos e ao mercado monetário interbancário, assim como a possibilidade da obtenção de refinanciamento junto do Banco Central. Quero ainda destacar que aqueles que vão recorrer às sociedades de investimento, beneficiam nos mesmos termos do que beneficiariam caso recorressem ao sistema bancário, dos incentivos fiscais e financeiros que presentemente são concedidos para o relançamento do investimento”. Aportuguesamento dos merchant banks e development banks, será esta a janela de abertura para Artur Santos Silva, cujo sonho era ter um banco, viabilizar a Sociedade Portuguesa de Investimento, em 1981, que mais tarde, em 1985, bancará no Banco Português de Investimento (BPI). – Indicadores da conjuntura económica na época: o investimento teve evolução positiva na primeira metade do ano, segundo um inquérito a gestores, 82% estão dispostos a investir nos próximos 12 meses. A taxa de inflação do mês de julho foi de 1%. Nesse ano previa-se que ficasse abaixo dos 20%. Os salários crescerão 21%. O défice da balança de transações correntes situar-se-ia nos 600 milhões de dólares. Fora paga parte dos empréstimos contraídos anteriormente, o que permitiu reduzir a parte das reservas de ouro afeta à cobertura desses empréstimos.
[7] Freitas do Amaral: “portugueses, num horrível acidente de aviação morreu hoje ao princípio da noite o primeiro-ministro de Portugal dr. Francisco Sá Carneiro. Ignoramos ainda as causas do acidente que serão apuradas no mais rigoroso inquérito a que se procederá de imediato. É com a maior consternação e pesar que vos confirmo esta notícia brutal. O dr. Francisco Sá Carneiro foi um grande homem, um grande lutador e um grande estadista. Foi um grande homem, na coragem com que assumia as suas posições, na simpatia irradiante do seu temperamento e na lucidez invulgar do seu espírito vivo e sagaz, foi um grande lutador e sobretudo um lutador pela liberdade, antes e depois do 25 de Abril, morreu em pleno combate, no ardor de uma campanha eleitoral que tomou a peito e ao serviço de uma causa nobre, de um ideal elevado, de uma noção mais pura da democracia que desejava com toda a sua alma para a nossa pátria … peço a todos a maior calma e serenidade, repito peço a todos a maior calma e serenidade … que dê força e animo às suas famílias e aos seus amigos para transformarem a dor enorme…”. Em 2010, Freitas do Amaral recorda: “eu tive receio de me emocionar se fizesse a comunicação em direto. Eu tinha a consciência de que precisava de transmitir calma”. “Pedi à RTP que gravasse, se não ficasse bem, poderia gravar outra vez, mas ficou bem à primeira. Custou-me muito fazer essa intervenção, mas depois pensando nela, cada vez que penso nela, acho que foi talvez um dos maiores serviços que eu terei prestado ao longo da minha vida inteira à democracia portuguesa”.
[8] O biógrafo Manuel Pinheiro: “ele fazia corridas de carros com a mulher Isabel Sá Carneiro. Vinham da casa de campo, em Barcelos, para o Porto, e por vezes, faziam corridas de carros para ver quem chegava primeiro. Ele tinha muita pressa em tudo. Quis casar, quis namorar muito depressa, quis casar muito depressa e politicamente também tinha muita pressa. (…). Várias vezes ao longo dos tempos desabafou com amigos que sentia que ia morrer cedo, aliás chegou a dizer uma vez que ia morrer cedo e de forma violenta”. Rui Rio, presidente da Câmara do Porto: “admito que o dr. Sá Carneiro não tenha feito tanta falta ao país, assim, nos anos 90, 80, 90, no tempo dos fundos europeus e do desenvolvimento económico, mas agora que está em causa questões de regime e questões do regime profundas, que é que preciso fazer roturas para salvar aquilo que o regime tem de mais essencial, portanto qualquer dia nem isso conseguiremos. Eu acho que o perfil dele era, era extraordinário. Agora, ele ‘tá a fazer falta”.

na sala de cinema

Gymkata” (1985): “Jonathan Cabot é abordado pela SIA (Special Intelligence Agency) para participar no ‘Jogo’. O Jogo é uma competição de atletismo no país fictício Parmistan, uma pequena nação montanhosa, que supostamente está localizada na cordilheira Hindu Kush (filmado na Jugoslávia). Parmistan força todos os estrangeiros a jogar o Jogo, que é basicamente uma corrida de resistência com obstáculos, sendo perseguidos o tempo todo pelos guerreiros de Parmistan. Se uma pessoa ganha, é-lhe concedida a vida e um desejo. A SIA quer que Cabot vença o Jogo para que ele possa usar o seu desejo para instalar uma estação de monitorização de satélites americana, que poderá seguir todos os satélites no espaço e agir como um sistema de alerta prévio em caso de ataque nuclear”. “5 razões por que é o filme mais engraçado dos anos 80”: o herói: “Kurt Thomas foi três vezes campeão mundial de ginástica e uma aposta certa para o ouro olímpico em 1980, mas falhou-o porque os Estados Unidos boicotaram os jogos por causa da invasão soviética do Afeganistão. Recebendo este filme em vez disso foi como substituir um bilhete de lotaria premiado por uma ordem de despejo da dignidade. (…). O problema é que para se tornar num atleta olímpico significa dedicação absoluta, o que significa que não há tempo para se concentrar em qualquer outra coisa, como ‘aprender a representar’ ou ‘como parecer mais ameaçador do que uma mediana escuteira”; a missão: “Parmistan sofria de dois problemas: um défice de madeira a nível nacional e um ridículo superavit de ninjas”; as competências: “Kurt usa triplos saltos mortais em tarefas que a maioria das pessoas nem precisaria dos punhos”, e, para conquistar a princesa Rubali, o “Thomas Salto”; o Jogo: “eventualmente, o Jogo começa, e logo percebemos que a maioria dos outros países enviou concorrentes do Jeopardy em fatos de treino para participar numa corrida de morte pelo destino do mundo”; o final: “em seguida, a população de Parmistan de repente decide libertar-se do jugo da opressão, casualmente, como quem compra um pacote de gomas”. A princesa Rubali é a inspiração filipina dos anos 80, Tetchie Agbayani, (nascida Visitación Parado), atriz, instrutora de psicologia, Mutya ng Pilipinas (=“Pérola das Filipinas”, um concurso de beleza) e modelo da Playboy alemã: “uma vez que esta Playboy era a edição alemã, pensei que só sairia na Alemanha e não nas Filipinas. Quando disse sim, pensei em mim como uma modelo e a ferramenta de uma modelo é o seu corpo. (…). Quando estava a ser fotografada, queria exsudar a imagem de Eva. Se eu fosse a única mulher neste mundo a viver nesta ilha com mais ninguém, como devo parecer? Deve ser um aspeto selvagem, não tão polido”. “Os 8 mais quentes vilões dos filmes para adolescentes”: James Spader como Steff McKee em “Pretty in Pink” (1986), “bonito, fumador em cadeia, preppie rico com uma propensão para festas e fatos. Steff McKee é o melhor amigo de Blaine, que tenta acabar com a relação entre ele e Andie, por ciúme”; “a maliciosa líder Heather Chandler (Kim Walker), a leitora compulsiva Heather Duke (Shannen Doherty) e a cheerleader fraca da cabeça Heather McNamara (Lisanne Falk)” em “The Heathers” (1988) “estas três dominam a Westerburg High School em Sherwood, Ohio, através da crueldade. Apesar de serem as alunas mais populares, as Heathers são temidas e odiadas”; Ted McGinley como Stan Gable em “Revenge of the Nerds” (1984), Stan é um atleta que não suporta os nerds que perde a namorada, Betty Childs, para um deles; Paul Mones como Nick Hauser em “Tuff Turf” (1985), líder de um gang que perde a namorada para outro adolescente problemático. “Galeria de posters das garotas mais quentes dos anos 80”: Tiffani Amber Thiessen (23 janeiro 1974) 1,65 m 58 kg 80-67-77; Nicole Eggert (13 janeiro 1972) 1,60 m 56 kg 70-70-75; Catherine Bach (1 março 1954) 1,72 m 91-58-88; Erika Eleniak (29 setembro 1969) 1,67 m 52 kg 75-60-70.  

no aparelho de televisão

No dia 7 de março de 1980, o povo menos abonado, embasbacava em frente dos escaparates das lojas de eletrodomésticos, ao ver o feérico verde do blusão de José Cid: teclando “Um grande, grande amor”, no Festival RTP da Canção. Era a primeira emissão regular a cores em Portugal, depois de uns ensaios nas eleições presidências de 1976 [1] e, por obrigação europeia, a transmissão dos “Jogos sem fronteiras” a 5 de setembro de 1979. Colorida, a vida tinha outra cor. Os espectadores não eram consumidores de televisão, eram pessoas que assistiam a emissões de televisão, e a televisão era um serviço público na casa das pessoas, apresentado, personalizado, por locutoras de continuidade: Isabel Bahia, Fátima Medina, Ana Maria Cordeiro, Ana Paula Reis, Helena Ramos e Valentina Torres. Para consumir, os espectadores tinham os produtos industriais: anúncio, umm! caramelo, baunilha e chocolate da Mimosa c/ a Nucha. A televisão, comodidade moderna, facilitava a educação dos filhos, delimitando o horário das crianças em frente do televisor, prevenindo pais e filhos para a hora da deita. “Vamos dormir!” (1965), música de Eugénio Pepe e letra de Alexandre O’Neil, animação de Artur Correia, Ricardo Neto e Mário Neves. A família Pituxa de “São horas meninos” (1971): “Meninos rabinos, mas muito asseados, / A cara e os dentes lavados / Ala Pico-Pico, foge Seranico! / E tudo a rezar a Jesus. / São horas meninos, fica o Seranico, / E é ele quem apaga a luz”, letra de Maria João Duarte, música de Eugénio Pepe, animação de Artur Correia. “Os Amigos do sono” (1979): “Vem primeiro o Manuel Esfrega / Depois chega o João Pestana / Finalmente o Chico Escuro / Somos nós os três amigos do sono”, interpretado pelo Coro Infantil João Henrique, desenhos de Marcello Moraes, música de João Henrique e Ramon Galarza, letra de Nuno Martins. “Boa-noite Topo Gigio” (1981): “Todos os meninos que são teus amigos, / estudaram as lições. / Já estão lavadinhos deitados na cama, / rezaram as orações”, composição de Rui Guedes e José Cid, voz de António Semedo [2]. “Boa-noite” (1990) filme realizado por Artur Correia e Ricardo Neto, música e interpretação de Eugénia Melo e Castro. “Dartacão e os três moscãoteiros” (1981): “Eram uma vez os três / Os famosos moscãoteiros / Do pequeno Dartacão / Tão bons companheiros”. Série criada por Claudio Biern Boyd, antropomorfizando cães como os mosqueteiros de Alexandre Dumas, produzida na BRB Internacional espanhola e nos estúdios Nippon Animation japoneses. Estreou em Portugal em 1983, aos sábados de manhã: ano de 1625, no caminho da Gasconha para Paris, Dartacão apaixona-se por Julieta, a aia da rainha. Já em Paris ensarilha-se com os três moscãoteiros, Dogos, Mordos e Arãomis, remediadas as divergências vão combater o primeiro-ministro, o cardeal Richelião. “Panda Tao Tao” (1983), série de anime produzida numa joint-venture sino-japonesa, dirigida por Shuichi Nakahara e Tatsuo Shimamura: num vale da China, nunca pisado pelos seres humanos, o pequeno panda Tao Tao vive feliz com os seus amigos, Kiki o macaco, Purpur o esquilo, Poe a lebre, Chipta o pica-pau, quando se atrapalham em encrencas, a mãe panda conta-lhes belas histórias que os ajudam [3]. “G.I. Joe: A Real American Hero” (1983), série americana criada por Ron Friedman, baseada nos brinquedos - action figures - da Hasbro e na BD da Marvel. Introdução: “ei Joe. Ele lutará pela liberdade onde alguma vez houver problemas. G.I. Joe está lá. G.I. Joe. Um verdadeiro herói americano. G.I. Joe está lá. É G.I. Joe contra Cobra, o inimigo, lutando para salvar o dia. Ele nunca desiste. Ele está sempre lá. Lutando pela liberdade sobre o mar e ar. G.I. Joe. Um verdadeiro herói americano. G.I. Joe está lá. G.I. Joe é o nome de código para a ousada, altamente treinada, força de missões especiais da América. O seu objetivo: defender a liberdade humana contra Cobra, uma organização terrorista cruel determinada a dominar o mundo. Ele nunca desiste. Ele ficará até o combate ser vencido. G.I. Joe ousará. G.I. Joe. Um verdadeiro herói americano. G.I. Joe”.
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[1] Venceu o general Ramalho Eanes com maioria absoluta. No segundo lugar ficou Otelo Saraiva de Carvalho, com uma forte adesão das massas populares proletarizadas, sobretudo em Setúbal, que desgarrou semostradeiros comentários dos manda-chuvas da época. Sá Carneiro, secretário-geral do PPD: “ainda há uma grande ilusão à volta do major Otelo, que considero representante do 25 de Abril deturpado, do falso 25 de Abril”. Mário Soares, secretário-geral do PS: “é um resultado, sob certos aspectos, inesperado, que lhe dá o direito de continuar uma campanha de agitação que o povo português rejeitou, a meu ver, duma maneira clara”.
[2] O boneco foi criado em 1959 pela italiana Maria Perego que, explorando as novas técnicas da televisão, como a invisibilidade dos manipuladores quando vestidos de preto, renovou os espectáculos de marionetas. Rui Guedes, pianista, tocou no bar do hotel Sheraton em Lisboa, estreou o Topo Gigio em Portugal, em 1979, ao final das tardes de domingo. Compôs a música do programa com José Cid. E a voz do Topo Gigio português foi António Semedo, falecido em 2005, filho do realizador Artur Semedo e da atriz Maria José.
[3] “Tao” é também o nome de combate de Taokaka, a rainha dos felinos, no videojogo “BlazBlue”.

na aparelhagem stereo

“O maior sucesso de Stock Aitken Waterman foi explorar plenamente a cena da música undergroung que crescia na Inglaterra no final dos anos 80. O objetivo de SAW foi o de aproveitar a energia dinâmica da cultura das discotecas (e o som da música Hi-NRG) e combiná-lo com o entretenimento leve, sem má reputação, que poderia vender em grandes quantidades, enquanto controlando firmemente a publicação de tudo o que produziam. Neste aspeto, eles eram extremamente semelhantes à Motown, com SAW supostamente fazendo uso do dúbio ‘acordo de desenvolvimento do artista’, tal como Berry Gordy tinha duas décadas antes. Sob tais acordos, todas as facetas da carreira de um jovem artista seria controlada e ditada pela companhia discográfica, e muitas vezes os direitos de publicação do artista seriam cooptados no processo e a companhia discográfica preencheria o papel de manager em nome do artista”.
Produtos SAW:
Paul Lekakis ► “Boom Boom” (1986) ♪ Scarlet Fantastic ► “No Memory” (1987) ♪ Laura Branigan ► “Shattered Glass” (1987) ♪ Mandy ► “Positive Reaction” (1987) ♪ Michael Davidson ► “Turn It Up” (1987) ♪ Big Fun ► “Blame It on the Boogie” (1988) ♪ Début De Soirée ► “Nuit de Folie” (1988) ♪ Sandra ► “Everlasting Love” (1988) ♪ Sigue Sigue Sputnik ► “Success” (1988) ♪ Eighth Wonder ► “Baby Baby” (1988) ♪ Dollar ► “Oh L’Amour” (1988) ♪ London Boys ► “Requiem” (1988) (duo anglo-germano, Edem Ephraim e Dennis Fuller, ambos faleceram num acidente de viação nos Alpes austríacos dia 21 de janeiro de 1996. Numa estrada de montanha, um condutor embriagado, que durante alguns quilómetros fazia ultrapassagens perigosas, chocou de frente com o carro deles. Bettina, a mulher alemã de Ephraim, um DJ de Hamburgo amigo comum e o condutor suíço, causador do acidente, também morreram) ♪ Pat and Mick ► “I Haven't Stopped Dancing Yet” (1989) ♪ Cliff Richard ► “I Just Don't Have the Heart” (1989) ♪ Donna Summer ► “This Time I Know It’s For Real” (1989) ♪ Yell! ► “Instant Replay” (1989) ♪ Damian ► “The Time Warp” (1990) ♪ Lonnie Gordon ► “Happenin' All Over Again” (1990) ♪ Boy Krazy ► “That's What Love Can Do” (1993).

sexta-feira, outubro 12, 2012


We Got the Beat

“See the people walking down the street / Fall in line just watchin’ all their feet / They don’t know where they wanna go / But they’re walking in time / They got the beat / They got the beat / Yeah, they got the beat”, as pessoas na rua, sem rumo, não sabiam para onde queriam ir, mas tinham a batida – ritmavam as Go-Go’s uma década, a década de 80 [1]. Os passos sincronizavam-se destrambelhados também em Portugal. Mês e meio antes de as rolhas do festivo champanhe estalarem, Lisboa, menina e moça, tirava o cotovelo do atraso e encostava a cabeça na cambraia de capital europeia bordada devagar: a 13 de novembro de 1979, o embaixador israelita Ephraim Eldar é ferido no centro de Lisboa num atentado. Outros dois são feridos, o motorista e um bófia, e um guarda da embaixada morre. No alvor da nova década, dia 3 de janeiro, no Mini Morris azul-claro da família, conduzido pela esposa, Cavaco Silva chega ao palácio da Ajuda para tomar posse como ministro das Finanças e do Plano, nesse mesmo mês as Doce editam “Amanhã de manhã”: “Fecha os olhos / Esquece o tempo / Nesta noite sem fim / Abre os braços / Acende um beijo / Fica dentro de mim”. E bem fundo ficará Cavaco Silva. Será a sua década. A primeira de muitas, até o povo o agraciar como presidente de melões e vacas (e, nos tempos livres, cultiva anonas) [2].
Cavaco Silva era um pacato professor de Economia Pública, uma fotocópia portuguesa, prozoica, de Minerva McGonagall, – que ensinava Transfiguração na Escola Hogwarts de Bruxaria e Magia, frequentada por Harry Potter –, com uma varinha mágica para a transmutação da sociedade portuguesa: separar a polpa do caroço, o bife da carne, demarcar os economistas dos políticos. Escrevera ele em 1978: “os economistas derivam as suas conclusões considerando que o objetivo da ação pública é a maximização do bem-estar social, entendido como o resultado da agregação das preferências individuais dos cidadãos, enquanto as decisões públicas são tomadas pelos políticos na base do seu próprio bem-estar, e não do interesse da sociedade como um todo” [3]. Quando, num pacato serão, a política lhe trambolha na carpete da sala: “uma noite, num tempo para mim já de alguma apreensão quanto ao caminho que levava a política portuguesa, Francisco Sá Carneiro, entrou-me pela casa dentro através da televisão”, e observou ele para a sua Maria: “aqui está um político inteligente e sensato”.
Um mês depois de o país ganhar Cavaco Silva para a coisa pública, Lisboa ganhava a sua melhor atração para a coisa turística. O porta-contentores inglês MV Tollan, aportuguesado para Tolan, dia 16 de fevereiro, abalroava o cargueiro sueco Barranduna, e afundava-se espojando-se no Tejo de bojo para o ar. O seu casco, desde o Cais das Colunas, respigava uma ode marítima: “Ah, a frescura das manhãs em que se chega, / E a palidez das manhãs em que se parte, / Quando as nossas entranhas se arrepanham / E uma vaga sensação parecida com um medo / – O medo ancestral de se afastar e partir, / O misterioso receio ancestral à Chegada e ao Novo” (Álvaro de Campos, engenheiro). Enquanto o país locomovia-se já noutro meio. Novo. No ar. No dia 6 de maio, Rui Manuel Costa Rodrigues, estudante do Feijó, empunhando uma pistola calibre 6.35 do pai, sem carregador, desvia para o aeroporto de Barajas, Madrid, o avião que descolara às 21:46 de Lisboa rumo a Faro. Exigia ele 10 mil dólares e um salvo-conduto para a Suíça. A tripulação recomendou-lhe que não sangrasse a TAP com a massa, a companhia estava sem cheta, e ele concordou que seria Sá Carneiro, o primeiro-ministro, a meter um vale ao Orçamento de Estado. Nem cacau, nem país novo, rendeu-se e regressou a Lisboa com o apodo de “piratinha do ar” [4].
Em 1980, a telefonia transmitia sons para o assobio. E o povo assobiava Rui Veloso, o “Chico Fininho”: “Sempre na sua / Sempre cheio de speed / Segue o seu caminho / Com merda na algibeira”, ou com mais ganas ainda, Marco Paulo, “Eu tenho dois amores”: “Uma é loira e acontece / Entre nós amor, ternura / Tão loira que até parece / O sol da minha loucura // Mas a outra tão morena / É tal qual um homem quer / Porque embora mais pequena / Ela é muito mais mulher”. A telefonia também transmitia sons para o cultural atavio. Na Rádio Comercial, com o genérico “Chameleon” de Herbie Hancock, aos domingos entre as 10:00 e 13:00 horas, “Pão com manteiga”: os autores, Carlos Cruz, José Duarte, Mário Zambujal, untavam fatias de rádio com humor non sense: “cada vez há menos gente que tenha conhecido D. Afonso Henriques”, “a carne é fraca, mas o molho é uma maravilha”, “peta era antigamente. Hoje é mentira. Qualquer dia é verdade”, “nem sempre o pecado mora ao lado; gasta-se um dinheirão em transportes”, “as pilhas podem dar à luz: pilha és, mãe serás!”. De segunda a sexta, entre as 22:00 e 00:00 horas, Maria José Mauperrin amassava temas de cultura, cinema, literatura, artes, e convidava os figurões da praça para o seu “Café concerto” (1980-85): David Mourão-Ferreira charla de como, desgostando de fado na adolescência, aprendeu a estimar a música nacional, quando aos 20-21 anos surpreendeu-se em Paris, flanando pelo boulevard St. Michel, “numa vaga de saudade”, a trautear um fado da Amália. Na RDP Antena 1, duas horas ao sábado, “o mais belo programa da rádio jamais feito sobre a terra, as gentes, os costumes, a cultura do sul do continente português” (Adelino Gomes), o “Lugar ao sul” de Rafael Correia. E em 1980, os cinemas projetavam a rota da guerra universal de "Apocalypse Now" (1979), ou emocionava os espectadores na luta de um pai pelo filho de loiras melenas em “Kramer contra Kramer” (1979). Nesse ano, os mais apressados, impacientes para aguardar pelo filme, liam “O nome da rosa”, de Umberto Eco.
O país andava às aranhas em 1980, e é invadido pelo cubo invenção do húngaro Ernő Rubik, “o cubo mágico”, milhões de mãos rodam as faces coloridas numa sincronia insensata, absurda, inútil, a solução correta é uma entre 43,2 quintiliões (43 252 003 274 489 856 000) de possibilidades. O cavalheiresco Cavaco Silva, esposo de Maria Alves da Silva, “a mais bonita e inteligente do grupo” da praia de Olhos de Água, Algarve, também andou à nora na pasta, efémera, das Finanças, em 1981 demitia-se.
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[1] Em 2012 as pessoas sabem para onde vão e vão a um ritmo diferente. Por isso, Debby Ryan, trabalhadora no canal Disney, apenas recantou “We Got the Beat” para o filme “Radio Rebel” (2012): “daqui radio rebel ao vivo da clandestinidade. Não sabem quem eu sou, mas eu sei quem são, porque sou uma de vocês. As notas saíram hoje. Tive um menos em Participação, mas não me podem dar um menos pelo que sou! Mas já que se dão notas, vou dar a todos nós no liceu Lincoln Bay um 1 por nos rotularmos uns aos outros: atletas, excluídos, totós, rainhas e amigos populares e novos populares. Malta, isto são tudo rótulos, não quem somos mesmo! Houve uma altura em que ser diferente era bom, agora as diferenças dividem-nos, merecem assumir a vossa magia, defendam quem são, rejeitem o status quo, atrevam-se!”.
 [2] Cavaco Silva nos Açores: “eu gosto de melão, sabe?”. “Agora ‘tou aqui nos Açores, e estando nos Açores a minha preferência vai claramente aqui para esta meloa, tenho uma certa esperança de poder prová-la durante o almoço”. “Toda a chuva que chegar agora é abençoada. Portanto nós, ontem eu reparava no sorriso das vacas, que estavam satisfeitíssimas olhando para o pasto e verificando que ele estava a ficar mais verdejante”.
[3] Cavaco Silva, do lado dos bons, os economistas, continua a radiografia dos maus, os políticos: “o facto de a permanência no poder (de que resulta poder pessoal, prestígio e compensação material) constituir o principal objetivo dos políticos poderia conduzir a que as decisões tomadas na base do seu interesse pessoal fossem também consistentes com a maximização do bem-estar social. Contudo, as imperfeições do mercado político do mundo real fazem com que as divergências possam ser significativas”.
[4] José Correia Guedes, o copiloto, relatou: “o ano era 1980, uma terça-feira, 6 de Maio. O meu trabalho para esse dia era tudo menos violento, pensava eu, já que apenas tinha sido escalado para fazer um voo doméstico, de curta duração, que me levaria de Lisboa a Faro, com regresso uma hora mais tarde. O avião era um Boeing 727-100 já em fim de carreira, com a reforma antecipada pelo ruído e pelo consumo excessivo dos seus reatores Pratt and Whitney. No cockpit sentavam-se o comandante Coutinho Ramos, o operador de sistemas S. Rodrigues e eu próprio, jovem copiloto em início de carreira. Na cabina, quatro assistentes de bordo e 83 passageiros”. (…). Só percebi o que havia quando o operador de sistemas, que vai sentado por trás do copiloto, me toca no ombro e diz: ‘está aqui um gajo armado que diz que quer ir para Madrid’. Voltei-me de imediato e vejo então um jovem, 15 ou 16 anos, que nervosamente segurava uma pistola apontada alternadamente a cada um de nós, ordenando-nos para seguirmos para Madrid sem mais demoras, enquanto tínhamos combustível. A porta do cockpit foi trancada e o comandante anunciou aos passageiros que por razões de ordem meteorológica o voo iria prosseguir para Madrid, discurso pouco convincente quando bastava olhar pela janela para ver o Algarve iluminado, praticamente desde Sagres a Vila Real de Santo António! Perguntei-lhe o nome, comecei a tratá-lo por tu, pedi-lhe para desviar a arma, ao que ele rapidamente acedeu. Pouco depois ele irá dizer a frase mágica que nos tranquilizou a todos: ‘os senhores desculpem o incómodo que estou a causar!’. ‘Estás desculpado’, aproveitei eu, ‘mas já agora diz lá o que pretendes com esta enorme trapalhada’. Foi aí que tomámos conhecimento das exigências para libertar as pessoas e o avião: nada menos que dez milhões de dólares e um salvo-conduto para a Suiça, faltando apenas saber a quem deveria ser pedido o dinheiro. Recomendamos que não fosse à TAP, já então com grandes problemas financeiros, pois tal poderia pôr em causa o nosso futuro e ele, o nosso ‘amigo’, não queria causar-nos mais dificuldades. Concordámos que deveria ser o primeiro-ministro, Sá Carneiro, a descalçar esta ‘bota’”. Sá Carneiro declarou mais tarde: “a garantia de que será tratado de acordo com as condições de acordo com a sua idade, com as circunstâncias e com toda a humanidade, mas também com a atuação necessária à prevenção de casos idênticos”.

na sala de cinema

No filme “Easy A” (2010), Olive Penderghast (Emma Stone): “que é feito do cavalheirismo? Só existe nos filmes dos anos 80? Quero o John Cusak (“Say Anything”) com uma aparelhagem à minha janela. Quero partir num cortador de relva com o Patrick Dempsey (“Can’t Buy Me Love”). Quero o Jake de ‘Sixteen Candles’ à minha espera à porta da igreja. Quero o Judd Nelson (“The Breakfast Club”) a erguer o punho por saber que me conquistou. Só por uma vez, quero que a minha vida seja como um filme dos anos 80. De preferência, um com um número musical sem motivo aparente (“Ferris Bueller’s Day Off”). Mas não. Não. O John Hughes não realizou a minha vida. Em vez disso tudo, posso poupar 15 cêntimos num frasco de gel antibacteriano Juniper Breeze”. – “A melhores 20 cenas de nudez na história dos filmes para adolescentes dos anos 80”. A nudez gratuita é barata… e boa: “Porky’s” (1982), o balneário feminino, o local inefável do liceu, faísca incendiária das hormonas masculinas: “1954, um grupo de estudantes do ensino secundário da Florida planeia perder a virgindade. Vão ao night-club Porky’s fiando-se que podem contratar uma prostituta para satisfazer os seus desejos sexuais. Porky saca-lhes o dinheiro e humilha-os atirando-os no pântano”. No filme, Kim Cattrall é “miss Lynn Honeywell”, conhecida por “Lassie” porque uivava durante o sexo, descontrolava-se, excitada, com o cheiro de homem nas roupas suadas no ginásio. “Risky Business” (1983), “Joel Goodson” (Tom Cruise), e “Lana” (Rebecca De Mornay) copulam no Chicago “L” ao som dos Tangerine Dream. Joel, estudante da zona rica de Chicago, depois de enfiar o Porsche do pai no lago Michigan, confrontado com a conta da oficina, safa-se com a chave do sucesso do capitalismo americano: a livre iniciativa na criação de negócios: transforma a casa num bordel para os seus amigos ricos molharem o pincel em putas de luxo, colegas de Lana, enquanto os pais estão ausentes. Só pelo cartaz venderam-se muitos Ray-Ban Wayfarer. "Blame it on Rio"(1984), “Jennifer Lyons” (Michelle Johnson) e Nicole ‘Nikki’ Hollis (Demi Moore) em topless numa praia do Rio de Janeiro. Johnson tinha tetas, mas não idade para as mostrar, os pais autorizaram, Moore tinha idade, mas não tetas, o cabelo disfarçou. Jennifer consuma o seu desejo por “Matthew Hollis” (Michael Caine), o melhor amigo do pai: “nunca esquecerei a maneira como o sentia, a maneira como nós nos sentimos, nada perfeito, porém, demorará um mês para tirar toda a areia do meu umbigo”. “Malibu Express” (1985), a “condessa Luciana” (Sybil Danning), é a ligação do detetive particular e playboy azeiteiro texano “Cody Abilene” (Darby Hinton) ao jet-set envolvido na venda de tecnologia informática aos russos. A mútua esfregadela de “May” (Barbara Edwards) e “Faye” (Kimberly McArthur) no chuveiro foi rotulada de “uma das mais sensuais cenas lésbicas topless na longa e sensual tradição de cenas lésbicas no chuveiro”. “Return of the Living Dead” (1985), “Trash” (Linnea Quigley): “bem, para mim, a pior forma de morrer, seria um bando de velhos rodear-me e começar a morder-me e a comer-me viva. (…). Primeiro, eles rasgavam-me as roupas”. Um produtor escandalizou-se com a sua lisura púbica, que lhe desprotegia a vagina aos olhos dos espetadores, a cena da dança na cripta já tinha sido filmada, nas outras, camuflaram-lhe o sul com uma “inexpressiva prótese de boneca Barbie” nas virilhas. Quigley é “rainha do grito”, expressão nos filmes de terror para “jovem donzela em perigo”: “uma das diferenças entre a minha ligação com os filmes de terror e as rainhas do grito das gerações passadas é que eu não desmaio tanto” –, guitarrista e vocalista das Skirts, modelo e produtora. “Just One of the Guys” (1985) “Terri Griffith” (Joyce Hyser), uma adolescente, do curso de jornalismo, em Tucson, Arizona, faz uma mamaçuda declaração de que é gaja. “A minha vida mudou depois de ‘Just One of the Guys’. As pessoas pararam de olhar para a minha cara e, em vez disso, olhavam para o meu peito”.

no aparelho de televisão

Ana dos cabelos ruivos” (1979), série de anime baseada no romance “Anne of Green Gables” da escritora canadiana Lucy Maud Montgomery, estreada em 1987 no programa “Agora, escolha”, da RTP: na ilha do Príncipe Eduardo, no Canadá, na quinta Frontão Verde, os irmãos Marília e Matias pretendiam adotar um rapaz, por confusão burocrática recebem Ana Silvestre, eles afeiçoam-se à sonhadora e entusiasta criança e não a devolvem. “As Aventuras de Tom Sawyer” (1980), estreou na RTP em 1981, série de anime japonesa dirigida por Hiroshi Saitô, sobre o livro de Mark Twain: nos finais do século XIX, depois da morte dos pais, Tom vive na casa da tia Polly em S. Petersburgo com o seu irmão Cid. Tem uma paixoneta por Becky, cujo coração também palpita por ele, e, em vez de ir à escola, investe nas traquinices com o seu amigo Huckleberry Finn, um miúdo vadio, abandonado pelo pai, e obvia má influência. “As aventuras do Bocas” / “Ox Tales” (1987-88), estreado na RTP em 1989, uma co-produção nipo-holandesa, baseada nas tiras cómicas de Wil Raymakers e Thijs Wilms, sobre as aventuras numa quinta, profusa de animais de toda a espécie, de um boi e o seu melhor amigo, a tartaruga Ted. Na ora do soninho, o “Vitinho” (1986), cantado por Isabel Campelo. Foram realizados quatro “Boa noite Vitinho”, todos com música de José Calvário, letra de José Mendes Martins: 1988, cantado por Dulce Neves e o Coro Infantil da TAP; 1991, cantado por Eugenia Melo e Castro; 1992-96, cantado por Paulo de Carvalho. Na hora do marketing venderam-se bonecos, almofadas, livros, discos, à fartazana. O boneco fora criado a 2 de Fevereiro de 1986 por José Maria Pimentel, para uma campanha publicitária da Milupa, (fabricante alemão de comida para bebé), e venceu o concurso da RTP para o espaço “Boa Noite”, para sugerir nas crianças hábitos de cedo deitar.

na aparelhagem stereo

Stock Aitken Waterman (abreviado como SAW) foi um trio de compositores e produtores britânicos, consistindo em Mike Stock, Matt Aitken e Pete Waterman. O trio teve enorme sucesso de meados até final da década de 80 e princípio de 90. SAW são considerados uma das mais bem sucedidas parcerias de composição e produção de todos os tempos, registando mais de 100 êxitos no top 40 britânico, vendendo 40 milhões de discos e ganhando uma estimativa de 60 milhões de libras (74 milhões de euros). (…). Em janeiro de 1984, logo após conhecer Mike Stock e Matt Aitken, Pete Waterman pediu-lhes para trabalharem com ele na sua recém-formada companhia de produção. Uma das suas primeiras colaborações foi a participação do Chipre no Festival Eurovisão da Canção em maio de 1984, onde o cantor grego Andy Paul trauteou a canção SAW “Anna Maria Lena”. O seu estilo inicial era criar música de dança Hi-NRG (“high energy”, do final de 1970, mescla de disco rápido e música de dança eletrónica), com “You Think You’re a Man”, por Divine (#16 top inglês, julho 1984) e “Whatever I Do”, por Hazell Dean (#4 top inglês, julho 1984). Eles alcançaram o seu primeiro single nº 1 em março de 1985 com “You Spin Me Round (Like a Record)”, pelos Dead or Alive”.
Som SAW:
Mel and Kim ▬ “Respectable” (1987) ♫ Bananarama ▬ “Love in First Degree” (1987) ♫ Kylie Minogue ▬ “I Should Be So Lucky” (1988) ♫ Rick Astley ▬ “Together Forever” (1988) ♫ Sinitta ▬ “Cross My Broken Heart” (1988) ♫ Brother Beyond ▬ “The Harder I Try” (1988) ♫ Hazell Dean ▬ “Who's Leaving Who” (1988) ♫ Sabrina ▬ “All of Me (Boy Oh Boy) ” (1988) ♫ Stock Aitken Waterman ▬ “S.S. Paparazzi” (1988) ♫ Sonia ▬ “You’ll Never Stop Me Loving You” (1989) ♫  Samantha Fox ▬ “I Only Wanna Be With” (1989) ♫ Reynold Girls ▬ “I'd Rather Jack” (1989) ♫ Jason Donovan ▬ “Too Many Broken Hearts” (1989).