Pratinho de Couratos

A espantosa vida quotidiana no Portugal moderno!

sábado, maio 11, 2013


Balbúrdia no poente

1982. Jacinto Nunes, governador do Banco de Portugal: “os portugueses estão a fumar charutos Davidoff! Não pode ser. Nem podem mudar de fato três vezes por ano” [1]. A riqueza é não é um valor absoluto, é uma grandeza, é mensurável, contam-se milhões nuns comparando a trocos noutros, encurtando o fosso entre ricos e pobres, não se enriquecem os pobres, empobrecem-se os ricos; comparativamente, estes têm menos dinheiro. Assanhava-se contra reis ou desigualdades o anarquista italiano Giovanni Passannante: “a maioria que se demite é culpada. A minoria tem o direito de a lembrar” [2], repõe a revolta no carril o rolhista Américo Amorim (2013): “atacar quem tem dinheiro e sucesso é uma cachorrice”. Logo, atacar quem o não tem é um reajustamento. Entretanto, Rita Lee: “já fui rica mas bebi e snifei tudo”.
Sexta-feira, 1 de outubro, [3] Jacinto Nunes, na apresentação do Relatório do Banco de Portugal sobre a Economia Nacional em 1981, recomenda ao Governo para, “sem ditadura”, aplicar medidas de austeridade, uma “chicotada para acordar a opinião pública”. Derivado a: “não podemos estar a endividar-nos continuamente e a resolver os nossos problemas à custa dos créditos externos”. E chutou para a história: “por nós, temos obrigação de fazer as recomendações e fá-las-emos. Se o Governo as aplica ou não isso não é da nossa responsabilidade. Os documentos ficam arquivados e a história fará a justiça” [4]. Em 1982 “a dívida externa portuguesa está já a ultrapassar (e irá além até ao fim do ano) os mil milhões de contos sendo necessário ao Estado português, só para pagar os juros, a média anual de mil milhões de dólares em divisas. (…). Este é o único marco histórico que o Governo Balsemão, seguramente, vai atingir porque os outros anunciados para a economia estão todos por cumprir. Os salários reais estagnaram; aumentou o desemprego; diminui, brusca e violentamente o ritmo do crescimento do produto nacional; a balança de pagamentos conhece um défice jamais alcançado; e a taxa de atividade foi a mais baixa dos últimos cinco anos”. Alguém faltou a esta cerimónia económico-religiosa. “O diretor do Gabinete de Estudos do Banco de Portugal, departamento responsável pela recolha, controlo e tratamento de dados para a elaboração do relatório, é o prof. Cavaco Silva [5]. Este ex-ministro das Finanças de Sá Carneiro é apontado por muitos como um dos pais do caos atual, pelo eleitoralismo da sua política em 1979 que conseguiu levar a AD ao poder, mas aniquilou o movimento de recuperação sentido em domínios sensíveis como o do comércio externo. Ele não se sentou ao lado do prof. Jacinto Nunes, delegando no seu adjunto prof. António José Girão. (…). O governador do Banco disse ter o prof. Cavaco Silva pedido uma certa distanciação em relação ao relatório de 1981, dado que inevitáveis confrontos resultariam com a sua política de 1980”.
Quarta-feira, 13, “o vice-governador do Banco de Portugal, dr. Rui Vilar, anunciou esta manhã no Algarve, durante o seminário para banqueiros estrangeiros, a decorrer em Vilamoura, que a dívida externa portuguesa atingiu, em fins de junho último, 11,6 mil milhões de dólares, o que, ao câmbio do dia, corresponde exatamente a 1,32 mil milhões de contos. (…). Um terço daquela monstruosa dívida externa tem de ser amortizado em curto prazo e neste momento as divisas estrangeiras disponíveis no Banco de Portugal dão apenas para cobrir dois meses de importações. (…). No entanto, Portugal continua a gozar de facilidades de crédito internacional, porque tem cumprido pontualmente os seus pagamentos e mantém elevadas as suas reservas de ouro” [6].
Quinta-feira, 14, “o presidente da República chega ao fim da tarde ao Porto, no avião TAP Madeira, no termo de uma visita de quatro dias à Áustria. Na capital nortenha Eanes discursa na sessão inaugural do I Congresso dos Empresários do Norte e espera-se que foque, sem rodeios, a grave crise económica que o país atravessa. De resto, direta ou indiretamente, a situação económica portuguesa nunca deixou de estar presente enquanto Eanes ‘passeou’ pela pátria de Mozart. Ainda esta manhã correram rumores entre a comitiva presidencial sobre uma provável vinda a Portugal de responsáveis do FMI com uma novidade na bagagem: este Governo não conseguirá mais empréstimos sem o aval do presidente da República”. O porta-voz Joaquim Letria não confirmou, era-lhe “assunto desconhecido”. Os povos do norte impressionaram a embaixada do sul [7]. “Eanes, respondendo a um jornalista que se mostrava especialmente impressionado com a eficácia, a disciplina, a ordem encontrada em todos os aspetos da vida austríaca (falou das ruas limpas, horários sempre cumpridos, casas antigas perfeitamente conservadas, tudo previsto, tudo programada) comentou: ‘tudo isso é verdade. Mas apesar disso prefiro a nossa desordem à ordem austríaca’”. Na comitiva, o ministro dos Negócios Estrangeiros Vasco Futscher Pereira “dizia-se espantado com o facto de a Ópera de Viena, que se mantém em funcionamento ininterrupto durante dez meses no ano, ter um orçamento superior ao do próprio ministério dos Negócios Estrangeiros austríaco, e comentava: “claro que isto seria impensável em Portugal. Gastar dinheiro com a cultura? O que não diriam logo os jornais”.
No I Congresso dos Empresários do Norte, “começando por considerar que talvez ainda não tenhamos a noção exata da profundidade das dificuldades económicas em que vivemos, Ramalho Eanes acentuaria que ‘a persistência dessas dificuldades económicas é o sinal claro, ou pelo menos, uma indicação suficiente de que o debate, de índole político, que se tem desenvolvido a este propósito, não é o mais eficaz, nem o mais esclarecedor. Não é o mais eficaz, como se comprova pela ausência de soluções satisfatórias e de resultados positivos. Não é o mais esclarecedor, pois nem produz as condições de consenso político e social que são necessárias para que haja uma resposta nacional organizada e orientada’. Eanes recordou, depois, a recuperação que se fez em 1978 e 1979, após a celebração do acordo com o FMI, disse que Portugal chegou a ser ‘um exemplo de uma política de estabilização económica bem sucedida’, mas que hoje corre riscos de ser exemplo negativo. Deixemos, pois, acrescentou, ‘os artifícios verbais, as promessas sem realismo e as soluções formais que esquecem realidades da economia portuguesa e dos comportamentos económicos seja dos empresários, dos trabalhadores, dos investidores ou dos consumidores’. (…). Considerando que o êxito político não estará em optar por um dos segmentos sociais contra os outros, Ramalho Eanes sublinhou também que ‘o fracasso dessas escolhas desiguais ou é o fracasso dessas medidas ou é o caminho para o autoritarismo’. E, em sua opinião, ‘a revolta, violenta ou passiva, é a resposta natural à concessão de privilégios a uns e à distribuição de sacrifícios a muitos outros”.
Sexta-feira, 15, de manhã, Freitas do Amaral recebe no 8.º andar do edifício da Gomes Teixeira, Frank Carlucci, secretário adjunto da Defesa, “que se encontra de visita particular ao nosso país, mas tem previstos diversos contactos ao mais alto nível com responsáveis portugueses. Carlucci, antigo embaixador norte-americano em Lisboa e ex-subdiretor da CIA, avistou-se ainda durante a manhã com o primeiro-ministro Pinto Balsemão. [À saída o sorridente Carlucci disse apenas ter debatido questões “gerais e defesa”]. De tarde o dirigente dos EUA tinha na sua carregada agenda contactos com o ministro dos Negócios Estrangeiros, Futscher Pereira, com o CEMGFA, general Melo Egídio, e com o presidente da República Ramalho Eanes. No final de todas estas audiências, Carlucci será obsequiado pelo MNE com um jantar no Palácio das Necessidades”. “Carlucci, que diria ter vindo a Lisboa também para matar saudades e rever amigos, tem aproveitado os intervalos das audiências para conversas particulares [8]. (…). De qualquer modo, parece líquido que o responsável norte-americano debateu com as autoridades que o receberam questões ligadas ao reequipamento militar das Forças Armadas e um eventual papel, político-militar, do Estado português na questão namibiana” [9].
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[1] Os economistas do passado, presente e futuro sempre exageraram, o povo esfumaçava Definitivos.
[2] Giovanni Passannante, cozinheiro e anarquista, trocou um casaco velho por uma faca de oito centímetros, “boa apenas para fatiar maçãs”, disse o dono da loja. No dia 17 de novembro de 1878, Umberto I, a mulher Margherita de Savoia e o primeiro-ministro Benedetto Cairoli, num cortejo real, atravessavam o Largo della Carriera Grande em Nápoles, Passannante “aproximou-se da carruagem do monarca, fingindo uma súplica, saltou para o degrau, de repente puxa de uma faca e atacou-o gritando: ‘viva Orsini! Viva a República Universal!’. Umberto I conseguiu desviar a arma, recebendo uma ferida ligeira no braço. A rainha Margherita atirou-lhe um ramo de flores à cara e gritou: ‘Cairoli, salva o rei!’ Cairoli segurou-o pelos cabelos mas foi ferido numa perna. Passannante foi atingido na cabeça com um sabre por Stefano De Giovanni, capitão dos couraceiros e foi preso. (…). Durante o julgamento, realizado em 6 e 7 de março de 1879, Passannante, que agiu sozinho, reclamou que as ideias do Risorgimento [a unificação da Itália] foram traídas, o Governo não se importava com o povo, que se tornava cada vez mais pobre por causa dos aumentos do imposto sobre a farinha. Passannante foi condenado à morte em 29 de março de 1879, embora a pena capital se aplicasse apenas em caso de regicídio, assim a sentença foi comutada para prisão perpétua”. E Passannante foi trancado em Portoferraio, na ilha de Elba, numa cela de 1,40 m, sem luz nem latrina, acorrentado, viveu 10 anos no meio dos excrementos até que, enlouquecido, o transferem para o manicómio de Montelupo Fiorentino. “Passannante permaneceu enterrado vivo, na mais completa escuridão, numa cela fétida situada abaixo do nível da água, e lá, sob a ação combinada da humidade e da escuridão, o seu corpo perdeu todos os pêlos, descolorou e inchou… o carcereiro que o vigiava tinha ordem categórica de nunca responder aos seus pedidos, ainda que fossem os mais indispensáveis e urgentes. O Sr. Bertani... podia ver este homem, esquelético, reduzido a ossos e pele, inchado, descolorido como a argila, forçado a ficar imóvel numa cama imunda, que emitia suspiros e levantava com as mãos uma grossa corrente de 18 quilos, que não podia mais sustentar por causa da extrema fraqueza dos seus rins. O infeliz emitia de vez em quando um grito lancinante que os marinheiros da ilha ouviam e ficavam horrorizados”, Salvatore Merlino, “L’Italia così com’ è”, 1891 em “Al caffè”, de Errico Malatesta, 1922. Depois do atentado “alguns jornais dirigiram acusações infundadas contra Passannante: O L’Arena de Verona e o Corriere della Sera de Milão retrataram-no como um malfeitor que matara uma mulher no passado, enquanto que numa litografia publicada em Turim relatava-se que o seu pai era um camorrista. (…). A família de Passannante foi presa, apenas o seu irmão conseguiu escapar. Giovanni Parrella, presidente da Câmara Municipal de Salvia di Lucania, foi a Nápoles para se desculpar e pedir um perdão de Umberto I. Num sinal de absolvição, por ordem dos conselheiros do soberano, a cidade natal de Passannante foi obrigada a mudar o seu nome para Savoia di Lucania, por decreto real de 3 de julho de 1879”. Passannante na música: “testamento de giovanni passannante, anarchico italiano” (2011), de inòrsominòre. (cover: “quando lo vedi anche”, inòrsominòre., - com um ponto no final e em minúsculas, é um projeto iniciado em 2005 por kappa, vocalista, guitarrista, compositor da finada banda, 1999-2004, de Verona Lecrevisse). E no cinema: “Passannante” (2011).
[3] Nesse mesmo dia na Lapa. “O fadista António Mello Correia, de 38 anos, proprietário do restaurante O Senhor Vinho, foi assassinado à facada e à catanada no quarto de cama da sua casa, na rua das Trinas, 36, 1.º à Lapa, por dois jovens, um dos quais (António Joaquim Viena, de 26 anos, operário fabril) acabou por ser detido cerca das 9 horas desta manhã, quando se preparava para abandonar o local num táxi. (…). A detenção de António Viena foi executada pelo ardina José Salvador que suspeitou dos ‘movimentos e das caras de dois indivíduos desconhecidos na zona’, quando se encontrava à porta do Clube dos Vendedores de jornais, localizado mesmo em frente da casa habitada pela vítima. ‘Como estava desconfiado fui sorrateiramente até ao pé de um deles e consegui deitar-lhe a mão. Só foi pena não ter alguém, o taxista teve medo, que me ajudasse para apanhar o outro’. (…). No momento em que foi imobilizado, António Viena, que tinha a catana e a faca escondidas debaixo do blusão, confessou logo o crime dizendo que se tratava de um problema de sexo. Versão que acabou por repetir mais tarde aos agentes da Judiciária, acrescentando que ele e o companheiro tinham conhecido António Mello no cais do Sodré, indo depois dali para casa do fadista onde tiveram ‘relações sexuais toda a noite’. (…). A catana e a faca faziam parte de uma coleção pertencente a António Mello, que habitava com a mãe, a qual de acordo com a vizinhança, mesmo que tivesse ouvido algum barulho suspeito, não se admiraria pois era hábito do Senhor Vinhas, como o fadista era conhecido no meio, ‘levar amigos lá para casa altas horas da noite, pois gostava muito de farra’”.
[4] “1. Os salários reais não aumentaram: só cresceu o desemprego, de 7,7 % em 1980 para 8,2 em 1981. 2. Inflação atingiu os 25%. 3. Registou-se a mais baixa taxa de atividade dos últimos quatro anos. 4. A indústria portuguesa perdeu competitividade internacional. 5. O investimento de capital fixo baixou de 9% em 1980 para 5% em 1981. 6. O PIB cresceu apenas 1,8 contra 4,9 no ano anterior. 7. As importações aumentaram 6,2% em volume. 8. As exportações diminuíram 1,8%. 9. O défice da balança comercial foi de 293 milhões de contos. 10. A dívida externa atingiu os 10 mil milhões de dólares. No primeiro semestre deste ano ultrapassou os 11 mil milhões e nesta altura já está a rasar os 12 mil milhões de dólares. 11. O Estado português paga de juros médios anuais ao estrangeiro mil milhões de dólares, ou seja, uns 80 milhões de contos”.
[5] A fazer fosquinhas merovíngias nas imediações do grande zigomático nos 100 anos do Instituto Superior de Economia e Gestão em 2011, Cavaco Silva: “qual o papel que devem ter os economistas na sociedade portuguesa de hoje? Esta interrogação recordudo recordou-me uma lição de sapiência que proferi em fevereiro de 1982, precisamente sobre esse tema, e que se encontra publicada na revista Economia. Antecipava-se, então, a segunda vinda do Fundo Monetário Internacional a Portugal, no contexto do acordo de ajustamento que acabou por vir a ser assinado em 1983. E curiosamente, ao reler o que então escrevi, conclui que muitas das interrogações e das expetativas da altura não perderam a sua atualidade. Vivia-se uma grave crise económica, marcada pelo desemprego, sobretudo entre os jovens. Havia uma grande desigualdade na distribuição da riqueza. Era baixa a produtividade da economia. E visível tendência para défices externos insustentáveis”.  
[6] Em 82, havia vida para além da bancarrota: hoje há “Death”, das Babymetal. São elas SU-METAL (Nakamoto Suzuka), MOAMETAL (Kikuchi Moa), e YUIMETAL (Mizuno Yui) ▬ “Headbangeeeeerrrrr!!!!!” ♫ “Doki Doki Morning” ♫ “Uki Uki Midnight” ♫ “Ijime, Dame, Zettai” ♫ “My First Heavy Metal". As Babymetal floriram do Sakura Gakuin. Sakura Gakuin, (trad. “academia da flor de laranjeira”), é um grupo adolescente feminino formado em abril de 2010 pela agência de talentos Amuse. “Como o grupo é concebido como sendo integrado de raparigas da escola secundária, quando um membro termina o liceu, também recebe o ‘diploma’ da Sakura Gakuin, isso é, abandona o grupo” ▬ single de estreia “Yume ni Mukatte / Hello! Ivy”, (12 de dezembro de 2010). As cachopas diplomadas da Sakura Gakuin são transferidas para outras bandas. A primeira foi Twinklestars ▬ primeiro single “Dear Mr. Socrates”, (28 de novembro de 2010). A segunda é Babymetal. A terceira Mini-Patissier. A quarta SCOOPERS ▬ “Brand New Day”. A quinta sleepiece ▬ “Medaka no Kyoudai”. A sexta “Pastel Wind. A sétima Kagaku Kyumei Kiko Logica? (Departamento Mecânico de Investigação Científica) ▬ “Science Girl Silence Boy”.
[7] Mais a sul impressionam mais: Suély Pedroso, 1,77 m, 98-62-95, sapato 37, nascida dia 3 de janeiro de 1992 em Joinville, Santa Catarina, Brasil: “estou solteira, e nunca namorei. Para me conquistar basta agir naturalmente, ser gentil, nada de ficar forçando situações, ou inventando histórias para tentar me impressionar. E claro, é fundamental ser bem-humorado”. {Bella da Semana c/ Michelle Poligamia e Vanessa Coelho}. Em 2012, participou no concurso da revista Playboy pelo rabo mais bonito do Brasil. P: “qual a mulher com o bumbum mais bonito do Brasil, além de você?” R: “Nicole Bahls” – 1,70 m, 64 kg, 90-60-105, uma panicat, (assistente de palco do programa Pânico na Band), que detonou Luana Piovani na net: “sou bem direta e verdadeira e falam nas costas. Para mim é covardia. Então, estou aqui para falar. Há muito tempo venho acompanhando as declarações nojentas e maldosas da boca da atriz Luana Piovani indiretamente. Estou cansada dos seus comentários podres, hipócritas e maldosos, Luana Piovani. Você já deveria ter maturidade até pela sua idade e passado negro. Cala a boca sua nojenta, falsa moralista, seu passado te condena. Essa foto pode te ajudar a lembrar”.
[8] Humanos como nós os políticos. David Cameron confessou à Tesco Magazine (2012) a sua primeira paixão por uma celebridade: “temo, como toda a gente, acho que tinha aquele cartaz da Cheryl Tiegs na parede”. (Cameron teria 11 anos). P: “será que também teve o famoso poster da Athena, da rapariga a jogar ténis?*”. R: “provavelmente tive”. Cheryl Tiegs reagiu: “ó meu Deus! Eu tenho um fraco por ele, acho-o tão inteligente e sedutor. Eu adoro um bom sotaque britânico. É algo que me derrete o coração. Isto apanhou-me de surpresa. Cameron e eu deveríamos definitivamente encontrar-nos um dia, só para dizer ‘olá’”. No outro lado do mar, na América, o “presidente Obama teve boa fortuna quando se trata de encontro com amores da adolescência. Depois de ele ter feito uma pose super nabo com Nichelle Nichols (a tenente Uhura em ‘Star Trek’), Nichols entusiasmada tuitou: ‘meses atrás pres Obama foi citado como dizendo que tinha uma paixoneta por mim quando era mais novo. Perguntei-lhe sobre isso & ele orgulhosamente confirmou-o!”. – Cheryl Tiegs ainda circula na net como regra 5: ou seja, “toda a gente gosta de uma rapariga bonita” (e elas multiplicam as visualizações dos posts): kickin’ it old school with Cheryl Tiegs!: “Barack Obama provou mais uma vez que é realmente um orgulhoso marxista (como Yuri Maltsev, ex-assessor de Mikhail Gorbachev, o chama) quando ele defendeu que os empreendedores americanos de sucesso ‘não construíram’ os seus negócios sozinhos. Os burocratas do Governo foram responsáveis pelo seu sucesso, o marxista na Casa Branca afirmou, citando escolas públicas, estradas, etc.”. – * Tennis girl “a fotografia foi tirada por Martin Elliott em setembro de 1976, e apresenta Fiona Butler (agora Walker), de 18 anos, a sua namorada na época. A foto foi tirada na universidade de Birmingham, usando um vestido emprestado, raquete e bolas. O poster foi publicado pela primeira vez, como parte de um calendário para o jubileu de prata da Athena, em 1977. (…). Butler disse que não estava envergonhada por posar nem amargurada por não ter recebido royalties da foto”. “A sra. Walker não era uma entusiasta jogadora de ténis e pediu emprestado um vestido a uma ‘amiga de uma amiga’, as sapatilhas do pai e usou as bolas de ténis do cão para a foto”.
[9] “Durante o início da década de 70, Donald Rumsfeld tornou-se protegido do sr. Carlucci enquanto o sr. Carlucci lhe mostrava o ringue. Carlucci foi subsecretário de Saúde, Educação e Segurança Social quando Caspar Weinberger era secretário durante a administração de Nixon. Carlucci tornou-se embaixador de Portugal, e serviu nesse posto de 1974 até 1977. Ele ainda é lembrado com muito carinho entre os vencedores do coup d’état de 25 de novembro”.

na sala de cinema

V Madonna: daisenso” (1985) ou “Go For Broke!”, de Genji Nakamura, os “Sete samurais” (1954) de Akira Kurosawa defendem os fracos no espírito da década de 80: “no total são cinco (e não sete) as guerreiras de rua recrutadas para ajudar um grupo de rapazes (da Hope Hill High School) que vivem encurralados pelos subornos e a violência constante, que um grupo de motociclistas (os Yagyu), liderados por uma dominadora que mantém um romance com uma das raparigas do grupo rival, exerce com mão dura num sítio localizado nos arredores de Tóquio”. “Pauline à la plage” (1983) de Éric Rohmer, estreado sexta-feira, 22 de março de 1985 no Estúdio 444 e no Quinteto, a Comissão de Qualidade não lhe concedeu a menção “filme de qualidade”. “Marion (Arielle Dombasle), estilista em Paris, e Pauline (Amanda Langlet), a sua jovem prima, passam as férias numa estância balnear na Normandia. Encontram Pierre (Pascal Greggory), apaixonado por Marion, Henri (Féodor Atkine), um etnólogo divorciado e atraente, assim como Sylvain (Simon de la Brosse), um adolescente à procura de uma moça da sua idade”. “Seguindo a influência do grande Jacques Tati em ‘Les vacances de Monsieur Hulot’ (1953), talvez o seu filme mais emocionante, Rohmer desliza a câmara silenciosa, aproximando-se o suficiente dos protagonistas. Nas conversas que estes mantêm, parece como se o realizador estivera participando, deleitando-se com o que escuta”. – Finalizados os Seis contos morais [1], Pauline, “um enorme sucesso no seu lançamento americano (em parte graças, sem dúvida, a um cartaz retratando a sexy Arielle Dombasle em primeiro plano num biquíni)”, é o terceiro dos seis filmes do novo ciclo de Rohmer, Comédias e provérbios: “La femme de l’aviateur” (1981) ou “Nós não poderíamos pensar em nada”, antítese da obra de Alfred de Musset “Nós não poderíamos pensar em tudo”; “Le beau mariage” (1982) ou “Que mente não divaga? Quem não constrói castelos em Espanha?”, de La Fontaine; “Pauline à la plage” ou “Quem fala muito, prejudica-se”, de Chrétien de Troyes; “Les nuits de la pleine lune” (1984) ou “Quem tem duas mulheres perde a sua alma, quem tem duas casas perde o juízo”, provérbio da província de Champagne; “Le rayon vert” (1986) ou “Que venha a hora onde os corações se apaixonam”, verso do poema “Chanson de la plus haute tour” de Arthur Rimbaud; “L’ami de mon amie” (1987) ou “Os amigos dos meus amigos meus amigos são”, provérbio.
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[1] Os Seis contos morais são: “La boulangère de Monceau” (1963), “La carrière de Suzanne” (1963), “La collectionneuse” (1967), “Ma nuit chez Maud” (1969), “Le genou de Clair” (1970), “L’amour l’après-midi” (1972).

no aparelho de televisão

Fisga”, estreia sábado, 17 de outubro de 1987, na RTP1, pelas 17:30: “novo espaço televisivo da autoria de Zita Rocha e Piedade Maio em que se explora o grande manancial de potencialidades e espontaneidade dos jovens”; no sábado 5 de dezembro desse ano é suspenso, por terem sido “gravemente desrespeitados valores culturais e nacionais que os portugueses prezam e a RTP defende”, justificava o comunicado da Direção de Programas da RTP. O tema desse episódio fora a nacionalidade e “um dos intervenientes não obedeceu ao sentimento e ao respeito pelo tema em questão”. O ator João Grosso cantara o hino nacional batendo com os pés no chão a acompanhar o ritmo. “João Grosso protagonizou nas várias edições do programa Fisga uma série de sketches [textos de Eduardo Rodil] que tiveram o propósito didático de pôr os jovens a pensar sobre determinadas questões, incentivando-lhes o espírito criativo e interventor com a irreverência própria da juventude. Já no final do programa, o vocalista do grupo Ocaso Épico cantava uma estrofe de última hora sobre a censura na RTP. Os telespetadores souberam da suspensão após o Jornal de Sábado com a leitura do comunicado da Direção de Programas. Segundo fonte da RTP, algumas dezenas de pessoas telefonaram para as suas instalações dando o seu apoio à decisão”. Em 2012, João Grosso relembrava: “cantei o hino com energia roqueira, com o pessoal todo que estava no estúdio, portanto os jovens que assistiam ao vivo, a marcar o ritmo com os pés e foi uma ofensa aos símbolos nacionais, e tive um processo aberto na secção da Polícia Judiciária de Combate ao Terrorismo e ao Banditismo”. No dia 7 de novembro, nesse programa, gravado ao vivo no teatro Europa, estreavam-se na televisão os Mão Morta. – Os dirigentes da Ação Católica Rural das dioceses de Braga, Guarda, Lamego, Viseu e Vila Real também protestavam contra a RTP. A dirigente Maria Margarida Soares de Moura afirmou que a sua organização “repudiava vivamente certas iniciativas e até reclames publicitários”, principalmente a presença da deputada italiana Cicciolina, no dia 26 de novembro, no programa das quintas-feiras “Já está”, de Joaquim Letria, na RTP2. “O comportamento de Cicciolina – disse a militante católica – é um atentado contra a dignidade do ser humano e muito diretamente da mulher”. “Chuva na areia”, segunda-feira, 7 de janeiro de 1985 / sexta-feira, 3 de maio de 1985, do romance “Agarra o verão Guida, agarra o verão”, de Luís de Sttau Monteiro: “as aventuras são passadas numa vila piscatória dos anos 1960, Vila Nova da Galé, construída em Tróia com a arte e engenho do arquiteto Conde Reis. A Vila Nova da Galé é invadida por turistas prontos a gozar as suas belezas naturais. Esses turistas são os alemães Adolf Schmidt (António Rama) e Hans Neuber (Carlos Wallenstein), e com a ajuda de Vilela (Henrique Viana) e do banqueiro Vítor Costa (Baptista Fernandes), querem modernizar a cidade com construções de hotéis e piscinas. A população sente-se agitada pelas alterações aos hábitos que essa afluência implica. (…). Toda a história se centra no Caniço (Nuno Melo), pela sua fama de ladrão de praias, [e prostituto de camones, falecido por capadura], e na Guida (Natália Luísa), principalmente, pois esta quer Agarrar o verão, e só consegue isso em setembro com a chegada da Chuva na areia[1]. No primeiro episódio: “Nunes (José Viana), Antunes (Carlos César), Esteves (Armando Cortez) e Gomes (António Montez) jogam à bisca e conversam enquanto Mimoso (Rogério Paulo) os observa. Chega à pensão o Silva (Rui Pedro), o caixeiro-viajante. Desenrola-se um pequeno diálogo agressivo entre Antunes e Nunes. No interior da igreja, o padre Correia (António Lopes Ribeiro) encontra Maganão (Manuel Cavaco) que terminada a reza, conversa sobre os desembarques de contrabando em que ele anda envolvido. Vilela continua no café a conversar com Neuber. O tenente Ferreira (Rui Mendes) observa-os sentado noutra mesa. Entretanto, chega D. Odete (Alina Vaz), a mulher do tenente, que se senta à mesa do marido”, frustrada por viver numa pacata vila a que chama “esta merda desta terra”. – As telenovelas brasileiras foram o saca-rolhas de Portugal da Idade Média. Universidades no lar, elas ensinaram às mulheres imaginação no vestir e aos homens cultura geral. “Na segunda-feira, 16 de maio de 1977, a estreia de Gabriela marcou uma outra revolução entre nós. Com a apresentação da primeira novela, houve um reencontro de todos, com a vivência da democracia conquistada. O romance de Jorge Amado transfigurado em televisão estimulou o convívio nas famílias, acordou uma nova consciência social. Os políticos suspendiam os trabalhos da Assembleia Constituinte, em frente da televisão. Os ministros faziam uma pausa de hora marcada e até o dr. Álvaro Cunhal chegou uma vez atrasado ao programa Mosaico, na RTP, por ver Gabriela” [2]. “O astro”, segunda-feira, 16 de outubro de 1978 / quinta-feira, 5 de julho de 1979. Na quarta-feira, 21 de março de 1979 “drama na Brandoa: um soldado da Guarda Nacional Republicana matou a própria mulher a tiro porque ela se recusara a fazer-lhe o jantar. O disparo não foi ouvido pela vizinhança pois, àquela hora, estava toda a gente com a televisão ligada, a ver O astro. D. Alice, testemunha ocular, conta que a vítima, ao era atingida na cabeça, ergueu as mãos e gritou ‘ai os meus ricos filhos’. E caiu morta. Chamava-se Ana Maria Rosa e tinha 28 anos. O homicida, agora viúvo, é o soldado Fernando Martins Canelas, que aparenta 30 anos e que, após a consumação do crime, foi-se entregar ao posto da corporação a que pertence, na Brandoa. [D. Alice, vizinha do casal] conta que não tem televisor e por isso costumava ver O astro na casa da vítima. Marido e mulher andavam amuados há vários dias (estavam na fase de se tratarem por você) e, (…) ao almoço, ele tinha recusado a comida que ela lhe preparara. Preferiu cozinhar o seu próprio almoço. (…). Quando estavam todos em casa (o casal e os filhos, além de D. Alice e um filho desta) o marido ordenou à esposa que lhe fosse fazer o jantar. A reação da vítima não se fez esperar, ‘se você fez o almoço, agora faça o jantar…’. A partir daqui, o ‘cabeça de casal’ passa a agredir a mulher com vários murros na cabeça e chega a pegar numa cadeira como arma de arremesso, mas desiste, tem uma ideia melhor: dirige-se ao quarto e aparece com uma Walther. Ana Maria Rosa é atingida com um tiro na cabeça. (…). No momento do tiro, conta D. Alice, ‘estava o Alan a conversar com a Amanda’. Ela, Alice, correu então a chamar outra vizinha, a D. Isilda, que ficou espantada com a coincidência: a outra a chamá-la, ‘ó dona Isilda’, e no pequeno ecrã a ‘tia’ também a chamar, ‘ó Márcio, ó Márcio…’. [O GNR] era um homem grosseiro que se irritava facilmente e, prova disso, as nódoas negras que a mulher trazia sempre pelo corpo. Aliás, outro vizinho conta que, meia hora antes, Ana Rosa tinha lá estado em casa e às tantas dissera, na reinação, ‘vou-me já embora, se não o meu marido parte-me os cornos”. Noutra notícia, uma miúda de 10 anos, ao ser proibida pelos pais de ver O astro durante uns dias, fugiu de casa para o Porto com 360 contos em jóias e dinheiro. Uma espetadora de Camarate escrevia para a revista O astro: “sempre que vejo o Tony Ramos na televisão, sinto-me apaixonada por ele. Vejam se eu também posso entrar na telenovela”. Terminado O astro houve uma pausa nas telenovelas brasileiras. A abstinência foi terrível, os portugueses ressacavam. Até que segunda-feira 15 de outubro de 1979, na primeira página do Diário de Lisboa, a boa nova: “a partir desta noite, 70 horas de telenovela com Dancin’ days. Finalmente a partir das 20:30 de hoje, a quinta telenovela brasileira virá animar os serões dos portugueses, de muitos milhares de portugueses”. Entretanto, a RTP2 transmitira, fraco paliativo para as dores da privação, de quarta-feira, 11 de julho de 1979 a quarta-feira, 15 de agosto, a telenovela venezuelana “Dona Bárbara” [3].
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[1] Um tele-romance e não uma telenovela, distingue Luís de Sttau Monteiro: “a telenovela tem uma técnica própria que assenta, essencialmente, ou na narração televisiva de uma pequena história em cada episódio ou, como é mais frequente, na narração de duas pequenas histórias por episódio: uma que termina, outra que começa. A terminar a ação da que começa (e que vai acabar no episódio seguinte) uma cena de suspense, mais ou menos elaborada, que tem por objetivo ‘prender’ o espetador e levá-lo a querer ver o desfecho da cena. Trata-se, apesar de tudo, de um processo um pouco rudimentar que se adivinha destinado a agradar às audiências que, embora vastas, não terão um grau de exigência muito elevado. Chuva na areia não assenta, assim, num doseamento mais ou menos habilidoso de incidentes artificiais em relação à vida nem pretende fornecer aos espetadores pequenas doses diárias de suspense. Antes pelo contrário: proporciona-lhe a possibilidade de rever, criticamente, um período que ele viveu e de entender melhor muita gente que ele conhece e com quem se dá no seu dia-a-dia. Todos os acontecimentos são verosímeis. E a técnica utilizada para os narrar andará próxima do folhetim, que, tendo marcado épocas e gerações, pode retomar o gosto pela vida na sequência desta experiência”.
[2] As putas do Bataclan: “durante a exibição da novela Gabriela compareci a uma festa em Ilhéus e lá encontrei as senhoras da sociedade todas elas fantasiadas de putas do Bataclan. Uma delas debruçou-se sobre mim, sussurrou-me ao ouvido: ‘sou Clarinda, rapariga de Augusto Juvenal e teu xodó, te lembras?’ De Clarinda me lembrava, nunca a esquecerei, mulata caboverde, rosto oriental, riso de malícia, olhos de quebranto, boca de, peço perdão, não digo de quê a boca, seria falta de respeito para com a brancarrona cor de leite, quarentona grã-fina e licenciosa a querer passar por puta inocente, saí de baixo”, Jorge Amado, no livro de memórias, “Navegação de cabotagem” (1992).
[3] O remakeDoña Bárbara, La Devoradora de Hombres” (2008-09): “Bárbara é uma mulher atraente, criada principalmente nos rios da Venezuela pelo seu pai, capitão de barco. Sua mãe era uma índia que morreu ao dar à luz. Ela estava loucamente apaixonada pelo jovem Asdrúbal até que a tragédia esmagou tudo. Alguns homens que trabalhavam para o seu pai roubam-lhes o barco e matam-lhe o pai. Os patifes então violam-na e matam-lhe o namorado. Isto faz com que odeie os homens, mas ao mesmo tempo dorme com eles para conseguir o que quer. Ela envolve-se com Lorenzo Barquero, proprietário de uma fazenda de gado, de quem fica grávida e tem uma filha chamada Marisela”. Marisela é interpretada por Génesis Rodríguez, 1,65 m, 52 kg, 86-60-81, sapato 40, olhos castanhos, cabelo castanho, nascida em Miami, dia 29 de julho de 1987. Citação: “Génesis como uma fonte. Como no princípio da vida, do mundo. O meu pai tinha acabado de se separar da sua primeira mulher, quando ele conheceu a minha mãe, Carolina. Alguns meses depois cheguei eu – surpresa! Eles pensaram que era um augúrio de sorte para toda a vida”. Génesis: “Deus, a minha família e os meus amigos conhecem-me e são os únicos cujas críticas me podem afetar”. Ela foi dançarina no “El club de los tigritos”, e é atriz de telenovelas: “La prisionera” (2004), “Dame chocolate” (2007) e filmes: “Identity Thief” (2013), “Hours” (2013). – Na Prisionera contracenou com o ator mexicano Mauricio Islas, 31 anos. No dia 28 de junho de 2004, a Telemundo ofereceu ao elenco uma festa no hotel Mandarín, de Miami. Depois da meia-noite, Islas e Génesis, a um mês dos 17 anos, “aparentemente tinham bebido e logo subiram a um quarto onde tiveram relações sexuais. Dias depois, durante a gravação de uma cena, Génesis sofreu um desmaio, fracturou um calcanhar e foi de imediato levada para um centro médico. Fontes próximas do caso dizem que foi nesse momento, quando, ao lado do pai, o médico lhe fez uma pergunta de rotina sobre se podia esta grávida, devido ao risco de exposição aos raios x, à qual ela respondeu que tinha as suas dúvidas e foi aí que a bomba estalou”. Sobre o seu descruzar de pernas: “segundo declarações de Génesis, ‘foi fácil de manipular’ e se sentiu presa naquela situação. Finalmente, a polémica terminou quando um juiz determinou um acordo entre a família da jovem e o ator mexicano. Diz-se que o acordo incluiu vários milhões de dólares e cem horas de trabalho comunitário, além de algumas desculpas públicas, evitando dessa forma a pena máxima que ascendia a 15 anos de prisão”. Islas foi retirado da telenovela e substituído por Gabriel Porras.

na aparelhagem stereo

O decano dos povos periféricos está na posição de rabo de pato – “Companhia! / braços estendidos / punhos fechados / dedos para cima / ombros encolhidos / cabeça para trás / rabo de pato”, “Chu Chuá” (2011), Panda Vai à Escola; braços estendidos, confere, punhos fechados, confere, dedos para cima, confere, ombros encolhidos, confere, cabeça para trás, confere, rabo de pato, confirmadíssimo, e nesta posição seus jovens esgotam os produtos, sólidos ou espirituais, alistados e apreçados no catálogo internacional de luxe. Um candeeiro design, um input económico, um trend cinematográfico, um buzz musical, vendem-se às rebatinhas. É uma geração com poder estético, nos subúrbios da Europa: “acho que esta nova geração é uma geração masculina que tem, que tem mais cuidado com a sua aparência, a sua forma física, tem algum cuidado com o que diz respeito também ao vestir”, Sérgio Rosado, uma asa dos Anjos. Aformoseados eles querem casar, elas guardam seu celofane original para eles: “Arranjei uma miúda / Que ainda tem os três vinténs / Fechados a sete chaves / Que os não dá a ninguém”, “Esta miúda (dá-me cabo da cabeça)” (1995), Nel Monteiro.
Os casamentos, significantes, hissopam-se em terreno consagrado, na arena do arrabalde, no concerto do artista devotado. Tony Carreira é a suma teológica arredor, ele é Bono, Springsteen, Dylan, Bieber, uma direção (One Direction). Certo apaixonado par, mal findaram as núpcias, nem as fatiotas da cerimónia despiram, e já bem-fadavam sua felícia num espetáculo do Tony Carreira; esclarecia o recém-esposado: “já tínhamos planeado casar neste dia 13 de maio e foi precisamente coincidir com um concerto dele… tínhamos os bilhetes comprados para o concerto dele”; a feliz consorte, Iva Alves, interpreta as inscrições nas suas preciosas alianças: “o nome da música. A minha tem ‘Não desisto de ti’. A dele tem o nome da música ‘Viver sem ti não é viver’”. “Gosto muito do Tony Carreira e o meu marido também”. No toque de género, errou o major Valentim Loureiro a sua avaliação do supremo dos cantores: “é o artista, enfim, põe todas as mulheres com os corações, enfim, um bocadinho, um bocadinho abalados”.
Iguais cenas da vida no campo. Concerto dos U2 no Estádio Municipal de Coimbra, 2/3 de outubro de 2010, uma pechincha, preços de 32 a 260 euros. Havia três controlos de bilhetes e adeptos: 1º o bilhete é conferido a olho nu, 2º toda a gente é revistada, 3º controlo eletrónico do bilhete através do código de barras. Foi um festival de fãs. Vítor Machado: “eu pra mim basta ‘tar a ouvir o Bono que começo a chorar. ‘Tá tudo dito. Já oiço U2 desde praticamente pra’í há 20 anos e o Bono a mim diz-me muito”. Sérgio Cardoso, o primeiro na entrada, chegou ao estádio: “uma, uma e meia da tarde, quinta-feira” (concertos no sábado e domingo). “Porque, porque queria ser o primeiro mesmo, porque já oiço U2 há 15 anos e ‘tou passado por eles” (repórter: ‘tás apaixonado por eles?) “exato”. O casal José Besteiro e Ana Rosa likes montes matrimoniar-se no estádio. Besteiro: “sabemos que podemos pôr música, podemos forrar a nossa mesa onde nos vamos casar com a bandeira dos U2”, Ana: “podemos decorar a tenda”, Besteiro: “podemos pôr música e já agora… (repórter: qual é a música?), Besteiro: “‘All I Want Is You’ é o mote do casamento, é a música da minha vida e da dela”. Desilusão e esperança perante a impossibilidade material do nó num terreno sagrado. Besteiro: “ao princípio sim, ficamos um bocadinho revoltados, porque não percebemos imediatamente o porquê, é que esquecemos sempre da parte legal. Um casamento, o casamento é um acto solene, é um acto civil, em que pode aparecer alguém que diga: eu impeço este casamento por isto ou por aquilo”. Com a ajuda da produção esperam que o vocalista lhes dê a bênção e ajude no casamento. Besteiro: “passou um passarinho no Twitter”, Ana: “e disse. Foi”, Besteiro: “mandou-me um tweet a dizer que o Bono já sabia da nossa história e que nos ia chamar ao palco”. Outro fã trocava os vouchers por bilhetes para a zona mais cara, a Red Zone: “bem, os nossos bilhetes, cada um custou 250 euros há um ano atrás”. “Vale, sem dúvida que sim, é uma oportunidade única de ver os U2 em Portugal. O meu filho acompanhou-me, desta vez, também é um fã dos U2, e ter um grande prazer também investir neste pequeno prémio pra ele pra assistir comigo e com a minha esposa, também, a ver os U2”.
“A organização dos concertos dos U2, em Coimbra, confronta-se com casos invulgares como o de um casal que se separou após adquirir os ingressos e acabou em tribunal a discutir a titularidade das entradas. ‘O homem defende que os bilhetes lhe pertencem. Alega que foi ele que esteve na fila para os comprar’, disse hoje à agência Lusa uma fonte da produtora Ritmos & Blues. Outro caso envolve também um casal, igualmente desavindo depois da compra dos bilhetes com lugar marcado e que recusam agora sentar-se ao lado um do outro no estádio. ‘Compraram bilhetes juntos, entretanto a relação acabou e não querem ficar ao pé um do outro’, sublinhou a fonte. Em declarações aos jornalistas, Álvaro Ramos, responsável da Ritmos & Blues, aludiu também a casos de fãs dos U2, atualmente grávidas, preocupadas com os acessos ao estádio. ‘Temos histórias giríssimas de pessoas que compraram o bilhete [há um ano] e agora estão grávidas, ligam-nos a dizer que fizeram mal o planeamento familiar e estão muito preocupadas como é que vêm [aos concertos]’, frisou. Outros admiradores da banda irlandesa, adiantou, ‘compraram [acessos] de deficientes e já não são. Outros não eram e passaram a ser’”. Caindo num caldeirão destes, poção de vida mágica, não há outra alternativa senão afundar-se na bebida e na droga: “Keep Control Plus” (2009), Sono, banda de Hamburgo.
O Papa Bento XVI prevenia em 2000, talvez com o seu espírito em Fátima, contra o rock: “é a expressão de paixões básicas que nos festivais de música ganha um carácter de culto oposto à adoração cristã”.
Pelos caminhos de Portugal:
Mário Mata nasceu em Luanda dia 2 de setembro de 1960. Em agosto de 1974 retorna a Portugal. “Passou a sua juventude no Algarve, e mais tarde assentou arraiais com a família em Penela, Coimbra. Em 30 anos de carreira, gravou apenas 5 discos: 3 na década de 80 (quando foi descoberto), um na de 90, e outro já neste novo milénio. É muito pouco para tantos anos dedicados à música, por paixão. Mas continuou sempre, e teimosamente, de viola às costas, cantando em bares e pequenos espaços, com pouco mais que apenas ele e a sua música, e sempre que possível com o seu amigo e companheiro de palco João Ma” ▬ “Não há nada p'ra ninguém” (1980) ♫ “Rolling na Reboleira” (2012). Conjunto Mundo Novo “foi fundado em 29 de agosto de 1990. Preparavam-se para no dia 31 de dezembro dar o seu primeiro espetáculo no lugar Catraia de Assequins em Águeda. Inicialmente era constituído por seis elementos: dois acordeonistas, um guitarrista, um percussionista, duas vozes femininas e muita vontade de levar a música portuguesa aos ouvidos das pessoas. Os instrumentos tocados eram o acordeão eletrónico e acústico, viola ritmo e os instrumentos de precursão tradicionais como o bombo, a pandeireta e os ferrinhos acompanhados pela caixa ritmo” ▬ “Mexe, mexe mexilhão” (1994) ♫ “Grilinho sai da toca” (2001) ♫ “Ruz truz truz / A picada do ouriço” (2009/2010). – O grilinho é um bicho escuro muito na boca do povo. Em Padim da Graça, Braga, “Alzira e um cantor pimba vivem na mesma rua. Ele fez uma canção sobre o grilo da Zirinha. Ela não gostou, ‘deu-lhe duas chapadas’ e ele levou o caso a tribunal. A mulher foi admoestada pelo juiz, mas agora corre outro processo na Justiça, com Alzira a pedir uma indemnização. João Miguel Costa, 39 anos, cantor e compositor, é vizinho de Alzira Reis Gomes, 52 anos, operária têxtil, casada, mãe de três filhos e descendente de uma das famílias mais conhecidas de Padim da Graça. Alzira é conhecida na freguesia de Braga por ‘Zirinha’”: “Cacei o grilo à Zirinha” (2013). Miguel Costa explicou-se: “a senhora é que tocou na campainha de minha casa, alguém lhe disse que o Miguel fez um CD muito bonito e q’a música era pra ela. Ela foi influenciada por alguém, não pelo Miguel, foi alguém que a influenciou” (repórter: foi lá a casa ouvir o CD?) “exatamente” (repórter: ouviu a música?) “ouviu essa música, ouviu todas elas, porque o meu CD começa desde ‘O meu querido pai’ à última faixa” (repórter: ela disse alguma coisa em relação a essa música?) “ela disse, gostou muito”. “Essa senhora, então, julgando que a música q’é pra ela, só aparece uma vez por ano às comissões de festas, chega lá, intimidou a comissão de festas, porque a mãe é empresária, e então intimidou a comissão de festas, à partida, que se puserem o meu CD a tocar que automaticamente não há, essa verba não lhes é atribuída”. Agora Zirinha exige 6 mil euros alegando ser vítima de chacota popular por causa  do “Cacei o grilo”. O compositor não desiste, insiste noutro hit: “O peixinho da Maria, é outro, isso é outro tema que vai ser integrado num outro CD que eu vou lançar, vamos ver se tudo nos corre bem, pronto. Eu ‘tou a trabalhar com força nisso (…) espero que nenhuma Maria se vá zangar comigo, por amor de Deus, que isto já, porque o tribunal já me está aqui até à palinha do cabelo” [1].
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[1] A gravação foi inventada para gravar música portuguesa. Fonoautógrafo, sistema de gravação inventado em 1857 por Édouard-Léon Scott de Martinville, 20 anos antes do fonógrafo de Thomas Edison. Martinville foi o primeiro a gravar som, Edison o primeiro a reproduzi-lo. “Por mais de um século, desde que ele capturou as palavras ‘Mary had a little lamb’ numa folha de alumínio, Thomas Edison tem sido considerado o pai da gravação sonora. Mas investigadores afirmam ter descoberto uma gravação da voz humana feita por um francês pouco conhecido, que precede em cerca de duas décadas a invenção de Edison do fonógrafo”. O historiador de áudio Patrick Feaster: “Édouard-Léon Scott de Martinville foi o inventor da ideia de gravar sons do ar através de uma membrana. Assim, a ideia básica é que isso abrande todos os microfones, todos os dispositivos de gravação de som que temos hoje”. Em 2008, cientistas do Lawrence Berkeley National Laboratory, Califórnia, extraíram o som de um fonoautograma de 1860, do que julgaram ser a voz de uma criança cantando “Au clair de la lune”. Cientistas do “first sounds” alcançaram outra conclusão, o historiador de áudio David Giovannoni: “neste momento, esta gravação de ‘Au clair de la lune’ ainda é de 9 de abril de 1860. Isso não mudou. O que muda é a nossa interpretação. Em vez de uma janela abrindo-se para o passado, onde esta jovem está tentando chegar até nós, cantando ‘Au clair’, em vez disso, agora entendemos que os sons vindos através dessa janela são do próprio inventor a fazer uma experiência”. Patrick Feaster: “decidimos que, em vez de reproduzir a voz de uma jovem, provavelmente a filha do inventor, estamos realmente a ouvir a voz do próprio inventor. Nós reproduzíamos na velocidade errada. Mas, além dessa gravação, tropeçamos numa arca de material novo num arquivo em França datando de três anos antes, portanto, um lote de gravações de 1857”. – Atualmente, a Vulcan Cylinder Record Company, Sheffield, Inglaterra, ainda comercializa cilindros de cera: “He’s In The Jailhouse Now”. “Na década de 1890, cilindros de cera (para o fonógrafo) e discos de goma-laca (para o gramofone) eram tecnologias competindo no mundo da gravação de sons. Os ouvintes podiam ouvir as vozes de Thomas Edison, inventor do fonógrafo e Emil Berliner, criador do disco” ▬ fotos na inspiradora lua, “Au clair de la lune”: Georges Méliès ♫ Colette Renard ♫ looolPathétiqueMc Solaar.