O
albergue português
1982.
Os bons predicados são complementos diretos dos quais os bons líderes, “os
portugueses de boa vontade”, os líderes bons “a favor das garantias e dos
direitos”, repristinam fianças nos galos de amanhãs que (cantam) cocorocó [1]. Predicar um povo é pois aripar para extrair uma
nação, e de todos um - Salazar - por todos desabotoou os dons do português: “bondoso,
inteligente, sofredor, dócil, hospitaleiro, trabalhador, facilmente educável,
culto” [2].
Hospitalidade
às terças e quintas em 1982 no aeroporto da capital de um bondoso povo: “embaixada
de Israel, companhia de aviação El-Al, comunidade judaica portuguesa: os três
elos de uma complicada cadeia de que emerge um sofisticado serviço de segurança
armado que às terças e quintas faz lei no aeroporto de Lisboa. A embaixada de
Israel é o centro nevrálgico do sistema e são os agentes israelitas que
asseguram a proteção pessoal do embaixador [Dov Milman] quem comanda as operações.
Nesses dias a PSP e a segurança do aeroporto ficam reduzidas ao papel de
figurantes” [3]. Os serviços secretos judeus,
“os seus homens movimentam-se em áreas públicas e reservadas como se estivessem
em pleno aeroporto de Telavive. Emissores-recetores em punho, trajando
civilmente e, muitas vezes, sem qualquer cartão identificativo à vista, os mossads comandam umas dezenas de jovens
judeus portugueses, que se ocupam das tarefas menores. Metralhadoras Uzi na
pastinha, olhos atentos e falando hebraico, deslocam-se por todo o lado,
inclusivamente nas pistas. Ocupam o terreno, instalam-se nos lugares
estratégicos, vigiam, revistam, interrogam, ameaçam, intimam. Quem manda são
eles! A PSP e a segurança do aeroporto são ultrapassadas, subalternizadas,
espezinhadas. Se, eventualmente, têm algo a dizer-lhes, ou falam em inglês ou
têm de passar pelo vexame de se dirigir aos adolescentes portugueses (judeus)
que depois contactam os chefes. É dia de voo da companhia aérea israelita El-Al
e as autoridades portuguesas dão-lhes carta branca para tudo [4]. Até para dispararem a torto e direito como
fizeram na Páscoa de 1979 no aeroporto de Zaventem, em Bruxelas” [5].
Ângelo
Correia [6], ministro da Administração Interna, acobertado
na inexistência de um serviço de informações em Portugal e na sua cara de
honesto que, Deus, do tosco barro lhe moldou, invocava santa ignorância das
liberdades territoriais da Mossad. Quando lhe chegou a Mossad ao nariz ele
endurou: “o problema foi solucionado”, “neste momento a lei portuguesa está a
ser respeitada”, “tomámos as medidas legais que achamos corretas e a situação
alterou-se de facto apesar de ter sido criada já em 1977” . E nessa lei
portuguesa: “qualquer cidadão, nacional ou estrangeiro, desde que devidamente
autorizado, pode trazer consigo armas de defesa, mas não armas de guerra. Como
lhe disse, neste momento a lei está a ser respeitada”. Detalhes sobre esse
respeito? o ministro é mais duro que Clint Eastwood e dispara: “vá ao aeroporto
e logo verá” [7].
Quarta-feira,
20 de outubro, fuma-se na primeira loja
legalizada de venda de marijuana num centro de juventude em Enschede, no final
do ano, apaga-se, por overdose de
competitividade. “A Holanda encerrou a primeira loja de venda de haxixe e
marijuana testados pelo Governo entre protestos dos alarmados países vizinhos,
embora as autoridades municipais insistam que a venda de drogas leves
regressará. As autoridades judiciais anularam a aprovação da Câmara Municipal
de Enschede, para uma loja de erva no centro de juventude Kokerjuffer, que
tornou a cidade fronteiriça um lugar popular para jovens alemães ocidentais,
britânicos, suecos e holandeses”.
– E assim os sons de fumos moles expiraram: Eric Burdon
& the Animals “A
Girl Named Sandoz” (1967), Captain Beefhart &
His Magic Band “Ah
Feel like Ahcid” (1968), Bob Marley “Kaya” (1978), Ravi Shankar “Improvisation on the Theme Of
‘Rodukan’” (1978), The Fall “Totally Wired” (1980), Bonobo "Sugar Rhyme" (2000): "Rhythm captivates me / I feel it stimulate me" (modelo: Sonya Marmeladova) [8].
Quarta-feira,
27, “a madrugada de hoje foi abalada por quatro explosões, tendo três delas
ocorrido nas instalações provisórias de uma empresa de construção civil, junto
ao cemitério da Costa da Caparica, e a outra na vivenda do comentarista
económico da RTP, Francisco Sarsfield Cabral, em Algés, nas proximidades do Forte
do Alto do Duque, onde funcionou o comando do COPCON. (…). Os prejuízos
limitaram-se a um canteiro e a alguns vidros partidos na casa de Sarsfield
Cabral, e na destruição de tapumes de madeira, na Costa da Caparica. Sarsfield
Cabral (…) encontrava-se em casa juntamente com a mulher e com dois dos seus
três filhos. O engenho de fabrico artesanal deflagrou cerca das 2 e 45, tendo
sido acionado por um sistema de rebentamento retardado”. Sarsfield ignora que tenha pisado calos
políticos e barrunta “que isso tenha a ver com a minha presença, mais ou menos
constante, nos ecrãs da televisão”. Os rebentamentos na quinta de Santo António,
na Caparica, “tudo parece apontar para uma ação de retaliação, para com um
empreiteiro, pelo facto de este ter vedado uma zona que permitia aos moradores
alcançarem as paragens de autocarros para Lisboa em cerca de dois minutos, ao
contrário do que acontece agora em que levam aproximadamente vinte minutos, já
que são forçados a dar uma grande volta”. O comandante Anjo Negro dos Comandos
Operacionais de Defesa da Civilização Ocidental (CODECO) reivindicou a bomba
atirada pelas 23:20 contra a sede do CDS na esquina das ruas António Sérgio e
comandante Germano Dias, no bairro Augusto de Castro, em Oeiras, e também a autoria
das quatro explosões na Caparica e na casa de Sarsfield Cabral. “Afirmou que os
CODECO tinham sido criados no verão quente de 75 por Freitas do Amaral e que
ele e outros elementos da organização ‘tinham sido enganados e por isso pediam
agora perdão à esquerda’. Referindo-se aos rebentamentos da Costa da Caparica
salientou que os mesmos serviam apenas ‘para testar a capacidade de reação da
polícia e, quanto ao atentado à casa de Sarsfield Cabral foi, ‘por se tratar de
um protegido de Proença de Carvalho”. O CODECO “tenta não fazer vítimas
inocentes”, luta contra a Aliança Democrática (AD) e os alvos são “a nova PIDE
- o DCCB (Divisão Central de Combate ao Banditismo) - Diogo Freitas do Amaral,
Ângelo Correia e Francisco Balsemão”. “Vamos utilizar as armas e os explosivos
comprados pelo CDS e só paramos quando a AD cair”.
Terça-feira,
16 de novembro, “um novo serviço telefónico público, que dispensa a utilização
das habituais moedas, foi hoje inaugurado na Madeira. O Funchal passa, deste
modo, a ser a primeira cidade portuguesa a dispor do Credifone, programado na
próxima fase para o Algarve. Trata-se de um cartão equivalente a 25 ou 105
impulsos, à venda nas estações dos CTT. (…). Introduzindo o cartão numa
ranhura, um viso luminoso fornecerá imediatamente a indicação do número de
impulsos que o cartão permite gastar. Dispondo de crédito, o utente poderá
fazer a marcação do número desejado, com a particularidade de estes aparelhos
serem equipados com marcadores de teclas, ainda pouco vulgares entre nós.
Estabelecida a ligação, um minúsculo raio laser existente dentro do aparelho
vai abater o número de unidades gastas. O fim do crédito é anunciado 15
segundos antes, por um sinal sonoro no auscultador, ao mesmo tempo que se
acende um sinal luminoso no mostrador do aparelho”. “As primeiras cabinas
Credifone do Funchal estão instaladas nas estações dos correios da avenida
Zarco, da Monumental e do Mercado, junto ao café Funchal e na Direção Regional
de Turismo” [9].
Segunda-feira,
6 de dezembro, “Sérgio Godinho [10] acusou a Polícia
Federal do Rio de Janeiro de o ter torturado, nomeadamente com choques
elétricos. O cantor prestava declarações na 4ª Vara Federal Criminal do Rio, no
âmbito do processo que está a ser instruído contra ele pela juíza Julieta
Machado, e disse que além dos choques elétricos foi várias vezes sujeito a
espancamentos”. Na sessão à porta fechada “Sérgio fez uma denúncia
pormenorizada dos maus tratos que lhe têm sido aplicados na prisão, tendo sido
proibida a entrada na sala à advogada do consulado português, Ofélia Guerreiro,
com o pretexto de que vestia calças”. Ao Expresso o cantor pormenorizou: “logo
após ter sido preso fui levado para a Polícia Federal na praça Mabuá, no centro
do Rio de Janeiro, onde fui encapuçado. Apenas com uma luz sobre a minha cara,
o torturador, sob ordens do delegado de piquete, aplicou-me socos na barriga e
choques elétricos na cabeça, atrás das orelhas. A todo o momento ameaçavam-me
de morte. Com as mãos atrás das orelhas, sob ameaça constante, fizeram-me
caminhar pelos corredores durante longo tempo, interrogando-me comigo sempre
encapuçado”. Ele fora preso no aeroporto, dia 15 de novembro pelo seu nome
constar da lista das pessoas proibidas de entrar no país, quando era
interrogado, 15 gramas
de erva apareceram-lhe por magia na bolsa. “Em declarações gravadas pela RTP, o
cantor afirmou que não tinha consciência de estar em situação ilegal porque
havia sido absolvido em 1971, na sequência do processo que lhe foi movido, bem
como ao grupo Living Theatre com quem se encontrava no Brasil”. Sexta-feira, 31
de dezembro, pelas 07.20, aterrava o avião com Sérgio Godinho expulso por
decreto do presidente brasileiro João Figueiredo: “o processo continua e vamos
lutar pela absolvição. Penso que isso é muito importante e que só a absolvição
poderá, de certo modo, reparar a injustiça que foi cometida”.
___________________
[1] O país nunca foi manco de
dirigentes. Passados, bem passados. Presentes, bem presentes. Futuros bem
passados. Alberto João Jardim no futuro (2012) plantará: “hoje temos um país
que está esclerosado. ‘Tão esclerosadas e desacreditadas as forças políticas
deste país, desde a direita até à esquerda, o povo quer outra coisa … o povo
português aguarda mudanças, o povo português está à espera que os portugueses
de boa vontade se unam numa nova frente, numa frente de, para uma nova
república, se unam numa FNR, uma Frente para uma Nova República, que dê uma
grande volta ao presente estado de coisas e que se saia deste marasmo que os
instalados, quer à direita quer à esquerda, tudo fazem para conservar”. Paulo
Portas (2009), na Assembleia
da República , num registo documental David Attenborough
refundido atrás do arbusto: “é por esta porta que o primeiro-ministro [José
Sócrates] costuma sair. Uma das razões, pra ele, democraticamente!, por vontade
do povo, em 2009 sair do Governo, é que ele não está a respeitar os direitos dos
contribuintes. E foi por isso que o CDS neste! orçamento, decidiu apresentar
uma série de propostas a favor das garantias e dos direitos do contribuinte,
que nós temos muita! honra em ser o partido que mais o protege: o contribuinte
que cumpre com os seus deveres fiscais, mas não podemos aceitar que a
administração neste momento exija ao contribuinte mais do que a lei a habilita
pra exigir. É isso que eu tenho chamado fanatismo fiscal, o Estado
querer cobrar mais, sempre mais, o que a lei deixa, e o que a lei não deixa. E
por isso, propusemos medidas simples, cujo custo é zero, mas que têm uma enorme
eficácia do ponto de vista da justiça pr’os cidadãos”.
[2] Cinzelou Salazar seu povo:
“excessivamente sentimental, com horror à disciplina, individualista sem dar
por isso, falho de espírito de continuidade e de tenacidade na ação. A própria
facilidade de compreensão, diminuindo-lhe a necessidade de esforço, leva-o a
estudar todos os assuntos pela rama, a confiar demasiado na espontaneidade e
brilho da sua inteligência”, em “Entrevistas a Salazar” de António Ferro. No
seu livro “Portugal” o suíço Gonzague de Reynold completa: “mais sensível do
que racional e razoável, o português tem dificuldade em compreender princípios.
Daí essa fraqueza do indivíduo e da nação, essa dificuldade em construir uma
ordem estável, uma ordem moral ou política, porque o fundo é movediço”
[3] O país é a melhor agência
de casting de figurantes do mundo, nas
visitas papais, tiveram mesmo falas e pequenos papéis. Em 1982 João Paulo II visitou
Portugal para agradecer a sobrevivência ao atentado de 13 de maio de 1981: “a
minha peregrinação em terras portuguesas foi toda ela marcada pela presença de
Maria”, que lhe salvara o couro das balas do turco Mehmet Ali Ağca. E no
Angelus de domingo 16 de maio, recém-regressado da visita portuguesa, na janela
dos seus aposentos no Vaticano, agradecia a figuração: “povo lusitano, pelo
entusiasmo e generosidade com que se encontraram comigo, facilitando o meu dever
de pastor”. Em 2010, Bento XVI, assumindo-se como peregrino de nossa senhora de
Fátima, no seu primeiro discurso cita o cardeal Cerejeira: “não foi a Igreja
que impôs Fátima, dizia o cardeal Manuel Cerejeira, de veneranda memória, mas
Fátima que se impôs à Igreja”. Bento XVI em Fátima: “aqui estou como um filho
que vem visitar a sua Mãe e que o faz na companhia de uma multidão de irmãos e
irmãs”. As televisões entrevistavam figurantes nas ruas do país catando
papáveis opiniões, uma jovem simplesmente Mafalda definia o Papa “como uma
pessoa querida que acredita que toda a gente é capaz de fazer uma coisa muito
importante que é para ele… ele hoje veio cá, eu pensava que ele não me ia ver,
ele olhou para mim, eu senti aqui uma coisa que nunca vou esquecer, senti um
aperto, não dá para explicar, cada pessoa sente uma coisa mesmo especial quando
ele olha e é muito importante para cada pessoa sentir isso”. Uma jornalista da
RTP na Praça do Comércio: “vou perguntar aqui a esta menina, como foi ver o
Papa tão perto aqui mesmo à tua frente”; a criança retruca: “muito giro”; a jornalista
elabora: “sentiste alguma coisa de especial?”; a criança: “amor”; a jornalista
para outra menina: “e tu? O que é que sentiste quando viste o Papa?”; a outra
menina: “eu adorei”; a jornalista extrai reportagem: “e sentiste alguma coisa
especial? Sentiste alguma coisa por dentro? Sentiste alguma emoção?”; a mesma
menina: “sim, senti uma emoção, por dentro”. Para Bento XVI Portugal é um “país
rico em humanidade e cristianismo”. Em Fátima, celebrou as Vésperas com
seminaristas de todo o mundo na igreja da Santíssima Trindade, ofereceu uma
rosa de ouro ao Santuário e dormiu duas noites na casa de Nossa Senhora do
Carmo. O presidente da República Cavaco Silva ofereceu-lhe um santo António em porcelana
e um livro bilingue com os sermões do santo. O primeiro-ministro José Sócrates recolheu
durante 25 minutos na Nunciatura Apostólica de Lisboa com o Papa, levou na
bagagem Silva Pereira, ministro da Presidência e Luís Amado, ministro dos
Negócios Estrangeiros, no final rejubilava, a economia crescera 1,7%: “por
acaso teria sido uma boa ideia referir a Sua Eminência o facto de termos tido
hoje grandes notícias do crescimento económico em Portugal. Isso
podia associar-se à visita do Papa a Portugal, mas não tivemos ocasião de
também falar nisso”. Milagre, milagre, disse Sócrates: “Portugal registou o
maior crescimento económico da Europa no primeiro trimestre deste ano, a economia
recuperou e está a recuperar. Portugal foi o primeiro país a sair da condição
de recessão técnica e o que melhor resistiu à crise”.
Cavaco Silva na hora da despedida: “Portugal despede-se de vós revigorado pela
mensagem de esperança e de confiança que nos deixais. Vemos partir o Santo Padre
com um sentimento que nenhuma outra língua ainda soube traduzir em toda a sua
profundidade e que reservamos aos que nos aos mais queridos a Saudade”. Bento XVI:
“em Fátima rezei pelo mundo inteiro pedindo que Fátima traga maior fraternidade
e solidariedade, um maior respeito recíproco, uma renovada confiança e confidência
em Deus, no seu Pai que está nos céus”. A alcatifa vermelha que seus
Santos Sapatos pisaram no aeroporto militar de Figo Maduro, Lisboa, foi
recortada por voluntários para fazer 15 mil registos de arte sacra para venda.
[4] “Esses serviços são
dirigidos e coordenados por estrangeiros que falam hebraico – os controladores. (…). Outros
estrangeiros, colocados em locais estratégicos do aeroporto (…) que podemos
denominar de operacionais. (…). No
escalão inferior estão várias dezenas de jovens portugueses (…). Ostentando
livres trânsitos que os credenciam como estando ao serviço da companhia de
aviação israelita, estes tarefeiros
também não dispõem de fardamento”. “Os tarefeiros, por seu lado, estão
espalhados por todas as frentes. Falando português, escutam conversas, observam
pessoas e objetos, bagagens abandonadas, caixotes do lixo e seguem instruções
de elementos mais velhos, igualmente portugueses”, no Diário de Lisboa.
[5] No dia 16 de abril,
segunda-feira de Páscoa, dois homens de tez mediterrânica, sob a sigla
desconhecida de Março Negro, tentam dominar o Boeing 707 El-Al voo 334 em
trânsito de Telavive para Viena. “René Ackam, um repórter do quotidiano de
Bruxelas Le Soir assiste estupefacto: uns 20 jovens à civil reagem prontamente
contra os terroristas começando a disparar pequenas metralhadoras que retiram de
pastas e sacos”. Os dois palestinianos, que atiraram duas granadas na área duty free,
são capturados depois do tiroteio. Husseini Rad Mahmoud, 3l anos, e Shalad Dayekh
Khaled Dokh, 26, confessarão a intenção de matar o maior número de passageiros
possível e são condenados a oito anos de cadeia cada em 16 de agosto. Sobre a
questão quem eram os civis armados? O Governo belga é governo: “estudantes
estrangeiros aos quais é autorizado o porte de arma em certas zonas do
aeroporto”.
[6] Ângelo Correia, o mais
duro dos portugueses, mais duro que a pedra da sopa, no futuro (2012) enchumaça
os seus: “nós criamos a ideia que todo o cidadão da elite portuguesa é um
malandro, um criminoso e um bandido”, no programa da tvi24 Olhos nos olhos. No
mês de outubro de 1982, o ministro Ângelo Correia, malandreco, considerava “inoportuno”
a divulgação do relatório dos procuradores-adjuntos da República, Francisco
Xavier de Melo Sampaio e Nuno da Silva Salgado, sobre os espancamentos e mortes
obra da sua musculada polícia no 1.º de maio no Porto. “As cargas dos elementos
do Corpo de Intervenção (CI) levadas a cabo, quer na avenida dos Aliados, quer
na praça da Liberdade, contra manifestantes e ainda contra muitas das pessoas
que nada tinham a ver com as manifestações e que descuidadamente passavam
naqueles locais, muitas delas dirigindo-se para suas casas, depois de terem
saído dos vários cinemas e teatros da cidade, mormente do teatro Rivoli, onde
naquela noite o Orfeão Universitário do Porto tinha realizado um espetáculo,
assumiram expressões de inusitada e desnecessária violência”. “Com efeito,
elementos do Corpo de Intervenção agrediram indiscriminadamente todas as
pessoas que encontravam à sua frente, à bastonada e a pontapé, e às vezes
com obscenidades, independentemente do sexo e idade, quer arremessassem
pedras ou nada fizessem, quer seguissem na rua ou estivessem paradas, mormente
abrigadas nas paragens dos autocarros ou nas soleiras dos prédios. Todos eram
agredidos, muitas vezes de forma selvática, e por mais de um elemento policial
contra a mesma pessoa, mesmo que esta se encontrasse no chão e indefesa”. O CI
matou duas pessoas, algo que para ministro que não é bandido, é apenas má
sorte. “Pedro Manuel Sacramento Vieira, foi atingido pelas costas por um
projétil de calibre de 7,65
milímetros , cerca das zero horas e trinta quando, com um
grupo amigos, corria vindo da praça Almeida Garrett – onde o Corpo de
Intervenção já andava a atuar”. E na morte de Mário Emílio Pereira Gonçalves “um
dos polícias destacou-se do grupo e das proximidades do quiosque”, na esquina
da rua do Corpo da Guarda com a rua Mouzinho da Silveira, “apontou a pistola
que trazia consigo, já empunhada, e com ela disparou dois tiros em direção ao
Mário Emílio, o qual foi atingido logo com o primeiro disparo, no maxilar
superior esquerdo, na altura em que voltava ligeiramente a cara para olhar na
direção do elemento policial agressor”.
[7] “A única coisa que
pudemos constatar foi a
presença de um maior número de agentes da PSP, tanto fardados
como à civil (…). Um elemento da guarda pessoal do embaixador israelita lá
estava mas mesmas funções (…), muitos dos operacionais sem qualquer distintivo
do aeroporto que até aqui andavam de sacos e malas, onde guardavam as suas
metralhadoras Uzi, passeavam-se mais discretamente que de costume e pareciam
trazer… sacos mais pequenos! (…). Os tarefeiros pareciam menos numerosos e o
conjunto da sua atuação menos arrogante e um pouco mais discreto”.
[8] A Holanda é segundo
mercado de Fado.
[9] Alberto João Jardim em
1980 visitava Lisboa pelo dinheiro: “exatamente. Esta reunião vem na sequência
de reuniões já anteriores. Houve portanto que apressar estratégias comuns em
função das relações com os órgãos de soberania”. Em 1979 o défice orçamental
das duas regiões autónomas foi quase todo suportado pelo Orçamento Geral do Estado.
Alberto: “o critério encontrado da cobertura do défice do ano passado,
significou já um passo em frente em relação ao antecedente, no entanto
entendemos, os dois Governos das regiões autónomas, que ainda não está cumprido
o preceito constitucional, concretamente o artigo 231 nº 2 que diz que o Estado
português tem regiões, que estão feridas de insularidade e cujos custos devem
ser suportados pela República”. O jornalista pergunta-lhe pelo montante do défice?
Alberto: “neste momento está em elaboração. O ano passado, o défice montou à
volta de 3 milhões e meio de contos”; jornalista: “será inferior ou superior?”;
Alberto: “Ainda é cedo para lhe poder dar os números concretos”.
[9] No futuro, 2013, haverá outras
esperanças musicais, as Pretty Little
Demons – “Maps” ♪ “Violet” ♪ “Daisy”. Elas são: Lydia Night, guitarrista, cantora, compositora, baixo, teclas e Marlhy Murphy,
bateria, baixo, teclas, voz. Financiaram o seu primeiro álbum “Flowers” (“os prodígios rock and roll Lydia Night & Marlhy
Murphy trazem-lhe canções sobre temas tão pesados como dependência e morte ao
tráfego e margaridas”) através do Kickstarter
com um humorado vídeo.
As moças têm outros projetos musicais. Lydia, no seu primeiro show em Los Angeles : “Highway to Hell”. Marlhy, sova a bateria como
uma chefe, c/ os Purple
Hats and Jetpacks ou c/ os Zeppos em “Moby Dick”, o solo de John Bonham.
na sala de cinema
“Giggi il bullo” (1982) titulado na língua
de Fernão Mendes Pinto “João Broncas, o maior”, c/ a florestada atriz Adriana Russo, intelectualizada pela Playboy
italiana de fevereiro 1982 e também cantante, debutada no
cinema como Clara em “Un
sussurro nel buio” (1976) e mais desfigurada como a Dora de “Brutti, sporchi i cattivi”
(1976); e c/ o ator Alvaro Vitali, o João Broncas, um eletricista contratado
por Fellini para o papel do “imperador” de cara azul em “Satyricon” (1969). Vitali
estreia-se na commedia erotica all'italiana com duas lasanhas de carne amanteigada: Gloria Guida
em “La liceal” (1975)
e Edwige Fenech em “L’insegnante”
(1975). O apodo João Broncas distribuído pela distribuição
no país da bronquice cativou espectadores desde Viana do Castelo ao castelo de
Aljezur apodando: “Gian
Burrasca” (1983) de “João Broncas… o eterno repetente”; \ “Paulo Roberto Cotechiño
centravanti di sfondamento” (1983) de “ João Broncas, avançado fura-redes”,
c/ Carmen Russo,
1,65 m ,
96-58-93, dimensões cúbicas que duchava em “Mia
moglie torna a scuola” (1981); \ “Il tifoso, l’arbitro e il
calciatore” (1984) de “João Broncas e os malucos da bola”. – Vitali
protagonizou uma série própria como Pierino. “Pierino contro tutti”
(1981), título português “A turma dos malandros”, estreia no Avis a 12 de junho
de 1982: “Pierino é um adolescente irrequieto sempre a dizer piadas e a pregar
partidas a todos. O seu principal alvo é a professora e um dia acaba por ser
suspenso das aulas, o que o leva a preparar uma armadilha à professora que
acaba por partir um braço, sendo substituída por outra.
E por esta (Michela
Miti,
90-60-90, a glória de
Roma, página central da Playboy
de março 1981 e cantante)
Pierino apaixona-se completamente, mas tem a concorrência do professor de
Educação Física”.
Duas citações do filme: a professora distribui castigos, “tu! o que é que viste?”,
e Pierino vai às putas;
\ “Pierino medico della
SAUB” (1981), título português “O doutor charlatão”, estreia no Odeon a 7
de janeiro 1983; \ “Pierino
colpisce ancora” (1982), título português “O regresso da turma dos
malandros”, estreia no Roxy a 29 de abril 1983; \ “Pierino torna a scuola”
(1990) c/ Nadia
Bengala, 1,71 m , 96-65-89, no papel
da professora substituta Rizzi, não escolarizou a personagem Pierino que
declinou; Vitali ainda rodou mais dois: “Pierino Stecchino” (1992) e
“L’antenati tua e de Pierino” (1996). – Também no feminino, direitos iguais na
lerdice, com “Quella peste
di Pierina” (1982), c/ Marina Marfoglia, modelo fotográfica, atriz e bailarina, intelectualizada pela Playboy
de agosto 1979 e cantante,
e com Carmen
Russo no papel de sua irmã, Rosy Marcotulli. – A marca João Broncas
estendeu-se por outros filmes, dois deles com Edwige Fenech [1]: “La
soldatessa alla visita militare” (1977), título português “Ao ombro…
saias!”, estreia no Roxy sexta-feira 19 de maio 1978: “a rotina do acampamento
militar é abalada pela chegada de uma médica sargento muito picante, a bela soldado
Eva Marini, transbordando na sua mini-divisa”; \ e “L'insegnante va in collegio”
(1978), título português “A bomba no colégio”, estreia no Pathé sexta-feira 12
de janeiro 1979: a professora Monica Sebastiani é cobiçada por pai e filho.
Outro Broncas com Gloria Guida [2]: “La
liceale seduce i professori” (1979), título português “A liceal seduz o
professor”, estreia no Avis quarta-feira 5 de janeiro 1983: “para estudar
tranquilamente, longe das distrações da cidade, Angela Pascuale, é enviada por
seu pai para uma pequena cidade em Puglia, para casa de seu tio, o reitor da
escola, por sua vez vítima das piadas constantes dos alunos. Logo os seus
colegas apaixonam-se por ela, incluindo o tio e o primo, que toca às escondidas
numa banda e é amado pela peituda Irma”, (Donatella Damiani
intelectualizada pela Playboy
de outubro 1983). Gloria Guida canta duas canções no filme: “Come vuoi... con chi vuoi”
e “Stammi vicino”. E
ainda outro Broncas com Nadia Cassini
[3]: “La dottoressa ci sta col
colonnello” (1980), título português “A médica do coronel”: “o coronel
Anacleto Punch é um médico do exército que trabalha num hospital militar.
Durante uma conferência sobre transplantes teve a oportunidade de conhecer a sul
africana dra. Eva Russel que é uma mulher maravilhosa”.
__________________________________
[1] Edwige Fenech 1,70 m , 55 kg , 86-58-86, nascida para
despir em
Annaba, na Argélia, quando esta era uma colónia francesa: “oh,
é terrível. Especialmente as primeiras vezes nos filmes iniciais… eu não sabia
como me comportar e estava tremendamente envergonhada. Depois resignei-me, mais
do que acostumar-me… além disso estas são coisas que se tem que fazer nos
filmes, quer se goste ou não. O público exige-o. Certamente nunca é agradável
despir-se em frente de tantos técnicos e colegas atores. Tenho sempre a
sensação, quando me visto outra vez, que eles me olham como se não tivesse nada
em cima. E
nem quero falar do que sucede nos cinemas quando exibem os meus filmes… Foi ver
Madame Bovary novamente num cinema de estreias, e fiquei vermelha como uma
beterraba quando me vi nua na tela. Entretanto, o público começou a ficar
barulhento e a trocar comentários não publicáveis”. Alguma despidagrafia: “Samoa, regina della giungla”
(1968); “Madame
und ihre Nichte” (1969); “Die
nackte Bovary” (1969); “Lostrano vizio della signora Wardh” (1971); “Quel
gran pezzo della Ubalda tutta nuda e tutta calda” (1972); “La
signora gioca bene a scopa?” (1974); “Grazie… nonna” (1975); “La
dottoressa del distretto militare” (1976); “La
poliziotta fa carriera” (1976), título português “A mulher polícia faz
carreira”, estreia no Condes quinta-feira 26 de agosto 1976; “La
pretora”
(1976);
“La
vergine, il toro e il capricornio” (1977); “Taxi Girl” (1977); “L'insegnante
viene a casa” (1978), título português “A nova inquilina é… um espanto”,
estreia no Politeama quinta-feira 18 de outubro 1979 {filme completo}; “La
poliziotta della squadra del buon costume” (1979), título português “Uma
agente muito especial”, estreia no Avis quinta-feira 16 de dezembro 1982; “Io
e Caterina” (1980), título português “Eu e Caterina! Que maravilha!”,
estreia no Castil sexta-feira 3 de Junho 1983; “La
poliziotta a New York” (1981).
[2] Gloria Guida em “Peccati di gioventù”
(1975), estreia 1 de março 1980 no Estúdio 444.
[3] Nadia Cassini foi mais pré-histórica
que Rachel Welch em “Quando
gli uomini armarono
la clava
e... con le donne fecero din don”
(1971) c/ o grupo de rock progressivo
de Turim Alluminogeni na
banda sonora. Intelectualizada pela Playboy
de novembro 1977 e cantante.
no aparelho de televisão
“Eu Show Nico”, série de humor, autoria e
interpretação de Nicolau Breyner, transmitida na RTP1 aos sábados, entre 27 de setembro
1980 / 25 de abril 1981. No calão da época, Breyner era um “facho”, um fulano que
pugnava contra o perigo vermelho bufado das estepes russas, Mário Castrim
escreveu-lhe na estreia: “quando o anticomunismo assume as proporções ridículas
que atingiu no programa do Breyner, é de crer na existência de uma perigosa
paranóia. Este desgraçadinho mental nem ao menos concede aos soviéticos a
realidade dos seus grandes pianistas. Qualquer pessoa, incluindo a mulher de
limpeza, toca melhor do que o pianista soviético… Assim se atola no ridículo,
enfim, cada qual se suicida à sua maneira…”. Alguns divertidos quadros cómicos
do programa: “o expoente máximo da canção de Coimbra o sr. prof. dr. Bruchado Linhares”; - Bernardo
Pardo Abelho Culto com “Os
danos da cultura”; - o jogador
brasileiro Salvador, “eu
já salvei mais de vinte clubes de irem p’a 2ª divisão”: - momento musical com
os “Estalos e Bofetões”;
- no tribunal A testemunha
profissional Anaria da Purificação; - a associação para a preservação dos
animais “A preservativa”;
- a redação do jornal Folha
de Couve; - uma declaração de amor; - momento musical
com a Kaká de Belém; -
variedades com a girl band Cocktail (Fernanda de
Sousa, Camélia Conde e Maria Viana). A mesma prescrição breyneriana regressou
aos domingos entre 13 de dezembro 1987 / 23 de março 1988. “Humor de Perdição” (1988), Herman José aos
domingos na RTP1, c/ Ana Bola, José Estebes, Lídia Franco, Manuela Maria, Maria
Vieira, Maximiana, Miguel Guilherme, Rosa Lobato Faria, São José Lapa, Virgílio
Castelo, Vítor de Sousa e Artur Semedo no papel de Pato. Estreia dia 10 de Abril,
e as “Entrevistas Históricas” perderam-no do ar. “No dia 5 de junho de 1988, o
público não viu a entrevista à rainha Santa Isabel,
tendo sido a emissão cortada a meio do programa. No momento a seguir, José
Rodrigues dos Santos, num especial 24
Horas , viria dizer ao público que o programa teria sido
cancelado”. No dia seguinte o Gabinete de Imprensa da RTP divulga “uma posição
oficial, mas não um comunicado”: “o produtor (a Edipim) foi avisado de que as
entrevistas históricas teriam que ter um sentido diferente, tendo esse facto
sido implicitamente reconhecido pelo produtor. (…). É obrigação da RTP defender
os valores históricos e culturais de Portugal. Logo que estes requisitos sejam
observados as entrevistas históricas continuarão, segundo os poderes conferidos
à RTP no contrato realizado com o produtor do programa”. No dia 7, Herman José no
jornal a Capital: “Carlos Pinto Coelho [diretor de programas], que na altura da
suspensão estava em Oslo, convocou-me para uma reunião e, sem dar quaisquer
justificações, quer da atitude anterior, quer da atual, anunciou que eu podia
continua a transmitir as ditas entrevistas”. “Segundo ele (Herman) a entrevista
com a rainha Santa Isabel seria incluída no último programa da série, o 13º, em
que serão reunidos os melhores momentos do Humor de Perdição, enquanto Junot e
Almeida Garrett teriam a palavra na penúltima e antepenúltima edição”. Falou
demais, Carlos Pinto Coelho recuou e a proibição riu-se. “Os textos das nove
primeiras entrevistas da série foram escritos por Miguel Esteves Cardoso,
enquanto que as três últimas, aquelas que a RTP proibiu, são da
responsabilidade do próprio Herman José e de Rosa Lobato Faria, por
indisponibilidade do autor das primeiras”. Na quarta-feira 20 de junho, Herman
José, convidado no concurso de Fialho Gouveia, “Com pés e cabeça”, é
substituído por Eugénio Salvador. Em 14 de junho de 1997, Herman historia esta
baldroca numa entrevista ao jornal Expresso: “havia ordens para não se falar de
mim, o Fialho Gouveia tinha uma fotografia minha no concurso e teve de a tirar.
Estava-se no princípio da maioria de Cavaco, com o José Eduardo Moniz na
Informação e o vivo e moderno advogado Coelho Ribeiro (ex-SNI) é que mandava.
Tive uns telefonemazinhos de umas pessoas, antes de gravar o sketch. (…). O governo de Cavaco,
reforçado pela maioria absoluta, andava à procura da sua identidade e o maior
inimigo estava em Belém, era o Soares. (…). O primeiro Humor de Perdição era
malandro, anti-regime, anti-Teixeira da Cunha, com o Cavaco a ser imitado em
voz off. Foi o mais político e o mais
inteligente e divertido dos meus programas. No segundo programa, o Soares
foi-me visitar ao estúdio, assistindo a uma rábula, rindo, deixando-se
fotografar, e aparecendo a peça no telejornal do Henrique Garcia. Eles não
gostaram e vieram dizer-me que a coisa tinha mudado”. Em agosto de 1988, na Rádio
Gest, Herman ao mesmo tempo que se masculinizava: “não sou homossexual, se o
fosse já tinha casado e tido duas meninas – a Carla Vanessa e a Sónia
Cristina”, explicava o incómodo do Conselho de Gerência da RTP, que seria: “chegarem
a casa e verem os filhos a gravar o programa, a rir, a gritar ‘olha pra ela a
dar ao cu’”. Neste Conselho de Gerência cerziam, o presidente, Coelho Ribeiro, homem
do Secretariado Nacional de Informação e o vice-presidente, Braz Teixeira, ex-secretário
de Estado da presidência do Conselho de Ministros do Governo de Sá Carneiro. O
ministro da tutela era Couto dos Santos, ministro-adjunto e da Juventude, um
zero em História, vinte em tachos, será o presidente da Comissão para as
Comemorações dos Descobrimentos, 500 anos deles: “Vitorino Magalhães Godinho
veio a terreiro dizer que se deviam comemorar 550 anos e Oliveira Marques foi
mais longe, recuando as Descobertas até à expedição às Canárias na década de
1330, e defendendo a comemoração de 650 anos de descobrimentos portugueses”. As
“Entrevistas Históricas” não se distanciam da verdade. A rabetice de D. Sebastião é banida na
História sonhada pelos eruditos portugueses. O Desejado era papado pelos irmãos
Câmara, Luís Gonçalves da Câmara, seu confessor, e Martim Gonçalves da Câmara,
escrivão da puridade. Se não pelos dois, o primeiro deles molhava o bico. Ou a
fúria sanguinária de Afonso
de Albuquerque: “eu não era pra vir, hem? eu acho este programa uma
vergonha, uma vergonha, se eu fosse administrador, acabava com isto”.
na aparelhagem stereo
As
piedosas mentiras fazem girar as pás dos moinhos dos povos e o povo que leva no
rio e toma no bar também apanha. Em Portugal nunca houve “sexo, drogas & rock ‘n’ roll”, nossa idiossincrasia
sempre foi e será: “três coisas fazem vibrar a alma do Zé-povinho / a trindade
popular: guitarras,
mulheres e vinho”, Desgarrada de Lucília do Carmo e Fernando Farinha. O mar
enrola areia nos corações jovens, pequenos grãos de mentira, diz, porque a
trapacearam, a fadista Diana
Vilarinho (c/ 14 anos):
“o fado, tem muito a ver com os marinheiros, aliás diz-se que a origem do fado
tem a ver com os marinheiros que andavam pelo alto-mar. Acho que é uma ótima
ideia juntar estas duas coisas que na realidade estão sempre juntas”, em 2012
no Fado no Oceanário.
Este Fado in situ “é a experiência ideal para quem é turista em Lisboa e
pretende ver Fado ao vivo num cenário diferente e inesquecível, naquele que é
um dos equipamentos culturais mais visitados e recomendados por turistas da
cidade”, 60 € por pessoa sem jantar, 80 € com jantar, com marcação prévia de 25
inscrições no mínimo e 40 no máximo [1].
Entre
estas brumas sulfúreas os jovens sobem a ladeira para cima inclinada da vida de
azinheiro. Beatriz Nunes, a nova vocalista dos Madredeus: “os meus pais
são fãs dos Madredeus e eu nasci em 88. Os Madredeus são um projeto que arranca
em 87, o primeiro concerto dos Madredeus, os meus pais estavam lá batidos na
Aula Magna. Então é escusado será dizer que eu cresci a ouvir Madredeus”.
Vitorino, enquanto jovem boina: “com o Jorge Palma. Eu cantava em cima e ele
cantava em baixo. Ele
era mesmo underground. Eu cantava na
rua Saint-André-des-Arts e ele cantava no metro de Saint-André-des-Arts” [2].
Da
piedosa mentira edifica-se um país com espinhas. Ricardo Landum (2012): “música
pimba. Pimba não existe. Existe música comercial. Epá, nem, nem isso. Existe
música. Existe música. Existe público p’a toda a música. Existe música, epá,
uma música mais light, há outra
música mais profunda que nos… mas eu acho que a música toda tem a sua função.
Cada música tem a sua função, e penso que o comprador, o ouvinte, o recetor,
tem que procurar. Ele procura, naturalmente procura essa música, por isso é que
procura a música pimba, entre aspas, e procura outro, outro tipo de música. Se
uma música comercial, ligeira, me diz qualquer coisa, mexe comigo, epá, só
tenho é que gostar dela, e acabou, pra mim é boa. Ninguém é dono da verdade
absoluta. Ninguém! Não há música boa nem música má. Não me venham dizer que há
porque não há. Não é uma coisa palpável. Não é uma coisa quantificável. Não é!
é assim uma coisa de emoções, eu gosto ou não gosto”. Exemplo: Ágata quer seguir as
pisadas de Diana Krall: “não me reconheço como cantora pimba”.
Misericordiosa
peta venha a vós um país mercado para o arrendamento. António Manuel Ribeiro, comemorou
34 anos de carreira, em 2012, gravando “Ao Norte - unplugged”, em duas noites no Cine-Teatro de Fafe: “são espetáculos
que nós damos em salas com grande acústica, onde as pessoas ‘tão sentadas, e
portanto se disponibilizam para ver um todo. Nos concertos elétricos nós temos
um exorcismo frenético, no momento. E há uma coisa curiosa, uma amiga minha,
que faz rádio, disse-me há dias uma coisa giríssima: ‘finalmente, percebo a
letra dos Cavalos de Corrida’, ah ah ah ah”. Verónica Larrenne: “o Larrenne vem
do curso de design moda, em que eu
tinha muitos amigos meus, e até hoje são grandes amigos meus, gays, não é? (…). E não sei, eles
achavam qualquer semelhança entre mim e a Madonna e portanto, e chamavam-me la reine,
tu és a la reine, és a la reine. E para quem me está a ouvir,
mando um beijinho p’a o Gustavo, que ele ‘tá na Holanda, foi ele que me pôs o
nome”.
Do
país suspenso na Hispânia:
Mler ife Dada, Cascais, 1984.
Primeiro, foi o som do vozeirão de Deus: Da! Da! Da! Da! “Uma pequena costa de
Dada, eis o que é o surrealismo. Que André Breton não leve a mal! É também com
uma pequena costa que se fez, perdão, que Deus, que era um outro Breton, fez a
mulher” (Georges Ribemont-Dessaignes), “E Deus criou a
mulher”, criou Amber
Sym, 1,68 m , 48 kg , 86-60-86, natividade,
4 de novembro de 1989, Cyber
Girl do mês de novembro de 2012 [3]. Depois, a banda cascareja: Nuno Rebelo (ex-Street Kids), Augusto
França, Pedro D'Orey e Kim. Em junho de 1984, vencem o 1º concurso de música
moderna do Rock Rendez Vous. O prémio foi a gravação do EP “Zimpó” (1985), um tema em
português, e os outros dois, “Stretch My Face” e “Spring Swing” em inglês,
cantados por Pedro D'Orey. Este é substituído por Filipe Meireles, que sai para
cumprir o serviço militar obrigatório e Kim também deserta. Entram a cantora
Anabela Duarte dos Ocaso
Épico e Bye Bye Lolita Girl e os irmãos Zezé e Nini Garcia dos findos Urb. Gravam o single “L’amour va bien, merci”
(1986), dirá Anabela Duarte: “esse single
é uma pérola. Uma mina de ouro, na melhor das hipóteses... Adorei cantar,
adorei o estúdio de oito pistas, adorei a capa. Adorava os músicos e diverti-me
imenso a ver pelo vidro do estúdio a cara de prazer e de gozo do João Peste,
enquanto eu ia inventando o meu discurso em francês transcendental, falando na
devida desproporção entre emoção e sexo e cães a ladrar e política liberal e de
como o chá faz mal à garganta e outras coisas importantíssimas!... Adorava
ainda que fosse reeditado, mas ninguém me liga nenhuma”. Editam dois LPs
“Coisas que Fascinam” (1987) e “Espírito Invisível” (1989), prezado pela crítica,
desprezado pelas rádios. Sem radio play o trabalho escasseia, Anabela “experimenta
coisas diferentes com a voz e as letras” e debanda, a banda melhorou muito com
Sofia Amendoeira na voz e morreu de preguiça, Nuno Rebelo: “no fundo, pegámos
no instrumental de quatro temas do ‘Espírito invisível’ e fomos para estúdio
gravar a voz da nova vocalista, para dizermos que a Anabela saiu do grupo, mas
temos um disco com a nova voz do grupo. Não aconteceu assim e pouco tempo
depois o grupo acabou” ► com Sofia editaram
apenas o EP “Mler
ife Dada” (1990), estiveram no programa jogos sem fronteiras para crianças “Oito e oitenta” (1990),
apresentação / autoria Júlio Isidro, todos os concorrentes vestidos pela
Cenoura, apresentador vestido por Fratello Boutiques, agradecimentos ao
Complexo Turístico de Tróia; – na entrevista Júlio perguntou quem era a menina?
Nuno Rebelo: “a menina é a Sofia Amendoeira que é a nova cantora dos Mler ife
Dada”, Júlio: “então, como é que te aconteceu o convite?”, Sofia: “não foi um
convite foi…”, Júlio: “foi por concurso?”, Nuno: “foi uma oferta”, Júlio: “ah,
foi ela que se ofereceu? Foste tu que te ofereceste?” Sofia: “sim, encontrei a
Anabela no Conservatório, porque ela estava a gravar seis árias para ir a
Itália, e soube que ela tinha saído e perguntei-lhe o número de telefone do
Nuno, pronto, contactei com ele”, Júlio: “e já cantavas há muito tempo?”,
Sofia: “não. Nunca. Cantei em bares, pronto” ♪ Entre
Aspas, “os primeiros passos foram dados no verão de 1990 quando Tó
Viegas e Viviane foram convidados, como duo, para tocar no bar Morbidus em Faro. Na altura,
assinalaram a data do concerto numa agenda simplesmente com umas aspas,
surgindo daqui a designação encontrada mais tarde para a banda. Mais dois
elementos, Luís Fialho e João Vieira, aderiram à banda que então entrou no 1º
Concurso de Música Moderna da Câmara Municipal de Lisboa, onde se ficaram pela
terceira posição” ► “Criatura
da noite” (1993) ♦ “Perfume”
(1995) ♪ Viviane, “nasceu em Nice, França, mas
muda-se para Portugal aos 13 anos. Inicia a sua carreira musical em 1990, formando com Tó
Viegas os Entre Aspas, editando cinco álbuns. Em 2001, integra o projecto coletivo
Linha da Frente editando
um álbum pela editora Universal em 2002, ao lado de João Aguardela (Sitiados), Luís Varatojo
(Peste & Sida), Dora Fidalgo, Janelo (Kussondulola), Prince Wadada e Rui
Duarte (Ramp). Em 2005
chega ao fim o grupo Entre Aspas, Viviane inicia a sua carreira a solo com o
primeiro álbum intitulado ‘Amores imperfeitos’ co-produzido com Tó Viegas,
gravado no seu próprio estúdio ZIPMIX no Algarve, com sonoridades em formato
acústico” ► “Não
apagues o amor” (2011) ♪ La Valise , Olivais, 1986, “projecto
efémero de apenas um disco. O single
‘Tirem-me daqui’ foi editado pela RM Discos. Um dos músicos do grupo era o
teclista Fernando Martins que depois surgirá nos Ritual Tejo. A banda era
constituída por Paulo Rosado (baixo), Luís Oliveira Dias (guitarra), Fernando
Martins (teclas), Jorge Martins (bateria) e Dora Gomes (voz). O disco foi
produzido pelo incontornável Manuel Cardoso” ► “Tirem-me
daqui” (1987) ♦ “Sem
ti (1987)”.
___________________
[1] O fado acompanhava pulhas
e rameiras como o Amâncio da Mouraria ou a Adelaide da Facada do quadro de
José Malhoa. Só acompanhará probos homens e castas mulheres, lançado como
canção nacional pelos ideólogos do regime de Salazar, com o filme “Fado, história de uma
cantadeira” (1948), de Perdigão Queiroga, c/ Amália Rodrigues. Uma sempre
velha fadista lisboeta por quem riem os proprietários dos direitos de autor e
choram os eucaliptos. Francisca, uma sua amiga, diz sobre a casa de férias,
numa falésia junto ao mar, no Brejão, freguesia de São Teotónio, Alentejo: “e
ninguém podia apanhar uma folha daquele eucalipto. Só ela é que podia.
Incrivelmente, quando a dona Amália morreu secou-se o eucalipto, parece que
ficou com saudades dela”.
[2] Tal como o PJ na série da
Disney “Good Luck Charlie”
(2010); Skyler, a namorada do PJ (Samantha Boscarino): “viu o rapaz da piza quando vinha para cima?”, Bob, o pai do PJ
(Eric Allan Kramer): “onde é que ele está?”, Skyler: “não sei, acabei de lhe
perguntar se o tinha visto”, Bob: “o PJ, onde é que ele está?”, Skyler: “oh,
está a trabalhar”, Bob: “ele já arranjou trabalho?”, Skyler: “já, ele quer
arranjar dinheiro para ter a sua própria casa. Está a trabalhar em Wall Street ”, Bob:
“ele está a trabalhar em
Wall Street ?”, Skyler: “bom, por baixo de Wall Street”. E no
metro da Wall Street Station, PJ (Jason Dolley) toca guitarra e canta: “dizem
que os nova-iorquinos são rudes, não dão dinheiro, não se incomode, umas
moeditas não te fazem pobre, e eu a cantar neste sítio que cheira a podre”.
[3] Amber Sym é atriz em
filmes de terror de baixo orçamento na era digital: “Missionay” (2012), no papel de acompanhante
na piscina; “Ft. Slaughterdale” (2012), como Melissa;
“Creeper” (2012), como
Heather; “The Pit”
(2012), como Stephanie; “Grave
Reality” (2012), como Sloan. Amber explica-se:
“o facto de eu pensar que o sangue falso sabe bem deve dizer-lhe algo! Fiquei
tão confortável coberta de sangue que esperava abandonar o local de filmagem com
ele para poder andar pelas lojas e ver os olhares que as pessoas me lançariam.
Estes filmes estão tão cheios de sangue, suor e lágrimas, é uma coisa bonita”.