Pratinho de Couratos

A espantosa vida quotidiana no Portugal moderno!

domingo, janeiro 05, 2014

Surf Nicarágua [1] 

1983. Mês de abril. No quintal dos Estados Unidos adubava-se a terra com cálcio e dólares [2]. “A CIA já utilizou os 19 milhões de dólares previstos para a assistência aos grupos exilados nicaraguenses baseados nas Honduras e destinou 11 milhões suplementares, procedentes de fundos secretos, ao equipamento dos combatentes anti-sandinistas” [3]. El presidente, Ronald Reagan, distribuía aos dignos de… (deu nome a Cristiano Ronaldo), tirava aos indignos de… tirava aos comunistas. “Informações publicadas nos últimos dias pela imprensa dos Estados Unidos, sobre a possibilidade de uma redução substancial das importações de açúcar, da Nicarágua, foram hoje [quarta-feira, 5 de abril] confirmadas pelo secretário de Estado da Agricultura, John Block”. “De acordo com o sistema de quotas estabelecido, à Nicarágua correspondem 2,1 % dos 2,5 milhões de toneladas de açúcar, que os Estados Unidos importarão durante o corrente ano fiscal. Os planos da administração Reagan reduziriam as 55 mil toneladas de açúcar nicaraguano para seis ou dez mil toneladas, equivalente a uma perda de 15 milhões de dólares anuais” [4]. – A principal função da imprensa é manipular, informar é um acaso colateral, e essa função é vital na Era das redes sociais: “Una noticia mal contada / Es un asalto a mano armada!” [5].
Segunda-feira, 4 de abril morria Gloria Swanson, uma amiga do tremoço, da amêijoa e da Praia das Maçãs [6]. No sábado, 9, “o programa televisivo Festa é Festa, de Júlio Isidro, não vai hoje para o ar, estando a sua emissão suspensa até ao final da campanha eleitoral. A decisão da suspensão coube à administração da RTP, que deliberou afastar dos ecrãs, durante a campanha, todos os profissionais ou colaboradores regulares que intervenham em tempos de antena. Estão neste caso Júlio Isidro, que apareceu no tempo de antena do PS, Isabel Baía, candidata independente pelas listas da APU, Carlos Quinas (CDS) e Agostinho Branquinho (PSD)”. Após as respetivas queixas, quarta-feira, 13, “a Comissão Nacional de Eleições recomendou à RTP que fosse levantada a suspensão contra o programa Festa é Festa, por não terem fundamento legal os motivos invocados para afastar Júlio Isidro do pequeno ecrã. (…). A CNE considera que o facto de Júlio Isidro não ser candidato a deputado compromete a decisão da administração da RTP, sendo Isidro um cidadão livre de adotar as atitudes que quiser e como quiser. (…). Já a suspensão de Agostinho Branquinho, Carlos Quinas e Isabel Baía foi diferente. Quaisquer destes profissionais é candidato a deputado, tal como aliás, a dra. Maria Barroso. Aqui a CNE não contesta as suspensões e, aliás, foi ela mesmo que recomendou no caso da mulher de Mário Soares, cabeça de lista do PS no círculo eleitoral de Faro, depois de uma queixa do CDS”.
No país do Burro Mirandês [7] aprendia-se línguas. Terça-feira, 12, “saiu de Custóias, após seis meses de prisão em consequência de um ‘equívoco lamentável’, (palavras do próprio juiz), o técnico de som dos Duran Duran, Stéphane Pascale Étienne, 24 anos, de nacionalidade belga. O referido técnico, que viera a Portugal em outubro último integrado na digressão daquele conjunto rock inglês, estava acusado de se ter apoderado abusivamente de uma viatura Porsche pertencente ao comerciante portuense Luís Grego Leal. Parece que este, logo na altura da prisão do jovem belga, sugerira uma absolvição por entender tratar-se de uma confusão entretanto esclarecida. (…). A confusão que motivou esta incrível prisão foi criada por uma troca de viaturas entre aquele comerciante e o belga. Este seguiu para Cascais com o Porsche e deixou a sua viatura, em troca, ao comerciante. Pensando tratar-se de um golpe, este entregou o caso de imediato às autoridades que prenderam o belga, com grande surpresa sua, e apreenderam a viatura, intacta, dois dias depois em Cascais. Parece que a viatura do belga até valia muito mais do que o Porsche do comerciante do Porto. Mas a queixa estava feita e o tribunal acabou por enviar Stéphane Étienne para Custóias. (…). O belga confessou que vira em Custóias coisas que nunca sonhara ver na vida, e que o único benefício foi aprender a falar um pouco de português”.
Quinta-feira, 21, ao Governo apetecia-lhe manjar subsídios [8]. “Reagindo à publicação, no Diário da República de 20 de abril, de um despacho normativo do primeiro-ministro [demissionário, Pinto Balsemão], que pretende reduzir o subsídio de férias dos trabalhadores da função pública, a Federação dos Sindicatos do setor afirma que esta medida é ‘manifestamente ilegal’ e contrária à opinião ‘já expressa, quer dos órgãos competentes da administração pública, quer pela Procuradoria-Geral da República’. A aplicação do despacho, sublinha a Federação, lesaria globalmente os 380 mil trabalhadores da administração pública, central, regional e local. Com efeito, o despacho normativo 93/83, determina que o subsídio de férias ‘seja equivalente ao montante da remuneração dos dias de férias que, em concreto, o funcionário ou agente tenha direito a gozar’”.
Segunda-feira, 25 de abril, nas eleições legislativas antecipadas, o povo soberano escolhe os mais sábios da nação para negociarem com o FMI, entretanto aterrado em Lisboa e o voto vai para… PS – 36,3 %; PSD – 27,0 %; APU – 18,2 %; CDS – 12,4 %; e a UDP desaparecia da Assembleia.
Um mês antes, em março, caía melaço do céu, nascia Evgenia Diordiychuk. Playboy Backstage” (“Black Velvet”, Alannah Myles: “Mississippi in the middle of a dry spell / Jimmy Rogers on the victrola up high / Mama's dancin' with baby on her shoulder / The sun is settin' like molasses in the sky”). Evgenia Diordiychuk nasceu a 30 de março de 1983 em Druzhkovka, Ucrânia. Estatísticas vitais: 1,68 m, 48 kg, 89-61-86, sapatos 38, olhos escuros, matiz verde-oliva, cabelos negros como o azeviche, hobbies: dançar e viajar, cor favorita: preto. Evgenia, agora com 30 anos, era desde os 19 a chef-d’oeuvre extraordinaire da net Katie Fey, (segundo falsa informação da Boobpedia seria irmã de Kristina Fey e prima de Felicity Fey). Obra fílmica canónica: “Breeze”, “Striptease”, “Katie Fey na praia”, “Pizza”, “Cama”, “Botas pretas”, “Lavatório”, “Compilação”. Obra pictórica algodão doce: galeria, fotos, por Sergei Enenko, {tumblr} {site}. Evgenia, abreviando o seu nome para Jenya D, retratou no websiteMetArt Models”. Foi playmate no Playboy russo agosto 2008, no Playboy mexicano maio 2011, no Playboy grego novembro 2012, no Playboy americano 2013. Evgenia foi estrela nos vídeos de Dmitry Diordiychuk: “Erotica” (Madonna), “Morning” (“Practice What You Preach”, Barry White) e “Backstage #2: Playboy, Eugenia Diordiychuk” (“Tight”, INXS, modelo: Liza Voronina). No dia 26 de dezembro de 2011, em Las Vegas, o músico e produtor americano-ucraniano Vlad Debryansky, pediu-a em casamento, no 1.º de janeiro de 2012 casaram-se em Los Angeles. Juntaram palavras no vídeo “Tangled”, Vlad c/ Katja Rieckermann (saxofone).
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[1] Sacred Reich – “Surf Nicaragua” (1988): “You fight for democracy / And the ‘American Way’ / But you're not in your country / ‘What am I doing here?’ you say / But now it's too late / You're entering Managua / If you had brought your surfboard / You could surf Nicaragua”.
[2] Há décadas, por imposição dos mercados, que o adubo mais corrente na América Latina era o corpo humano. O National Security Archive, da universidade George Washington, disponibilizou o Guatemala Documentation Project, com instrutivos modelos para futuro, sobre a Guerra Civil guatemalteca (1960-1996). “Foi sobretudo travada entre o Governo da Guatemala e vários grupos esquerdistas rebeldes apoiados principalmente pelos povos indígenas maias e camponeses ladino, que juntos compõem a população rural pobre. As forças governamentais foram condenadas por cometer genocídio contra o povo maia durante a Guerra Civil e por violações generalizados dos direitos humanos contra civis”. O Mundo Livre (atual Comunidade Internacional) tinha na Guatemala uma fonte de recursos, sendo os guatemaltecos um povo atrasado, era justíssimo que contribuíssem para o progresso com o corpo para trabalhar e experimentar. “Entre 1946 e 1948, investigadores de saúde pública americanos infetaram centenas de prisioneiros, soldados e doentes mentais guatemaltecos com sífilis e gonorreia, sem o seu conhecimento ou consentimento, a fim de testar a eficácia da penicilina. As experiências foram realizadas na Guatemala sob a capa do sigilo e os resultados nunca foram publicados nos Estados Unidos”. Quando estes ingratos se revoltaram, justíssimo ainda que os seus superiores os corrigissem, chacinando-os. São orgulho do Mundo Livre muitos massacres nessa terra. “Em 17 de abril de 1981, um telegrama da CIA descreveu um massacre do exército em Cocob, perto de Nebaj, no território índio Ixil, porque acharam que a população apoiava as guerrilhas esquerdistas”.
A promoção do genocídio by Ronald Reagan. “Logo após assumir o cargo, em 1981, a equipa de segurança do presidente Ronald Reagan concordou em fornecer ajuda militar ao brutal regime de direita na Guatemala, para cumprir o objetivo de exterminar, não apenas as ‘guerrilhas marxistas’, mas também as suas ‘bases de apoio civil’, segundo um documento dos Arquivos Nacionais recentemente divulgado. Ao longo dos próximos anos, a assistência militar da administração Reagan ajudou o exército guatemalteco a fazer exatamente isso, envolvendo-se no massacre de cerca de 100 000 pessoas, incluindo, o que uma Comissão da Verdade considerou genocídio contra os índios maias nas terras altas do norte. Documentos recentemente descobertos na Reagan Presidential Library, em Simi Valley, Califórnia, revelaram também que a Casa Branca de Reagan congeminava com Israel num esquema para contornar as restrições do Congresso, sobre o equipamento militar para o exército guatemalteco”. O dinheiro americano nunca foi desperdiçado – ainda estávamos muito longe do dinheiro fácil e do viver acima das suas possibilidades dos Economistas Portugueses – ali, cada dólar, rendia milhões. Na “Operação Sofia” “o exército da Guatemala, sob o comando do presidente de facto, general Efraín Ríos Montt, conduziu uma deliberada campanha de contra-insurgência, no verão de 1982, destinada a massacrar milhares de camponeses”. E funcionava um produtivo Esquadrão da Morte que deliciaria a Comunidade Internacional atual: “no momento em que o Governo e os guerrilheiros assinaram o acordo de paz em 1996, cerca de 160 000 pessoas tinham sido mortas e 40 000 ‘desapareceram’”.
Manual de assassinatos da CIA. “Entre os documentos encontrados nos arquivos de treino da Operação PBSUCCESS e desclassificados pela Agência está um ‘Estudo de Assassínios’. Um guia de como fazer na arte do homicídio político, o manual de 19 páginas oferece discrições detalhadas dos procedimentos, instrumentos e execução do assassinato. ‘As ferramentas locais mais simples são frequentemente os meios mais eficientes de assassinato’, aconselha o estudo. ‘Um martelo, um machado, uma chave-inglesa, uma chave de fendas, um atiçador de fogo, uma faca de cozinha, um pé de candeeiro, ou algo duro, pesado e portátil será suficiente’. Para o assassinato usando ‘armas de lâmina’, o manual observa, em frios termos clínicos, ‘feridas de punção na caixa torácica podem não ser fiáveis a menos que o coração seja atingido… Fiabilidade absoluta é obtida cortando a espinal-medula na região cervical’. O manual nota também que, para fornecer negação plausível, ‘as instruções de assassinatos nunca devem ser escritas ou gravadas’. O homicídio, declaram os autores, ‘não é moralmente justificável’ e ‘pessoas que são moralmente impressionáveis não devem tentar fazê-lo’”.
Uma história de alto valor moral. “Em 1982, o exército guatemalteco massacrou os habitantes de Dos Erres, matando mais de 200 pessoas. Trinta anos depois, um guatemalteco vivendo nos Estados Unidos recebeu um telefonema de uma mulher que lhe disse que dois rapazes tinham sido raptados durante o massacre, e ele era um deles”. Era ele Oscar Alfredo Ramírez Castañeda, emigrante ilegal vivendo perto de Bóston, e a sua família e vizinhos tinham sido mortos pelos comandos Kaibiles, cujo lema, ainda hoje, é uma lição para a vida: “se eu avançar, sigam-se. Se eu parar, incitem-me a seguir. Se eu recuar, matem-me”.
“O esquadrão invadiu Dos Erres às duas da madrugada. Os comandos arrombaram portas e arrebanharam as famílias. Embora os soldados fossem preparados para tiroteio, não houve resistência. Eles não encontraram nenhum dos rifles roubados. Os comandos reuniram os homens numa escola e as mulheres e crianças numa igreja. A violência começou antes do amanhecer. Um dos soldados, César Ibañez, ouviu os gritos de raparigas implorando por socorro. Alguns soldados observavam enquanto o tenente César Adán Rosales Batres violava uma rapariga de 10 anos em frente da sua família. Seguindo o exemplo do seu oficial superior, outros comandos começaram a violar raparigas e mulheres. Ao meio-dia, os comandos ordenaram às mulheres de que tinham abusado, que lhes preparassem comida, num pequeno rancho. Os soldados comiam por turnos, cinco de cada vez. As raparigas choravam enquanto serviam Ibañez e os outros. Regressando ao seu posto, Ibañez viu um sargento levando uma rapariga para um beco. O sargento disse-lhe que a ‘vacinação’ tinha começado. Os comandos trouxeram os aldeões, um a um, para o centro da aldeia, perto de um poço seco com cerca de 12 metros de profundidade. Fabio Pinzón Jerez, o cozinheiro do esquadrão, e outros soldados tranquilizaram os cativos de que tudo iria ficar bem. Eles iam ser vacinados. Era uma precaução de saúde rotineira, nada com que se preocupar. O comando Gilberto Jordán derramou o primeiro sangue. Ele carregou um bebé para o poço e atirou-o para a morte. Jordán chorou enquanto matava o infante. Todavia, ele e outro soldado, Manuel Pop Sun, continuaram a atirar crianças no poço. ‘Malditos!’, os aldeões bradaram para os seus algozes. ‘Filhos de uma grande puta, vão morrer!’, vociferaram de volta os soldados”.
Finda a guerra, os despojos ficaram para as aves madrugadoras. “O El País publicou a 15 de fevereiro de 2011 uma série de telegramas da WikiLeaks sobre a Guatemala. Cinco telegramas da embaixada americana na Guatemala tinham sido arquivados sob o tema ‘Corrupção na Guatemala’. (…). Boa parte das informações nos telegramas vem de discussões entre a embaixada americana e Carlos Castresana, ex-comissário da Comisíon Internacional Contra la Impunidade en Guatemala (CICIG). No 08GUATEMALA355, datado de 19 de março de 2008, o ex-embaixador Derham relata que Castresana descreveu-se a si próprio como impreparado, tanto para o nível de corrupção com que foi confrontado nas instituições guatemaltecas de aplicação da lei, como também pela extensão em que estas instituições tinham sido infiltradas pelo crime organizado. Castresana sugeriu na época que, nem procurador-geral Juan Luis Florindo nem o ministro do Governo, Vinicio Gómez, tinham o controle dos seus departamentos. Ele também criticou a Polícia Nacional Civil, cujos métodos descreveu como sendo de legalidade duvidosa”.
Bill Clinton pediu desculpa em 1999: “É importante que eu declare claramente que o apoio para as forças militares ou unidades de informação, que se envolveram em repressão violenta generalizada do tipo descrito no relatório, estava errado. E os Estados Unidos não devem repetir esse erro. Devemos e vamos, em vez disso, continuar a apoiar a paz e o processo de reconciliação na Guatemala”. A América Latina já não tinha o seu defensor para fazer os donos engolirem desculpas. Che Guevara: “Para nós, os que vivemos a sul do Rio Bravo, qualquer das pátrias americanas é nossa, e por qualquer delas podemos dar o nosso sangue, na convicção que estamos a lutar pela nossa pátria”. (Discurso de Che Guevara na ONU, dia 11 de dezembro de 1964, sobre as provocações dos Estados Unidos contra Cuba).
[3] “O envolvimento americano na Nicarágua começou a sério em 1911, quando um tratado deu aos Estados Unidos o direito de intervir nos assuntos nicaraguenses, com o resultado de os marines chegarem no ano seguinte para proteger os interesses americanos – e ficaram duas décadas. A oposição à presença americana uniu-se sob a liderança de Augusto César Sandino, uma revolta que ganhou fôlego quando Anastasio Somoza García tomou o poder após a saída dos marines em 1933. [O presidente Franklin D. Roosevelt, supostamente, terá dito em 1939 que “Somoza pode ser um filho da puta, mas ele é o nosso filho da puta”]. Dois eventos na década de 1970 uniram o povo nicaraguense à oposição: o aproveitamento descarado, em benefício próprio, pelo Governo de Somoza da ajuda humanitária, na sequência do terramoto de 1972 que abalou a capital Manágua, e o assassinato em 1978 de Pedro Chamorro, o editor do jornal La Prensa, que era altamente crítico da ditadura de Somoza. Quando os Estados Unidos pararam de fornecer ajuda económica e militar ao Governo nicaraguense em 1979, Somoza [filho do primeiro] foi deposto e os sandinistas chegaram ao poder. (…). Quando se tornou evidente que os sandinistas estavam a canalizar ajuda militar cubana para as guerrilhas marxistas no vizinho El Salvador, o presidente Jimmy Carter suspendeu a ajuda a Manágua em janeiro de 1981 a). Os chegados reaganistas foram mais longe, depois de uma iniciativa diplomática tímida, que falhou, em convencer os sandinistas a cortar os laços com Cuba e a União Soviética, a administração Reagan tomou medidas mais agressivas. O presidente assinou a Security Decision Directive em 17 de novembro de 1981, autorizando 20 milhões de dólares em ajuda para a oposição sandinista, os Contras. A CIA foi encarregada com a responsabilidade de organizar uma ‘força de interdição’ de 500 membros para apoiar, treinar e aconselhar os Contras, inicialmente com a ajuda da Argentina e das Honduras. A Agência montou uma base de operações para a sua Central American Task Force (CATF) nas Honduras, e em 1983 estava a gastar 45 milhões de dólares para sustentar 7000 insurgentes. (…). Inicialmente, a Casa Branca negou que, os seus esforços a favor dos Contras, tivessem sido projetados com a queda do Governo nicaraguense em mente. ´O nosso propósito’, disse Reagan, ‘é impedir o fluxo de armas [da Nicarágua] para El Salvador, Honduras, Guatemala e Costa Rica’”.
a) “O financiamento americano aos Contras, que foi oficialmente interrompido em 29 de fevereiro de 1988, deu origem a um escândalo político dos Estados Unidos (o chamado Irangate), quando se soube que o assessor nacional de segurança, almirante John Pointdexter e o seu auxiliar, tenente-coronel Oliver North, tinham entrado em contacto com o Governo iraniano para a venda de armas, cujo produto reverteria a favor das operações dos Contras. Este financiamento extra-oficial tinha as vantagens de ignorar possíveis restrições impostas pelo Congresso e não obrigava os beneficiados a conformar-se com as normas obrigatórias de direitos humanos impostas pela administração Carter, impossíveis de seguir por completo num cenário de contra-insurgência”, em “Ação direta”, John Andrade.
[4] A Nicarágua agora está no século XXI. Beneficia do progresso e bem-estar. Isto é, os velhos lutam por pensões. “O Instituto da Segurança Social governamental está fechado desde terça-feira [18 de junho 2013], quando um grupo de 100 velhos ocupou o edifício para exigir o acesso a pensões parciais, uma reivindicação que fazem há mais de 4 anos. A polícia respondeu à ocupação formando um cerco, desligando a energia e a água do prédio e impedindo outros de trazer comida, água ou remédios aos manifestantes velhos no interior”. “‘Nós todos votámos nele (Daniel Ortega) porque ele nos prometeu, se votássemos nele, que resolveria o nosso problema’, diz Julio César Feliz. ‘eu era um sandinista. Fomos aqueles que pagaram o preço durante a luta revolucionária, e agora reprimem-nos’”. 
Em Portugal, há um estudioso que faz doutrina em segurança social, o 2.º ministro Paulo Portas: “a TSU das pensões valia 436 milhões de euros. Condição! de recursos nas pensões de sobrevivência permite poupança de 100 milhões. Segundo, a TSU das pensões, como sabe, aplicava-se a pensões de quatrocentos e poucos euros. Em nenhuma circunstância, na questão da condição! de recurso das pensões de sobrevivência, reformas desse valor, que é muito baixo, serão ou terão qualquer impacto. Em terceiro lugar, não se terá, enquanto a TSU das pensões era um corte transversal nas pensões, aqui o que está em causa é uma condição! de recursos, quando há acumulação de pensões, porque é relevante, tal como outras prestações sociais, saber se quando vem a segunda pensão, qual é o nível de rendimento que a primeira já proporciona”. “Não há comparação entre uma condição a recursos nas pensões de sobrevivência e a TSU dos pensionistas” (outubro 2013).
A redução da natalidade, a redução dos postos de trabalho, a redução dos salários, a redução da inteligência causaram um grave problema de sustentabilidade nos sistemas de pensões dos ex-ricos países europeus. Problema económico difícil, problema científico fácil, com o teste que prevê quanto tempo resta de vida. “Os cientistas criaram um teste não invasivo chamado teste da morte – o primeiro do seu género no mundo, que pode dizer às pessoas, quanto tempo lhes sobra para viver. Uma pulsação laser indolor é aplicada na superfície da pele através de um dispositivo semelhante a um relógio de pulso. Isto mede como o corpo de uma pessoa irá declinar com a idade analisando as células endoteliais”. Adeus, défices. O Estado calcula o valor total da pensão, o reformado faz o teste e calcula o tempo de vida, e o Estado divide o dinheiro pelo número de meses. Se não bater o carcanhol com a respiração, se houver mais vida que dinheiro, o reformado assina uma Carta de Intenções comprometendo-se a se suicidar, voluntariamente, ou a recorrer a centros clínicos do Estado para esse efeito, pagando a família a bala (ou a injeção letal para os mais medricas). Depois de construída a rede nacional de centros clínicos e executado o sistema, com dinheiros públicos, é recomendável a sua privatização, pois o empreendedorismo e a concorrência aumentarão o produtivity growth e descerão os preços (das balas) para as famílias.
[5]Multi_Viral”: “Cuando gritar se convierte en nuestro único lenguaje... / A mi me ordena la razón, a ti te ordena un coronel / Si nuestra lucha es de cartón / La de ustedes es de papel!”; uma colaboração entre Rene Perez, i.e. Residente, do duo ativista porto-riquenho Calle 13, a vocalista palestiniana Kamilya Jubran, o guitarrista dos Rage Against the Machine Tom Morello e o prisioneiro da embaixada equatoriana em Londres, Julian Assange. – Outros também versaram a informação para o povo. Lupe Fiasco c/ Skylar Grey, “Words I Never Said”: “If you turn on TV, all you see's a bunch of ‘what the fucks’ / Dude is dating so and so, blathering 'bout such and such / And that ain't Jersey Shore, homey, that's the news”. (Lupe, repetidamente, cantou esta canção durante 40 minutos até o expulsaram do palco). Ou “Rise”, dos Surveillance, projeto paralelo de Tom Shear dos Assemblage 23, o grupo eletrónico de uma só pessoa, fundado por Shear em 1988 b).
b) O novo modelo de controlo da informação, pelo Estado, através da difusão de opinião nas redes sociais pelos jovens turcos dos partidos políticos aniquila as formas clássicas de contestação, docilizando-lhes os objetivos na “história” oficial (conceito descoberto pelo ministro Maduro). Entre tweets, o protesto por mulheres nuas esgueira-se desta barreira interpretativa redessocial cavalgando o natural puritanismo ou opção sexual alternativa do jovem político sentinela online. Este tipo de protestadoras terá vida ativa curta, como os jogadores de futebol, reformando-se quando o corpo já não responder aos padrões – a fotógrafa Gracie Hagen: “Ilusões do corpo foi feito para combater as supostas normas daquilo que nós pensamos que o nosso corpo se supõe parecer. A maioria de nós percebe que os média apenas mostram as fotos mais bonitas das pessoas, todavia comparamo-nos com essas imagens. Nunca conseguimos ver essas imagens justapostas a uma foto dessa mesma pessoa parecendo pouco lisonjeira. O contraste ajudaria muito os problemas de imagem corporal que nós, como cultura, temos”.
Floreja o corpo, verdeja o protesto. Aliaa Magda Elmahdy, a “bloguista nua”, define-se como “egípcia secular, liberal, feminista, vegetariana e individualista” e fez desse corpo egípcio, secular, liberal, feminista, vegetariano e individualista, um templo de protesto. “A minha mensagem é: igualdade de género e o meu corpo não é pecado. Queremos a mensagem da primavera das mulheres, liberdade para as mulheres, liberdade de ter a sua própria escolha individual de decidir sobre o seu corpo, não ter alguém ordenando-lhe. Não devemos ser chamadas putas ou que estamos a fazer algo vergonhoso, como eles nos chamavam na mesquita. Estavam a chamar-nos putas do inferno. Amenia estava a ser ameaçada que seria apedrejada até à morte. Ela era uma jovem que acreditava que a Primavera Árabe traria liberdade”. “Ponham em tribunal as modelos dos artistas que posaram nuas para as escolas de arte até ao início dos anos 70, escondam os livros de arte e destruam as estátuas nuas da antiguidade. E então, dispam-se e coloquem-se diante de um espelho, queimem os vossos corpos, que desprezam, para se livrarem para sempre dos vossos complexos sexuais, antes de dirigirem a vossa humilhação e chauvinismo e se atrevam a tentar negar-me a minha liberdade de expressão”. Ações de protesto: Aliaa em frente da embaixada egípcia em Estocolmo “nudez pelo Egito”. Lidera as ativistas da Femen num striptease na mesquita de Estocolmo. No jornal Libération, “em torso a Alá”: “Se eu passar os testes, gostaria de retomar os meus estudos, entrar numa escola de cinema para fazer filmes, onde defenderia as minhas ideias, os direitos das mulheres e a liberdade de cada um fazer o que quiser”.
O Nude Photo Revolutionary Calendar 2012 homenageava-a. “O calendário é uma criação da ativista dos direitos humanos Maryam Namazie (…). Foi projetado por Sonya Barnett, de Toronto, cofundadora do SlutWalk. ‘O islamismo e a direita religiosa estão obcecados com o corpo da mulher’, disse Maryam Namazie. ‘Eles exigem que seja coberto, amarrado e amordaçado. Face a esta agressão, a nudez quebra tabus e é uma importante forma de resistência’. Entre outras que se juntaram à iniciativa estão a cofundadora de We Are Atheism, Amanda Brown, a ativista da FEMEN Alena Magelat e a escritora Saskia Vogel. ‘Em solidariedade para com Aliaa Magda Elmahdy, gostaria de salientar que os nossos corpos (e pensamentos) pertencem-nos e a mais ninguém’, disse Nina Sankari, outra mulher que se despiu para ‘gritar contra uma sociedade de violência, racismo, sexismo, assédio sexual e hipocrisia’”.
As primaveras da Comunidade Internacional. “Após o assassinato do coronel Gaddafi, o Conselho Nacional de Transição líbio (CNT) apresentou os seus planos para o futuro. Uma das suas primeiras proclamações foi que, a proibição da poligamia na Líbia, seria levantada. A poligamia, esse direito dado por Deus aos homens, que tanto sofreram os líbios sem ele, sob a bota ditatorial de Gaddafi. O horripilante pensamento de ser casado com uma única mulher anos a fio. Certamente Gaddafi, que estava secretamente apaixonado por Condoleezza Rice, deveria ter permitido aos concidadãos apimentarem as suas vidas conjugais. O 10 Downing Street podia vestir o presidente do CNT, Mustafa Abdul Jalil, num fato por medida e ensiná-lo como usar um microfone, mas os seus instintos primários eram menos fáceis de endireitar”.   
A arte de bem despir toda a roupa sublinha a mensagem, nas declarações de princípios: “mulher caminha nua contra a lapidação”. Ou nas afirmações de estilos de vida: Lady Gaga cresceu a sua lanugem íntima para celebrar o estilo andrógino na revista Candy, “The First Transversal Style Magazine”, número de inverno 2013-2014. – Um guia para fatos de Evas caídas do Paraíso: “How To Look Naked”, Black Light Burns, banda de rock industrial de Wes Borland dos Limp Bizkit: “The crows and buzzards will pick your bones clean / No name of yours will be upon the wall / Hold tight on Halloween, and rape by magazines / We line up on the edge to watch you fall”.
[6] Gloria Swanson comia tremoços na Praia das Maçãs. “Nas duas ou três vezes que passou férias na Praia das Maçãs, Gloria Josephine Mae Svenson, ou Gloria Swanson (1899-1983) para os anais do cinema, dispensou as pulseiras e colares Cartier. Quando descia ao areal, vinda de um longo passeio a pé - ou de caleche, em dias agrestes - entre as falésias das Azenhas do Mar e a Praia Pequena, ninguém podia supor que aquela senhora discreta fosse Norma Desmond, a personagem imortal de ‘O Crepúsculo dos Deuses’, filme de Billy Wilder (1950), que protagonizara ao lado de William Holden e Erich von Stroheim e lhe devolvera a aura dos tempos da prostituta Sadie Thompson (‘A Sedução do Pecado’, 1928) e da estenógrafa de ‘The Trespasser’ (1929). (…). Diz-se que a primeira vinda a Portugal se deveu ao desgosto de ter perdido o Óscar para Judy Holliday. Gloria não perdoou a Hollywood a ingratidão, e desde então as suas aparições rarearam limitando-se a alguns peplum italianos e espectáculos na Broadway. (…). Entre os locais não há memória da sua voz cavada, ou sequer do olhar sobranceiro, do nariz afilado e da farta cabeleira. Hoje, ninguém sabe que a Praia das Maçãs era frequentada por uma das derradeiras divas. Gloria caminhava discreta pelas arribas para cá e para lá, ladeada pelo sobrinho, oculta por lenços violeta e óculos negros de grandes aros. Dispensava o social e as abordagens de algum fã mais atento. Não dispensava o blush. À tarde, preferia os toldos e as esplanadas às festas dos nobres da vila. Gostava de amêijoas e de tremoços. Apreciava a humidade e a bruma, o elétrico, os pescadores empoleirados nas rochas e os berros das gaivotas. Lia Eça, Byron e Rimbaud. Escrevia poemas a lápis de cor que rasgava logo a seguir ou pegava-lhes fogo. Consta que terá passado uma noite inteira de insónia na varanda a contemplar o oceano e a beber moscatel. Gloria chegou a Nova Iorque doente e as praias de Sintra foram as suas últimas férias”. Gloria canta – “Love Your Magic Spell Is Everywhere” (1929) ♪ “If You Haven't Got Love” (1931).
[7] O burro português tem muitas bossas e pouco pelo. O conselheiro de Estado Vítor Bento: “Quando nós nos comparamos, com os outros países, em processo de ajustamento, nós não vemos, nos outros países, esta frequência de de apelo à intervenção jurisdicional da sobre a Constituição, não vemos essa… (locutor: “Porventura, se calhar, as leis são mais bem feitas, mais compatíveis”) não sei, enfim, será uma tese possível. Eu não creio muito nessa via, quer dizer, porque no fundo, quer dizer, cortes são cortes de uma maneira ou doutra, quer dizer, quando corta 15 % nos salários dos funcionários, como cortou na Irlanda, 15 % de cortes nos salários dos funcionários, seja qual for a forma que a lei tenha, são quin… o resultado final são 15 % de cortes, cortes nos salários dos funcionários, a mesma coisa nas pensões e etc. E portanto, e o tribunal começou por ser con… começou por ser confrontado com decisões e, não havendo normas positivas ehm a que atender, porque as decisões, em geral, foram tomadas com base nos princípios gerais, começou por ter uma determinada interpretação, mais restrita dos princípios, de princípios, que, estivessem ou não inscritos na Constituição, seriam sempre apeláveis à interpretação das leis. E, ao ter feito isso, abriu o caminho para que daí pra frente todas as, toda a gente quisesse submeter ehm ou quisesse ou fosse quase forçado a submeter todas as leis ao crivo dessa interpretação de princípios, e portanto, o Tribunal (locutor: “Princípios jurídicos”), não são princípios, sim, são jurídicos, mas são princípios, não são princípios ob objetivos, são princípios que têm uma latitude de interpretação muito grande (locutor: “Como todas as leis”) não, não, não, não, não, uma coisa, quer dizer, há leis há leis que têm que têm textos perfeitamente definidos. Aqui tem um princípio, o princípio da igualdade. O que é que é a igualdade? É um princípio suficientemente lato, e portanto, quando começa a estreitar a sua interpretação, começa a entrar no campo das escolhas das das escolhas políticas, e aí começa de facto a criar-se um problema ehm de futuro”.
[8] Comer e beber é o desporto principal de governos e povo. As desgarradas com Carlos Ribeiro e Vanessa Teixeira, em terras de Gandra: “Ela comeu-me os tomates, pepino, com casca e tudo” (…) “meti um brinco na gaita pra te poder coçar melhor”; em Barbudo: “Mas tu não fiques a chorar, e o que é bom vem sempre à tona, eles vão mamar nas mamas, tu mamas na parte mijona”.

na sala de cinema

Splash” (1984), real. Ron Howard, c/ Tom Hanks (Allen Bauer), Daryl Hannah (Madison), o pai do realizador, Rance Howard (McCullough), o irmão do realizador, Clint Howard (convidado no casamento)… estreia em Portugal na sexta-feira, 26 de outubro de 1984 nos cinemas Alfa 3, Roma e Tivoli. “Allen Bauer (David Kreps), aos oito anos, está de férias com a família perto de Cape Cod. Durante um passeio de barco, olha para o oceano e vê algo abaixo da superfície que o fascina. Allen salta para a água, apesar de não saber nadar. Ele agarra as mãos de uma rapariga que está inexplicavelmente debaixo de água com ele e uma ligação instantânea estabelece-se entre os dois. Allen é rapidamente puxado para a superfície por mãos do convés e os dois são separados, embora, aparentemente, ninguém mais veja a miúda. Depois de o barco se afastar, Allen continua a olhar para trás para a rapariga, que chora com a separação deles. Ela então mergulha para debaixo de água mostrando uma cauda de sereia. Allen acaba por acreditar que o encontro foi uma alucinação de quase-morte, mas o seu laço com a sereia prova-se tão forte que, o seu subsequente relacionamento com mulheres invariavelmente falha, porque ele procura a ligação que sentiu com a sereia[1]. Curiosidades: “a praia onde Tom Hanks encontrou pela primeira vez a Daryl Hannah nua é a antiga Gorda Cay, nas Bahamas. Atualmente chama-se Castaway Cay, a ilha paradisíaca privada dos cruzeiros Disney”. “Daryl Hannah, uma vegetariana, recusou-se a comer lagosta verdadeira na cena do restaurante. A equipa de produção retirou o interior das lagostas cozidas e encheu-as de uma pasta espessa parecida com tofu. Numa entrevista para a ‘Biography (1990)’, o realizador Ron Howard disse que Hannah chorava após cada take por causa das mortes das lagostas para lhes retirar as carapaças”. “Na época das filmagens, Daryl Hannah era extremamente tímida com o seu corpo. Segundo Howard, ela usava pensos rápidos e maquilhagem sobre os mamilos para os esconder”, do que se deduz que o rabo nu na Estátua da Liberdade não será o seu [2]. "Dolce Lingua” (1980), c/ Danilo Micheli (Stefano), Anna Massarelli (Diana), Anna Bruna Cazzato (Angela), Mirella Venturini (Sibilla)… um dos “perversos, enlouquecidos e perdidos filmes de Alberto Cavallone. Em 1980, Cavallone realizou ‘Blow Job / Dolce lingua’: um título enganador considerando a narrativa do filme. Originalmente filmado no verão de 79 e lançado em maio de 80, com o título ‘La Strega nuda’ (A feiticeira nua), conta a história de um jovem (Danilo Micheli) que é atraído a uma casa estranha por uma bruxa feia (Anna Bruna Cazzato), onde encontra um grupo surreal de personagens em circunstâncias surreais. Mais um filme de imagens e sensações do que um enredo coeso – ‘Dolce lingua’ é, todavia, outro filme de Cavallone na fronteira da censura depois de as autoridades travarem um lançamento de uma versão sem cortes: a sua única cena difícil sendo uma sequência de fellatio durante uma tempestade (o produtor Pietro Belpedio alegou que as cenas hardcore foram filmadas e que Cavallone estava a apimentar os seus filmes com cenas hardcore para o mercado francês desde ‘Zelda’). O realizador preferiu usar não-atores no filme, mais interessado nas caras que na capacidade de representar, mesmo que fossem tão expressivas como um pedaço de madeira. ‘Usei diferentes ângulos de câmara’, admitiu Cavallone, ‘tornando-o um problema do editor’”. “La disubbidienza” (1981), real. Aldo Lado, c/ Stefania Sandrelli [3], Teresa Ann Savoy [4], Mario Adorf, Marie José Nat, Carl Diemunch no papel de Luca… vagamente baseado no romance homónimo de Alberto Moravia. Estreia no cinema Satélite, na av. Fontes Pereira de Melo, n.º 61, terça-feira, 7 de setembro de 1982. “Início, criada sensual e governanta de um jovem da classe média. O efeito afetará como intervir com o pai despótico através da negação dos princípios ‘patriarcais’. Situado durante o regime fascista, o segundo filme erótico realizado por Lado – o primeiro, ‘L'ultimo treno della notte’ (1975) – não pode, dado o contexto cultural do autor dell’accarezzare [‘de carícias’] evitar pontos de vista políticos, bem representados pela rebelião do protagonista, manifestada numa bem filmada Veneza fotografada por Dante Spinotti. A Sandrelli dá ao filme a aparência de ‘A Chave’ (1983), ante litteram”. “Luca Manzi é um rapaz de 14 anos quando a República de Salò, no norte de Itália, é governada pelos fascistas. Luca torna-se um resistente, mas depois do fim da guerra, está dececionado, porque as coisas não parecem ter mudado como ele esperava e decide deixar-se morrer. Mas é salvo por Edith que tenta iniciá-lo no sexo. Quando, subitamente, Edith, que era também a amante do pai de Luca, morre de um ataque cardíaco, Luca fica doente de novo. Desta vez, é salvo por Angela, a sua enfermeira, que se vende para comprar o remédio para curá-lo. Angela torna-se amante de Luca quando os seus pais vão para Roma e, quando eles regressam, Luca decide deixá-los, desprezando a vida burguesa[5].
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[1] No plural é… “Mermaids”, Nick Cave and the Bad Seeds: “All the ones who come / All the ones who go / Down to the water / All the ones who come / All the ones who go / Down to the sea // I believe in God / I believe in mermaids too / I believe in 72 virgins on a chain (why not, why not)”.
[2] A idade, a consciência de declínio, desabafa toda a vergonha e antes que seja tarde e ninguém queira ver, as vedetas de Hollywood descobrem-se ou nos ecrãs ou em público. Daryl Hannah, 1,78 m, 56,7 kg, 86-60-83, sapato 40, olhos azuis, cabelo loiro, nascida dia 3 de dezembro de 1960, em Chicago, Illinois, pompeou as suas glândulas mamárias amigas do ambiente (livres de plástico), num tecido transparente, nos prémios EMA (Environmental Media Association) de 2009. Em 2011 é presa no exterior da Casa Branca “depois de recusar as ordens da polícia para abandonar uma manifestação sentada dos ambientalistas contra a construção de um oleoduto do Canadá para o Texas. (…). A atriz canadiana Margot Kidder fora presa no mesmo local na semana anterior. Em causa? Os defensores do projeto do oleoduto dizem Petróleo e empregos e coisa e tal, aqueles contra dizem Alcatrão e gases efeito estufa e coisa e tal”.
[3] A lendária Stefania Sandrelli, 1,76 m, 98-67-101, olhos cor de avelã, cabelos castanho-escuro, nascida dia 5 de junho de 1946 em Viareggio, província de Lucca. “Em 1960, aos 15 anos, vence o concurso de beleza Miss Cinema e começa a dar nas vistas nas praias de Viareggio”; estreia-se no filme “Giuventù di notte” (1961); e é a mãe de Amanda Sandrelli (do filme “L’Attenzione” - 1984).
[4] A mitológica Teresa Ann Savoy nasceu em Londres no dia 18 de julho de 1955, “tinha 18 anos quando apareceu sob o pseudónimo Terry na revista italiana Playmen (outubro 1973). Terry, que fugiu de casa aos 16 anos, vivia numa comuna hippie na Sicília e logo captou a atenção da imprensa”. Estreou-se em “Le farò da padre” (1974), real. Alberto Lattuada. Outros filmes: “Salon Kitty” (1976), real. Tinto Brass; “Vícios privados públicas virtudes” (1976), real. Miklós Jancsó; “Caligula” (1979), real. Tinto Brass. Foi fotografada por David Hamilton para a revista Lui, agosto, 1980.
[5] Em 2013, quando, na Grécia, se injeta SIDA para se viver com um subsídio de 700 €, a vida, no geral, somente se plenifica abrindo as pernas a). – “Jeune & jolie” (2013), real. François Ozon, c/ Marine Vacth (Isabelle), Géraldine Pailhas (Sylvie), Frédéric Pierrot (Patrick), Charlotte Rampling (Alice)… Banda sonora. “Isabelle festeja os 17 anos nas férias de verão com a família no sul de França. Ela decide perder a virgindade com um rapaz alemão chamado Felix, mas a experiência deixa-a insensível. No outono, ela está a explorar a sua sexualidade ainda mais trabalhando como prostituta sob o nome de Léa e conhece um homem mais velho chamado George, e vários outros clientes. Durante um encontro com George, ele morre de um ataque cardíaco, Isabelle foge do local e desiste da prostituição. A polícia eventualmente localiza-a e revela a sua vida secreta à mãe”. “As razões de Isabelle para se lançar na prostituição não são claras, para não dizer desconhecidas. À rapariga não lhe falta dinheiro: a sua mãe ganha bem a vida e mima-a. Sabemos no meio do filme, quando Isabelle vai ao seu psiquiatra, que o pai lhe dá 500 euros cada Natal e aniversários. Não é então o dinheiro que a impele a se prostituir, embora ela cobre entre 300 e 500 euros por cada serviço”. O filme decorre ao longo de um ano, separando-se cada estação, por uma canção de Françoise Hardy: “L'amour d'un garçon” (1963), “A quoi ça sert” (1968), “Première rencontre” (1973) e “Je suis moi” (1974). François, o realizador, explica a escolha de Françoise: “Ela sempre soube refletir, nos seus textos e na sua música, a essência própria dos amores adolescentes. Ela simboliza, ao mesmo tempo, as ilusões da juventude e as suas desilusões devastadoras. Em ‘Jeune & jolie’, achei interessante sincronizar a sua visão romântica com aquela, mais crua, de uma adolescente de hoje”. Isabelle, 17 anos, puta, sem vício nem prazer é interpretada por Marine Vacth, 1,71 m, 83-60-88, sapato 38, olhos azul / verde, cabelos castanhos, nascida dia 9 de abril de 1991 na Ile de France, Paris. “Descoberta numa loja H&M aos 14 anos, prosseguiu fotografada por Mondino, Juergen Teller e Paolo Roversi, e sucedeu a Kate Moss como a cara do perfume Parisienne de Yves Saint Laurent: pode-se vê-la a pavonear a sua confiança mundana cruzando a ponte Alexandre III no anúncio de TV. Ela fez a sua primeira aparição no cinema em 2011 – no fundo encarnando o chique cosmopolita – como a modelo namorada do anti-herói na comédia de Cédric Klapisch, ‘Ma part du gâteau’, depois em 2012 ‘The Man with the Golden Brain’ de Joan Chemla e ‘Ce que le jour doit à la nuit’ de Alexandre Arcady, antes de trabalhar com Ozon”. Marine, sobre representar descascada: “A nudez também é um traje. Não me senti necessariamente nua. François gosta de fazer palhaçadas no plateau – ele tem uma visão muito irónica do mundo. Gosta de fazer as coisas com múltiplas aspas”; sobre o personagem: “Não é uma rapariga de hoje, é simplesmente uma rapariga. Ela tem um lado intemporal e, sobretudo, François não queria que o filme fosse um tratado sociológico sobre o fenómeno atual das estudantes que se prostituem para ganhar a via”; sobre ela própria: “Comecei nesta profissão como manequim, aliás, um pouco por acaso. Cédric Klapisch procurava uma manequim para representar em ‘Ma part du gâteau’… o meu papel em ‘Ce que le jour doit à la nuit’ de Alexandre Arcady, aconteceu também para além da minha vontade, uma combinação de circunstâncias. O meu desejo de ser atriz, comecei realmente a senti-lo em ‘The Man with the Golden Brain’, uma curta-metragem de Joan Chemla. E, agora, graças a ‘Jeune & jolie’, comecei verdadeiramente a assumi-lo”.   
a) Exceto em Portugal. O superior interesse da vagina portuguesa está protegido, porque dos políticos, vem-lhe futuro pela frente. Pela frente há futuro. Depois do despedimento coletivo nos Estaleiros Navais de Viana do Castelo, o porta-vozeirão do PSD e morcão de espinafres, Marco António Costa: “Agora o que temos, é uma solução, em que há uma empresa [Martifer] que, para poder operar, terá que recuperar muita dessa mão-de-obra e voltar a reintegrar muita dessa mão-de-obra, que, no passado, estava condenada a não ter nenhum tipo de futuro, e que já havia uma decisão completamente fechada, por parte do anterior Governo, dum despedimento e nenhum futuro pela frente. Agora, existe um futuro pela frente, através da solução que o Governo apresentou, não quero acrescentar mais nada”.

no aparelho de televisão

Pulaski” (1987), série inglesa c/ David Andrews como Larry Summers (e Pulaski) e Caroline Langrishe como Kate Smith (e Briggsy), transmitida às terças-feiras na RTP 1, cerca das 22:30 horas, de 17 de maio a 5 de julho de 1988. “É a nova comédia criada por Roy Clark e considerada como a resposta da BBC a ‘Modelo e detetive’ e a ‘Dempsey e Makepeace’, Pulaski é um ex-padre de origem polaca que se transforma num detetive privado, em Inglaterra, e cujas corajosas atuações fazem desta série televisiva um êxito de audiências”. Este otimismo português frustrou-se, lamentavelmente filmaram só oito episódios desta série televisiva dentro de uma série televisiva. “‘Pulaski’, um íntegro, destemido, ex-padre católico de Nova Iorque, transformado em detetive privado, combatendo o crime numa série de aventuras ridículas com a ajuda da sua loira e bonita esposa da classe alta inglesa, ‘Briggsy’. E as suas aventuras eram ridículas… porque eram apenas uma série de TV dentro desta específica série de TV. Assim que o realizador gritava ‘Corta!’ eles voltavam a ser apenas atores, casados, agora não tão cúmplices. E Larry Summers, o ator que representa Pulaski? Uma mimada e egoísta estrela de cinema, forçado a viver no Reino Unido, um completo idiota e um bêbedo. Mas este perfeito idiota deixa-se envolver pelo personagem. Enquanto filma a série, decide que ele também vai ajudar a resolver crimes verdadeiros, tal como o Pulaski que ele interpreta – sendo a sua frase recorrente: ‘O que faria Pulaski?’. E ele vai arrastar a sua esposa, Kate Smith, nas aventuras”. “L.A. Law” (1986-1994), às quintas-feiras na RTP 2, cerca das 23:00 horas, duração 46 min. A I série foi transmitida de 22 de outubro de 1987 / 31 de março de 1988 e a II série de 7 de abril / 18 de agosto de 1988. “A série foi criada em torno do escritório de advogados McKensie, Brackman, Chaney e Kuzak, sedeado em Los Angeles, e acompanha os advogados na firma e vários membros da equipa de apoio. Os exteriores da firma de advocacia foram filmados no Citigroup Center, na baixa de Los Angeles, que era conhecido na altura como o 444 Flower Building”. “Muitas vezes, a série combina humor e drama. Por exemplo, na abertura do primeiro episódio, vê-se o sócio Norman Chaney, sentado na secretária, a cara enterrada no prato de comida, fulminado por um ataque cardíaco. No segundo episódio, em frente dos seus sócios, amigos e da sua mulher, um homem vestido de mulher no elogio fúnebre de Chaney, diz que o seu nome não é Georgia Buckner mas George, uma mulher aprisionada num corpo de homem e que se conheceram num bar homossexual: ‘A maior parte de vocês provavelmente não imaginava que o Norman era homossexual, a maior parte de vocês não o conhecia de todo, ele era um homem profundamente complexo nunca, de facto, confortável com a sua orientação sexual’”. “No início de 1991, no episódio 12 da 5.ª temporada, “He’s a Crowd”, duas personagens femininas, Abby, interpretada por Michelle Greene e a recém-chegada Cara Jean ‘C.J.’ Lamb, interpretada por Amanda Donohoe beijam-se. A cena foi reconhecida como o primeiro beijo entre duas mulheres numa série americana de horário nobre e foi considerado muito controverso” [1]. {1.º episódio}. “The Fall Guy” (1981-1986), sob o título “Colt em ação”, transmitida às quartas-feiras na RTP 1, pelas 13:30, de 21 de junho de 1989 / 14 de fevereiro de 1990, duração 45 min. “Lee Majors interpreta Colt Seavers, um duplo de Hollywood que faz biscates como caçador de recompensas. Ele usa as suas habilidades físicas e conhecimentos das acrobacias dos duplos (especialmente acrobacias envolvendo carros ou a sua carrinha GMG Sierra Grande). É acompanhado pelo seu primo e duplo em formação Howie Munson (Douglas Barr), a quem Colt frequentemente chama ‘Kid’, e ocasionalmente pela colega duplo Jody Banks (Heather Thomas)”. “Todo o personagem na série que gosta de música clássica, eventualmente, acaba por ser um vilão”. “O tema do genérico, ‘Stuntman Unknown’, foi escrito por Glen A. Larson, Gail Jensen e David Somerville, e cantado por Lee Majors. A letra inclui uma referência à então separada esposa de Majors, Farrah Fawcett [2], - ‘I've been seen with Farrah’ - e lamenta o facto de, enquanto ele corre todos os riscos, são as vedetas tais como Robert Redford ou Clint Eastwood que ficam com a glória e as mulheres”. “Farrah Fawcett fez uma aparição especial no episódio piloto, contra os conselhos de amigos e empresário. Lee e Farrah tinham finalizado um divórcio com muita roupa suja lavada em público. Ela apareceu no episódio para mostrar ao público que eles se estavam a separar amigos”. “The Campbells” (1986-1990), série canadiano-escocesa das quartas-feiras transmitida logo após o “Colt em ação”, pelas 14:15, de 21 de junho / 6 de setembro de 1989; na quarta-feira 20 de setembro reaparece na RTP 2, pelas 16:55, até 10 de abril de 1990, duração 25 min. “O dr. James Campbell (Malcolm Stoddard) tenta servir os seus pacientes enfrentando a oposição local do Laird [título hereditário dos proprietários de terras na Escócia], e depois de vários acontecimentos políticos desanimadores, bem como vários eventos infelizes relativos à sua prática, deseja uma hipótese de começar de novo. Os seus filhos, Neil (John Wildman) e John (Eric Richards), insatisfeitos com as suas vidas mundanas atuais decidem emigrar da Escócia para o Canadá, ao ouvir da oportunidade de possuir terras no Canadá e persuadem-no a mudar. Emma (Amber-Lea Weston), a filha de James, está igualmente insatisfeita e também gosta da ideia. A série decorre na vizinhança de Cambridge, no Canadá Superior (atual Ontário) em 1830. Isto é conhecido por causa das roupas, armas e constantes referências à última guerra contra os ianques (guerra de 1812). A série acompanha as aventuras quotidianas desta família e os seus vizinhos enquanto tentam todos sobreviver e prosperar nas suas quintas contra as probabilidades da natureza e um ou outro ocasional charlatão”.
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[1] Susan Dey é em “L.A. Law” a procuradora-adjunta do Ministério Público Grace Van Owen. Nascida a 10 de dezembro de 1952 em Pekin, Illinois, 1,70 m, 59 kg, 75-65-75, olhos verdes, cabelo loiro, Susan interpretara Laurie Partridge, a adolescente, a filha, a irmã da América na série familiar, “The Partridge Family” (1970-1974), quando o corpo encorpou as medidas regulamentares despiu-o em “First Love” (1977) e “Looker” (1981).
[2] Farrah Fawcett 1,69 m, 61 kg, 86-60-86, sapato 38 ½, olhos azuis, cabelo loiro, nascida dia 2 de fevereiro de 1947 em Corpus Christi, Texas, morreu de cancro anal dia 25 de junho de 2009 em Santa Monica, Califórnia. “Os médicos declararam Fawcett, 61 anos, livre do cancro em fevereiro de 2007, mas o cancro regressou uns meses depois”. Um empregado do UCLA Medical Center divulgou os seus relatórios médicos sobre a recorrência do cancro ao National Inquirer antes que ela tivesse hipótese de contar aos amigos e família. “É preocupante para ela quando há falsos relatos que ela ia desistir, que quer morrer, quando o oposto é verdadeiro’, disse a sua advogada Kim Swartz, ‘ela é uma pessoa forte e uma lutadora’”. Ryan O’Neal: “‘Pedi-lhe que se casasse comigo outra vez, e ela concordou. (…). Costumava pedir-lhe que se casasse comigo o tempo todo. E acabou por ser uma brincadeira, sabe? Apenas brincávamos como isso. (…). Vamos casar, assim que ela possa dizer sim… talvez possamos apenas acenar com a sua cabeça’. (…). O’Neal disse também que tem o seu fato de casamento preparado: ‘como um gigolo. Um pequeno bigode fino e cabelo penteado para trás. Não sei. Divertimo-nos, gracejamos sobre isso’”. O filho de ambos, Redmond O’Neal, é um estroina. “O jovem O’Neal foi parado durante uma busca de rotina num posto de segurança da prisão e assumiu voluntariamente que tinha drogas na sua pose, disse Steve Whitmore, um porta-voz do escritório do xerife do condado de Los Angeles. O’Neal foi preso sob acusação de levar drogas para uma instalação prisional e posse de substância controlada”. 

na aparelhagem stereo

A música mais ouvida no mundo é… “Gran Vals” (1902), composta pelo guitarrista espanhol Francisco Tárrega. Ou, pelo menos, uns três segundos dela ouviam-se 20 000 vezes por segundo (1800 milhões / dia) nos bolsos, nas mesas-de-cabeceira, debaixo das caixas de piza, nos cestos de roupa suja, onde quer que se tenha enfiado o mais que ai-jesus Nokia. Este bombardeamento acústico, amigo de martelos e bigornas, trespassa, por habituação, o toque de telemóvel da realidade. “Um dos aspetos mais surpreendentes da cultura musical nos Estados Unidos do pós-Guerra Fria é o uso sistemático da música como uma arma de guerra. Chegado ao conhecimento geral, pela primeira vez em 1989, quando as tropas americanas tocavam música em altos berros, numa estratégia para forçar a rendição do presidente panamiano, Manuel Noriega, o uso do ‘bombardeamento sonoro’ tornou-se uma prática comum nos campos de batalha do Iraque. E, especificamente, o bombardeamento musical, juntou-se à privação sonora e à humilhação sexual, como um meio não letal pelo qual os prisioneiros, desde Abu Ghraib a Guantánamo, podem ser coagidos a ceder os seus segredos sem violar a lei dos EUA”.
No farol da liberdade da Comunidade Internacional (ex-Ocidente Livre), Guantánamo, a festa era louca. “Guantánamo é conhecido em todo o mundo como um dos lugares onde seres humanos têm sido torturados – desde simulação de afogamento, despir, enfiar capuzes e forçar os detidos a atos sexuais humilhantes – tocando música 72 horas seguidas num volume um pouco abaixo daquele que destrói os tímpanos”, diz Tom Morello, guitarrista dos Rage Against the Machine, numa declaração para a National Campaign to Close Guantanamo (NCCG) [1]. E, na época, cerca de 2003, os Guantánamo Greatest Hits bombavam: “White America”, Eminem; o tema de Barney, o Dinossauro; “Enter Sandman”, Metallica; o tema do anúncio Meow Mix; o tema da Rua Sésamo; “Babylon”, David Gray; “Stayin' Alive”, The Bee Gees; “American Pie”, Don McLean; “Dirrty”, Christina Aguilera c/ Redman. “No caso de David Gray, o detido Haj Ali disse ao Daily Mirror em 2005, que não era a canção inteira que era tocada, mas a frase do título: ‘Babylon… Babylon… Babylon…uma e outra vez. Estava tão alto que pensei que a minha cabeça ia explodir. Continuou ininterruptamente por um dia e uma noite’. E um relatório do Conselho da Europa sobre o Afeganistão revelou que a música, neste estado de apenas ruído em si, é misturada com outros sons como ‘trovões, aviões a descolar, risadas cacarejantes e sons de terror que totalizam um pesadelo perpétuo’”. Esta técnica de passar música em palco militar está catalogada no manual como “técnica de futilidade”, destrói o prisioneiro, mostrando-lhe que toda a resistência é fútil.
A música é a cavalaria contra novos índios. “Foi revelado que as canções de Britney Spears estão a ser usadas como uma arma secreta para defender os cargueiros da ameaça de sequestro pelos piratas somalis. Uma oficial da marinha mercante chamada Rachel Owens (34 anos) disse ao tablóide Metro: ‘Oops! I Did It Again’ e ‘…Baby One More Time’ são as ‘mais eficazes’ em afugentar os piratas. Owens declarou ao jornal: ‘Estes gajos não suportam a cultura ocidental [2] ou a música, tornando os êxitos de Britney perfeitos’. O segundo oficial acrescentou: ‘As suas canções foram escolhidas pela equipa de segurança porque pensaram que os piratas iam odiá-las mais’. (…). Owens elogiou a tática Britney Spears dizendo: ‘Há uma grande quantidade e vidas e carga em jogo, então a segurança é de primordial importância. Os alto-falantes podem ser dirigidos exclusivamente aos piratas de forma a não perturbar a tripulação. Eles são tão eficazes que, a segurança do navio, raramente precisa de recorrer a armas de fogo, assim que os piratas levam com um estouro de Britney, pisgam-se os mais rápido que podem’. Steven Jones, da Associação de Segurança para a Indústria Marítima, disse: ‘Os piratas recorrerão a todos os meios para evitar ou tentar ultrapassar a música, inclusive usar tampões nos ouvidos’”.
Não só o traseiro de Britney Spears estimula a Comunidade Internacional, a sua música produz pessoas inteligentes, que integrarão a tendência inteligente (smart) da sociedade: smart phone, smart car, smart cloud, smart bomb... Emma Gray, uma cientista inglesa, especializada em terapia cognitiva comportamental, concluiu que ouvir música de Miley Cyrus, Kate Perry, Justin Timberlake, etc. “enquanto se estuda tem um efeito calmante na mente e auxilia o pensamento lógico. (…). Canções pop com 50 a 80 batidas por minuto permitem ao cérebro aprender e recordar novos factos mais facilmente”. Esta “pesquisa, encomendada pelo serviço de streaming Spotify, para investigar o efeito da música no estudo, descobriu que é importante escolher a música certa para a matéria que a pessoa está a estudar, uma vez que ela estimula a aprendizagem e pode melhorar a concentração”. A cientista inglesa disse: “A música tem um efeito positivo na mente e ouvir o tipo certo de música pode realmente melhorar o estudo e a aprendizagem. A música pode colocá-lo numa melhor predisposição para aprender e, de facto, os alunos que ouvem música podem realmente ter melhores resultados do que aqueles que não ouvem. Para matérias lógicas, como matemática, a música deve acalmar a mente e ajuda a concentração, ao passo que para matérias criativas, a música deve refletir a emoção que o aluno está a tentar expressar’. Angela Watts, vice-presidente de comunicações globais na Spotify, disse: ‘Com milhões de alunos ouvindo música na Spotify, é ótimo ver o efeito positivo que ela pode ter nos seus estudos’”.
Em Portugal, a música arranca saudades da juventude. Engelhados, apodrecidos os corpos pelo tempo, nostálgicas as mentes, não debandam pela Elizabeth Jay, as revistas finlandesas, a francesa Lui, as inglesas Mayfair ou Fiesta, (onde na secção Readers’ Wifes Striptease, o leitor tinha o prazer de ver a sua mais que tudo fotografada nua), desbundam, revivalistas, por uma musiquinha ouvida no baile da paróquia. Há 20 anos, em Viseu, o grupo Visabeira - Telecomunicações e Construção, Indústria, Turismo, Imobiliária e Serviços organiza uma festa revivalista. A edição de 2013, no mês de outubro, foi abrilhantada pelo conjunto musical de Rui Veloso, e os festeiros são políticos, como é bom de dançar, num grupo empresarial poderoso, diversificado nos negócios, unificado com o poder político. Bailava o conviva Marques Mendes: “Tristezas não pagam dívidas. A nossa dívida, além do mais, como é tão grande, tão grande, tão grande, precisava de uma tristeza descomunal, não é? Portanto, o melhor, o melhor é a gente pensar um bocadinho nas alegrias do Futebol Clube do Porto, que são muitas, nas do Benfica, que são menos, nas do Sporting que são assim assim, divertirmo-nos um pouco… o país precisa muito disso”. Outro conviva, Jorge Coelho: “Quando fui membro do Governo vinha aqui todos os anos a esta festa, nunca faltei. Acho que há aqui uma mística nesta realização, de vir encontrarem-se aqui pessoas que já não se veem, muitas, há muitos anos, é algo que nos faz revigorar um pouco e é muito importante isso também na nossa vida”.
O som mais ouvido em Portugal, de meados de 1980 e pela década de 90 adentro foi Still Loving You” (1984) dos Scorpions… e não:
Explosão “era de Torres Vedras e foi formada por volta de 1987. O seu alinhamento era: Zé Pedro, baixo, Rui Calado, voz, Ninu, bateria, Paulo ‘Bode’, guitarra e Quim ‘Russo’, guitarra. Canções como ‘Tripe’, ‘Menina mania’, ‘Beatinha’ e ‘Despertador’ faziam parte do repertório. Uma demo de 2 faixas, ‘Explosão’ e ‘Venci o teu discípulo’, foi lançada em 1987. A sua segunda demo, ‘Armas nucleares’, é lançada no princípio de 1988. A demo consistiu num lado gravado em estúdio (um ensaio) com as faixas ‘Intro’, ‘Armas nucleares’, ‘Pó… cuidado’ e um lado gravado ao vivo em Aveiro, a 2 de novembro de 1987, ‘Coisas que se passam’ e ‘Críticos’”. Unsilent “foi formada oficialmente no 1.º de janeiro de 1990 em Algueirão, Mem Martins. A banda completou a formação em maio, consistindo em Gonzo, voz, Mário Rodrigues ‘Stein’ (dos Extortion), guitarra solo, Pedro Koko, guitarra, Marinho, baixo e Joe, bateria. Após 11 meses de ensaios, decidiram gravar 4 canções que resultariam na sua primeira demo. A demo ‘Wearing Black’ continha ‘Portrait of a Loser’, ‘No Aim in Life’, ‘Blank of Emotions’ e ‘Wearing Black’. Gravada nos Abrunheira Studios (a garagem do baterista Joe) a 4 de novembro de 1990. A 2 de fevereiro de 1991, a banda abriu para os Enforce no Clube Desportivo de Queluz [preço: 400$00, entradas limitadas] e um mês mais tarde, a 3 de março, em Odivelas com os Afterdeath” [preço: 400$00, no próprio dia: 500$00, no Pavilhão Polivalente da Freguesia de Odivelas: “não serão permitidas entradas, a pessoas que se façam acompanhar de objetos perigosos”]. Afterdeath “foi formada em maio de 1990 por Sérgio Paulo, voz, o ex-Vandals Nuno Maciel, guitarra e Sérgio Filipe, baixo, juntando-se-lhes Rui, guitarra e Fernando, bateria, ambos acabariam por sair pouco tempo depois por várias incompatibilidades e mais tarde formaram os Insult. Em outubro, o baterista Ricardo Rosales junta-se ao grupo e, finalmente, começam a emergir as primeiras canções que foram apresentadas pela primeira vez ao vivo em dezembro de 1990, num festival de bandas novas numa escola em Benfica, Lisboa. Tocaram duas canções novas que tinham composto, eventualmente repetindo uma delas. O ano não termina sem o grupo entrar em estúdio pela primeira vez, mais precisamente a 27 de dezembro, nos Edit Studios, onde gravaram a primeira faixa composta pela banda ‘Death Is Calling’. Embora não estivessem satisfeitos com a qualidade da gravação, a faixa serve para promovê-los e é mandada para muitas estações de rádio, obtendo bom tempo de antena e tornando conhecido o seu nome em todo o país. A banda, neste momento, necessitava dar o seu primeiro concerto a sério e, na falta de convites, o vocalista Sérgio Paulo decidiu organizar o concerto de estreia a 3 de março de 1991 em Odivelas, convidando os Unsilent e os Angel Sinner para atuarem na primeira parte [preço: 400$00, no próprio dia: 500$00]. Após este concerto, Sérgio Filipe é substituído pelo baixista Ricardo Jorge ‘Dick’. Os convites para espetáculos começam a surgir, dando origem a uma mini-tournée chamada ‘Death on the Road ‘91’, terminando em grande no dia 14 de julho no Festival Diz Sim à Vida, no estádio do Barreirense diante de 3000 pessoas, onde partilharam o palco com os Tarântula, Adelaide Ferreira, Jorge Palma, Procyon, a banda inglesa British Lion e muitos outros”. Massacre “foi formada em novembro de 1987 em Queluz, Lisboa. A composição original era Paulo Oliveira, guitarra, Paulo Morais, guitarra, José Costa, baixo / voz e Vasco, bateria. A sua estreia ao vivo ocorreu na tourada de Torres Novas em 26 de junho de 1988 com os Explosão, seguido de um segundo concerto no cinema D. João V, na Damaia, a 30 de junho com os Valium e os HSS. Vasco, em novembro, abandona a banda e foi substituído por Jorge Oliveira. A 11 de março de 1989, pelas 20:00 H, a banda tocou com os Thormenthor na primeira parte do concerto da banda holandesa Thanatos, na Cova da Piedade, em Almada, para 800 metaleiros [preço: 600$00]. Um mês depois, a 3 de abril, fizeram a sua aparição no Festival de Rock na Amadora diante de 2000 pessoas, tendo tocado também no mesmo mês, a 29, pelas 15:00 H, em Almornos, Sintra (substituindo os Braindead), com os Mortífera e os Procyon [preço: 350$00]. Em julho a banda voltaria aos palcos em Massamá. Em agosto, os Massacre entraram nos Edit Studios, na Amadora, onde durante 3 dias gravaram a demo ‘Mortal Remains’. Durante as gravações, Paulo Morais abandona o grupo. Em apenas duas semanas os Massacre tinham vendido 100 cópias da demo. A banda recrutou um novo guitarrista, Paulo Almeida. A 18 de novembro de 1989, a banda tocou no Clube Recreativo “Leais Amigos”, na Graça, junto à Feira da Ladra, com os Mantron e os Massive Roar [venda antecipada: 400$00, no dia: 500$00] e a terminar o ano no Rock Rendez Vous, a 17 de dezembro pelas 16:00 H, com os The Coven. Em 1990, abriram para a banda de metal francesa Agressor no Rock Rendez Vous [venda antecipada: 1000$00, no próprio dia: 1500$00] ▬ ‘Edge of Life’. Serenamente, em março, mudaram o seu nome para Enforce”. Enforce “os ex-Massacre, os Enforce eram Paulo Oliveira, guitarra solo, Paulo Almeida, guitarra rítmica, Jorge Oliveira, bateria e José Costa, baixo / voz. Uma demo com 4 faixas foi gravada nos Musicorde Studios em Agosto de 1990”, c/ Side One: 1. “Masses Revenge” 2. “Empire Decay”; Side Two: 1. “Enforce” 2. “Seeds of Violence”. 
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[1] A música nos palcos civis também contusa. Laia Martín, uma pianista de Puigcerdà, província de Girona, acusada pela vizinha do andar de cima, Sonia Bossoms, de contaminação acústica e lesões psíquicas, incorreu numa pena de sete anos e meio de cadeia por ensaiar em casa. “No julgamento em Girona, cidade do nordeste, Sonia Bossoms alegou que sofreu de poluição sonora de 2003 até 2007, devido às sessões de oito horas, cinco dias por semana, dos ensaios de Laia Martín, que vivia por baixo dela na cidade de Puigcerdà. Martín, 28 anos, nega ter tocado em casa tantas vezes, dizendo que teve aulas regulares noutras cidades. Ela alega que ensaiava principalmente aos fins-de-semana. (…). O Ministério Público disse que, testes pelas autoridades locais, revelaram que os níveis de som produzidos pelo piano eram, repetidamente, 10 decibéis acima do limite de 30 decibéis estabelecido para instrumentos musicais na cidade. As autoridades da cidade pediram várias vezes à família, ou para parar de tocar piano ou isolar a sala”. “A vizinha, Sonia Bossoms, alega sofrer por causa do barulho do piano uma alteração do sono, nervosismo, inquietação, agitação, ansiedade, episódios de pânico e, inclusive, problemas de gestação nos últimos meses da gravidez do seu segundo filho, nascido em 2006. A denunciante, que também esteve de baixa laboral por causa deste problema, mudou-se para a Galiza com a família em janeiro de 2008, por não suportar mais o barulho e, segundo o advogado de acusação, tem tanta fobia a pianos que é incapaz de ver um, mesmo que seja num filme. Além da pena de prisão, a promotora do Ministério Público pede, para a pianista, uma interdição de exercer qualquer profissão que esteja relacionada com esse instrumento musical durante quatro anos e uma multa de 10 800 euros, e uma indemnização a pagar pelos três acusados [o pai, a mãe e a pianista] de 9900 euros”. Sonia Bossoms declarou: “Sentia-me muito nervosa, com muita ansiedade, discutia muito com a minha família, inclusivamente, houve uma altura em que fiquei com o braço paralisado devido à ansiedade”. Laia Martín garantia que insonorizou o piano: “As pernas, os apoios, completamente, e depois foram cobertos com mantas, muitas mantas”. Na última sessão do julgamento, a promotora pública Emma Ruiz reduziu o pedido de prisão para dezanove meses. Sendo uma pena inferior a dois anos, e sem antecedentes criminais, Laia evita a prisão efetiva. “Emma Ruiz pediu para a pianista uma pena de quinze meses por um delito contra o meio ambiente, por contaminação acústica e quatro meses mais por lesões psíquicas causadas na sua vizinha. (…). Para os seus pais, pediu a mesma pena, por colaboradores necessários. Também pediu para os acusados uma multa de 1620 euros, mais 20 000 euros em termo de responsabilidade, e uma proibição que impeça a pianista de tocar o instrumento durante meio ano”.
[2] Os ruídos da cultura ocidental, sonoros ou imagéticos, pelo Stoylo Studio, um coletivo anónimo de Moscovo. “No lugar de indivíduos identificados encontramos, em vez disso, uma variedade de posições sociais encolerizadas – e o áspero, distorcido ruído a sustentá-las. Os sons em amostra estão todos etiquetados ‘folk music’. Dito de outro modo, os ruídos provenientes do ‘folk’ da modernidade são desprovidos de toda a harmonia natural – e arrancados da tradição pré-industrial. Pode-se até apontar o nome do projeto – Stoylo Studio: esse primeiro substantivo tem tradicionalmente o significado em russo de ‘tenda (num mercado)’, mas o calão moderno acrescentou-lhe o sentido secundário de ‘escritório’ ou ‘local de trabalho’. As relações sociais ou laborais têm as suas raízes no comportamento desapiedado de um mercado. Os lucros ofuscam a ética – e os sons que eles produzem são deveras ásperos”. Os Stoylo Studio têm um disco: “Sexy Beats” (2010) e seus os vídeos são montagem de imagens da rica cultura moderna – o porno na net em “Fucking Liza” (2010), a violência no cinema em “Rape Me” (2011), a estrela porno checa Aneta Šmrhová (Anetta Keys) em “3D Model” (2011), girls enraivecidas nas ruas em “Sex Pistols” (2013)…